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21 de dezembro de 2024

Responsável: Constantino K. Riemma


Não tire o Diabo, nem o Louco, para dançar
Vera Vilanova
“Está começando o Carnaval, neste País tropical...”, confira o video abaixo. A festa mais esperada do ano, por grande parte da população brasileira, está a ponto de começar. Celebrada em data móvel, começando 40 dias antes da Páscoa e terminando sempre numa terça-feira, o Carnaval, dependendo da região brasileira, dura de três a sete dias. Embora sua origem não seja brasileira e sim europeia, provavelmente em Veneza (com seus famosos bailes de máscaras), foi o Brasil que ficou conhecido mundialmente como do País do Carnaval.
O carnaval é uma festa popular de grande relevância na sociedade, capaz de abarcar indivíduos de diferentes classes sociais, cores e crenças em um mesmo evento festivo e relativamente democrático. Assim sendo, nada mais natural que esse período carnavalesco tenha se tornado um megaevento com interesses econômicos muito além das festividades, uma vez que movimenta negócios da industria cultural, do turismo, da arte popular etc.
“Originalmente, o termo ‘carnaval’ significa ‘adeus à carne’ (carne levale, em italiano), pois representava, na Idade Média, uma época de festas populares que antecediam uma época de grande jejum, a Quaresma, o período de quarenta dias antes da Páscoa”. (1) O Carnaval passou a ser adotado pela Igreja Católica, a partir de 590 d.C, como uma festividade que antecedia a Quarta-Feira de Cinzas, o marco inicial da estação litúrgica da Quaresma.
Carnaval - Não tire o Diabo, nem o Louco, para dançar
Embora os líderes da Igreja considerassem a festa pecaminosa, a comemoração já havia se tornado tão popular, que eles não conseguiram proibi-la. Isso fez com que as autoridades eclesiásticas oficializassem o Carnaval. “O Papa Gregório Magno (590-604) decidiu que o jejum começaria na quarta-feira de cinzas. Todo o evento carnavalesco era estabelecido antes do jejum, para criar uma divisão clara entre o pagão e o costume cristão”. Também era costume durante o Carnaval que a classe dominante fosse zombada pelo proletariado, cujos integrantes usavam máscaras e disfarces para evitar serem identificados. (2) e (3)
Partindo dessas considerações históricas fiquei me questionando qual ou quais cartas do Tarot poderiam estar diretamente ligadas às características pagãs dessa festa denominada Carnaval, ou seja, uma festa onde as pessoas costumam transgredir regras sociais, vivem seus prazeres desmesuradamente e vícios intensamente (sem muito compromisso com os demais e com o tempo), arriscando-se em aventuras perigosas sem muito pensar e cometendo inúmeros exageros, especialmente físicos, os quais são mais tolerados do que o normal pela polícia e outros agentes de segurança do governo. É como se nesse período de festas os foliões definissem intuitivamente regras próprias e pontuais: quase tudo é válido, aceito e liberado, enquanto dura o Carnaval.
E aí vem a primeira indagação. Como pensar em Carnaval sem a presença muito forte do Diabo?
Não tire o diabo e o Louco para dançar
O Diabo e o Louco
Imagens do acervo da Autora
Podemos afirmar, sem medo de errar, que o Diabo é a “alma” do Carnaval (usando uma licença poética, se me permitem). É ele o dono dos prazeres mundanos vividos intensamente, sem muitos controles e limites. O Diabo, simbolizando apenas as características que têm a ver com a folia carnavalesca, indica diversão inesgotável, uso de bebidas alcoólicas e drogas ilícitas exageradamente, sexo casual e sem proteção, linguagem e ações politicamente incorretas... Todas essas situações podem ser observadas nitidamente, na rua ou pela cobertura televisiva, já que o controle social se afrouxa e as pessoas, de um modo geral, ficam mais tolerantes com comportamentos extravagantes e/ou bizarros de seus semelhantes.
Festa, diversão, riso e liberdades. Para muitos, estas são palavras que facilmente expressam o sentido que o carnaval assume no interior de nossa cultura. O uso das fantasias, as piadinhas jocosas das marchas, músicas e danças vulgares com conotação sexual e a entrega aos prazeres de todos os gêneros nos trazem a sincera impressão de que o carnaval tem um sentido universal de renovação da vida por meio de uma fuga temporária das obrigações e responsabilidades que permeiam a vida dos indivíduos em seu cotidiano. (4)
“Está evidente em nossa sociedade a multiplicidade de relações superficiais, o medo do enfrentamento de desafios e dificuldades e de como se lidar com as frustrações e consequências negativas que fazem parte do viver. O carnaval é a ausência disso tudo: não existe o desprazer; ele foi banido e aparece apenas a liberação permitida quase que totalmente dos instintos. Se um folião porventura fizer algo estranho ou socialmente reprovável, é rapidamente “perdoado” porque, no carnaval, tudo pode, tudo é liberado ou perdoado. A representação do evento é a liberação dos instintos, a inversão de gênero, a liberalidade sexual excessiva, a libertinagem e os abusos, seja com o apetite, bebidas alcoólicas ou drogas ilícitas”. (5)
O diabo, o Anjo e o Três de Copas
Todavia, quem será capaz de resistir a uma boa folia e um lindo diabo louro?
Veja a resposta no video abaixo:
Mas como fala a sabedoria popular tudo que é bom ou ruim nunca vem sozinho, e é aí que entra a figura do Louco. Como se diz na Bahia, quando uma pessoa não regula bem da cabeça, “Ele é doido mas não é Louco (ou seja, não queima dinheiro)”. E assim sendo, o Diabo para viver todas as experiências que ele tem direito, até a última gota, escolheu a companhia do Louco. Quem melhor que o Louco para ser seu par numa festa regida plenamente pela música e pela dança? (O Louco é uma carta de movimento, de leveza e de inconsequência). Quem mais adequado que o Louco para ficar até altas horas da noite na rua, varando a madrugada, enchendo a cara, sem qualquer preocupação de dar explicações a alguém? Quem mais quer viver relacionamentos superficiais (apenas “ficar”), sem muito comprometimentos e expectativas do parceiro(a)? Quem mais quer beijar muito na boca, mas em bocas variadas?
E é por essas e outras coisas que vale a pena lembrar: Não tire o Diabo, nem o Louco, para dançar em 2020, mesmo que ele tenha cara de anjinho...
Citações e links:
(1) https://www.calendarr.com/brasil/carnaval/
(2) https://www.calendarr.com/brasil/origem-historia-carnaval/
(3) https://pt.wikipedia.org/wiki/Carnaval
(4) https://educador.brasilescola.uol.com.br/estrategias-ensino/as-diversas-faces-carnaval.htm
(5) http://www.scielo.br/pdf/ld/v11n1/a05v11n1.pdf
Vera Vilanova
Taróloga e Astróloga
veravilanova@gmail.com
Outros trabalhos seus no Clube do Tarô: Autores
Edição: CKR – 6/02/2020
  Baralho Cigano
  Tarô Egípcio
  Quatro pilares
  Orientação
  O Momento
  I Ching
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