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18 de dezembro de 2024

Responsável: Constantino K. Riemma


XIII. A Morte (ou Arcano sem Nome)
O Arcano das Transmutações e da Vida Eterna
 
Compilação de
Constantino K. Riemma
 
O "Arcano sem Nome", a Morte, no Tarot de Marseille-Camoin
Tarô de Marselha (1750)
Camoin-Jodorowsky
 
Esta carta, comumente designada como “Morte”, não tem nome algum inscrito no tarô de Marselha ou em suas suas variantes mais recentes. No entanto, em jogos similares franceses, do século 17, o título "La Mort" está presente, como se vê, mais abaixo, na carta do baralho impresso por Jean Noblet.
Um esqueleto revestido por uma espécie de pele tem uma foice nas mãos. Do chão negro brotam plantas azuis e amarelas entre restos mortais de seres humanos. O fundo não está colorido.
No primeiro plano, à esquerda, uma cabeça de mulher; à direita, uma cabeça de homem com uma coroa.
Um pé e uma mão aparecem também no chão; outras duas mãos – uma mostrando a palma e outra as costas – brotam atrás, ultrapassando a linha do horizonte.
O esqueleto está representado de perfil e parece dirigir-se para a direita. Maneja a foice, sobre a qual apoia as duas mãos. Em algumas variantes, seu pé direito não está visível.
Para o iniciante, mostra-se como a carta mais temível, mas os estudos simbólicos ajudam a entender um outro sentido no plano da evolução humana.
Significados simbólicos
Grandes transmutações e novos espaços de realização.
Dominação e força. Renascimento, criação e destruição.
Fatalidade irredutível. Fim necessário.
La Mort no Tarô de Jean Noblet
La Mort (A Morte)
Tarô Jean Noblet (1650)
 
Interpretações usuais na cartomancia
Fim de uma fase. Abandono de velhos hábitos.
Profundidade, penetração intelectual, pensar metafísico. Discernimento severo, sabedoria drástica. Resignação, estoicismo, dom para enfrentar situações difíceis. Indiferença, desapego, desilusão.
Mental: Renovação de ideias, total ou parcial, porque algo vai intervir e tudo transformar; como um fenômeno catalisador ou um corpo novo que modifica totalmente a ação do corpo atual.
Emocional: Afastamento, dispersão. Destruição de um sentimento, de uma esperança.
Físico: Morte, perdas, imobilidade. Completa transformação nos negócios ou atividades.
Desafios e sombra: Do ponto de vista da saúde, estagnação de enfermidade ou processo. A morte poderá ser evitada, mas em troca de uma lesão incurável. Segundo sua posição, pode significar a morte, em seus múltiplos matizes, mas também maus, más notícias.
Prazo fatal. Xeque-mate inevitável, mas não provocado pela vítima.
Ânimo baixo, pessimismo, perda de coragem.  
Interrupção de um processo para começar de modo diametralmente oposto.
História e iconografia
E provável que a alegoria da morte representada como um esqueleto com a foice, seja original do Tarô; se isto for verdade, trata-se de uma das contribuições fundamentais feitas pelas cartas à iconografia contemporânea, considerando a ampla popularidade desta metáfora macabra.
Van Rijneberk divide o estudo deste arcano em três aspectos: o número treze, o esqueleto, a foice. Como emissário de uma premonição sombria, o treze tem seu antecedente cristão nos comensais da Última Ceia, de onde a tradição extraiu um conto bastante popular da Idade Média: quando treze pessoas se sentam à mesa, uma delas morrerá em breve.
Esta superstição seria herdeira de outras versões mais antigas: Diodoro da Sicília, contemporâneo do imperador Augusto, explica desse modo a morte de Filipe da Macedônia, cuja estátua havia sido colocada junto as dos 12 deuses principais, dias antes de ser assassinado.
Simbolicamente, o número 13 representa a unidade superadora do duodecimal, ou seja, a morte necessária de um ciclo completo, que implica também – ainda que este aspecto tenha sido esquecido na transmissão popular – a ideia consequente de renascimento.
Na arte cristã primitiva não há traços da representação devastadora deste símbolo. Tal fato não será estranho se lembarmos das ideias centrais dos catecúmenos, ou seja, a morte entendida como pórtico de uma vida melhor.
 
A Dança da Morte, gravura em madeira de 1493.
Dança da morte
Gravura em madeira (1493) - www.deathreference.com
A arte dos primeiros séculos transmite a confiança na proximidade do Juízo Final (e a consequente ressurreição da carne), o que traduz a absoluta falta de medo frente a um estado transitório.
O esqueleto propriamente dito só aparece em todo o seu esplendor nas Danças da morte, disseminadas pelos cemitérios e claustros europeus, quase que simultaneamente, e com certeza não antes do séc. XV.
Tallin's Death
As pestes, no final do séc. XIV, evocam a morte inelutável. Reis ou vassalos, todos são afetados.
Danse Macabre de Bernt Notke, 1440-1509, na Igreja de S. Nicolau, em Tallinn, Estônia. (www.wikipedia.com)
O tema das composições desse período mostra-se idêntico em todos os lugares: o esqueleto se apodera (o matiz está apenas no grau de violência ou gentileza) de criaturas humanas de ambos os sexos, de qualquer idade e condição.
Outro elemento que as Danças da morte têm em comum é que todas são posteriores ao Tarô, de cuja popularidade puderam extrair o encanto de suas imagens.
A Morte, no Tarot de Oswald Wirth
Oswald Wirth
também não coloca
nome na carta 13
 
Nestas danças, no entanto, não há esqueletos com foices, mas sim com diversos objetos (uma espada, um arado, um par de tesouras, um arco e flechas) que se referem em geral ao ofício da pessoa que será levada pela morte.
Em Joel (4,13), Mateus (13,39), Marcos (4,29) e no Apocalipse (14,14-20) podem ser encontradas metáforas bíblicas em que se fala da foice como instrumento de justiça empunhado por Jeová, pelo Filho do Homem e, mais tarde, pelos anjos: como derivação deste princípio moral.
Os esotéricos não veem a morte como falha ou imperfeição: as formas se dissolvem, variam de aparência quando se tornam incapazes de servir ao seu destino. Desse modo, entre o Imperador e a Morte (primeiros termos do segundo e do quinto ternário, respectivamente), há apenas uma diferença de matizes: ao esplendor máximo do poder e da matéria sucede sua extinção, que é uma conseqüência lógica e também uma necessidade. Como parábola do processo iniciático em oposição à vida corrente, é talvez o arcano mais explícito: “O profano deve morrer – lembra Wirthpara que renasça a vida superior que a Iniciação concede”.
A morte guarda relações simbólicas com a terra, com os quatro elementos, e com a gama de cores que vai do negro ao verde, passando pelos matizes terrosos. Também é associada ao esterco, menos pelo que este possa ter de desagradável do que pelo processo de transmutação material que representa.
  Fontes:
Alberto Cousté, O Tarô ou a máquina de imaginar. Rio, Ed. Labor, 1977.
  Fonte básica para a descrição inicial dos 22 arcanos maiores e para o ítem História e Iconografia.
Anônimo (Valentin Tomberg), Meditações sobre os 22 Arcanos Maiores do Tarô. São Paulo, Ed. Paulinas
  O subtítulo da tradução espanhola (Herder, 1987) foi copiado nesta compilação.
Paul Marteau, O Tarô de Marselha.São Paulo, Ed. Objetiva, 1991.
  Essa obra serviu de base para o ítem Interpretações usuais na cartomancia.
Para fontes secundárias nesta compilação veja: Bibliografia
 
Contato:
Constantino K. Riemma - ckr@clubedotaro.com.br
Outros trabalhos seus no Clube do Tarô: Autores
Outros estudos sobre o arcano da Morte
  A Morte, os desligamentos e os desapegos. Verbenna Yin apresenta diversas compreensões simbólicas do arcano temido e indesejado : O fim de todas as coisas  
  A morte é inevitável, o velório é opcional. Artigo de Harah Nahuz sobre os desafios na leitura prática do arcano 13 : A única certeza da vida, é a morte.  
  Nosso encontro com a Morte. Denise Fernandes Marsiglia comenta o arcano XIII e apresenta o trabalho de Pedro Indio Negro no estilo de xilogravura : Galeria dos vinte e dois arcanos  
  Não tenha medo da Morte. Tinah Lima examina o simbolismo de mais um dos "arcanos malditos" e lembra as superstições ligadas ao número 13 : Arcano difícil, mas poderoso  
  O Triunfo da Morte. Cláudio Carvalho repassa a história do Arcano 13 e oferece informações sobre a iconografia da Dança da Morte : Da Divina Comédia ao tarô de Crowley
 
  Da Morte e da Torre ou o medo é uma questão de escolha. Emanuel J. Santos examina os temores associados a essas duas cartas : Reflexões sobre a Morte e a Torre
 
  O mês da Morte. Significados que Valéria Fernandes destaca quando o Arcano XIII é selecionado para orientar um mês de vida : Corte dos velhos hábitos
 
  Arcano 13. A Morte x Doença x Saúde, texto de Flávia Castellar (Ilankay Soncco) no painel sobre Tarô e Saúde : A Morte x Doença x Saúde
 
  Os Arcanos Maiores na Tradição Cigana. Transcrição do curso que Sarani Barrios ministrou no segundo semestre de 2008, em que revela a singular integração dos arcanos maiores aos diferentes ciclos de vida e às particularidades de cada idade : Os Arcanos Maiores
 
  Curso de Tarô com Betoh Simonsen. Texto integral do livro que Betô preparou para a apresentação do jogo completo das cartas : A Morte  
  Aprendendo a viver, cuidando de quem está morrendo. Monografia apresentada por Maria Sílvia Junqueira Wolff para conclusão do Curso de Psico-Oncologia, do Instituto Sedes Sapientiae, em 2004. Um texto bem didático que nos ajuda a refletir sobre a questão da morte e a aprofundar os conteúdos referentes ao arcano 13 do Tarô. O texto pode ser lido on-line ou copiado para impressão [26 págs. 14x21cm, para imprimir em 14 folhas tamanho A4. Formato pdf com 186KB] : baixar  
  Saturno, os planetas transaturninos e o Tarot. Betôh Simonsen apresenta os significados dos quatro planetas mais lentos e suas correlações com alguns arcanos : Planetas e arcanos maiores - Papisa, Eremita, Morte, Torre...  
A Morte: Crônicas & Artes
  Morte e Casa Oito. Débora Gregorino parte das referências astrológicas e partilha suas reflexões sobre o tema : Viver cada dia como se fosse o último  
  A cilada da Caveira. Crônica de Joneth de Carvalho em que comenta suas reflexões, os intercâmbios e provocações dos amigos sobre a caveira : Ver além das aparências  
  Cenários com a Morte. Instalação do artista plástico venezuelano Pedro Tineo em seu ateliê, próximo a Guanoco, o maior lago asfáltico da Terra : O esqueleto no asfalto  
  Fragmentos que a filosofia do Arcano sem Nome me inspira, por Eliane Accioly Fonseca. Reflexões sobre uma lâmina desafiadora e inquietante. Com ilustrações da autora : Fragmentos que a filosofia...
 
  Minha história com o 13, por Morgand. Comentários sobre o simbolismo dessa carta do Tarô na vida pessoal e nas leituras : História  
  Na seção de Artes e Poemas encontram-se versos inspirados no arcano : Poemas sobre a Morte  
Atualizado: novembro.19
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