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Tipologias de baralho - Funções e leituras possíveis |
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Esse texto foi produzido para apresentação no evento Oracular, promovido pelo Centro Cultural Esotérico, em São Paulo, junho de 2019. |
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Gostaria muito de agradecer a oportunidade de conversar com vocês sobre baralhos. Primeiro, porque é um tema ao qual me dedico há vinte... e alguns anos, tendo me profissionalizado e buscado associar a produção de conhecimento específico à nossa prática ao conhecimento acadêmico; em segundo lugar, porque eu descobri, no processo de elaboração dessa apresentação, questões sobre o baralho que me fugiam justamente por causa da minha familiaridade com ele. O conhecimento se produz no estranhamento. |
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No meu mestrado, estudei os catálogos de exposição pela perspectiva bakhtiniana, como um gênero do discurso específico. A propósito, minha dissertação de mestrado pode ser lida ou baixada em: http://www.unincor.br/images/imagens/2018/mestrado_letras/dissertacao_emanuel.pdf |
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Os gêneros do discurso são, de acordo com a proposta de Bakhtin (2016 [1979]), “tipos relativamente estáveis de enunciados” (BAKHTIN, 2016 [1953], p. 12, grifo do autor), constituídos por conteúdo temático, forma composicional e estilo semelhantes e indissociavelmente ligados ao enunciado, sendo específicos da esfera de atuação em que os enunciados circulam, que permitem inferirmos qual é a atividade responsiva adequada à sua natureza. |
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Dentro da reflexão elaborada, acabamos por questionar se o catálogo era um gênero ou um suporte. Chegamos a conclusão que era, de fato, um gênero. |
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A tese central de Marcuschi no artigo de 2003 é que todo gênero textual possui um suporte específico; entretanto, os limites entre um e outro não são tão claros quanto aparentam à primeira vista, demandando o cuidado dos pesquisadores. Conforme o autor, suporte “é um lugar físico ou virtual”, “tem formato específico” e “serve para fixar e mostrar o texto”. (MARCUSCHI, 2003, p. 12). |
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Livros de Bakhtin e de Marcuschi |
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Esse material teórico não ficou inerte em mim, e eu acabei vendo a minha prática diária (e possivelmente a de vocês também) como um possível gênero, que teria por suporte o baralho. Esse é um tema que ainda dará pano para manga, me aguardem. Por ora, vou escapar um pouco da teoria e partir para uma análise mais empirista. Como disse, eu pratico, pesquiso e ensino a cartomancia, e sou um colecionador (hoje muito menos fominha, mas ainda assim voraz) de baralhos. E, no processo de aquisição dos baralhos, percebi que haviam padrões – o que, dentro da conceituação bakhtiniana, é chamado de relativa estabilidade – que me permitiam criar certos diálogos e não outros, certas leituras e não outras, certas práticas e não outras. É sobre isso que gostaria de falar, tendo por referência minha coleção de baralhos. Com uma única exceção, relativa ao padrão germânico, me manterei focado nos exemplares que tenho em minha coleção. |
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Para isso, faz-se necessário definir então o que é o baralho e o que é o jogo de cartas de baralho, para podermos a seguir caminhar de forma unívoca pelas categorias elencadas. |
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Uma das coisas que mais me surpreendeu no que tange à pesquisa de baralhos é a ausência de uma terminologia adequada. Não se trata de criar neologismos, mas sim de entender o baralho como suporte para diversos gêneros, como os educacionais e propagandísticos, assim como seus usos adivinhatórios e mágicos – essa palavra sendo tomada em uma perspectiva esotérica e também de prestidigitação. No site da COPAG encontrei a seguinte definição: |
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Conjunto de objetos planos e uniformes (denominados cartas), que apresentam em uma de suas faces símbolos que podem ser agrupados em conjuntos homogêneos (denominados naipes); cada naipe forma uma série composta por várias cartas de valores diferentes. |
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A outra face (denominada dorso) apresenta ornamento decorativo, repetido em todas as cartas (caso mais comum, modernamente) ou não apresenta nenhum elemento impresso, o que ocorre na maioria dos baralhos produzidos antes do século XIX. O conjunto é utilizado, principalmente, como apetrecho de vários jogos, seguindo regras específicas.
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Por sua vez, o jogo de cartas é definido no mesmo site da seguinte forma: |
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[...] Mas sua principal peculiaridade, que os distingue fundamentalmente dos jogos até então existentes, é serem os primeiros baseados em informações incompletas. Enquanto nos jogos de tabuleiro todos os jogadores conhecem as posições das peças e suas possibilidades de movimentação, nos jogos de baralhos parte dessas informações fica desconhecida, acrescentando um componente de incerteza na estratégia da disputa. Além do fator sorte e aleatoriedade, introduzidos pelos dados, acrescenta-se a falta de informações completas sobre as ‘peças’ em jogo. |
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Percebe-se, com isso, que o site está voltado para os jogos de azar, mas que deixou um material interessante para ser interpretado à luz das nossas práticas: a mecânica de um jogo de cartas, independente de sua natureza. |
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Longe de esgotar o tema – temos um longo caminho a percorrer nesse sentido – gostaria então de apresentar algumas categorias de baralhos que, por suas relativas estabilidades, permitem a geração de efeitos de sentido diferentes na prática oracular. Não é nosso intuito nem o aprofundamento nem a problematização, que seriam de bom grado produzidas, mas não nessa ocasião, mas sim mostrar a heterogeneidade dos suportes que tem a alcunha de baralho. |
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Os 22 arcanos maiores do Tarô de Marselha restaurado por Camoin e Jodorowsky |
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Imagem: www.clubedotao.com.br |
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O Tarô é um grande conhecido nosso, então não vou me estender muito em suas características. Como suporte, apresenta-se em sistemas interpretativos com 22, 42 ou 78 cartas, com uma interpretação cada vez mais unívoca e mais independente do que é considerada a cartomancia em seu amplo espectro. Curiosamente, não encontrei o sistema de 42 cartas fora do Brasil, e os livros que se dedicam aos Arcanos Menores estão a serviço da Taromancia com 78 cartas. |
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No grupo denominado cartas de conversação, encontramos uma maior relação com as cartas comuns de jogar: os sistemas aqui elencados são diretamente relacionados com o baralho comum, sendo possível, a partir de uma perspectiva mnemônica, utilizar um baralho comum para sua prática. As cartas de conversação são ilustradas com imagens que se relacionam diretamente com seu significado adivinhatório, e sua estrutura respeita o número de cartas e os naipes de um baralho convencional. Elencamos, a título de ilustração, o Petit Lenormand, o Grand Jeu Lenormand, o Petit Oracle des Dames e as Sibillas italianas. |
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Petit Lenormand |
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https://i.pinimg.com/originals/3f/bb/e2/3fbbe2426ca09d79f35be2d92c1fb6eb.png |
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O Petit Lenormand é composto por 36 cartas ilustradas e numeradas de 01 a 36, associadas diretamente às cartas de um baralho comum. Origina-se do Jogo da Esperança, um jogo de tabuleiro que visava alcançar a carta 35, a âncora (o emblema da Esperança). Seu uso oracular é posterior à sua criação, tendo sido apenas sugerido originalmente. Suas imagens são estáveis e houveram poucos acréscimos e decréscimos significativos em sua intepretação particular. Existem baralhos que eximem a presença das cartas comuns de jogar, mas sua relativa estabilidade se mantém pela natureza das imagens e, sobretudo, pela numeração, presente em todos os baralhos que encontrei de forma unívoca. |
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Sibilla Italiana |
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Imagem: www.clubedotao.com.br |
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Os baralhos conhecidos como Sibillas Italianas seguem o padrão ilustrativo que vimos no Petit Lenormand – uma imagem evocativa enquadrada em uma numeração e naipe do baralho comum, com interpretações notavelmente diferentes e mais sofisticadas; como exemplo, podemos citar a relação entre a carta da Âncora (9 de Espadas) do Petit Lenormand com a carta da Esperança (8 de Copas) do Sibilla: Embora as imagens remetam para o mesmo conceito, a estrutura numérica e dos naipes remete a experiências diferentes, que devem ser observadas em um e outro caso. O baralho é dotado de 52 cartas, não é numerado como o Petit Lenormand e possui grande número de figuras humanas. Novamente, a interpretação dos naipes é fundamental para entender quando se trata de pessoas e quando se trata de assuntos. |
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Grand Jeu Lenormand |
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https://www.wopc.co.uk/galleries/4022/127_astro-lenormand-2.jpg |
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O Grand Jeu Lenormand, ou baralho astromitológico, é um sistema composto por 54 cartas – duas cartas testemunha e 52 cartas correspondentes às cartas de um baralho comum, organizadas em 9 estruturas diferentes, associadas à astrologia, numerologia, geomancia, feitura de talismãs, mitologia e herbologia. Apesar de levar o nome Lenormand, não há indícios de ter sido idealizado por Mlle. Lenormand, sendo uma jogada de marketing da Grimaud. |
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Mlle. Lenormand usava, possivelmente, o sistema de Etteilla para suas leituras. |
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Petit Oracle des Dames |
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https://media0.nazory.eu/images/media0:50f61fd287e83.jpg/petit%20oracle4.jpg |
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O Petit Oracle des Dames é pouco conhecido por aqui – eu mesmo o encontrei em Paris e adquiri por curiosidade. Esse é um baralho que dá um nó na cabeça: as imagens correspondem em sua grande parte às imagens do Grand Etteilla, mas possuem a representação de cartas do baralho comum, como um baralho de conversação, sem, no entanto, corresponder a um baralho completo; algumas cartas possuem uma correspondência das cartas comuns em sua posição convencional e outra em sua posição invertida, outras não, algumas possuem duas imagens evocativas, outras não… Trago esse baralho por ter encontrado, na obra de Mary Del Priore, seu título traduzido e publicado no Rio de Janeiro Oitocentista, uma questão a ser comprovada documentalmente – há a possibilidade desse título corresponder ao Petit Etteilla. Não podemos exigir que a Mary Del Priore seja tão específica como nós somos: |
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A mulher, mais vulnerável que o homem às tribulações do destino, merecia ter melhor guia. Daí ele [Etteilla] ter concebido o Pequeno oráculo das damas, capaz de responder “aos pequenos aborrecimentos e grandes esperanças”! Traduzido, seria vendido nas livrarias do Rio de Janeiro. (DEL PRIORE, 2014, p. 107) |
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Seguimos agora aos conjuntos de cartas que, sendo também considerados baralhos, não possuem uma reprodutibilidade ou ordenação coesa com a proposição da relativa estabilidade do baralho comum de jogo. Ainda assim, são chamados de baralhos e, por isso, sua presença por aqui. Nessa categoria, temos dois grupos: os baralhos oraculares e os baralhos de jogos de azar, completos ou colecionáveis. |
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Cartas do oráculo de Belline |
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www.clubedotaro.com.br/site/imagens/p/550-Claudia-Sibila-Belline.jpg |
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A característica principal dos oráculos com cartas é a sua irreprodutibilidade. Enquanto é possível a um artista reproduzir os conceitos de um Tarô ou de um baralho de conversação com sua própria assinatura, um oráculo possui uma característica única, que o liga ao seu autor de forma, no limite, judicial: embora você consiga encontrar no mercado diversos oráculos voltados para os animais, cada um deles possui uma seleção e ordenação específicas e voltadas para a experiência do autor. Podemos incluir nesse grupo as cartas do Baralho da Vovó Cigana (Pallas), o Oráculo de Belline (Isis), o Osho Neo Tarot (Madras), os oráculos xamânicos de Jamie Sams (Rocco) e vários outros. Como podemos perceber, embora a lógica que os estruture (forma composicional) possa ser estabelecida, sua natureza (conteúdo temático) não pode ser reproduzida. |
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Cartas do Magic The Gathering |
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http://www.manaleak.com/mtguk/2016/03/guardians-galaxy-magic-gathering-cards-set/ |
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Dentro de um caráter mais profano (uso o termo em seu sentido restrito, ou seja, fora do grupo até agora analisado; algum baralho é, por si mesmo, sagrado?) temos os card games colecionáveis, como Magic The Gathering, talvez o mais famoso baralho desse tipo de jogo. Lançado em 1993, desde 1994 possui campeonatos e movimenta milhões (alguma semelhança com o Poker?). Foi anunciado um seriado baseado na franquia a ser lançado em 2020 pela Netflix. A mesma estrutura de jogo foi seguida para a elaboração do card game de Pokémon, veiculado no Brasil pela Copag, e o jogo de Yu-Gi-Oh!, ambos animes de sucesso no Brasil. |
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Além desses, há as 52 cartas do anime Sakura Card Captors – que já foram associadas a conteúdos adivinhatórios. |
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Outro card game muito conhecido no país é o jogo do Mico. |
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Um dos maiores problemas com os quais me deparei, e veja, só, agora posso colocar no plural – um dos maiores problemas com os quais nos deparamos é com o fato de que até o momento falamos de cartas ilustradas e específicas. Mas e as cartas comuns, ordinárias, de jogar? Como deveríamos chama-las para especificar sua natureza? Tendo consciência de que esse problema não é de fácil solução, assim como o mesmo problema ligado ao termo cartomancia, parto para a relativa estabilidade formal das cartas de jogar conforme sua origem geográfica, sistema comumente utilizado pelos colecionadores. Não estamos, nesse momento, organizando por uma perspectiva histórica ou valorativa, e sim qualitativa: são baralhos ainda hoje encontrados no mercado, com relativa facilidade (ou não, dependendo da edição, para o desespero dos colecionadores). |
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Baralho alemão |
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O padrão germânico é o que menos conheço; por isso, reservo-me o direito de não falar besteira. A principal referência material que temos a esse padrão é a presença dele no Jogo da Esperança em sua primeira edição, apontando para os diálogos entre os índices e as imagens. |
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Padrão francês |
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Em oposição ao anterior, deste eu consigo falar bastante coisa, já que é atualmente o sistema que mais utilizo – é a respeito desse baralho que escrevi o livro Cartomancia: Teoria & Prática e venho ministrando cursos. Nesse padrão, temos um espelhamento diagonal, diferente do horizontal, com o qual estamos habituados. É composto por 32 cartas, tradicionalmente (Ás, Sete a Dez, Valete, Dama e Rei dos quatro naipes), mas encontramos hoje em dia versões com 52 cartas. A cada uma das cartas da corte é associada uma personalidade histórica, bíblica ou mitológica. A relação orgânica entre elas é desconhecida. |
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Baralho Espanhol |
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O padrão espanhol é muito utilizado ao sul do país, para o Truco Gaudério. Esse baralho, de influências mouriscas e que suplantou o padrão português vigente no Brasil no início do século XIX não possui uma figura feminina na corte, talvez o primeiro e maior estranhamento em relação ao baralho cujo padrão estamos familiarizados. Nada que na Cartomancia não seja resolvido: as mulheres são representadas pelos valetes. Os naipes ocupam toda o espaço da carta e, para a identificação discreta durante os jogos de azar, foram desenvolvidas as pintas, presentes na parte superior e inferior da carta: um traço contínuo, Ouros; uma interrupção, Copas; duas interrupções, Espadas e três, Paus. De acordo com o número de cartas – 40 ou 48 – a corte será representada numericamente: Num baralho de 48 cartas, o Valete corresponde à 10, Cavaleiro a 11 e Rei a 12. |
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Padrão internacional |
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O padrão considerado internacional é uma soma de características dos baralhos anteriores: Possui 52 cartas, somadas costumeiramente a um par de Coringas; as cartas vão de 1 (Ás) a 10 e a corte é formada por Valete, Dama e Rei, cujos índices estão em inglês: Jack, Queen e King. Os naipes são franceses – corações, trevos, pontas de lança e losangos, mas chamados como os naipes espanhóis: Copas, Paus, Espadas e Ouros. |
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7 de Copas do Metastasis, 7 de Ouros do Vanity Fair e 3 Paus do The Key to the Kingdom |
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https://en.wikipedia.org/wiki/Transformation_playing_card |
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Há um grupo de cartas, que coexistiu/coexiste com o grupo das cartas de conversação, chamado cartas de transformação, porque transformam os naipes em elementos ativos na produção de imagens. Embora haja coerência na sua produção, não há uma intencionalidade que vise a adivinhação. Mas temos aqui um elemento de estudo que pode apontar para a bifurcação entre um estilo de produção de baralhos e outro. |
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E aqui voltamos para o nosso trabalho oracular, para a pesquisa em Cartomancia e a prática em particular: os problemas que se delineiam no estudo. Em primeiro lugar, já percebemos que há muitos padrões de baralhos historicamente estabilizados, organizados geograficamente. Entendemos que as ilustrações dos baralhos não dialogam diretamente com uma intencionalidade adivinhatória. E, por fim, temos os baralhos de transformação que poderiam ser equivocadamente associados à adivinhação – atire a primeira pedra quem nunca viu alguém interpretar um detalhe de carta como se fosse o segredo guardado a sete chaves pelos faraós do Egito… |
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Além disso, é importante frisar, o baralho, sobretudo o padrão internacional, é utilizado em três frentes: para o jogo, seu principal uso; para a prestidigitação, a mágica de salão; e para a adivinhação. É inevitável que esses usos se interpenetrem de forma indelével, porque, ao contrário do Tarô, o baralho não se isolou em seus diversos usos propostos. O mesmo baralho comum é utilizado pelo jogador, pelo mágico e pelo adivinho. Por um lado, sua acessibilidade torna esse um dos instrumentos lúdicos mais eficazes de todos os tempos; por outro, traz significativas dificuldades para o estudo adivinhatório com eficácia e coerência. |
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Eu adoro esse quadro, do pintor Albert Anker, a Adivinha, pintada em 1880. Primeiro, porque é um jogo de Cartomancia Francesa; segundo, porque temos na tela todo o imaginário sobre o ser cartomante: mulher, de meia idade rumo a velhice, orientando e convencendo jovens sonhadores do que as cartas dizem. É o que vejo como referência quando afirmo minha posição de cartomante. Fora a questão da idade, que chega para todos, eu não vou corresponder nunca ao padrão do quadro. Então, o que é ser um produtor de enunciados concretos tendo por suporte um maço de cartas que visa como atividade o aconselhamento e a previsão? |
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Repensar esses valores no século XXI demanda alguns posicionamentos. Em primeiro lugar, a delimitação de cada proposta de cartomancia. Enquanto os baralhos ilustrados nos permitem, com a educação visual correta, entender as propostas interpretativas de cada carta – e, nesse momento, ainda contamos com uma homogeneização dos significados – em relação ao baralho comum temos o caminho oposto: para aprendermos cartomancia, lançamos mão mais dos recursos mnemônicos conceituais que visuais, e é a partir da estrutura do jogo e das combinações entre as cartas que podemos elaborar previsões acuradas. Você sabia que os estudos do Etteilla sobre baralho comum foram aproveitados tanto por Papus quanto por Waite? E quantos tarólogos você conhece que reconhecem as combinações que estão no livro como estáveis e utilizáveis?
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Por isso, aprender Cartomancia com o baralho comum é um esforço específico por um idioma específico aplicado a um mesmo suporte. Da mesma forma que eu posso ser um excelente jogador de truco e um péssimo jogador de poker usando o mesmo baralho, eu posso ser um excelente cartomante por um método e um péssimo cartomante por outro. Pura questão de identificação com as regras que norteiam uma utilização e outra. |
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Atualmente, eu ministro dois cursos de Cartomancia, em modelo EAD: a Cartomancia de São Cipriano, que chamo carinhosamente de luso brasileira, pela circularidade do livro homônimo que registrou suas regras em Portugal e no Brasil; meu carinho por essa cartomancia decorre do fato que foi a primeira que aprendi, com a minha avó. E a Cartomancia Francesa, com o baralho de 32 cartas, que já se mostrou eficaz e cirúrgica nas respostas mais de uma vez. Sobre essa cartomancia já escrevi um livro, publicado pela Editora Alfabeto – e brevemente terei mais coisas publicadas para oferecer. |
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Emanuel J Santos - Mestre em Letras (UNINCOR), Licenciado e Bacharel em
História (UFOP), Técnico em Conservação e Restauro de Bens Culturais (FAOP), cartomante
e escritor de Cartomancia. Autor dos livros Conversas Cartomânticas, Baralho Cigano: as
cartas de Madame Lenormand (co-autoria de Laura Tuan) e Sibilla Della Zingara (AGBook).
Autor dos livretos que acompanham o Baralho para Ver a Sorte (Copag);
Petit Lenormand (Alfabeto); Esmeralda Lenormand (Karla Souza).
Responsável pelo blog www.conversascartomanticas.blogspot.com
Outros trabalhos seus no Clube do Tarô : Autores |
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