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O Simbolismo da Rosa nos Arcanos do Tarot |
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A rosa está para a o ocidente como o lótus está para o oriente. Ela representa a primeira manifestação que de dentro das águas primordiais se eleva e desabrocha, como a rosa cósmica Tripura Sundari da cultura indiana, que faz referência à beleza da Mãe Divina. Não é à toa que no rosacrucianismo a rosa é representada no centro da cruz, ou seja no lugar do coração do Cristo. Na iconografia cristã representa a transmutação do seu sangue ou de suas chagas. |
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A rosa mística do cristianismo é também um simbolismo atribuído à Virgem Maria e, mais especificamente, em suas inúmeras aparições, sendo a mais marcante a de 1947 para a enfermeira italiana Pierina Gilli, E e outras aparições com os mesmos símbolos se estenderam até 1984. |
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A Rainha de Espadas do Morgan-Greer Tarot. A rosa, símbolo de beleza e
de elevação espiritual. |
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Em sua primeira aparição Nossa Senhora da Rosa Mística é vista segurando em seus braços três espadas, e depois passa a ser representada trazendo junto ao peito três rosas, uma branca, uma vermelha e outra, dourada. A rosa branca simboliza a abertura à oração como uma forma de comunhão com o Divino, e o encontro da vocação interior. A vermelha representa a purificação dos pecados através do sacrifício feito amorosamente. E, por fim, a rosa dourada simbolizaria a penitência de todos aqueles que deveriam representar os preceitos cristãos, mas que traíram a Igreja, seus sacerdotes e monges, e a necessidade de corrigi-los! |
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Curiosamente as rosas aparecem, com uma grande frequência, associadas ao simbolismo do naipe de espadas, que traz em seu escopo de significados a ideia de sofrimento, correção, a busca da verdade, da justiça e a potência da razão. |
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A rosa também aparece como uma roda, devido ao arranjo de suas pétalas, e que se evidencia na forma da rosa dos ventos, indicando que evolução é movimento! E como tanto na tradição católica quanto muçulmana, e também pagã, as rosas são associadas ao sangue derramado, seu simbolismo está fortemente ligado ao conceito de renascimento espiritual. Sua imagem parece mesmo traduzir isto tudo! De uma haste espinhenta e, portanto dolorosa, ergue-se uma linda flor delicada e de perfume embriagador. Como a alma que se eleva de seus sofrimentos com a beleza do entendimento, a sabedoria, que exala para todos os que a cercam, encantando e instruindo pelo exemplo. Um símbolo de crescimento interior e de amadurecimento espiritual. |
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A deusa grega Hécate, uma deusa do submundo e arauto dos aspectos sombrios da consciência, era por vezes representada portando uma guirlanda de rosas de cinco folhas. O número cinco representa a mudança e o movimento que vêm do quatro, que é a cifra da ordem em vigência. Isso associado ao simbolismo de Hécate deixa claro que não existe nenhum tipo de renascimento ou despertar espiritual sem um mergulho nas próprias sombras. O que costuma ser doloroso de algum modo! |
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Mais tarde a rosa seria associada ao amor, pois que uma vez associada ao Cristo em sua missão e sacrifício por amor à humanidade, passa a representar o amor puro ou ideal que todos os homens buscam. Mais uma vez vemos uma referência à idealização humana, um claro atributo da mente racional (naipe de espadas), mais do que da afetividade fantasiosa (naipe de copas). |
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O 9 de Espadas do Rider-Waite. O 2 de Espadas do Thoth Tarot,
de Aleister Crowley, onde a Rosa dos Ventos aparece ao fundo... |
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Foi nos baralhos criados por alguns dos membros da Hermética Ordem da Aurora Dourada, a Golden Dawn, que se originou a conexão entre o simbolismo das rosas e as imagens arquetípicas do tarot. O primeiro foi Arthur Edward Waite em seu Rider-Waite de 1910, que apresenta o arcano de O Louco segurando uma rosa branca na mão esquerda, simbolizando uma consciência pura, livre de conceitos enrijecidos e aberta a novas inspirações. Depois rosas vermelhas aparecem rodeando o personagem central do arcano de O Mago, e nas vestes do arcano de A Imperatriz. O primeiro representando o influxo poderoso de uma energia superior, e o segundo a manifestação criativa no mundo exterior desse mesmo influxo. Mais adiante as rosas vermelhas aparecem ao lado de símbolos astrológicos bordados nas cobertas da atormentada figura do arcano do 9 de Espadas. Quem sabe numa alusão a se extrair um propósito maior do sofrimento? |
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Aleister Crowley faz o mesmo em vários arcanos do naipe de espadas em seu Thoth Tarot, de 1943. Como no 2, 3, 4 e 6 de espadas. O 2 de Espadas de Crowley alude a uma paz delicada que não pode ser mantida para sempre, e algo tem de ser decidido, por isso aparecem as duas espadas atravessando o centro de uma mítica rosa azul (um sonho de perfeição da Idade Média). O 3 de Espadas mostra uma rosa sendo destruída por três espadas de tamanhos diferentes, simbolizando o sofrimento que é inerente às escolhas que fazemos. O 4 de Espadas mostra quatro espadas que se encontram no centro de uma rosa fantástica de quarenta e nove pétalas, simbolizando a trégua depois do enfrentamento. E, por fim, o 6 de Espadas mostra a rosa-cruz como a conquista de um novo patamar de consciência (Ciência) sobre os sofrimentos passados. |
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O mesmo ocorre no tarot da Golden Dawn, desenhado por Robert Wang em 1978, que segue as instruções contidas no Liber T, e que também serviu de base aos criadores antes citados para os seus respectivos baralhos. Esse texto era utilizado para as meditações e práticas rituais que se utilizavam do tarot. Os iniciados nessa ordem eram incentivados a estudar, praticar e desenhar seus próprios baralhos como uma forma de imersão profunda no simbolismo dos arcanos. Não se admira que tantos baralhos influentes até hoje tenham derivado desses adeptos. O que também deu, por outro lado, origem a todas as distorções criadas no simbolismo clássico do tarot que vemos hoje. Reza a lenda que o baralho original da Golden teve seus esboços desenvolvidos por MacGregor Matthers, um de seus lideres mais influentes. |
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O 6 de Espadas do Golden Dawn Tarot de Robert Wang.
O Louco do Osho Zen Tarot segura a rosa branca, assim como seu irmão do Rider-Waite... |
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No baralho desenhado por Wang, sob a orientação de Israel Regardie, outro membro da Golden, o naipe de espadas tem rosas representadas nos seus arcanos numerados do 2 ao 8. Já mencionei em outro artigo meu A Viagem da Alma nos Arcanos Menores, que as cartas de naipe no tarot, assim como os arcanos maiores, mostram uma trajetória da consciência, mas desta vez por cada um dos quatro níveis específicos de manifestação da vida: energético/criativo (paus), psíquico/afetivo (copas), mental/racional (espadas), e prático/físico (ouros). A sequência dos desenhos mostram nessa obra a mente movida por altos ideais em sua busca por elevação e compreensão das mazelas vividas, começando por suas decisões no 2 de espadas, até ser superada por si mesma, quando nos arcanos 9 e 10 de espadas a rosa desaparece. Então o ideal da nossa áspera mente julgadora e crítica fenece e abre, depois de muito sofrimento, espaço para uma nova forma de percepção, uma que vá além da mente, e integre as outras partes do ser. Qualidade representada pelo próximo naipe, ouros, que vem a seguir encerrando a série dos quatro mundos manifestos. |
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Mais recentemente, no Morgan-Greer tarot, a lúcida mas exigente Rainha de espadas é representada, ao que parece, num belo jardim cercada de lindas rosas vermelhas enquanto empunha majestosamente a sua espada a frente, entre si mesma e o expectador. Parece lembrar-nos de que a mente e suas capacidades de análise, discernimento, julgamento e discriminação são extremamente úteis e necessárias sim, mas que devem estar embasadas em ideais o mais libertadores e flexíveis possíveis. Caso contrário encontraremos a sombra dessa rainha, que é justamente o preconceito, a visão estreita e nada inclusiva de certo e errado, e a crítica devastadora a tudo que não se encaixe dentro desta visão! O que poderíamos resumir citando aquela máxima que diz que a mente é uma ótima serva, mas uma péssima anfitriã. |
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Livros para ler:
- A Golden Dawn - A Aurora Dourada, Israel Regardie. Editora Madras
- Dicionário de Símbolos, Jean Chevalier & Alain Gheerbrant. Editora José Olympio |
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