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Quarentena com crianças: como atravessar? |
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Confinamento. Nada mais oposto à energia da criança. Imersos nesse universo paralelo, o que fazer com esses seres? E a escola? E a ansiedade? E os meets, as lives, as contas, o... |
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Deixo, aqui, um convite: uma suspensão do tempo. |
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Só por um dia, como um desafio, comece sua manhã de um outro lugar. Mesmo que seja, a princípio, só faz-de-conta. Comece com você: abra a janela e sinta o sol no rosto, no peito, na parte do corpo que dá. Se não houver sol fora, feche os olhos e imagine dentro. |
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Na quarentena, diferentes momentos do dia para as crianças |
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Fotos de Cláudia, a mãe e estimuladora das atividades |
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Depois chame as crianças. Diga que você recebeu a missão, uma importante missão, de descobrir junto com elas os portais para lugares infinitos, ou dê outro nome que te soe melhor. Elas talvez estranhem, então é importante manter a seriedade da proposta. A ideia é procurar pela casa. Algum canto secreto, talvez um canto de armário, talvez um fundo de panela, talvez a fresta de alguma janela. Algum lugar que acelere um pouco mais o coração, ou traga um zumbido no ouvido, esse pode ser o sinal para ter encontrado a passagem. Mas não é de qualquer jeito que se busca. Antes, é necessário respirar. Levar o sol para dentro do peito, ampliar o espaço, ampliar a escuta. |
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O portal pode ser, também, uma canção. Um lugar que se acessa depois de uma determinada nota. Uma fenda que se abre no ar depois de uma dança, ou a partir de um cheiro, ou da chama de uma vela. Ah! E também podemos usar os objetos mágicos. Quem sabe, aquela chave perdida no fundo da gaveta? Uma pedra? Uma varinha feita com um galho caído? |
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Entre outras atividades, pintar os óvos de Páscoa ! |
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O importante é o estado de busca. |
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Aberta a passagem, reverencie a viagem para esse outro mundo. Converse com os seres que ali habitam, e dê, a eles, presentes. Construa uma casa para os elementais, mas antes disso, faça uma linda faxina. Fadas amam lugares arrumados, e organizar a casa vira tarefa boa. |
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No meio do dia, preparem juntos uma comidinha gostosa: mas para que isso possa acontecer, todos ajudam. Se puder, cantem ao preparar os alimentos. O canto traz poder de cura. |
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À tarde, dê a eles a missão de continuar estabelecendo contato, ou procurar novos lugares sagrados. Enquanto isso, você pode se ocupar das coisas da gente adulta. Mas nesse dia, só por esse dia, evite ficar muito tempo nisso. Não por escapismo, mas porque há algo importante a ser continuado: a configuração dessa outra dimensão. Isso necessita dedicação. |
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Ao entardecer, os filhos e os pais |
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Mais tarde, perto do pôr-do-sol, leia um conto de fadas, desses em que meninas corajosas e meninos valentes passam por coisas terríveis, e colhem daí um aprendizado. Leia para você também, sentindo cada palavra. Então você descobrirá que os contos não são simples historinhas, são encantamentos disfarçados de travessias. |
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Se, com tudo isso, você sentir vontade de chorar, chore. A força das águas é maior que você imagina. Mas colha todas as lágrimas numa tigela de cristal, e ofereça às estrelas-guia. Também ouse rir. Pergunte às crianças para onde as levaram os portais recém-descobertos. Anote. Isso é coisa séria a se validar. Fale, também, da sua experiência. Talvez elas estejam curiosas em saber porque um adulto, nesse dia, se deu ao luxo de procurar mistérios. |
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Duas aquarelas de Gabriel, 10 anos, pintadas nesses dias de quarentena |
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Antes de dormir, liguem para os avós. Deixe que as crianças contem como foi o dia. Apenas escute, e leve cada palavra ao coração, contemplando a força do sutil. |
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Ao coloca-las para dormir, façam uma última conexão. Um abraço apertado, uma intenção para o sagrado. Recapitulem todos os tesouros colhidos. Transformem tudo isso em uma atmosfera para se levar ao campo dos sonhos. Agradeçam o dia, a vida, a existência, e os múltiplos universos que nos cercam, muito além da realidade aparente. |
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Talvez, com tudo isso, você perceba que o faz-de-conta é só o primeiro passo para uma outra dimensão invisível. Uma vez aberto o portal, não tem volta. E é daqueles infinitos mundos que colhemos coragem para atravessar o tremor dos dias. |
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Claudia Pucci Abrahão
é escritora, documentarista e consultora literária. Dedica-se
à espreita
dos universos invisíveis e os materializa em histórias e travessias.
É mãe de três meninos e fabricante de www.instagram.com/varinhasmagicas.
Seus livros, textos e filmes podem ser vistos pelo site www.giradodelirio.com
Outros trabalhos seus no Clube do Tarô: Autores |
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