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21 de dezembro de 2024

Responsável: Constantino K. Riemma


A Libido no Tarô: diferenças entre a Força e o Diabo
Giancarlo Kind Schmid
Como tratado no texto sobre as diferenças conceituais entre os arcanos “Justiça” e “Temperança”, algumas vezes os significados dos arcanos acabam se tangenciando sutilmente, exigindo do pesquisador e/ou praticante um entendimento mais profundo da essência simbólica. Vamos tratar, aqui, de dois arcanos que se referem à libido, energia criativa, propulsora e sexual: os arcanos Força (8 ou 11) e o Diabo (15).
Precisamos inicialmente entender do que se trata o termo libido, que vem do latim “libido” e significa desejo, paixão. Psicanaliticamente (Freud), a libido é uma energia poderosa e instintiva que leva os seres se atraírem sexualmente, mas pode se estender a coisas como objetos, na forma de desejos ou busca de prazeres. No entanto, na visão psicoanalítica (Jung), a libido não se limita à sexualidade, é também uma força geradora e criadora que nos impulsiona à realização pessoal (algo parecido com o conceito de “vontade de potência” postulado pelo filósofo Nietzsche). Entendido o conceito, devemos distinguir a natureza desses dois arcanos que destrincharemos em significados.
A Libido no Tarô e o Diabo
O Diabo no Tarô de Marselha e no Rider Waite
No arcano Força temos uma mulher segurando sutilmente um leão entre as pernas (Marselha), mantendo com as mãos sua boca escancarada. A mulher tem a lemniscata (símbolo algébrico do infinito) sobre a cabeça (como no arcano 1. Mago) e aparentemente não despende energia na tarefa de manter a fera sob controle.
O nome Força outrora se referia a uma das virtudes cardinais – a Fortaleza – que significa a capacidade de resistir às tentações, aos vícios, mantendo-se firme diante das agruras da vida. Entendo, hoje, que esse arcano está muito próximo de um termo que se popularizou: resiliência. Logo, sugere o autocontrole e, dessa forma, maleabilidade e resistência diante dos problemas ou dificuldades. A figura concentra energia interior e não energia física, pois não é do corpo que vem a capacidade de domínio da situação. Por um lado, o leão, animal régio, está associado ao ego; observando no arcano do Rider Waite, já a mulher, com flores na cabeça e pelo corpo, numa túnica branca, representa a pureza de intenção e o aspecto virginal. Ela é como a noiva que está vestida para o casamento, pronta para consumar o ato sexual no final do rito nupcial. Podemos observar, desta maneira, a boca do leão aberta na altura do sexo da figura, sugerindo receptividade sexual e magnetismo pessoal. Porém, aqui, a libido assume a forma de interesse sexual ou apenas a receptividade para a cópula. O desejo é intenso, mas controlado, não há extravagâncias, apenas o instinto de acasalamento.
Tarô e Sexo - A Libido no Tarô - A Força
A Força no Tarô de Marselha e no Rider Waite
No Rider Waite a figura tem ao fundo o amarelo (cor solar) e tem paralelo com o estágio alquímico “calcinatio”, quando o fogo está alto no atanor (forno dos alquimistas) produzindo grande quantidade de calor, alterando as propriedades da matéria. A libido, aqui, está no seu auge e a natureza exige canalização dessa energia operante. O primeiro arcano que fala de fato, de prazer, é o arcano 3. Imperatriz onde a sensualidade faz sua morada e as sensações se manifestam. Mas, é no arcano Força que há desenvoltura da libido, e há uma necessidade real de comunhão ou saciedade sexual.
Já no arcano Diabo, essas energias estão descontroladas. Primeiro, no arcano Força o domínio é da figura feminina sobre a besta; nesse arcano, o “animal” (na forma do demônio) é quem domina, aprisionando as figuras humanas. Partindo dessa comparação, já podemos entender que, aqui, a libido extrapola os limites dos desejos comuns potencializando-se em taras e outros tipos de apetites (não só sexuais, mas todos que privilegiam a carne). Diferente do tom áureo do arcano Força, aqui a escuridão toma conta, pois há um mergulho na Sombra, onde aspectos mal trabalhados, reprimidos e latentes da natureza humana se mesclam. Não é o mal em si, mas a tendência aos desvios, aos desejos sórdidos, ao controle e poder, aspectos de desiderato que se distanciam daquilo que “moralmente é aceito”. No estágio alquímico temos o “nigredo” quando a matéria está mais escura e dela podemos extrair algo de substancial, puro ou precioso (tal como a lótus que nasce da lama), o ouro filosofal. A libido aqui se manifesta por meio de compulsões ou mesmo obsessões, não há saciedade, o indivíduo não está no controle, é marionete de seus instintos. É como se o leão do arcano (em comparação) submetesse a donzela e assumisse o controle da situação.
Há muita energia despendida, mas grosseira e desvirtuada, capaz de corromper o mais preparado dos seres humanos. Se compreendida a natureza dessa energia, o indivíduo é capaz de sublimar seus instintos, elevando a carga a níveis superiores espirituais (tal como nos exercícios do direcionamento da Kundalini). O Diabo possui uma natureza tântrica, mas é destrutivo quando apenas foca na sede de poder e quando os desejos estão à frente. O fato é que há uma insaciedade nesse arcano produzindo efeitos negativos em que os vive, já que são poucos que entendem a natureza de Lúcifer como “o portador da luz”, aquele que leva à lucidez.
Nossa sociedade foi moldada na polarização de “bem” e “mal” e, quando reprimimos o lobo faminto que há em nós, os piores “monstros” podem acordar, levando a atos cruéis, violentos, abusivos e destrutivos. Lembremos que a libido é, também, uma energia criativa, portanto, a psicologia pode ajudar muitas vezes a traduzir nossos demônios pessoais levando-nos a transformar-nos.
Giancarlo Kind Schmid
é tarólogo, astrólogo, numerólogo e terapeuta, pós-graduado em
Psicologia Analítica e Filosofia, formado em Psicanálise e em Letras
www.taroterapia.com.br  e  www.facebook.com/taroeterapia
Outros trabalhos seus no Clube do Tarô: Autores
Edição: CKR – 12/09/2019
  Baralho Cigano
  Tarô Egípcio
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  O Momento
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