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O desejo nos arcanos |
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Minha proposta para a apresentação na Confraria Brasileira de Tarô 2019 foi a de uma leitura dos arcanos maiores à luz dos desejos. Aqui deixarei registrada essa proposta demonstrada presencialmente e com ela a intenção de seguir adiante com esse estudo, tanto para cursos quanto possível aprofundamento. |
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A interpretação de um arcano se dá, antes da prática, com a compreensão que temos desse arcano. É por esse motivo que “dizer que um arcano tem um único significado seria, no mínimo, reduzir o valor de sua imagem” (retirado do meu ebook gratuito Tudo o que você precisa saber para conhecer o tarô). Ou seja, falar dos arcanos numa perspectiva simplista pode nos limitar, empobrecendo não apenas a teoria como a prática com as cartas. |
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Ilustração da autora do texto, Kelma Maziero |
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Partindo dessa compreensão, sustento que a interpretação de um arcano requer que se vá além de sua mera tradução simbólica. Para interpretar um arcano é preciso saber refletir sobre os temas analisados, é preciso conhecer os assuntos abordados, é preciso compreender o indivíduo em sua singularidade e, especialmente, é preciso abrir mão do juízo de valor próprio da pressa em sentenciar alguém ou uma situação. Logo, para ter uma interpretação que respeite a “polissemia” do símbolo, é preciso também ter repertório. |
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Com o desejo não seria diferente. A palavra desejo pode ter diferentes origens e diferentes representações. Grandes pensadores definiram o desejo como falta, ou seja, o que se almeja por não se ter o objeto almejado. Assim, para alguns pensadores, o desejo só existe enquanto não se alcança aquilo/aquele que se deseja. Em contrapartida, outros pensadores observaram seu sentido numa outra ótica, sugerindo que o desejo é o excesso, a potência, pois sem ele o indivíduo não se movimentaria. |
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O desejo temporário |
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Ilustração da Autora com o Black Tarot de Luis Royo |
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Dada a natureza complexa do entendimento de desejo, fica claro isso envolve percepções mais interessantes e profundas do que unicamente um impulso sexual. O desejo pode ser então corpo, mente e emoção. Estudar um assunto como esse pede que ultrapassemos o entendimento de planos dos arcanos, para podermos fundir esses planos em manifestações momentâneas. Momentâneas porque é da função do tarô a análise transitória que não determina a natureza de um indivíduo numa única carta. |
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Usando como trampolim a reflexão que não busca uma resposta pronta no final, mas que prefere se ampliar através dos questionamentos, sugiro algumas possíveis manifestações do desejo através dos arcanos maiores: o desejo da conquista, o desejo domesticado, o desejo da posse, o desejo do ideal, o desejo da perfeição, dentre outras. Fazendo uma intersecção entre um desejo e uma carta é possível refletir sobre se o impulso é construtivo ou destrutivo ou, ainda, sobre a ordem do desejo que almeja ser partilhado e que, em sua origem, já brota indivisível por se tratar de experiência íntima. |
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O desejo da conquista. Desejo é assunto pessoal, não envolve o outro, é impulso indivisível. |
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Ilustração da Autora com o Black Tarot de Luis Royo |
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Independente do jogo (ou tiragem), aqui valorizo o conhecimento necessário para se abordar temas complexos usando os arcanos do tarô. Em se tratando de um baralho que carrega consigo uma linguagem imagética é aprendendo a se comunicar nessa linguagem que se torna possível a fluência na representação simbólica. Tão importante quanto saber interpretar uma carta e praticar um jogo é encontrar conforto na amplitude de significados que uma única carta chega a nos oferecer. E assim como o desejo, tanto na falta quanto no excesso, o arcano permite simbolizar as dores e as delícias da experiência em se viver a própria individualidade. |
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