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27 de novembro de 2024

Responsável: Constantino K. Riemma


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O temor à morte
(quando a leitura taromântica ”mata” o indivíduo de véspera)
Giancarlo Kind Schmid
  Esse pequeno artigo foi produzido a partir de um email enviado ao contato do Clube do Tarô por um visitante, no qual descreve seu receio de morrer e o uso inadequado do tarô para  uma questão aparentemente inofensiva, mas que pode se transformar em grave problema de ordem emocional, psicológica e/ou até espiritual. O caso aqui descrito foi relatado na íntegra e autorizado pelo responsável pelo site.
 


Mensagem enviada pelo visitante no dia 20 de novembro de 2010:

"Olá. Tudo bem? Meu nome é A. e comecei a jogar o Tarot há um mês mais ou menos. Fiz uma questão, que pensando melhor agora acho que não era adequada. Perguntei se eu iria morrer em seis meses. Fiz essa questão porque tenho muito medo da morte aí retirei três cartas: "A MORTE", "A TORRE" e "O JULGAMENTO", fiquei com medo dessa interpretação. Por favor você poderia me esclarecer? Desde já agradeço."

Minha resposta ao visitante no dia 21 de novembro de 2010:

"Caro A.,

Definitivamente, essa não é a melhor maneira de começar a estudar o tarô; eu prezo pela objetividade e entendo que a sua pergunta além de não ser adequada, é incabível em qualquer tipo de situação. Seria salutar, em primeiro lugar, tratar esse seu medo da morte. Procurar um bom psicólogo, terapeuta ou simplesmente apoio espiritual, todos são bem vindos. Você deve se certificar de onde vem esse seu medo (alguma perda? trauma? sofre de alguma doença terminal? ameaça de vida?). Sem essa resposta é impossível tratar o assunto por outras vias.

Morrer, todos vamos um dia. Alguns sofrem porque temem morrer dolorosamente; outros receiam morrer muito novo sem terem concluido seus objetivos; outros ainda detestam a ideia de morrerem velhos; em todo caso, diante da inevitabilidade, o tema toca cada um de forma diferente. Pela sua forma de escrever você me passa a sensação de que é muito jovem, inexperiente e tem um grande futuro pela frente. Sua preocupação é desnecessária e você deveria focar mais no agora, aproveitando saborosamente cada momento de vida.

Outro problema diz respeito a tirar o tarô para si, principalmente em casos de envolvimento emocional com a questão. Na minha opinião, você leu o que quis ler. A Morte, por exemplo, nem sempre confirma "mortes físicas", se foi esse o arcano que mais lhe impressionou. A pergunta tem caráter do tipo "sim e não" e, ao meu ver, as três respostas foram um NÃO redondo. Agora, seja sensato, deixe de usar o tarô para questões que nada lhe acrescentam, use o tarô para você crescer interiormente, conhecer-se melhor, superar as suas próprias limitações. Ler o tarô de forma incipiente, testando em si mesmo como se fosse uma cobaia sem conhecer a fundo os arcanos "é como dar um tiro no pé". Tenho 23 anos de prática e te digo que não aprendi o suficiente - o que dirá você em um mês. Portanto, "desencane", viva bem a sua vida e trate o seu medo (ou obsessão) com um terapeuta, pois o tarô nessas horas só piorará a sua situação."

Observações finais: o tarô, infelizmente, ainda é utilizado como mero recurso para saciar curiosidades pessoais vãs. A parte cabível ao oráculo deveria se destinar ao aconselhamento ou orientações e não mais às respostas tendenciosas, cujo caráter fatalista, mais apavoram do que elucidam. O exemplo acima nos mostra o quanto muitos iniciantes estão despreparados e longe de verem o tarô como um recurso de real autoconhecimento. A divinação, por mais bonita que seja (ou tenha sido), ainda é a forma mais frágil e incerta de tratarmos do futuro. Cabe a nós, tarólogos, na condição de praticantes e também instrutores, auxiliar cada pessoa que ingressa na área a não cometer erros como o descrito acima e nem fazer do tarô uma espécie de "senhor do futuro". Em casos como o supracitado, além do oráculo mais confundir, empurrará o principiante para o abismo do medo e da angústia, roubando-lhe qualquer possibilidade de viver em paz. O tarô ainda não é levado devidamente a sério pela forma que alguns conduzem suas leituras e para alguns assuntos decorrentes. De instrumento conscientizador, reverte-se em arma capaz de mergulhar o indivíduo nas trevas de seus temores.

O mal só existe num lugar: na ignorância humana.
 
23/11/2010 22:38:09

Comentários

Constantino - 25/11/2010 16:13:55
As questões no estilo (“Perguntei se eu iria morrer em seis meses”), cuja formulação implica numa resposta “sim ou não”, ficam difíceis de serem interpretadas pelos iniciantes, principalmente quando as cartas são estudadas como referências simbólicas, numa visão ampla. Mesmo assim, em casos como esse, minha sugestão aos iniciantes é para anotarem a resposta e o que o entenderam. Esperem passar o prazo colocado (seis meses, no caso desse exemplo) e vejam o que de fato se ocorreu. Aí, então, muito melhor do que hoje poderão compreender o que as cartas indicavam no nível prático.
É a experiência que aprofunda o entendimento.

Leila Aiach - 25/11/2010 16:20:08
Nada a acrescentar a não ser que seus comentários são muito pertinentes. São mesmo conselhos. E dos bons. Parabéns.

Flávio - 26/11/2010 13:37:12
Realmente muita séria essa questão levantada. Seria importante ele procurar um curso com um tarólogo experiente. aqui memso no C.T há inúmeros, pois a orientação de pessoas experientes e sérias é a melhor coisa que há para quem inicia os estudos de tarô. Veja, eu estudio tarô há quase um ano, e ainda devo estar na fase embrionário do processo. Não é simplesmente "decorar' uma listinha de significados das cartas e depois sair fazendo tiragens pra deus e o mundo.

Fabiana - 26/11/2010 14:22:40
começei a estudar a taro a pouco tempo também. E concordo com o Giancarlo. Acredito que o taro seja uma ferramenta importante e que não deve ser usada para perguntas triviais. Acho que perguntas de maior relevância sejam bem mais aproveitadas.

Constantino - 26/11/2010 15:39:18
Estou com o A. e acredito que o tema da morte é muito importante e pode ser perfeitamente trabalhado com o Tarô. Sim, seria justo perguntar: “Qual é o sentido dela para mim? Qual o conselho que as cartas oferecem para refletir sobre esse assunto?”
O único ponto que me pareceu limitador na questão de A. é que ela foi formulada de tal modo que a resposta se tornou incompreensível para ele, visto que as cartas não significam sim ou não. Gosto de brincar que para saber "sim ou não" o melhor recurso é utilizar moeda e jogar "cara ou coroa". Não deixa dúvidas...
Caso o nosso amigo tivesse feito uma questão no estilo "Como devo trabalhar meus sentimentos com a morte nos próximos seis meses" tenho certeza de que ele entenderia muito melhor a resposta das cartas que sorteou.
Mais do que um duvidoso "sim ou não" ele teria recebido estímulos para estudar a questão que tanto o interessa.

O importante é escolher a técnica de tiragem, por exemplo, como a "Kairallah", que pode ser aprendida no site, na seção “TIRAGENS/Métodos de tiragens/Técnicas simples”:
http://www.clubedotaro.com.br/site/p52_2_simples.asp#Kairallah.

Ele poderá definir funções claras para cada carta, tais como:
1. O que favorece o meu estudo sobre a morte?
2. O que necessito ainda aprender, trabalhar, sobre esse tema?
3. Qual é a melhor direção nesse estudo?
4. Qual o conselho para lidar com esse assunto?
Uma tiragem assim formulada, acredito, poderia ser de grande ajuda para abrir os horizontes e lidar com os temores que todos temos diante da morte.

Desejo muita força para o A. e que ele encontre ânimo e confiança para seguir em frente na elucidação de seu questionamento.

Giancarlo Kind Schmid - 26/11/2010 21:31:39
Oi Constantino,
Eu acho que estudar sobre o tema "morte" é válido, mas não considero pertinente levantar perguntas sobre quando ocorrerá o desenlace pessoal ou de outra pessoa (a salvo quando o caso envolve situações terminais graves, tendo o praticante se preparado devidamente). Toda leitura de caráter fatalista é fatal para quem está envolvido, como o próprio nome sugere. Por mera curiosidade não acho legal levantar tais questões. Para falar a verdade, quem está de todo preparado para lidar com isso? Determinar prazos para algo que nos angustie só tende a aumentar nossas angústias.
Abraço!

Giancarlo Kind Schmid - 26/11/2010 21:32:07
Oi Leila,
Agradeço a visita e comentários.
Abraço!

Giancarlo Kind Schmid - 26/11/2010 21:41:57
Oi Flávio,
É como exemplifiquei: iniciar-se no tarô perguntando sobre algo que não some ao praticante, eu considero perigoso. Questões delicadas, de caráter emocional ou psicológico, quando o consulente está envolvido com a questão sempre são perigosas - a pessoa passa a ler o que pensa que é. Certa vez um aluno que namorava uma menina, desconfiado dela resolveu tirar o tarô para si para averiguar se ela o traía; muito ciumento, o rapaz fez uma tiragem de três casas (parecido com a do rapaz do texto) e constatou que a menina realmente o traía. Resultado: transformou a vida da garota (e a sua) num inferno, ficava perseguindo, jogava indiretas e a menina era apaixonada e nunca havia o traído mesmo (porque amigas dela afirmavam que a garota era apaixonada por ele, de fato). Mas, de tanto criar problemas, a menina resolveu "pular fora" e ficou com outro cara que era conhecido desse meu aluno. Tempos depois esse rapaz veio conversar comigo e o aconselhei: "se você não tem segurança e está emocionalmente envolvido com a situação, não tire o tarô para si". Ele só foi entender a burrada tempos depois, tentou voltar, mas a menina já estava engrenada no outro relacionamento. Qual foi a utilidade da leitura nesse caso? Por que o rapaz não consultou outra pessoa? Preferiu arriscar e colocou em crise um relacionamento de 01 ano. Para que? São essas coisas que eu chamo a atenção!
Abraço!

Giancarlo Kind Schmid - 26/11/2010 21:49:26
Oi Fabiana,
Sempre afirmo para meus alunos: "mais perigoso do que a resposta, é a pergunta formulada". Responder sobre doenças, acidentes, morte, separações, traições e acusações criminosas requer um alto grau de preparo do participante, além de isenção, maturidade e delicadeza no trato da situação. A pergunta dele se tornou inconsequente desde o momento que a referida trouxe a ele preocupação e angústia. É para isso que tiramos o tarô? Para nos preocuparmos ansiosamente com o futuro? Ou nos prepararmos melhor para a vida? Prefiro essa última.
Para que eu preciso saber quando eu vou morrer? Qual a utilizade da pergunta? É o mesmo que eu estar vivendo um romance maravilhoso e perguntar ao tarô se "eu vou me separar e quando?". O tarô deve auxiliar a pessoa a crescer e não empurrá-la para um buraco de preocupações. Por isso, ainda o tarô acaba mal visto porque existe essa história, ainda, de leituras fatalistas, típicas dos séculos XIX e XX. Eu considero esse tipo de leitura inconsequente. É o que chamo de "envenenamento mental", tema já abordado em outro post meu, meses atrás.
Abraço!

Giancarlo Kind Schmid - 26/11/2010 22:05:15
Oi Constantino,
Da forma que colocou é mais coerente. O problema é que, se esse rapaz é iniciante, pode não alcançar a profundidade da resposta trazida pelos arcanos. Quando jogamos a questão como tema de reflexão (ou seja, de fora para dentro), sempre é bem vinda. Ao meu ver, faltou maturidade, criteriosidade e cuidado por parte do rapaz ao tratar do assunto; resta saber se ele levantou a questão por mera curiosidade ou por estar angustiado com alguma coisa. Também não sou a favor de perguntas do tipo "sim ou não", inventaram quase uma dezena de esquemas de associações dos arcanos maiores com as respectivas respostas "sim, não e talvez (esse último é de lascar!)". Como você, sou a favor da moedinha, ou palitinhos, ou jogo de dados (caindo par é sim, ímpar é não). Para que complicar, não é mesmo?! Agora, eu só posso estar com A. se a pergunta dele está embasada numa preocupação real e não num devaneio pueril. Se ele realmente questionasse "o porque de temer morrer", eu até apoiaria. Mas aí, caímos na exposição primeira: "será que ele teria capacidade de alcançar essa resposta?". Toda questão que não nos leva à reflexão poderá ser superficial. Por exemplo, se uma pessoa pergunta se vai passar na prova e não se preparou devidamente, nem precisaria consultar o tarô - o problema é que ainda tem gente que faz isso! Como posso ganhar um sorteio se não participei dele? Como posso namorar se não me habilito a sair de casa e conhecer pessoas? Isso se chama coerência. No entanto, é mais fácil transferir para o oráculo a expectativa de um milagre, do que uma ação transformadora. Não sei se alguém aqui já viu o filme "A Hora da Estrela" (adaptação da obra de Clarice Lispector), mas quando a personagem Macabéa consulta a taróloga no final, passa por algo parecido ao que relatei logo acima; vejam o filme e comprovem!
Se após uma leitura de tarô você saiu como entrou, ela não te serviu (ajudou). Foi pura saciedade de curiosidade.
Abordar esse assunto é muito delicado!
Abraço!

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