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23 de novembro de 2024

Responsável: Constantino K. Riemma


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Iconografia medieval
Relações iconográficas que sugerem histórias
Bete Torii
 

A Idade Média foi, acima de tudo, alusiva. Poucos sabiam ler, mas todos dominavam a imagem como ferramenta de comunicação, buscavam significados por trás da realidade visível. Assim, aquilo que aos olhos modernos pareceu obscurantismo era o apogeu da linguagem dos símbolos. E talvez o saber humano nunca tenha estado tão revelado e acessível quanto naquela longa noite estrelada.

 

             A frase acima é de Suzana Lakatos, em
             URL=http://www.humaniversidade.com.br/boletins/os_segredos_das_catedrais.htm

A Papisa

Na Abadia de Fontevraut, em Anjou, França, fica o túmulo de Eleanor (ou Leonor) de Aquitânia, figura imensamente poderosa e interessante do século 12, neta de trovador, que foi rainha consorte da França e da Inglaterra, sucessivamente, e introduziu as regras do fin'amore (o amor cortês) nas duas cortes. Ela era culta e letrada, coisa rara na época, principalmente entre as mulheres. Vejam a semelhança da escultura de seu túmulo com a carta 2.

Adotando a hipótese, que me parece muito plausível, de que o tarô tenha surgido na região do Pays d'Oc (que fica na região do ducado de Aquitânia), sendo uma das manifestações da cultura trovadoresca medieval perseguida pela Igreja Católica e os reis de França a partir do século 13, fica muito interessante imaginar que os gravadores quiseram homenagear sua grande Senhora e protetora com essa carta.

Pesquise sobre a vida de Eleanor de Aquitânia; a Wikipedia tem um excelente texto.




O Imperador

Eis uma representação de Ricardo Coração de Leão, do século 12, que bem pode ter sido o modelo para a carta 4. Ricardo I era filho de Leonor de Aquitânia e foi rei da Inglaterra de 1189 a 1199. Como se sabe, ele foi até incluído como "personagem" nas lendas arturianas, que são de um tempo um pouco mais antigo.

Sobre a vida de Ricardo I, veja, além da Wikipedia, o texto em:
http://www.fernandodannemann.recantodasletras.com.br/visualizar.php?idt=1420055 



A força


Para continuarmos falando do rei Plantageneta Ricardo I, vejamos mais uma representação sua, em que ele domina um leão - que é também a figura de seu brasão de armas - de forma que lembra a carta 11.

O fim do texto sobre ele na Wikipedia diz: "Ricardo morreu como consequência de ferimentos provocados por uma flecha que o atingiu no abdome em Abril de 1199. O próprio fato de ter sido atingido naquela zona do corpo é revelador da sua personalidade. Se tivesse usado uma armadura nesse dia, não teria morrido."  De certa maneira, essa coragem e a abertura/vulnerabilidade na região do abdome também se relaciona com a figura da carta 11.



O Diabo


O diabo também frequentava as igrejas medievais! Este capitel se encontra na igreja de St. Austremoine em Issoire, na região de Auvergne, na França.  A igreja é do século 12, no estilo romano - e tem baixos-relevos representando todos os signos do zodíaco, também.

Vejam as evocações da carta 15: o Diabo é uma figura escura, um tanto animalesca e alada, no meio, que subjuga dois humanos nus por meio de cordas atadas ao pescoço.  


O Mundo

Este baixo relevo se encontra sobre o pórtico lateral da Catedral de Bourges (França). Inúmeras outras igrejas góticas têm o mesmo símbolo sobre suas portas: o Cristo em majestade, dentro da vesica pisces, contornado pelos 4 evangelistas representados pelos animais. A carta 21 só pode ser uma alusão a essa figura, pois a coincidência é grande demais!
 

 
08/09/2009 19:54:25

Comentários

Elisa - 28/11/2009 19:17:31
Você não acha que seria interessante buscar outras referências fora da França, também?

Bete Torii - 29/11/2009 16:25:56
Sim, Elisa, e já encontrei alguma coisa na arte italiana... O que está me faltando é tempo para avançar no assunto, aqui. De qualquer forma, obrigada pela sugestão.

Flávio - 21/05/2010 10:00:58
Olá Bete.

Li o esse texto para complementar a leitura do outro que vc. indicou em outro fórum de discussão. Fiquei espantado como alguns arcanos estão tão bem representados nas figuras medievais e na cultura cristão. Isso me leva a refletir melhor.



Bete Torii - 23/05/2010 13:20:34
Exatamente, Flávio.
Por um lado, isso não é nem um pouco de admirar, se pensarmos que os tarôs clássicos franceses(dos mais antigos que conhecemos)tiveram seus moldes estabelecidos no século 16, num país cristão.
Mas não se sabe o que o tarô - ou mais especificamente o deck dos Arcanos Maiores - "significava" ou para quê existia. Quero lhe propor uma charada: você acha que, se fosse algo criado para tirar a sorte ou prever o futuro das pessoas num sentido mundano, as cartas seriam essas? Não lhe parece que estariam a faltar situações comuns possíveis na vida, enquanto algumas cartas não são fáceis de associar a eventos de uma vida (pelo menos a eventos exteriores)?

Obs. para quem não entenda o comentário: este diálogo começou no forum do Constantino "Adivinhação é pecado?" - http://www.clubedotaro.com.br/site/forum/topico.asp?topico=46

Bete Torii - 23/05/2010 13:50:59
Flávio,
quero esclarecer que, no meu comentário anterior, eu falei de "moldes" no sentido estrito, de matriz (icono)gráfica. Mas sabemos, claro, que o conjunto das 22 cartas existia bem antes, como você pode ver pelos textos de História do Tarô compilados aqui no site. Quanto ao foco da nossa conversa, recomendo-lhe ler a pequena seção "Um período de ouro", em http://www.clubedotaro.com.br/site/h22_3_hipoteses.asp

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