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Tarô: amigo ou juiz? |
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Bete Torii |
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Conforme tenho visto, existem duas tribos praticamente "adversárias" que lidam com o tarô: uma, menor, trabalha com ele como auxílio oracular para considerar (pensar sobre) momentos de vida, tendências, alternativas etc. Outra, maior e que congrega cartomantes e tarólogos, lida com o tarô como objeto oracular e mágico que serve para mapear áreas da vida e predizer o futuro.
Esse segundo grupo, na sua maior parte, prefere tarôs redesenhados que já por si elegem (se reduzem a) uma fatia dos significados possíveis dos arcanos mais antigos, e ainda tendem a escolher metodologias que afunilam esses significados. Entendo que, do ponto de vista da previsão e nesta época da grande valorização dos resultados e da eficácia, seja necessário ter um receituário bem definido. De outro modo, como um tarólogo sem dons de vidência poderia decidir qual dos muitos significados possíveis de um arcano cabe em cada caso?
Acontece que fazer interpretação unívoca de uma carta e assumir uma predição que vai influenciar a vida do consulente são atitudes que carregam risco e encargos. Estudantes e praticantes de tarô deveriam tomar consciência disso. Há tarólogos/cartomantes sensatos que, com os anos de experiência, adquirem uma segurança grande quanto ao que falam e não falam, mas uma pessoa nova na atividade, ansiosa para "acertar", pode causar estragos. E o estrago será tanto maior quanto mais esse tarólogo achar que tem que demonstrar competência dizendo o que vai acontecer com o consulente.
Eu acho que, ao contrário, a mais "nobre" função do tarólogo é justamente traduzir a pergunta (geralmente fechada, ansiosa) do consulente para um formato de tiragem que ajude a destrinchar a questão e a orientar reações a ela. |
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"O templo de Afrodite" - aprendendo a ler
Ouvi recentemente, pela segunda vez, uma apresentação da tiragem Templo de Afrodite [veja a descrição em http://www.clubedotaro.com.br/site/p52_2_simples.asp#Afrodite] com exemplificações assertivas do tipo "se o resultado é Torre, acabou a relação, não tem jeito". Como a tiragem é muito interessante, eu resolvi experimentá-la, fazendo-a algumas vezes seguidas, cada vez para um casal bem próximo de mim - casais de diferentes idades, formados recentemente ou há até 10 anos, que conheço com razoável clareza e sei que estão muito bem.
Pois em cada tiragem saíram no mínimo 2 cartas "ruins", segundo a tradição da cartomancia, e eu fiquei pensando como seria terrivelmente lamentável se uma dessas pessoas, principalmente as mulheres, tivesse ido a uma taróloga que, para essas mesmas cartas, vaticinasse algo de seriamente errado com seu relacionamento.
Quase sempre saiu a carta 9-Eremita, por exemplo - tanto para ele como para ela. Nos dois casos em que saiu no plano mental, minha interpretação foi de que a pessoa leva a relação a sério e sua intenção é de continuidade. Interessante: em ambos os casos, o parceiro dessa pessoa para quem tirei O Eremita é razoavelmente mais velho, e a relação é uma oportunidade de amadurecimento. Uma das vezes, a carta saiu no plano sexual para a mulher, e suponho que ela seja mesmo um tanto reservada, longe do tipo fogoso - embora sem nenhum problema ou rejeição, tampouco.
Duas vezes saiu A Papisa para a mulher. No caso em que veio no plano mental, interpretei como receptividade, feminilidade: ela assume a relação de forma bem esclarecida e refletida. No plano emocional, interpretei como reserva e discrição, além da feminilidade. De fato, é uma mulher afetiva, mas que nunca dá bandeira e guarda seu jeito carinhoso para ambientes & pessoas íntimas - entre as quais o parceiro.
A Torre também saiu duas vezes! No caso da mulher para quem saiu no plano sexual, eu acredito que o presente casamento, para ela, é mesmo um momento de liberação, prazer, orgasmo - depois de um período de vida em que teve alguma tristeza e situação de dedicação só ao trabalho. No caso em que saiu no plano mental de um homem, eu até me espantei e, não resistindo, conversei com ele para saber se estava com idéia de romper o casamento. Neca! Essa tiragem reproduzida ao lado, aliás, é um exemplo incrível.
Vejam a minha leitura - que não é definitiva, obviamente, mas foi delicadamente "conferida": Ele tem pensado em se libertar de certos pudores/preconceitos (A Torre) e adotar aditivos químicos para ter certeza de continuar dando prazer à mulher, por quem se declara ainda "amarradão" (O Pendurado) e por quem sente muito desejo (O Diabo). Ela é devotada e fiel a ele, sentindo uma ligação muito séria tanto mental como afetivamente. Sexualmente, suponho que a ligação seja para ela algo de profundo, radical, plutoniano (A Morte). E o resultado: a relação segue firme e forte, de forma serena (A Força).
E aqui fica um recado específico: uma fase necessária e muito instrutiva do aprendizado da interpretação das cartas é o teste, a prática de tiragens sobre situações próximas e já conhecidas - para criar um repertório próprio. Dizendo de outra maneira, trata-se de construir um vocabulário com seu tarô e entender como é que as cartas falam com você.
Em agosto de 2012:
Gostei muito do comentário que reproduzirei abaixo, recebido um ano e meio depois da publicação do texto acima. É muito bom ver pessoas que vão desenvolvendo uma maneira própria de pensar as tiragens, com sensibilidade:
Bete, para reforçar o que você comenta na tiragem de exemplo, a carta 11 - A Força, como síntese, indica um alinhamento dos três níveis do ser: o mental, simbolizado pelo chapéu com forma de infinito; o afetivo, simbolizado pelo adereço dourado no peito da mulher; a perfeita integração da força sexual, simbolizada pela forma delicada com que ela lida com a boca do leão. É uma carta que mostra a possibilidade de lidar com todos os planos da vida de um modo equilibrado, no eixo, vertical. O leão é a força vital, que por estar bem administrada pela Força, dá o tom da perfeita assimilação da força sexual (o Diabo) pelo homem e do orgasmo (A Morte) pela mulher. Como você mesma indicou, é bom frisar que a carta 13 pode ser associada ao signo de Escorpião e ao planeta Plutão que falam não só da morte física, mas da "pequena morte", ou seja das experiências de transcêndencia que o encontro sexual propicia em muitos casos.
No exemplo dado (e gostei muito da pesquisa que vc fez a respeito do casal analisado) vejo a mulher como alguém centrada, que sabe bem o que quer e tem isso bem definido pra si, mas que, sexualmente, até pela sequência anterior de cartas (Eremita e papisa) falar de uma pessoa decidida e que busca muito o respaldo de reflexões profundas (respaldo dentro de si mesma), sexualmente seja alguém mais comedida, até por pensar demais. No entanto, vejo na carta XIII alguém que busca se reciclar neste campo.Já o homem anda com sua mente fervilhante (a Torre mostra um raio riscando os céus e destruindo todo um sistema caduco) que deseja romper com um passado que não lhe serve mais e busca, agora, algo completamente oposto. A carta XII para mim fala de alguém que está se aprofundando através das próprias experiências e assim amadurecendo internamente (vejo na carta XII a figura de um ser humano forte que enxerga no sacrifício de algo - parte de si mesmo, ainda imatura, pode ser - a oportunidade de crescimento pleno), subjugando o próprio egoísmo para dar lugar a um sentimento mais refinado. Sim, refinado a julgar-se pela sequência Torre-Dependurado: alguém em profunda fase de transformação, em ebulição de idéias e até confuso, mas, que aproveita a fase para o próprio crescimento. O resultado desse amadurecimento é uma paixão explosiva que, na verdade, independe do "muito pensar", mas, de uma química natural que há desse homem para essa mulher.
Nos Tarôs clássicos a posição em que as figuras olham contam muito e nas duas primeiras cartas para "ela", a mulher parece buscar experiência no passado, um "aterrar-se" e na terceira ela busca reciclar-se como resultado de uma catarse. As cartas dele falam de alguém que precisa resolver as coisas no "aqui e agora": talvez alguém que tem pressa de viver e com intensidade!!!O resultado não poderia ser outro que não "A Força", mostrando que os dois sublimaram arestas que poderiam até causar a separação entre eles, mas, que foram devidamente administradas em nome de um sentimento mais profundo...
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06/09/2010 15:35:47
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Bete Torii - 18/09/2010 18:26:41
Flavia e Aline, obrigada pelas mensagens. Quanto ao que vocês estranharam, o que tenho a dizer é que foi justamente esse o enfoque do texto que postei: antes de oferecer esse tipo de tiragem a pessoas que desconheço, estou praticando com casais que conheço para ir aprendendo os significados possíveis das cartas nas diversas posições. O Pendurado NÃO É sempre fraco e indeciso, como já entendi há tempos, e o termo "estar amarradão", que pode perfeitamente ser associado à carta, foi utilizado pelo próprio envolvido! Da mesma forma, a Torre tanto pode ser idéia de romper, cair fora, como de romper limitações e sacar uma coisa muito mais ampla. No caso, foi a segunda opção a declarada pelo meu amigo. Mas concordo, sim, que um arcano menor complementar poderia clarear mais a leitura. Abraços!
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Bete Torii - 18/09/2010 18:33:52
Olá, Emanuel É bem interessante o que você relata. Mas, como você mesmo diz, se você "não fosse quem é", nunca mais teria se metido com o tarô, depois da tal leitura do Diabo invertido. Claro que não é porque você foi indiretamente "beneficiado" ou estimulado por uma leitura ruim, que leituras ruins são boas. Um abraço e obrigada.
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Fabio - 18/09/2010 19:52:19
Muito interessante esta tiragem. Interessante como cada arcano se mostra diferente a cada tarólogo e a discussão que isso gera. Só tem como resultado o enriquecimento de nosso conhecimento. Parabéns!
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Flávio - 18/09/2010 20:32:56
Oi Bete.
Tenho algumas dúvidas.. Nesse caso só foram usados os arcanos maiores, não é isso? Mas poderia ter jogado com as 78 cartas também? Uma outra coisa: poderíamos tirar para cada uma das posições um arcano maior e um menor, tipo tiragem europeia?
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Aline Bonifácio - 18/09/2010 20:56:53
Bete, sei que o espaço é seu, mas vou responder a indagação do Flávio, com sua licença.
Flávio, tenho utilizado o Templo de Afrodite há mais de um ano para avaliar situações amorosas e sempre empreguei o método europeu (maior + menor). O que posso dizer é que, para mim, o resultado tem sido bastante satisfatório, sendo que tenho comprovado as previsões em 90% dos casos. Espero ter ajudado.
Abraços, Aline.
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Bete Torii - 19/09/2010 12:16:09
Sim, Fabio, é isso mesmo que eu desejava e desejo! Obrigada por seu simpático comentário.
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Bete Torii - 19/09/2010 12:17:21
Oi Flávio: sim, como a Aline já esclareceu.
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Bete Torii - 19/09/2010 12:32:53
Aline, fique à vontade, o fórum é para isso mesmo; só tenho que agradecer. Mas quero voltar a dizer que me incomoda essa coisa da previsão factual, com seu corolário de "índice de acerto". Lógico que é uma tentação enorme, e a maioria dos consulentes nos encurrala para isso, mas... O que significa realmente comprovar 90% das previsões? Quantas delas não se confirmaram justamente porque o consulente foi influenciado e focou sua visão e energia naquele resultado? E os 10% de não acerto, o que significam de verdade, por baixo da quantificação estatística? Isso é inócuo ou não? Quando coloco estas perguntas, não estou querendo criticar você, mas elaborar minha própria posição (versus meu comportamento real na consulta, nem sempre tão purista) e eventualmente convidá-la a fazer o mesmo com a sua.
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Aline Bonifácio - 19/09/2010 21:18:23
Oi, Bete! Olha, eu sempre trabalho com aconselhamento. Ou seja, para cada situação analisada, tiro um aconselhamento para o cliente, a fim de que ele possa fazer uso do livre arbítrio, receber uma orientação e ter a chance de modificar o paradigma de uma situação.
Normalmente, quando a pessoa segue o aconselhamento, tem a oportunidade de alterar uma situação para melhor, modificar seu comportamento. Por isso, em alguns casos, a situação prevista muda, devido a essa modificação realizada pelo consulente. Entretanto, no caso de relacionamentos amorosos, é um pouco complicado, pois dependemos do parceiro. Existem casos em que, mesmo com a mudança de postura do consulente, não existe resposta do parceiro, seja por que esse não ama mais, seja porque já está cansado...
Enfim, só estou esclarecendo que também não sou favorável a prender os consulentes a previsões fatídicas, daquelas em que a pessoa fica refém da situação. Não mesmo. Sempre procuro o aconselhamento para dar uma orientação à pessoa. Mas que as previsões existem, existem!!!
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Bete Torii - 19/09/2010 22:18:10
Oi Aline! Fico muito contente e grata com sua resposta. Concordo com você. Um grande abraço.
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