Waite x Marselha Jaqueline Carvalho - São Paulo, 22/7/2010 "Tinha ganhado de uma amiga o Tarô de Marselha. Entretanto, ele estava incompleto e troquei pelo Tarô de Waite; eu gostei dele, como se ele estivesse me esperando. Mas ele é um bom tarô? O significado dele é o mesmo do Tarô de Marselha? Ele é bom para iniciantes?" A sua questão implica em diferentes ângulos e, como se diz, "dá muito pano prá manga"... Um primeiro comentário que posso fazer é que os significados dos símbolos incluídos nas cartas, seguramente, são alterados à medida que elas são redesenhadas, seja de modo mais ou menos fiel, seja de modo mais ou menos pessoal e subjetivo.
Para exemplificar o que estou dizendo, compare ao lado, o Mago no Tarô de Marselha e no Tarô do Waite. Os dois desenhos estão bem cuidados e a ilustração que Pamela Colman Smith recriou para esse arcano maior do tarô de Arthur Edward Waite é relativamente próximo ao modelo clássico. No entanto, veja que o Mágico do Marselha é um tipo mais popular: representa o itinerante que ia de feira em feira nos povoados medievais, levando notícias, estabelecendo novos contatos, encantando as pessoas com suas habilidades manuais. Já o desenho do Waite, limpa a mesa e só deixa os símbolos dos quatro naipes; tira de uma das mãos do "Mago" a moeda (ouros). Trata-se de um personagem mais ritual e pousado, operando ritos mágicos.
Outros detalhes também implicam em mudança da impressão do conjunto. A postura do corpo e das mãos; o ângulo da mesa; o que se esconde e o que se revela; a proporção do personagem em relação às dimensões da carta. Se esses detalhes não forem gratuitos e tiverem um propósito definido nos desenhos mais antigos, por certo perderemos informações simbólicas nas alterações feitas por razões simplesmente estéticas ou comerciais.
Podemos todos concordar que há uma sensível diferença na atmosfera que essas duas cartas transmitem. Se o recado genuíno for o do Mágico de Marselha, podemos dizer que o Mago do Waite representa uma alteração ou até mesmo uma deturpação. Isso, pelo lado estético pode significar até mesmo um arejamento, uma renovação, mas do ponto de vista do rigor iconográfico não é bem assim e pode implicar em grave perda simbólica. Essas alterações no tarô do Waite são mais discutíveis ainda quando se trata dos arcanos menores. Confira um texto a respeito: http://www.clubedotaro.com.br/site/h23_20_waite.asp
A sua questão tem ainda outro lado. Mesmo se nos colocarmos diante de uma só versão, os significados ressaltados acabam variando muito de tarólogo para tarólogo, de cartomante para cartomante. O nível de compreensão, o tipo de experiência com as cartas, a linha de atendimento, acabam definindo diferentes modos de interpretação, muitas vezes contraditórios entre si. E aí, o caminho pessoal implicará em bastante estudo e no intercâmbio com outros praticantes até conseguirmos amadurecer nosso entendimento, em função da linha de aplicação que nos for mais próxima e espontânea.
Pessoalmente prefiro utilizar os tarôs clássicos. No entanto, quando se trata de tarô, ninguém tem condições de ditar regras ou significados absolutos. É um campo em aberto em que as escolhas são livres. Nesse sentido, se você gostou do Tarô do Waite, tudo bem! Acolha suas próprias afinidades. Os significados das cartas, seja do Waite ou de Marselha, só ganharão consistência na experimentação e na linha de trabalho que você definir ao longo do tempo.
Com o tarô estamos frente a um caminho em aberto e inesgotável!
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Baralho Cigano, o Pequeno e o Grande Lenormand
Rosana S. Domingues - São Paulo, 22/7/2010 16:29:20 "Soube da existência de um baralho cigano com as 52 cartas originais. Onde poderia ser adquirido?"
Os chamados “baralhos ciganos” são em sua grande parte cópia do “Petit Lenormand” criado pela cartomante de mesmo nome, no começo do século 19. Trata-se de uma redução do baralho comum, de 52 cartas, para apenas 36, sem as cartas de 2 a 5 de cada naipe. Por essa razão foi denominado "Petit", ou seja, "pequeno" em francês.
A mesma Mademoiselle Lenormand tem seu nome ligado às 52 cartas de um baralho redesenhado, que substitui inteiramente as cartas numeradas por ilustrações diversas e que ficou conhecido como “Grand Lenormand”. Este conjunto, no entanto, não é chamado de “cigano”, mas apenas de "Grande Lenormand". A ilustração ao lado é reprodução do 5 de Paus.
Como se trata de baralho importado, o prazo de entrega é de até 10 semanas nos sites de venda como o da Cultura e do Submarino. Para mais detalhes, espie outros textos a respeito no site: http://www.clubedotaro.com.br/site/h23_19_lenormand.asp http://www.clubedotaro.com.br/site/h22_3_hipoteses.asp#Ciganos
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Tarô dos Orixás e as afinidades Karina Franco - 22/11/2009 23:40:57: Adquiri recentemente dois tipos de baralho: o Oráculo das Deusas e o Tarô dos Orixás. Me dei conta que quando tiro o tarô dos orixás tenho muito desconforto em meu sono como se estivesse relendo as cartas todas ao mesmo tempo e muitas pessoas me fazendo perguntas... Gostaria de saber o que posso fazer para que isso não aconteça...
Karina, para responder de uma forma simples e direta, acredito que podemos considerar os vários tarôs como diferentes alimentos simbólicos. Não somos obrigados a gostar igualmente de todos, pois temos nossas preferências naturais, sem que isso seja uma desconsideração aos demais. Para falar por analogia: algumas pessoas adoram ovos fritos enquanto outras sofrem alergia quando os consomem; e o mesmo vale para os pimentões, frutas ácidas e assim por diante.
Ao lado as cartas Ossain (1. O Mago), Nanã (2. A Papisa) e Iemanjá (3. A Imperatriz)
no "Tarô dos Orixás, Senhores dos Destino"
de Eneida Duarte Gaspar, pela Ed. Pallas (Rio).
É um dos tarôs brasileiros que reproduzem entidades das tradições africanas.
É por razão parecida com a da opção por alimentos que, diante da escolha de um baralho para praticar, a boa recomendação é que cada um experimente alternativas, tal como você fez, e avalie por quais delas tem maior afinidade. Se algum jogo traz desconforto, seja psicológico ou estético, deixe de lado. O mais simples e natural é procurar por outros.
Existem vários tarôs que representam os orixás, com diferentes correlações e qualidades estéticas. Tenho um projeto de divulgar resenhas e galerias dos tarôs brasileiros que buscaram tanspor os elementos dos cultos afro para as cartas. Quem sabe isso ajudará na busca.
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"Tarô Iniciático Golden Dawn" Myriam Lind - São Paulo - 119/11/2009 11:03:07: Comprei pela internet o "Tarot Iniciático da Golden Dawn", ed. Madras, e o achei muito esquisito. O livro é péssimo de explicações e as cartas parecem ter saido de uma história em quadrinhos para adultos, de conteúdo erótico. Foi editado em 2008 pelo autor italiano Giordano Berti e nada tem a ver com os desenhos que Pamela Colman Smith fez para o tarô de Waite. As ilustrações são de Patrizio Evangelisti. A ed. Madras traduziu do que foi publicado originalmente em inglês sob o título "Initiatory Tarots of The Golden Dawn", por Lo Scarabeo (2008). Sinto vontade de me desfazer dele!
Existe um problema real nas reinvenções e adaptações sucessivas dos baralhos. O próprio Tarô Rider-Waite ou Golden Dawn já se trata de uma re-criação moderna que, apesar dos atrativos estéticos, merece reparos do ponto de vista simbólico. No entanto, ganhou larga aceitação e hoje em dia se tornou uma referência muito imitada. Com relação a Arthur Edward Waite (1857-1942) podemos reconhecer nele o propósito de estudar e de traduzir os antigos conhecimentos. Mas nem sempre isso acontece de modo inquestionável.
As ilustrações que você remeteu falam por si:
Os Namorados, o Diabo, a Estrela e a Rainha de Ouros no tarô de G. Berti ilustrado por P. Evangelisti Para os nossos amigos ficarem bem informados sobre esse exemplo de cópia, fazemos o convite a todos para comparar as fotos que você enviou com os desenhos originais de Pamela Colman Smith para o Rider-Waite Tarot que se encontram na Galeria de Baralhos do Clube do Tarô, onde também podem ser acessados dois textos sobre essas cartas: http://www.clubedotaro.com.br/site/h23_20_waite.asp.Se o "Tarot Iniciático da Golden Dawn" pode ser questionável sobre seu propósito e correção, não precisamos ser severos com o ilustrador profissional que aceitou a encomenda! Parece que ele fez o que estava ao seu alcance para criar, como você diz "uma história em quadrinhos de conteúdo erótico". Não é ele quem deve ser responsabilizado pelos desacertos. Por que, então, não manter essas cartas em sua coleção ao menos como um exemplo dos vieses a que o tarô está sujeito?!
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Os arcanos menores e o baralho comum
Cristiano Ferreira - Uberaba (MG) - 28.setembro.2009: "Para a leitura das cartas com o baralho comum, pode-se utilizar os significados dos arcanos menores do taro? Posso considerá-las como sendo realmente os proprios arcanos menores grafados de uma maneira mais moderna e popular? Lendo o pouco material que me foi possivel sobre o assunto, percebo que na maioria das vezes as cartas da corte no baralho comum têm o mesmo significado no tarô. O restante das cartas varia um pouco, mas como você mesmo diz no clube do Taro, às vezes há contradiçoes nos significados, até entre os proprios praticantes de tarô. Creio por exemplo que o Dez de Copas,independentemente da maneira que esteja grafado, seja nos diferentes modelos de tarô, seja no baralho comum, deva ter o mesmo significado na cartomancia. Se assim for isso aumenta em muito a possibilidade de estudos entre aqueles que praticam a cartomancia com o baralho comum; auxiliando também na questão financeira, pois o baralho comum é facilmente encontrado a preços bem populares,enquanto muitas vezes um bom tarô, às vezes é inacessivel para certas pessoas. Agradeço a sua atenção e também te parabenizo pela valorosa ajuda que você e o Clube do Tarô prestam aos estudantes."
Entendo essa questão de modo idêntico ao seu. De fato, o baralho comum e os arcanos menores constituem o mesmo jogo de cartas. São idênticos tanto do ponto de vista concreto, quanto simbólico. O que se sabe da história é que os tarôs-baralhos mais antigos tinham 56 cartas: 40 numeradas e 16 da corte. Mas no correr dos séculos as mudanças, simplificações e/ou adulterações foram inúmeras, tanto no carteado (recreação ou jogos de azar) como na cartomancia.
Veja no C.T., a esse respeito algumas considerações relativas ao baralho francês e o espanhol: http://www.clubedotaro.com.br/site/n44_0_figuras.asp.
Acima, cinco versões do Dez de Copas no correr dos séculos. Da esquerda para a direita: Visconti (1450), Noblet (1650); Copag (1900-2009), Lenormand (1840-2009) e Waite (1910) Do início do séc.19 chegaram até nós muitas alterações drásticas, como a da Lenormand que reduziu o conjunto a apenas 36 cartas. Essa diminuição se refere não só ao número de cartas, mas ao sentido simbólico. Confira em Baralhos Ciganos: http://www.clubedotaro.com.br/site/h23_20_cigano.asp e Baralho Lenormand: http://www.clubedotaro.com.br/site/h23_19_lenormand.asp
Observando os cinco exemplos de cartas, colocados acima, constatamos que o baralho comum (no centro) está mais próximo dos tarôs antigos do que os redesenhados nos últimos dois séculos. Curioso, não é mesmo?! Nesse sentido, eles são muito mais confiáveis e úteis à cartomancia do que inúmeras revinvenções meramente comerciais que existem por aí.
É possível concordarmos que nos desenhos clássicos fica mais difícil fazer associções e atribuir significados às cartas. Já as cartas da Lenormand e do Waite (à direita) permitem associções imediatas, mas, na verdade, muito reduzidas ou limitadoras. Como traduzir o Dez de Copas do Petit Lenormand ou "baralho cigano"? Como "cão de guarda", "animal fiel amigo do homem"?! Seguramente, neste caso, estaremos restringindo os significados.
Nesse cenário fica compreensível a dificuldade do estudante. Econtrar o significado mais justo e completo das cartas não é uma tarefa fácil. É por essa razão que entendo que o melhor caminho é estudar as interpretações que se encontram nos livros e nos sites especializados e confrontar com a prática. A versão final, própria a cada tarólogo, depende de sua área de interesse, da linha esotérica ou religiosa a que pertence e, fundamentalmente, de seu nível de compreensão. É muito importante estudar o que as diferentes correntes legaram. É igualmente importante transpor as receitas vinculadas a grupos ou escolas específicas e ganhar a confiança que só a prática pode oferecer.
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Cigana da Estrada Pedido de Plelma Morelya - GO (22/09/2009 16:03): "Obrigado pelas maravilhas que vc mandou para mi (boletim das Novidades) e quiero q vc ache para mi o tarok da minha cigana (Cigana da Estrada). Obrigado desde já."
Não tenho notícias de um tarô específico da Cigana da Estrada, entidade dos cultos afro, uma pomba-gira dos ritos de Umbanda. Pelo que me informaram as pessoas dos povos ciganos com quem tive contato, essa personagem não faz parte de suas tradições. Trata-se, de uma entidade que se revelou entre os praticantes da Umbanda. Será, portanto, nos meios umbandistas que você encontrará a pessoas qualificadas para explicar a natureza e o papel dessa entidade.
O que posso adiantar, para estimular a sua procura, é que os pais-de-santo e mães-de-santo que incorporam a Cigana da Estrada não dependem de um baralho específico para transmitir suas mensagens. As verdadeiras ciganas exercitam o seu saber com qualquer jogo de baralho e, na falta das cartas, recorrem às palmas das mãos. Desse modo, minha impressão é a de que todos aqueles que têm afinação com a Cigana da Estrada não dependem de algum baralho especial: basta utilizar o que estiver à mão.
Ilustração: Cigana da Estrada, por Maria do Carmo da Hora, 2008.
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Apresentação do tema e uma dica histórica
A escolha do baralho
Escolher um tarô para estudar ou praticar pode ser uma coisa tão simples ou tão complicada quanto escolher roupa num magazine com grande variedade de modelos! Algumas pessoas vão às compras já sabendo qual o modelo desejado e, quando têm dinheiro suficiente, compram todas as peças que gostaram. Outras, ao contrário, querem saber melhor sobre a procedência e qualidade das peças, qual o modelo mais adequado para o seu tipo e para a situação em que utilizarão suas novas roupas.
Imagem original in wvw.mystificfamiliar.com Algo parecido acontece com os baralhos. Quando a pessoa pertence a algum grupo que re-criou ou reinventou algum tarô, a aquisição do baralho de referência já está pré-definida: - os seguidores do Rajneesh-Osho buscarão o jogo desenhado por Ma Deva Padma: http://www.clubedotaro.com.br/site/galerias/osho_maiores.asp. - os praticantes da Eubiose terão como referência o tarô de Henrique José de Souza, desenhado por Paulo Machado Albernaz: http://www.clubedotaro.com.br/site/galerias/HJS.asp - aqueles que se encantaram com as peripécias de Aleister Crowley, irão em busca do Thoth Tarot desenhado por Frieda Harris: http://www.clubedotaro.com.br/site/galerias/crowley_maiores.asp
Também existem as livre-invenções do final do século 19, como é o caso dos baralhos de Etteilla e do Petit Lenormand, também conhecidos como baralhos ciganos e que exercem um forte e popular atrativo: http://www.clubedotaro.com.br/site/h23_20_cigano.asp E o mesmo vale para os chamados egípcios: http://www.clubedotaro.com.br/site/h23_18_egipcio.asp
A situação não é tão simples para aqueles que estão em busca dos desenhos livres de deturpação e de subjetividade, nos quais se pode confiar nas posturas dos personagens, no gestual e nos detalhes. Neste caso, em tese, todos os baralhos antigos estariam mais próximos da fonte. Veja na Galeria de Baralhos do Clube do Tarô reproduções de cartas do séc. 15: Mamluk, Visconti-Sfsorza, Gringonneur, Mantegna. Baralhos clássicos, como o Visconti-Sforza (1450), Jean Noblet (1650) e Marselha (1760) continuam sendo impressos até o hoje.
Depois de bem estudada a situação, ficará mais fácil definir critérios para uma escolha pessoal do baralho.
ckr/21.09.09
Os jogos mais antigos do século XV
Embora já a partir de 1376 se tenha notícias de proibições dos jogos de cartas (naibes), são de meados dos anos 1400 os três jogos mais antigos que sobreviveram até os dias de hoje: Mamluk, Visconti-Sforza e Gringonneur. Depois deles, milhares de jogos foram re-criados e re-inventados, sob os mais variados critérios e níveis de compreensão.
Mamluk, o baralho árabe (acima, à esquerda) do qual se tem os mais antigos registros históricos, possuia 52 cartas e os três personagens da corte não tinham figuração humana. Veja no site: TARÔ/Baralhos-Galerias/Mamluk ou http://www.clubedotaro.com.br/site/h23_15_mamluk.asp. Dificilmente teriam os 22 trunfos (arcanos maiores) com figurações humanas, pois no islamismo é vedado o uso de imagens para representar qualidades mais altas ou divinas.
De algumas décadas após, 1450, temos o tarô Visconti-Sforza, um baralho de 56 cartas, com a figuração dos 4 personagens da corte, acrescidas de 22 trunfos, que hoje chamamos de arcanos maiores. Um exemplo é a carta do meio na ilustração acima.
Também é de meados do século 15, um outro baralho pintado que sobreviveu: Gringonneur (acima, à direita). Os trunfos estão incompletos e restou apenas uma carta dos arcanos menores: o Valete de Espadas.
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