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O temor à morte |
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(quando a leitura taromântica ”mata” o indivíduo de véspera) |
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Giancarlo Kind Schmid |
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Esse pequeno artigo foi produzido a partir de um email enviado ao contato do Clube do Tarô por um visitante, no qual descreve seu receio de morrer e o uso inadequado do tarô para uma questão aparentemente inofensiva, mas que pode se transformar em grave problema de ordem emocional, psicológica e/ou até espiritual. O caso aqui descrito foi relatado na íntegra e autorizado pelo responsável pelo site.
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Mensagem enviada pelo visitante no dia 20 de novembro de 2010:
"Olá. Tudo bem? Meu nome é A. e comecei a jogar o Tarot há um mês mais ou menos. Fiz uma questão, que pensando melhor agora acho que não era adequada. Perguntei se eu iria morrer em seis meses. Fiz essa questão porque tenho muito medo da morte aí retirei três cartas: "A MORTE", "A TORRE" e "O JULGAMENTO", fiquei com medo dessa interpretação. Por favor você poderia me esclarecer? Desde já agradeço."
Minha resposta ao visitante no dia 21 de novembro de 2010:
"Caro A.,
Definitivamente, essa não é a melhor maneira de começar a estudar o tarô; eu prezo pela objetividade e entendo que a sua pergunta além de não ser adequada, é incabível em qualquer tipo de situação. Seria salutar, em primeiro lugar, tratar esse seu medo da morte. Procurar um bom psicólogo, terapeuta ou simplesmente apoio espiritual, todos são bem vindos. Você deve se certificar de onde vem esse seu medo (alguma perda? trauma? sofre de alguma doença terminal? ameaça de vida?). Sem essa resposta é impossível tratar o assunto por outras vias.
Morrer, todos vamos um dia. Alguns sofrem porque temem morrer dolorosamente; outros receiam morrer muito novo sem terem concluido seus objetivos; outros ainda detestam a ideia de morrerem velhos; em todo caso, diante da inevitabilidade, o tema toca cada um de forma diferente. Pela sua forma de escrever você me passa a sensação de que é muito jovem, inexperiente e tem um grande futuro pela frente. Sua preocupação é desnecessária e você deveria focar mais no agora, aproveitando saborosamente cada momento de vida.
Outro problema diz respeito a tirar o tarô para si, principalmente em casos de envolvimento emocional com a questão. Na minha opinião, você leu o que quis ler. A Morte, por exemplo, nem sempre confirma "mortes físicas", se foi esse o arcano que mais lhe impressionou. A pergunta tem caráter do tipo "sim e não" e, ao meu ver, as três respostas foram um NÃO redondo. Agora, seja sensato, deixe de usar o tarô para questões que nada lhe acrescentam, use o tarô para você crescer interiormente, conhecer-se melhor, superar as suas próprias limitações. Ler o tarô de forma incipiente, testando em si mesmo como se fosse uma cobaia sem conhecer a fundo os arcanos "é como dar um tiro no pé". Tenho 23 anos de prática e te digo que não aprendi o suficiente - o que dirá você em um mês. Portanto, "desencane", viva bem a sua vida e trate o seu medo (ou obsessão) com um terapeuta, pois o tarô nessas horas só piorará a sua situação."
Observações finais: o tarô, infelizmente, ainda é utilizado como mero recurso para saciar curiosidades pessoais vãs. A parte cabível ao oráculo deveria se destinar ao aconselhamento ou orientações e não mais às respostas tendenciosas, cujo caráter fatalista, mais apavoram do que elucidam. O exemplo acima nos mostra o quanto muitos iniciantes estão despreparados e longe de verem o tarô como um recurso de real autoconhecimento. A divinação, por mais bonita que seja (ou tenha sido), ainda é a forma mais frágil e incerta de tratarmos do futuro. Cabe a nós, tarólogos, na condição de praticantes e também instrutores, auxiliar cada pessoa que ingressa na área a não cometer erros como o descrito acima e nem fazer do tarô uma espécie de "senhor do futuro". Em casos como o supracitado, além do oráculo mais confundir, empurrará o principiante para o abismo do medo e da angústia, roubando-lhe qualquer possibilidade de viver em paz. O tarô ainda não é levado devidamente a sério pela forma que alguns conduzem suas leituras e para alguns assuntos decorrentes. De instrumento conscientizador, reverte-se em arma capaz de mergulhar o indivíduo nas trevas de seus temores.
O mal só existe num lugar: na ignorância humana.
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23/11/2010 22:38:09
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Flavio Alberoni - 04/12/2010 09:43:03
O caro Anderson Tenório pede para eu entrar em detalhes na interpretação. Acho que não. Este local é por demais ... devassado.
Mas, esta página do Giancarlo é muito boa! Ele consegue uns temas - e os debates consequentes - no mínimo fascinantes.
Parabéns.
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Sonia - 05/12/2010 15:20:29
Olá! Sempre fico muito impressionada como os Oráculos trabalham de uma forma tão inteligente. A pergunta de "A" gerou uma resposta que acabou por lhe colocar diante de seu próprio medo. Mesmo que a resposta seja questionavel, devido ao fato dele ter jogado para si mesmo, em um tema tão delicado do qual seria impossível distanciar-se emocionalmente para fazer um jogo mais tranquilo, a resposta oferece agora a oportunidade de confrontar-se com suas questões mais profundas. Faço votos que "A" aproveite ese momento para conhecer-se melhor, confrontar-se com suas questões mais íntimas e crescer, não apenas no estudo do Oráculo, como também na direção de suas próprias metas de vida! Essa foi uma experiência e tanto, da qual provavelmente ele não esquecerá mais!
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Giancarlo Kind Schmid - 05/12/2010 16:25:43
Oi Cinthia, Estou de acordo contigo. Se a questão for no sentido de nos ajudar, é bem vinda; agora, se a resposta pode nos causar mais preocupação, então é melhor nem perguntar ao tarô. Abraço!
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Giancarlo Kind Schmid - 05/12/2010 16:43:24
Oi Anderson, Agradeço sua postagem e coragem de nos posicionar melhor sobre sua história. Insisto que procure ajuda psicoterapêutica ou espiritual para o seu caso, de forma a trabalhar esse medo exagerado que é denominado NECROFOBIA. Indico o link para uma matéria que julgo ser interessante para você: http://duplavista.com.br/arquivo/entenda-por-que-voce-sente-medo e que vai te esclarecer melhor sobre o assunto. Quanto ao tarô, independente do assunto, nunca é recomendável perguntar sobre algo que não esteja preparado para receber a resposta, ainda que a leitura seja feita por terceiros. O aspecto oracular do tarô funciona como uma arma na mão de uma pessoa despreparada e quase todos os problemas, com aventureiros, que evitaram tirar os arcanos para si depois, estão relacionados com impactos psicológicos das respostas. Por isso que aparece sempre alguém dizendo que já tirou tarô (e agora está mergulhado em alguma igreja) e afirma hoje que o baralho é "coisa do diabo", pura e simplesmente porque não soube como usá-lo(ou melhor, não teve sabedoria em seu uso). Você não vai morrer depois de 06 meses, tenho certeza, mas sua angústia vai perdurar até que resolva esse assunto dentro de si; porque, quando temos medo de algo, procuramos alguma coisa para justificá-lo e alimentá-lo, na dúvida você vai procurar outra pessoa para te aconselhar sobre, ou outro oráculo, ou quem sabe, vai achar que a morte virá em outra época. Eu acho que você não foi infantil ao nos reportar sua questão, mas imaturo ao tratar o assunto pelo tarô, na condição de principiante. Se o método que utilizou foi "sim ou não", você está interpretando os arcanos não pela condição simbólica de negar ou afirmar algo, mas pela sua evocação simbólica. Te digo, com toda certeza, que os arcanos foram enfáticos no "NÃO", mas se prefere crer na sua leitura é uma escolha sua (que considero pouco racional). No mínimo, vais passar 06 meses sofrendo desnecessariamente e depois perceber que foi tolo. Abraço!
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Giancarlo Kind Schmid - 05/12/2010 16:57:58
Caro César, Há um fenômeno estudado na Psicologia denominado "histeria coletiva". É algo abordado inclusive em filmes, como no caso de "As Bruxas de Salém"(evento que ocorreu em 1692 quando algumas jovens acreditaram estarem possuídas por demônios e enfeitiçadas, levando vários moradores da cidade de Salém - EUA à fogueira e forca inquisitória). Leia mais em: http://fotolog.terra.com.br/neuroclinica:14 Fico cá me perguntando como o amedrontado Anderson poderia lhe ajudar... conhece a "parábola do cego que guiou outro cego"? Pois bem, é bem por aí. Rapaz, vocês devem regular idade e creio que estejam na casa dos 16 aos 18 anos. Hormônios em alta, desejo de mergulhar no desconhecido, busca de sensações novas? Penso que seja, em parte, isso. Em casos de perturbação espiritual o ideal é buscar auxílio e orientação numa igreja, grupo espiritualista (todo cuidado é pouco, porque gente alucinada tem aos montes) e não ajuda no amigo que sequer está dando conta do problema dele. Vocês estão se influenciando mutuamente e a razão está passando longe. Miturando mitos, assuntos de magia, enfim, fazendo uma "salada de conceitos e ideias". No meu entender, é tão perigoso quanto se drogar - a obsessão espiritual começa com os medos, depois vêm as alucinações e por último, estamos a um passo da loucura. Por favor, procurem apoio psicológico e espiritual sérios, de nada adianta tentarem resolver o assunto sozinhos. Como diria o Tio Ben do filme "Homem Aranha": "grandes poderes trazem grandes responsabilidades". Brincar, por aí, de tirar o tarô e mexer de forma irresponsável com a espiritualidade pode atrair situações danosas. Vocês deveriam ficar um tempo sem conversar sobre o assunto porque, ao meu ver, está só aumentando o problema. Procurem ajuda séria e competente e deixem o tarô de lado por um bom tempo! Abraço!
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Giancarlo Kind Schmid - 05/12/2010 17:02:13
Caro Iakov, Sua exposição é merecedora de atenção, mas poderá não ser nada prática para os garotos. Neste momento eles precisam tratar esse assunto psicologicamente e com apoio espiritual dentro de uma casa que os acolha e ajude-os. Misturar, nestas horas, conceitos religiosos e morais creio que mais confundirá que ajudará; até porque, falta a eles não iniciação, mas maturidade (conheço gente que se diz "iniciada" por aí mas que só faz besteira - de que adianta erudição espiritual se a pessoa não alcança a Palavra?). Abraço e seja bem vindo!
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Giancarlo Kind Schmid - 05/12/2010 17:14:40
Oi Alberoni, Tudo bem?! Seja bem vindo! O Anderson pautou sua leitura por uma resposta de caráter "positivo ou negativo" (considero essa a pior forma de se usar o tarô para leituras). O método de três casas poderia ser outro, ele preferiu fazer dessa forma (que confunde ainda mais, não bastava uma carta para obter a resposta?), então, a leitura em outra instância é improvável. Qualquer pessoa poderá realizar a leitura adotando outras formas de ler as três casas, mas a intenção de quem monta o método é a que vale. Eu prefiro pensar que os arcanos que saíram nada mais são uma representação do que vai no interior desse jovem. Como eu sinalizei na minha resposta do artigo, Anderson leu o que queria ler. Psicologicamente ele teme a morte, mas não consegue evitar perguntar sobre o assunto; ou seja, ele precisa se convencer que vai morrer, caso contrário, sua fobia se torna infundada e ele conscientemente (ou inconscientemente) não quer receber "diploma de maluco". Logo, se ele não tratar a fobia, vai passar a vida toda perseguindo a morte (que ironia do destino!), ao invés dele morrer. É claro, envenenamento mental existe e ele poderá somatizar tantos problemas de saúde ao longo de sua vida (correndo riscos), que imaginará que "passou por um triz, mas numa próxima ele vai acabar morrendo". Casos de necrofobia não são raros e quase sempre são tratados com hipnose, psicoterapias, regressão e algumas até trabalhos de desobsessão espiritual. Seu medo pode ser originário de um trauma ou mesmo algo relativo a vidas passadas (suposição, para quem crê). De qualquer modo, o tarô deveria ser deixado de fora, pois de agora em diante o rapaz precisa de tratamento e não, novas consultas. Abraço!
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Giancarlo Kind Schmid - 05/12/2010 17:19:31
Anderson, Não farei objeções quanto ao Alberoni (ou qualquer outra pessoa) (re)interpretar a tiragem. Porém, nesse momento, o que você menos precisa é do tarô e sim, de uma (boa) terapia. Você só vai ficar satisfeito quando alguém responder o que você (ou seja, que vai morrer em 06 meses); quando expirar o prazo, você procurará outra maneira de perguntar se morrerá nos 06 meses seguintes (é um circulo do qual não conseguirá se livrar porque se tornou uma obsessão saber quando vai morrer). Abraço!
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Giancarlo Kind Schmid - 05/12/2010 17:21:34
Oi Fernanda, Seus comentários são oportunos e importantes. Diante do problema do Anderson (e do amigo dele), não é possível eu adotar uma postura romântica: ambos precisam URGENTE de tratamento psicológico e espiritual. Abraço!
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Giancarlo Kind Schmid - 05/12/2010 17:28:26
Oi Bete, Seus comentários, sempre pertinentes, sempre são bem vindos! Eu questiono, apenas, se o Anderson necessita, nesse momento, de uma nova leitura sobre a tiragem. Por mais que venhamos reinterpretar a tiragem, isso não o satisfará. Por que? Muito simples: o estado em que se encontra psicológica (e espiritualmente) só conseguirá enxergar o lado obscuro, negativo da situação. Enquanto não aparecer alguém que concorde com a leitura dele, não dará por satisfeito. É uma implicação séria que exige muito mais do que nossas (re)leituras, mas o impede de ver a realidade. Anderson passará 06 meses "morrendo um pouco a cada dia" e esse é o ponto que mais me preocupa. O tarô, para ele, se tornou "veneno", cuja "resposta que acreditou ser assertiva" não o deixará em paz. Questiono, também, releituras a partir de outros parâmetros se não aquele adotado pelo praticante; isso não dá uma margem enorme de reinterpretações se pensarmos em outros significados para as três casas? Abraço!
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