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Adivinhação é pecado? |
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Constantino K. Riemma |
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Flávio Siqueira - 26/4/2010 17:56:40 "Queria que você esclarecesse uma questão que tem estado em minha cabeça há algumas semanas. Como lidar com o tarô e com algumas idéias cristãs? Por exemplo, há diversas passagens bíblicas (Deuteronômio, Levítico) que condenam a prática adivinhatória e tal e coisa. Acho que você já ouviu muito acerca disso. Bom, creio que seja importante saber como lidar com tal questão, pois sou muito criticado por minha família acerca disso."
Constantino: O tarô não é condenado pelos cristãos. Ele aparece no mundo católico, no século XV, utilizado nas cortes e nos mais diferentes lugares, com finalidade lúdica, sem qualquer interdição religiosa. Mais ainda, na tradição judaico-cristã os prognósticos não são condenados. Muito pelo contrário, os profetas sempre foram valorizados. Portanto, a questão fundamental é compreender o que de fato pretendem os orientadores religiosos quando condenam a adivinhação. Seria mera implicância ou preconceito? Sim, pode ocorrer que muitos religiosos sejam simplesmente pessoas fechadas. Mas será só por isso? Talvez valha a pena refletirmos um pouco mais.
Uma imagem que utilizo para examinar essa questão é a seguinte. Se alguém passar por você em excesso de velocidade, em direção a um paredão, será possível prever que dentro de 5 segundos ele se arrebentará num impacto fatal. Você será elogiado e valorizado por suas aptidões de previsão. Se ao invés de confirmar a trombada você der um grito e alertar o distraído para brecar, talvez o impacto seja bem menor ou até mesmo possa ser evitado. Nesse caso, o seu gesto talvez não seja tão valorizado e todos acreditarão que você simplesmente fez o que deveria fazer pelo seu semelhante.
[Ao lado: "Fortune Teller" em www.aescott.net Ilustração abaixo: Ramana in www. bhagavanramana.blogspot.com]
Outra imagem pode nos ajudar a refletir sobre o problema que você coloca. Um médico de diagnósticos pega uma radiografia e faz sua previsão ao paciente : "Você só tem três meses de vida". Já um médico curador vai olhar a mesma chapa e fazer tudo o que estiver ao seu alcance para superar ou, pelo menos, contornar a gravidade da situação. O paciente poderá viver ainda muitos anos, contrariando assim os diagnósticos iniciais. Ou seja, não é pecado fazer diagnósticos. O problema todo está na capacitação do profissional para utilizar os prognósticos de modo terapêutico e não para agravar o sentido negativo de um quadro muitas vezes bem difícil.
Em muitas questões humanas, nas quais predomina a mecanicidade dos acontecimentos, o adivinho poderá prever como a pessoa sofrerá com a situação. E ao verbalizar sua previsão poder correr o grave risco de reforçar, na mente e no coração do consulente, a mecanicidade dos fatos, agravando assim os problemas que enfrenta. Caso esse mesmo consulente tivesse buscado um terapeuta competente ou um orientador espiritual talvez pudesse ganhar um novo discernimento, uma nova compreensão do processo, e tomar medidas e direções que evitassem equívocos e a piora da situação em que vive. Mais ainda, poderia até mesmo reverter tendências negativas e ganhar novos rumos de crescimento.
Com esses exemplos cabe a questão. Como lidar com as possíveis previsões? Qual é o grau de saber necessário para utilização terapêutica dos prognósticos? Como ganhar a qualificação para lidar evolutivamente com as questões humanas?
Desde sempre as artes divinatórias tiveram forte presença na vida humana; basta ver a enorme lista de mancias até hoje praticadas em todas as classes sociais (confira em: http://www.clubedotaro.com.br/site/r68_0_mancias.asp). São muitos, porém, os buscadores espirituais que contrapõem o livre-arbítrio ao determinismo das adivinhações. Apesar de, no plano coletivo, predominar a busca de previsões factuais de "sim ou não?", "vai ou não vai dar certo", e de também serem muito procuradas as técnicas mágicas e "trabalhos" de manipulação da vontade alheia, estamos frente a outra bela questão para considerarmos.
Se tivermos a possibilidade de realizar escolhas como devemos estudar para tomar as melhores decisões? Onde buscar orientação? Se, caso contrário, estivermos diante de situações inelutáveis, como fazer para descobrir a melhor atitude?
Quem poderia ser nosso guia e orientador? Em nossas crises e incertezas, procuramos por um cartomante, por um tarólogo, ou por um mestre e orientador espiritual? Será possível combinar essas alternativas? E aí?
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Flávio Siqueira - 4/5/2010 17:10:49 "Oi Constantino. Agradeço demais sua resposta. Alías, ela me fez pesquisar várias coisas interessantes. Entrei no Google e joguei o seguinte: "Tarô e cristianismo". Qual não foi minha surpresa encontrar o link para o próprio Clube do Tarô, onde você escreveu sobre o livro "Meditações Sobre os 22 Arcanos Maiores". Minha surpresa foi maior ainda ao verificar que a Editora é a Paulus. Daí segui um dos links que mostram o saudoso Papa João Paulo II sentado à sua mesa com esse tal livro, presente de um de seus Cardeais, fala o texto. Fiquei espantado ao pensar que talvez ser cristão e ao mesmo tempo fazer uso do tarô não seja algo tão antagônico. De qualquer forma, quero pesquisar mais sobre as passagens bíblicas do Levítico e Deuteronômio que fazem referência ao assunto, pois quero saber por que usam tais passagens para condenar o tarô. Penso que manipulam ou manipularam o texto como forma de concentração de poder religioso, ou coisa parecida."
[Foto: O Papa João Paulo II e, em sua mesa de trabalho, o tratado de Valentim Tomberg sobre o Tarô] Resposta do Constantino: : Flávio, foi muito bom você lembrar que um dos mais importantes tratados sobre os arcanos maiores é de autoria de um cristão, católico! Para registrar o link a outros visitantes, o texto que você menciona está na seção "Serviços / Livros e Autores / Estudos -> Valentim Tomberg". Ou para chegar até ele basta apenas clicar: http://www.clubedotaro.com.br/site/z94_Tomberg-bio.asp
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03/05/2010 22:27:59
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Anni de Lima Duro - 12/08/2010 18:23:05
Gostei muito de ter entrado no site Clube do Tarô
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joana - 12/09/2010 15:45:58
oi, interpretar o significado dos sonhos tambem é como taro,cartas?,tambem igreja repreende?e cartas tambem ?
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Constantino K. Riemma - 18/09/2010 22:37:55
Minha cara Joana, nunca ouvi dizer que a Igreja Católica proibiu a leitura simbólica das cartas nem dos sonhos. Como aparece no texto deste fórum, tem até retrato do Papa com livros sobre o tarô sobre sua mesa de trabalho. Veja lá também o link para conhecer a apresentação das "Meditações sobre os Arcanos Maiores".
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maria felicia macedo sarra - 26/09/2010 22:12:53
tudo o que se faz com a intenção de beneficiar pessoas, tendo conhecimento ,ética, e amor, vem de deus. seja qual for a religião, a terapia, a medicina, deve ser usada com critério e conhecimento,benefiando a humanidade
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douglas - 30/10/2010 03:36:05
Taro e satanico assim como 666. Catolicos nao devem procurar este tipo de coisa, ja que a doutrina crista a condena.
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Flávio Siqueira - 07/12/2010 14:45:00
Bom, o que mais me deixa preocupado, senão irritado, é a mania que muitas doutrinas religiosas tem de engessar o pensamento de seus seguidores. Impedir que uma pessoa pesquisa, pense por si só e tire suas conclusões é algo inerente aos seres humanos. Falar asneiras e ver o diabo em tudo aquilo que não faz parte de sua doutrina, é uma prática burra! Sugiro estudo e pesquisa antes de tudo. Foi o que fiz e tenho feito.
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Regina - 24/04/2011 09:33:21
constantino, bom dia!!! Desejo saber se a gente deve tirar cartas pra gente mesmo? é correto? nao pergunto como ética mas no sentido de precisão. Obteremos respostas precisas tirando as cartas visto que o taro é o nosso próprio? E nesse sentido que pergunto! um Abraço e obrigada!! Voce disse que era pra eu colocar essa duvida no fórum mas eu nao consegui . entao ...obrigada mais uma vez
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Miriam - 29/04/2011 07:43:22
Eurocentrismo, palavra aprendida por todos durante os primeiros anos escolares, impera livre e solta - mas jamais leve; é um verdadeiro peso sobre outras formas de pensar, agir e viver.
Pecado é uma noção que sequer existe em incontáveis religiões pelo mundo (o que de forma alguma significa que tais religiões não tenham o seu código moral próprio). Estas mesmas religiões, por tantas vezes marginalizadas pela atitude taxativa cristã, têm seus oráculos. Aliás, ao que parece, apenas o cristianismo não os tem - o que leva a crer em processos internos de repressão do conhecimento.
Durante a condução desta conversa, peço apenas o seguinte: deixem em paz a Umbanda e o Candomblé, bem como quaisquer religiões africanas, asiáticas ou simplesmente não-cristãs. Que se manifeste sobre eles apenas quem tem autoridade para tal.
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Constantino K. Riemma - 01/05/2011 18:58:02
Regina, são muitos os médicos que não atendem nem a si mesmos, nem aos seus familiares; normalmente buscam a orientação de outros profissionais para garantir a isenção necessária ao bom diagnóstico. Do mesmo modo, nenhum psicólogo dá consultas a si mesmo, mas quando sente necessidade busca interlocutores nos quais confia. Se seguirmos essa linha no tarô, sempre que estivermos diante de assuntos muitos importantes nos quais corremos o risco de subjetividade, parece aconselhável escutar pessoas experientes. No cristianismo tradicional, até mesmo os seres reconhecidos pelas suas qualidades tinham os seus confessores, aqueles que o escutavam na intimidade.
No entanto, existem muitas linhas de trabalho em mancias que entendem que o bom profissional deve ler as cartas para si mesmo. Veja, nesse sentido, o que a Sarani relata sobre a importância da cartomante ler para si mesma; confira o tópico final de “A cartomancia cigana”: http://www.clubedotaro.com.br/site/h22_3_ciganos_Dohm.asp
Minha sugestão é que você experimente as duas direções e veja em quais circunstâncias uma ou outra alternativa resulta melhor para você. Quem sabe um dia você poderá partilhar sua experiência viva aqui no site! Boa sorte
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Ivan Mir - 09/11/2011 19:55:36
O Tarot sempre foi um instrumento para o autoconhecimento. Afinal, o que seria do Tarot sem o Louco? O Tarot existe porque o Louco existe, é a sua razão capital, o Louco é o indivíduo trilhando o seu caminho em direção ao despertar consciencial. Mas o que se discute é tentar justificar o Tarot através da Psicologia, Mitologia, Terapias. O Tarot não tem receitas, não veio com manual de instruções, ele é pictórico. E todo conhecimento pictórico é profundo porque permite à pessoa convergir a imagem que vê ao uso intuitivo de perceber questões que vão além do conhecimento comum. O Tarot se basta por si só, não precisa de muletas, nem de acessórios. É o grande oráculo. Mas alguns "ditos" tarólogos tem tentado usar a Psicologia e outros instrumentos para dar uma certa credibilidade da qual o Tarot não precisa. Ele não precisa de justificativas para existir, apenas por que se quer uma certa aceitação da Academia.
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