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21 de novembro de 2024

Responsável: Constantino K. Riemma


Antoine Court de Gébelin: pai do tarô esotérico moderno
Texto de James W. Revak
publicado em www.villarevak.org
Tradução de Alexsander de Abreu Lepletier
O Essencial:
Antoine Court de Gébelin (originalmente Antoine Court) (1719?-84), Pastor Portestante suiço  fancófono e ocultista, que iniciou o movimento público para interpretar o Tarô como depositário atemporal de Sabedoria Esotérica.
Destaques de sua carreira:
1754: é ordenado pastor Protestante;
1762: deixa a a sua terra natal, a Suiça, pela França;
1771: é iniciado na Maçonaria na loja Les Amis Réunis, Paris;
1781: Publica Monde primitif, analysé et comparé avec le monde moderne [ O Mundo Primitivo, Analisado e Comparado ao Mundo Moderno] (volume 8),  que inclui seu famoso ensaio sobre Tarot.
Citação importante:
“Se alguém pretendia anunciar que ainda existe uma Obra Egipcia antiga, um de seus livros que escapou das chamas que tragaram suas extraordinárias Bibliotecas, e que contém seus mais altos ensinamentos sobre objetos fascinantes...  Você não acreditaria que ele quer se divertir, enganar seus Leitores?” – Antoine Court de Gébelin em Tarot, Monde primitif
Sua vida: um pastor protestante
Antoine Court, filho de um pastor protestante, nasceu na Suiça, provavelmente em 1719. Ao completar seus estudos em 1754, foi ordenado como pastor.
Antoine Court de Gébelin
Antoine Court de Gébelin
Fonte: Bibliothèque Nationale de France
 
Ele entrou na França em 1762 e publicou Les Toulousaines ou lettres historiques et apologétique en faveur de la religion reformé [O povo de Toulouse ou as cartas históricas e apologéticas em favor da religião protestante].
Nessa época ele estava usando o seu nome todo pelo qual seria mais conhecido: Antoine Court de Gébelin. Seu livro foi um relato sobre Jean Calas, um comerciante protestante que foi injustamente executado pelo assassinato de seu filho que se converteu ao Catolicismo. Voltaire, o célebre autor e filósofo francês, embora a favor da questão de Calas, atacou o livro porque, por uma razão, ele promovia o protestantismo de forma passional.
Court de Gébelin visitou várias comunidades Protestantes pela França e fixou-se em Paris, onde abriu um escritório e se colocava em defesa dos interesses dessas comunidades, por vezes perseguidas. Ele era apontado como um crítico real uma conquista notável para um protestante. Durante as últimas décadas de sua vida, ele seguiu o esoterismo e ligou-se ao mundo da maçonaria, que tinha muitas lojas na França e milhares de seguidores.
A Maçonaria
Court de Gébelin foi iniciado na maçonaria no centro Les Amis Réuinis em 1771. Subsequentemente ele se juntou ao centro Le Neuf Soeur, onde, em 1778, assistiu a iniciação de seu antigo crítico Voltaire, que atraiu maçons memoráveis como o astrônomo Lalande, o naturalista Lacépède, o escultor Houndon, e o embaixador americano na França Benjamin Franklin.
Embora muitos maçons estivessem mais interessados em socializar e politizar  que em explorar assuntos filosóficos e espirituais, um número significante abraçou entusiasticamente filosofias não conformistas e ocultismo. Alguns membros aprenderam sobre mitologia clássica e culturas antigas graças à maçonaria e, ocasionalmente, marcavam feriados pagãos. Por exemplo, os almanaques maçônicos populares, geralmente em francês, frequentemente continham cada mês na perspectiva da mitologia Romana. Em 1793 os maçons celebravam a Saturnalia no dia de Natal.
Às vezes palestras nos centros maçônicos centravam-se em alegadas tradições de sabedoria antiga. Um maçom holandês escreveu em 1794 que um palestrante em sua loja “nos entretinha com os costumes dos Sacerdotes Egípcios para transmitir os atos heróicos ou as histórias do país para a posteridade através de símbolos metafóricos” , de acordo com Margaret C. Jacob em seu livro Living Enlightment: Freemasonary and Politcs in Eighteenth Century in Europe (1991).
Além disso, Court de Gébelin fundou e presidiu a Société Appoloniene(mais tarde chamada Musée de Paris), uma sociedade dedicada às artes e ciências. Ele também foi membro fundador da Philalèthes, uma fraternidade esotérica ligada à Maçonaria e a seita mística Élus Coens (Cohens Eleitos).
Seu maior trabalho literário
Court de Gébelin, certamente, nutria forte interesse pelo esoterismo, religião, e pelo aprendizado de forma geral, que em parte motivaram-no a produzir sua maior obra literária,  Monde primif, anlysé et comparé avec le monde moderne [O mundo primitivo, analisado e comparado ao mundo moderno]. Ele atraiu mais de mil assinantes no mundo, incluindo a família real (que pediu 100 cópias), o autor renomado e enciclopedista Diderot, o filósofo d’Alembert e Benjamim Franklin. Court de Gébelin publicou nove volumes entre 1773 e 1782; sua morte em 1784 não o deixou concluí-la.
Em Monde Primitif, Gébelin procurou reconstruir a civilização primeva. Seguindo os passos de alguns dos principais intelectuais acadêmicos da Renascença, ele alegava que essa civilização era universal, intelectualmente avançada e espiritualmente iluminada. O livro centrava-se em duas grandes áreas: (a) lingüística e (b) mitologia e simbologia. No que diz respeito à primeira Gébelin apresentou dicionários de etimologia, o que ele chamou de gramática universal, e discursos sobre a origem de língua falada e escrita.
No que diz respeito à mitologia e simbologia, ele discutiu a origem da alegoria na antiguidade e a história do calendário a partir de perspectivas civis, religiosas e mitológicas Além disso, apresentou o primeiro ensaio conhecido e publicado sobre o Tarô. Ele incluiu dois: um por ele e outro atribuído a “M. le C de M***”. Os historiadores determinaram que o nome completo desse autor era Louis – Raphaël - Lucrèce de Fayolle, Comte de Melet, um nobre do século 18, oficial da Cavalaria sobre quem pouco conhece.
O Tarot como um antigo artefato Egípcio
Em seu ensaio, Gébelin descrevia seu primeiro contacto com as cartas (exceto quando era criança), em aproximadamente 1773-1778, enquanto visitava uma amiga que tinha chegado da Suíça ou Alemanha. Enquanto ela estava jogando o jogo do Tarô, ele olhou para as cartas, interrompeu o jogo e começou a analisá-las. Tendo caído em desuso em Paris há muito, as cartas eram virtualmente desconhecidas por seus habitantes. Todavia Gébelin anunciou que havia entendido a origem e o conteúdo simbólico do Tarô. Ele lembra essa experiência em Monde Primitif em termos quase místicos:
“ ...Eu olhei para ele ( O Mundo) e imediatamente entendi a Alegoria. Todos pararam de jogar e foram ver essa maravilhosa carta onde eu percebi o que eles nunca tinham visto. Cada pessoa me mostra mais uma: em 15 minutos todo o baralho tinha sido visto, explicado e declarado Egípcio e tal não era uma brincadeira de nossa imaginação mas sim o produto da associações espontâneas e percepções do baralho com tudo que se com tudo que se conhecia como idéias Egípcias.”
Referindo-se à ilustrações adaptadas do Tarot de Marseille para o seu livro,  Gébelin descreveu cada Trunfo e o Louco. Ele afirmou que a figura do Enforcado deveria estar de pé eu que realmente descrevia a virtude da Prudência. Alegava que O Carro mostrava a figura do Deus Osiris em Triunfo, e que o Diabo mostrava Typhon, um deus grego associado com egípcio Set; a Estrela compreendia a estrela Sirius e os sete “planetas” tradicionais; o Julgamento simbolizava a criação do mundo e o Mundo simbolizava o Tempo. Além disso, alegava que a ordem correta dos Trunfos deveria ser de trás para frente, começando com o Mundo e terminado com o Prestidigitador (mais tarde chamado de Mago).
 
A Virtude (O Pendurado) no taro de Court de Gébelin
Prudência, no livro Monde primitif de Gébelin (1781), corresponde ao Pendurado no Tarô de Marselha e baralhos tradicionais. 
Ele também afirmava que os quatro naipes simbolizavam grupos sociais. Escreveu que Espadas representavam domínio, nobreza e militarismo; Copas a classe religiosa ou dos sacerdotes; Bastões (mais tarde chamado Paus), os agricultores; e Moedas (mais tarde chamado Ouros), a classe dos comerciantes. Para completar ele também criou regras para o jogo do Tarô.
Infelizmente Gébelin não conseguiu apresentar argumentos racionais apresentar, sequer, uma evidencia convincente de suas idéias. Ele foi puramente especulativo e podia-se descrever sua metodologia como, no máximo, intuitiva. Muitos historiadores e linguistas têm rejeitado muitas de suas idéias como absurdas, incluindo sua teoria de o Tarô ser um artefato egípcio antigo.
O Conde de Mellet
O ensaio de Mellet aparecia junto ao Monde Primitf. De forma similar a Court de Gébelin, ele afirmava que o Tarô tinha se originado entre os Egípcios e que a ordem correcta dos Trunfos  ordem seria de trás para frente.  Afirmava que a série começava com o Mundo e terminava com o Prestidigitador, seguido do Louco. Ele explicava essas cartas a partir de uma perspectiva que incluía a criação do mundo e as eras míticas.
De Mellet também afirmava que os Trunfos e o Louco correspondiam sistematicamente às letras do alfabeto Hebraico. Ele aplicou um sistema, de forma que: O Mundo = Alef, O Julgamento = Beth,... O Louco = Tau. Todavia esse sistema, aparentemente, nunca atraiu muitos adeptos, ao contrário daqueles apresentados mais tarde pelo mago Francês Éliphas Levi e a Golden Dawn (Um influente grupo de ocultistas ) no século XIX.
De Mellet discorreu, de maneira breve, usando o Livro de Toth (um termo geralmente para substituir a palavra Tarô) sobre adivinhação. Supostamente imitando os sacerdotes egípcios, ele explicou como ler as cartas do Tarot usando uma jogada de dez cartas. Ele também fornece temas para os quatro naipes e significados divinatórios  para algumas cartas individuais e combinações.
Com relação aos naipes ele escreveu que espadas pressagiavam pobreza, preocupações, dor e morte; Bastões (Paus), sucesso, vantagem, sorte e dinheiro; Corações (Copas), contentamento e felicidade; Diamantes (Ouros), o campo, sorte indiferente. Até os dias de hoje, alguns tarólogos ainda usam alguns desses.
Com relação às cartas individuais ele escreveu:
“O Nove de Diamantes [ouros] implica em demora - para bem ou para mal.”
“O Nove de Espadas é a pior cartas: pressagia somente ruína, doença e morte”
“O Dez de Corações [Copas] implica em Cidade...”
Até os dias de hoje alguns Tarólogos ainda utilizam esses mesmos significados, pelo menos ocasionalmente. A descrição de Mellet sobre adivinhação com o Tarô, todavia, era, em última instância, vaga e incompleta. Ao trabalhar a partir de sua obra é impossível conseguir-se reconstruir seu sistema.
Lamentavelmente, da mesma forma que Gébelin, ele também falhou em apresentar um argumento racional ou apresentar mesmo uma pequena evidencia para suas idéias.
Reação Contemporânea
De acordo com Court de Gébelin: Le Tarot Présenté et commenté par Jean-Marie Lhôte [O Tarô apresentado e comentado por Jean-Marie Lhôte], um pastor francês da época falou muito sobre o livro e seu autor em uma carta para um amigo. Ele escreveu: M. Court [Gébelin] é como o sol que emite seus raios para uma nuvem nuvem negra e a dissolve... [Monde Primitf ] vai lhe convencer que os primeiros homens eram sensíveis e não idólatras como nós pensamos.”
Todavia, o amigo responde-lhe “Eu , realmente, gostaria que ele [Court de Gébelin] pensasse como o antigo filósofo que disse que um grande livro é sempre um grande problema...”
Contudo, Monde Primitf  foi um sucesso. O público gerou uma demanda significante por cópias; resumos foram publicados de tempo em tempo, e o volume oito que continha um ensaio sobre o Tarot foi republicado na íntegra.
Mesmer e o Magnetismo Animal
Em seus últimos anos, Gébelin foi adepto do controverso médico austríaco Franz Anton Mesmer. Ele era famoso em Paris e em toda parte por usar suas mãos e um equipamento especial para manipular uma força invisível que ele chamava magnetismo animal para curar uma ampla variedade de doenças. A terapia, algumas vezes, incluía em conectar o paciente em tubos especialmente construídos cheios com água “magnetizada”.
Mesmer
Mesmer
 
Pelo tempo em que ele efetuou curas extraordinárias, atraiu numerosos pacientes, e desfrutou de uma rendosa e lucrativa prática.
Em 1783 Gébelin sofreu uma séria infecção nas pernas e procurou Mesmer, que aparentemente o curou. O paciente ficou tão contente que escreveu cartas exultando os trabalhos de Mesmer aos assinantes de Monde Primitif. Infelizmente ele sofreu uma séria recaída e retornou a Mesmer em 1784. Enquanto em terapia conectado a tubos de água magnetizada, ele morreu. Nunca tendo casado ele não deixou família direta.
Em A Wicked Pack of Cards, Deker, de Paulis e Dummet relatam que um escritor anônimo escreveu o seguinte elogio:
 
“Ci-gît ce pauvre Gébelin,
Qui parloit Grec, Hébreu, Latin;
Admirez tous son héroisme:
Il fut martyr du magnétisme.”
“Aqui jaz o pobre Gébelin,
que falava Grego, Hebraico, Latin;
Admire todo o seu heroísmo:
Ele foi mártir do magnetismo.”
 
Um reconhecimento
Hoje em dia Gébelin e, especialmente Mellet são esquecidos; os acadêmicos modernos rejeitam suas idéias como absurdo sem bases em fatos. Mesmo levando em consideração que eles viveram antes da egiptologia moderna e do decifrar dos hieróglifos no século XIX, suas declarações sobre o Egito antigo, incluindo as supostas origens do Tarô, eram absurdas.
No que diz respeito, especificamente, aos seus ensaios sobre o Tarô, é extremante difícil determinar as fontes das idéias do autor. Sobre os trabalhos, especificamente no Tarot, determinado a fonte das idéias dos autores ele não proveram virtualmente nenhuma documentação.  De acordo com Gébelin ele ,sozinho, descobriu o conteúdo esotérico do Tarot. Eles não forneceram, praticamente, nenhuma documentação. De acordo com Court de Gébelin, ele, sozinho, re-descobriu o Tarô e seu conteúdo esotérico. Todavia, a falha de Mellet ao creditar a ele essa re-descoberta sugere que talvez ele não tenha sido o primeiro a especular a suposta história antiga e o conteúdo esotérico do Tarô. Além disso, o tom da explicação de Mellet sobre adivinhação pelo Tarô sugere que, talvez, ele estivesse relatando um sistema pré-existente. Os historiadores sabem que a adivinhação pelo Tarô era praticada, pelo menos ocasionalmente, na Itália, antes do Monde Primitif; todavia, o que eles pouco sabem sobre o sistema fazem-no significativamente diferente do de Mellet.
Ocultistas, incluindo alguns membros de lojas maçônicas e organizações similares, podem ter explorado e discutido a história e o conteúdo esotérico do Tarô antes do Monde primitif, e, claro, Court de Gébelin era um fervoroso membro de tais organizações. Para mais, Monde primitif, abarcava conceitos que se harmonizavam com conhecidos interesses maçônicos. Por exemplo, similar aos almanaques maçônicos, anteriormente mencionados, ele incluía discussões sobre o calendário de , em parte,  uma perspectiva mitológica. Como algumas lojas maçônicas, ele se aprofundava em supostas sabedorias de tradições, incluindo a egípcia.
Talvez, Court de Gébelin, tenha ouvido falar pela primeira vez do Tarô esotérico numa loja maçônica ou ambiente similar. Todavia, essa e declarações parecidas são estritamente sugestivas. Na realidade, não existe nenhuma evidencia documental clara para sustentar a idéia que indivíduos, incluindo membros de lojas maçônicas e organizações afins, explorassem ou discutissem o conteúdo esotérico do Tarô a um nível significativo antes do Monde primitif. Ao invés disso, quando as pessoas souberam disso tudo, elas só conheciam o tarô como um jogo divertido. Mas, depois da publicação dos ensaios de Court de Gébelin e Mellet desabrochou o interesse público no conteúdo esotérico do Tarô.
Court de Gébelin foi um excêntrico e impetuoso erudito cujas idéias são desprezadas hoje em dia. Porém, para seu crédito, ele iniciou o movimento de visibilidade pública do Tarô como um depositário de sabedoria antiga intemporal. Embora seja amplamente esquecido hoje me dia, graças a seus ensaios sobre o Tarô Em Monde primitif ele será lembrado por um grato grupo de tarólogos e indubitavelmente merece o título de "Pai do Tarô esotérico moderno".
 
Fontes - Livros:
Decker, Ronald; DePaulis, Thierry; Dummett, Michael. (1996). A Wicked Pack of Cards: The Origins of the Occult Tarot. New York: St. Martin’s. ISBN 0312162944.
Lhôte, Jean-Marie. (1983). Court de Gébelin: Le Tarot présenté et commenté par Jean-Marie Lhôte [Court de Gébelin: The Tarot Presented and Commented Upon by Jean-Marie Lhôte]. Paris: Berg International. ISBN 290026930X. Esse livro em língua francesa contém os ensaios completos de Court de Gébelin e deMellet sobre o Tarô que apareceram, originalmente, em Monde primitif com comentários de Lhôte.
McIntosh, Christopher. (1972). Éliphas Lévi and the French Occult Revival. London: Rider. ISBN 0091122716.
Texto original:
Revak, James W. - Antoine Court de Gébelin - Father of the modern esoteric tarot em: www.villarevak.org/bio/gebelin_1.html
 
abril.11
Contato com o autor:
Elizabeth Hazel e James W. Revak - www.villarevak.org/bio/gebelin_1.html
Tradutor: Alexsander Lepletier: www.lenormando.blogspot.com
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