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30 de dezembro de 2024

Responsável: Constantino K. Riemma


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O herético no Tarô
Ricardo Pereira
 
Sabe-se que a origem do Tarô é um enigma. Muitas suposições a respeito podem ser observadas na literatura internacional, não se confirmando nada, nenhum fato ou evidência
Ícone do sec. XII
S. Jorge - ícone bizantino, séc. XII
www.ecclesia.com.br
 
que traduza, com plena certeza, que o Tarô se originou em um exato período histórico no Oriente Médio, na África, Ásia, Europa, nas Américas ou em outro planeta.
Desse mesmo modo, também nada se sabe da origem primeira dos primeiros baralhos de cartas existentes.
Uma dentre tantas teorias a respeito da origem do Tarô enfatiza que ele pode ter surgido 64 (sessenta e quatro anos ) anos após o Grande Cisma Cristão: divisão da Igreja Católica em 1054 em Católica Apostólica Romana (Ocidental), sob a liderança do Bispo de Roma, o Papa e Católica Apostólica Ortodoxa ou Grega (Oriental), sob a liderança de um conselho de patriarcas que professava a mesma fé, mas pertencia a independentes patriarcados edificados em Roma, Constantinopla, Alexandria, Antioquia e Jerusalém.
Na Igreja Oriental, o Patriarcado de Constantinopla assumiu o primeiro posto entre os demais patriarcados.
É  importante  frisar  que  64  anos  após  o  Grande  Cisma
Cristão é a época, coincidentemente, provável do surgimento, em 1118, da ordem dos cavaleiros templários, protetores da cristandade em tempos das cruzadas católicas (entre 1096 e 1272), considerados guardiões da Terra Santa, Jerusalém e dos peregrinos que a visitavam, a qual ficou historicamente conhecida como "Ordem dos Cavaleiros Pobres de Cristo e do Templo de Salomão". Vale salientar, no entanto, que alguns escritos históricos datam a sua fundação pública em 1119 em Jerusalém.
Fundada por Hugues de Payens (seu primeiro grão-mestre) e 8 (oito) outros cavaleiros com fins militares e orientação religiosa, ainda hoje gera diversos debates sobre a sua origem, crenças, ideologias, atuações e verdadeiras causas de seu sumiço histórico, sendo esse tema objeto de diversas pesquisas acadêmicas, de investigações de pesquisadores autônomos, de romances de ficção, suscitando inferências e incertezas por ser apresentada na contemporaneidade em diversas versões, como em uma espécie de misto de fantasia, visões românticas e fatos históricos.
 
Templários
Cavaleiros Templários
www.weird-encyclopedia.com
Felipe, o Belo

Felipe, o Belo
por Jean du Tillet (séc.XVI)

www.wikimedia.org - BNFr
 
Consta da historiografia sobre o mundo medieval, que em pouco mais de 50 (cinquenta) anos da existência da ordem templária, esta se converteu em uma espécie de importante instrumento cristão ao serviço das cruzadas, tornado-se, consequentemente, proprietária de significativas riquezas e possessões de terras, chamando por isso a atenção de um malogrado rei da França, Felipe IV, o Belo ou o Formoso, que ensejou se apropriar dos bens da ordem apresentando contra os seus cavaleiros, segundo alguns historiadores, uma falsa acusação de heresia.
Apoiando-se em 1307 na Inquisição francesa, o rei Filipe IV afirmava em documento oficial que os templários eram adeptos da prática, em segredo, de ritos pagãos e que por isso haviam abandonado a fé cristã, aspecto esse também sustentado pelo Papa Clemente V, figura essa que mantinha uma relação de forte dependência e subserviência a Filipe IV, por este ter interferido para sua escolha como Papa, "[...] sendo obrigado, Clemente V, a suprimir a ordem, por temer a ameaça e a chantagem do rei de comandar o início de um cisma em prejuízo da Igreja Católica." (GANDOLFO, 2008).
Nesse ínterim, o rei da França, tramando com o Papa Clemente V a usurpação das riquezas templárias, acusou os membros da ordem de cultuarem um ídolo, o "Diabo", dizem que pode ter sido "Baphomet", ou um "deus de chifres", com cabeça de bode, e mandou prender Jacques de Molay, então o seu último grão-mestre, incitando a perseguição de outros cavaleiros, levando-os aos suplícios da tortura e aos da fogueira da inquisição. Em 1314, Molay foi queimado em uma fogueira, preso a uma estaca, em ilha do rio Sena, em Paris.
Nesse mesmo ano, as vidas do Papa Clemente V e do Rei Filipe IV são ceifadas pela Morte, a fim de se fazer cumprir a profecia, a qual Jacques de Molay proferira pouco antes de morrer, afirmando que se encontraria com os dois, em menos de um ano, no banco dos réus, diante de Deus. O arcano maior "A Morte" simbolicamente provavelmente exalta essa profecia.
Fundamentados nessa possível versão histórica a respeito dos Templários, Christopher Knight e Robert Lomas (2001) afirmam no capítulo "O tarô e os templários", de sua obra  "O
 
Papa Clemente V
Papa Clemente V
www.templaricvalieri.it
Segundo Messias: os templários, o sudário de Turim e o grande segredo da Maçonaria", que os quatro cavaleiros do Tarô representavam os próprios cavaleiros templários, os quais foram por imposição e mando da Igreja Católica retirados do baralho moderno com a finalidade de não se perpetuar qualquer lembrança dessa ordem templária considerada herética.
Cavaleiros
À esquerda, os Cavaleiros de Paus, Copas, Espadas e Ouros no Tarô Visconti-Sforza (1435-1440)
À direita, Valete de Espadas, Dama de Ouros e Rei de Paus no baralho anglo-americano (Séc. XIX)
Diante a mais essa perspectiva sobre a origem do baralho de cartas, outra surge apontando a possibilidade de o baralho do Tarô ter originado o que possui 52 cartas (modelo francês, do século XVI e anglo-americano, nos século XIX), com as da corte constituídas de valete (J = Jack), dama (Q = Queen) e rei (K = King), sem os quatro cavaleiros e sem a presença dos vinte e dois arcanos maiores, os quais segundo a Igreja traziam um herege arcabouço simbólico, trazendo determinados conteúdos religiosos os quais entravam totalmente em confronto e divergência com os dogmas do catolicismo romano e que por isso deveriam não fazer mais parte do baralho.
A Papisa
A Sacerdotisa
Classic Tarot - www.albideuter.de
 
Nesse contexto, como justificativa da Igreja à remoção dos arcanos maiores do conjunto de cartas do baralho, iconograficamente a carta "A Sacerdotisa" ou "A Papisa" ou o "papa mulher" fora considerada pelos clérigos católicos a mais ofensiva. Devido a especulação na Idade Média de que o verdadeiro Graal se constituía em uma espécie de livro, inferiu-se que supostamente o livro simbólico localizado nas mãos da imagem feminina do arcano maior “A Sacerdotisa” fosse a representação do próprio ou dos sagrados e poderosos ensinamentos repassados por Jesus à Maria Madalena.
A imagem feminina contida nessa carta reforçava, ainda, a crença que nos primórdios da Igreja Cristã, uma mulher, Maria Madalena (acredita-se que tenha sido noiva, companheira de Jesus e "nomeada" o primeiro Papa ou Papisa, e não Pedro) recebera dEle ensinamentos, os quais apóstolo algum obtera, passando a ser detentora da autoridade espiritual de se conduzir e aos seus seguidores pelo "Caminho" por Ele ensinado, fato esse que em inúmeros escritos sobre o Santo Graal (vaso, cálice, taça que serviu a Cristo, durante a eucaristia, quando ele celebrou a última Ceia) e os Templários foi denominado de a "heresia da noiva perdida".
Observem o que Brown (2004) diz a respeito:
 
[...]O Graal simboliza a Deusa perdida. Quando apareceu o cristianismo, as antigas religiões pagãs não desapareceram da manhã para o dia. As lendas da busca dos Cavaleiros do Graal perdido eram histórias que explicavam as andanças para recuperar a divindade feminina. Os cavaleiros que diziam partir em busca do ‘Cálice’, falavam em código para proteger-se de uma Igreja que tinha subjugado as mulheres, proibido a Deusa, queimando os crentes nas fogueiras e censurado o culto pagão da divindade feminina.
Mais perturbadora ainda à Igreja é a possibilidade de Jesus ter nomeado José de Arimatéia, e não Pedro, guardião do Graal.
Uma ligação estreita entre José de Arimatéia e Jesus está relatada no livro “A Linhagem do Santo Graal”, de Laurence Gardner. Nele esse pesquisador afirmou::
 
[...] Enquanto isso, sabe-se que Jesus era o herdeiro do trono de Davi. O título patriarcal de José se aplicava ao sucessor imediato e, nesse sentido, com Jesus considerado o herdeiro, então seu irmão mais velho, Tiago, era o José designado. Assim, José de Arimatéia emerge como o próprio Tiago, irmão de Jesus. Não é nenhuma surpresa, portanto, que Jesus tenha sido sepultado num sepulcro que pertencia à sua família real. Tampouco é surpresa que Pilatos deixasse o irmão de Jesus cuidar de tudo ou que as mulheres da família de Jesus aceitassem os planos feitos por José (Tiago), sem questioná-los. [...] (GARDNER, 2004).
Vê-se, portanto, sendo essas versões verdadeiras ou lendárias, que duas vezes é negada a primazia da figura de Pedro, a quem Cristo, segundo consciência da Igreja Católica, confiou o pastoreio de seus cordeiros e ovelhas e aos Pontífices a sua sucessão.
Tim Wallace-Murphy (2007) em "O Código Secreto das Catedrais" apresenta uma interessante abordagem sobre a origem do Tarô na qual enfatiza que as cartas à época dos templários foram inicialmente utilizadas como cartões de ensino portáteis ou "flash cards" com fins de comunicar preceitos espirituais um tanto subversivos, sem causar suspeitas e de maneira considerada segura pela Ordem Cavalheiresca.
Nesse contexto, o que chama a atenção em sua abordagem é que esse autor citando Malcolm Godwin e sua obra denominada de "The Holy Grail: Its origins, secrets & meaning revealed", publicada em 1998, destaca que esse outro pesquisador coloca os templários apenas como usuários do Tarô. Ele afirma que Godwin (1998) enfatiza que os sarracenos, povo nômade pré-islâmico, formado por muçulmanos árabes e sírios que ocuparam Jerusalém na época das cruzadas, podem tê-los ensinado a utilizar as cartas, dando a entender, diferentemente de Knight e Lomas (2001), uma suposta origem sarracena e não templária para o Tarô, ou seja, reconfirmando o que muitos estudiosos do Tarô vêm inferindo ao longo dos anos a esse respeito, somando-se, claro, a tantas outras versões existentes sobre esse assunto.
Entretanto, sarracenos (invasores da Terra Santa) e templários obviamente seriam inimigos históricos, o que faz desse fato algo curioso, controverso e impraticável, embora Godwin, segundo Wallace-Murphy (2007), afirme em seu livro, e com retitude, que sarracenos e
 
O Sete de Ouros no baralho Mamluk
Sete de Ouros
Cartas sarracenas
ou Mamluk Tarot
Cristo aparece a Maria Madalena
Aparecimento de Cristro à Madalena
Pintura de Franscico Henriques (1508-13)
 
templários eram realmente rivais, sem tirar dos templários um possível acesso ao Tarô não como seus elaboradores, mas, como seus usuários e conhecedores de suas linguagem e mensagem ocultas.
O herético, conforme Wallace-Murphy (2007), é um elemento evidentemente característico do Tarô. O seu conjunto simbólico e iconografia andam evidentemente na contramão dos dogmas católicos, retratando temas como a reencarnação, renovação ou renascimento e a transformação espirituais, temas esses que fundamentavam a estória da igreja do Graal e os princípios renegados da sua fé pelos católicos romanos.
Esse autor corroborando com a hipótese de origem templária do Tarô faz uma associação simbólica dos arcanos de números 16 - "A Torre", 5 - "O Papa" e 4 - "O Imperador" às figuras de Madalena, pois o termo hebraíco "Magdala" significa "torre" (para o arcano maior 16), do Papa Clemente V (para o arcano maior 5) e do Rei Filipe IV (para o arcano maior 4). A esse respeito vejam o que ele afirma:
 
A carta conhecida como 'a Torre’ é uma representação simbólica de Madalena, por referência à palavra Magdala, que se traduz por "Torre". A carta de trunfo que representa 'o Papa' é normalmente numerada como V, uma astuta referência ao Papa Clemente V, que foi o responsável pela ordem de suprimir os cavaleiros templários. Por sua vez, 'o Imperador', ou Rei, é numerado como a carta IV, novamente uma referência característica ao rei Felipe IV da França, cuja ganância e ambição o levaram a destruir a Ordem Templária, os Cavaleiros do Santo Graal. (WALLACE-MURPHY, 2007).
A compreensão da evidência de conteúdo herético no Tarô emerge de seu próprio simbolismo, trazendo as suas imagens prováveis vínculos com as muitas narrativas sobre o Graal do Rei Arthur e ligações com a Rex Deus ou Reis de Deus, grupo de famílias de raízes judaicas, que lutavam para legitimarem-se enquanto verdadeiros herdeiros da Terra Santa de Jerusalém, descendentes do Sumo Sacerdócio de Yahweh, formado pelo Rei Salomão e que, segundo algumas versões sobre o tema, deu origem a Ordem dos Cavaleiros Templários.
Nesse âmbito, Knight e Lomas (2001) destacam que os naipes originais, no Tarô - Espadas, Trevos, Taças e Travessas, no carteado moderno - Espadas, Paus, Copas e Ouros possuíam associações às lendas do Graal, representando respectivamente Espadas, Lanças, Graal ou Taças e Travessas, permitindo, como preconizam esses pesquisadores, ratificar que aos templários se deve a sua origem ou criação já que se tem notícia que os sarracenos desde o século VIII faziam uso de um baralho que não era o Tarô. Sobre esse fato esses autores enfatizam:
 
Os quatro naipes
Naipes do baralho moderno,
modelo anglo-americano.
Origem na França ( séc. XVI),
sendo exportado para Inglaterra
e EUA no séc. XIX.
 
Os Templários indiscutivelmente sabiam que os sarracenos utilizavam-se de cartas desenhadas desde o século VIII, mas as cartas dos Templários foram desenhadas para possuírem dois níveis de significados, fazendo-as um método seguro para transmitir material de treinamento sem o perigo de serem descobertos por espectadores mal-intencionados. Os desenhos das cartas cuidadosamente pintados originalmente expunham a história dos Templários pronta para serem recontadas, mas eles estavam destinados a tornarem-se o meio de comércio dos adivinhos por todo o mundo. (KNIGHT e LOMAS, 2001).
Outro detalhe que levou Knight e Lomas (2001) a inferirem que o Tarô é uma produção templária foi a observação de particularidades evidentes nas iconografias apresentadas, dentre outros, nos arcanos maiores "O Imperador" e "O Pendurado" ou o fato das imagens masculinas representadas nessas cartas estarem de pernas cruzadas. Sobre esse aspecto simbólico esses autores destacam:
 
[...] a quarta e a décima segunda cartas do baralho do Tarô são particularmente dignas de nota, onde ambas mostram homens com uma perna cruzada sobre a outra. Embora isto possa não parecer reconhecível à primeira vista, nós estávamos muito curiosos ao descobrir que a postura de uma perna cruzada sobre uma perna esticada é descrita pelos estudiosos como 'crucial' no simbolismo do Tarô. Esta forma da postura das pernas aparece na carta do Imperador e do Enforcado – uma figura suspensa pelo
 
O Imperador e o Pendurado
O Imperador (Tarô de
Marselha) e O Pendurado
(Tarô Visconti-Sforza)
 
pé direito em uma cruz, com sua perna esquerda presa por detrás da perna direita. Esta pose era tão crucial para os Templários que todo cavaleiro era sepultado em sua tumba com suas pernas cruzadas exatamente da mesma maneira. As pernas cruzadas formam um 'x', que é a das representações do Tau, a última letra do alfabeto hebraico, que significa a morte. As lápides mais
 
elaboradas dos principais Cavaleiros Templários eram gravadas com uma imagem mostrando essa pose, ou com uma efígie esculpida mostrando o falecido nesta posição incomum. (KNIGHT e LOMAS, 2001).
Existem outras versões sobre a simbólica das "pernas cruzadas" do quarto arcano maior "O Imperador". Algumas afirmam que essa era a posição em que os antigos magistrados ficavam quando se faziam presentes nos tribunais. Outros a associam a posição que os antigos iogues adotavam em processos de pura concentração.
Starbird (2004), a fim de ratificar os Templários como criadores do Tarô apresenta a seguinte versão dos naipes por meio de sua tese de associação ou relação de suas cartas à heresia do Santo Graal e da Linhagem Real dos descendentes de Jesus:
 
Templário
Cavaleiro Templário
Roberto de Normandia
Catedral de Gloucester - Inglaterra
www.ascruzadas.blogspot.com
 
Os naipes do tarô contêm um simbolismo do Graal que confirma a interpretação dos 22 trunfos. O naipe de espadas era, originalmente, representado por uma pequena espada, a 'lâmina' masculina. Praticamente todos os túmulos dos templários eram marcados com espadas. No simbolismo original das cartas, o naipe de copas era um cálice. Ele também simbolizava o Graal e a Igreja alternativa, que tinha, entre outros, o epíteto de Igreja do Amor. Posteriormente, muitos corações apareceram nas marcas-d'água albigenses, e esses dois temas – cálice e coração – ficaram associados. O naipe
 
de ouros era originalmente chamado de 'pentáculo', o nome de uma estrela de cinco pontas que é o símbolo do homem nas ciências ocultas, possuindo um significado especial para os cavaleiros templários e para a Igreja alternativa. Era um símbolo dedicado a Vênus, pois a órbita do planeta que recebeu o nome da Deusa do Amor formava, a cada oito dias, um perfeito pentáculo em relação ao Sol. Esse desenho está refletido no chão por meio dos cinco picos das montanhas que traçam um pentagrama no coração da heresia albigense, sugerindo que eles foram incorporados pelos cavaleiros como um templo natural dedicado a Maria, a Madalena. Nas versões mais primitivas do tarô, o naipe de paus, talvez o mais significativo de todos, aparecia como um cajado, ou uma vara, em flor – um cetro. Esse símbolo é a imagem visual do 'cajado florido da raiz de Jessé' a promessa messiânica descrita em Isaías 11:1, e é repetido no uso do 'Cetro' que se refere ao Messias davídico no Pergaminho da Guerra, encontrado entre os Pergaminhos do Mar Morto, nas cavernas de Qumran. O trevo de três folhas dos baralhos modernos é uma clara menção à linhagem real dos reis de Israel e ao seu mandato divino. Estilizados em nossos baralhos modernos, os emblemas originais dos quatro naipes eram símbolos bem definidos e propositais da heresia do Graal. (STARBIRD, 2004).
Não seria por menos, levando-se em consideração essas idéias desses autores já citados, que a hipótese de o Tarô poder ter sido banido pela Igreja romana se tornasse um ponto de reflexão entre tarólogos e até de historiadores do Tarô, principalmente porque é possível que a Igreja conjecturasse que as imagens simbólicas contidas nas cartas evidenciassem certas
 
O Santo Graal
O Santo Graal
Ás de Copas no Arthurian Tarot
www.taroteca.multiply. com
ideologias consideradas pagãs, aquelas, sobretudo, que buscavam sustentar e legitimar uma suposta "Igreja Cristã" alternativa ou a "Igreja do Santo Graal", inimiga, que além de enaltecer a figura do feminino, caracterizava-se por não afirmar e nem reconhecer a autoridade do Papa católico, constituindo-se assim em uma ameaça a emergente fé cristã apostólica romana que urgia, na visão de sua poderosa hierarquia, fortalecer-se e estabelecer-se em solo romano por meio da cristianização católica de toda a Europa medieval.
Desse modo, as imagens heréticas encontradas nas cartas do baralho deveriam ser censuradas, pois traziam as crenças dos adeptos de uma suposta "igreja" subversiva, liderada por pagãos e infiéis, devendo, também, ser banidas de vez dos quatro cantos cristãos para que não se disseminassem e se introduzissem na vida privada dos medievos, principalmente daqueles que não tinham aderido e absorvido, ainda, à fé católica.
Nesse contexto, como sinaliza Starbird (2004):
 
Em 1450, pregando contra as cartas por considerá-las uma invenção do diabo, um frade franciscano foi particularmente rigoroso ao condená-las, chamando-as de 'degraus em uma escada que conduz ao inferno'. Quando as autoridades da Igreja Católica condenaram as cartas do tarô, classificando-as de heréticas, e não de imorais ou decadentes, devem ter tido total consciência de seu conteúdo. Acredito que os trompes ('trunfos' ou 'trombetas') do tarô de Carlos VI formam um catecismo ilustrado da heresia medieval do Graal.
A esse respeito afirma Wallace-Murphy (2007), citando os pensamentos de Malcolm Godwin (1998) e de Margeret Starbird (2000), que a hostilidade tradicional da Igreja para com todas as formas de jogos de cartas surgiu das tendências gnósticas e da Rex Deus presentes no Tarô, estando as cartas direta e irrefutavelmente relacionadas com a heresia medieval do Santo Graal, em especial os baralhos de Gringonneur (França, 1392) e de Visconti-Sforza (Milão, Itália - 1435/1440?).
 
O Imperador
O Imperador
Tarô Gringonneur
ou Carlos VI (1392)
Em dezembro de 1909, época em que foi publicado o Tarô Waite-Smith, Arthur Edward Waite (1857-1942), lançou também um importante livro, cuja abordagem se refere às teorias sobre o Santo Graal. Nesse livro, intitulado de “The Hidden Church of the Holy Graal”, publicado pela editora norte-americana Fredonia Books em 2002, Waite destaca que existem
Arthur Waite
Arthur E. Waite (1857-1942)
www.adepti.com/adepti.orig
 
correspondências entre alguns símbolos contidos nas cartas do Tarô com os pertencentes à Igreja Oculta do Santo Graal. Ele faz as suas afirmações sempre com o cuidado de identificar e efetivar associações simbólicas apenas aos arcanos menores, observando as relações de cada naipe e arcano com os símbolos do Graal, sem fazer referência, nesse âmbito, aos arcanos maiores.
Embora todas essas especulações sobre a origem do Tarô, observadas por meio das leituras das fontes aqui citadas possam levar a diversos questionamentos e, também, a outras tantas reflexões, demonstra, tal aspecto, a aflitiva constatação da real inexistência de base ou fonte histórica que dê sustentação palpável a todas essas afirmações ou teses aqui apresentadas.
Nesse sentido, não só a origem, mas também as mensagens emitidas pelas cartas do Tarô continuam se constituindo até os dias de hoje em objeto de efervescentes e frutíferos debates, assim como a própria existência do Santo Graal, cuja busca simbolicamente representa toda a epopéia humana na sua escala evolutiva.
Inúmeras revisões e interpretações associam o Tarô enfaticamente à alquimia, às antigas sociedades secretas, tais como a Maçonaria, à Rosa-Cruz e às ciências ocultas de um modo geral, mas, nada de concreto do ponto de vista histórico assegura a veracidade dessas hipóteses.
A obscuridade característica de boa parte dos arcanos ainda hoje sugere perigo e ameaça aos mais diversos tipos de crentes e adeptos das mais variadas fés.
Na Idade Média a Igreja Católica Apostólica Romana classificou, na Europa, o Tarô como herético, não obstante nenhuma pesquisa ou pesquisador conseguiu determinar, até hoje, categoricamente através de provas concretas quais heresias estavam ou estão contidas em seus símbolos.
Se ainda hoje há quem acredite e defenda que o Tarô é uma invenção do diabo ou a representação fidedigna dos "degraus em uma escada que conduz ao inferno", há também quem constate que ele pode ser uma opção ou ferramenta que possibilita, quando efetivamente decodificado e compreendido, o acesso ao primeiro degrau da escada que conduz, conforme a percepção e julgamento de cada um, ao alcance de objetivos, muitos deles significando para alguns o encontro com a verdadeira felicidade.
 
Referências Bibliográficas
BROWN, Dan. O Código da Vinci. São Paulo: Sextante, 2004.
GANDOLFO, Castel. Revelações do arquivo secreto do Vaticano: templários não foram hereges. Disponível em: <http://www.zenit.org/article-19267?l=portuguese>. Ago. 2008. Acesso em: 28 mar. 2010.
GARDNER, Laurence. A Linhagem do Santo Graal. São Paulo: Madras, 2004.
GOLDWIN, Malcolm. The Holy Grail: Its origins, secrets & meaning revealed. New York: Viking Studio Book, 1998.
KNIGTH, Christopher; LOMAS, Robert. O segundo Messias: os templários, o sudário de Turim e o grande segredo da Maçonaria. Rio de Janeiro: Nacional, 2001.
STARBIRD, Margaret. The Tarot trumps and the Holy Grall 2000. USA, CO: Woven Word Press, 2000.
STARBIRD, Margaret. Maria Madalena e o Santo Graal: a mulher do vaso de alabastro. São Paulo: Sextante, 2004.
WAITE, Arthur Edward. The Hidden Church of the Holy Graal: its legends and symbolism. USA. Tennessee: Fredonia Books, 2002.
WALLACE-MURPHY, Tim. O código secreto das catedrais: decodificando os símbolos ocultos da Igreja e da arte renascentista. São Paulo: Pensamento, 2007.
 
junho.10
Contato com o autor:
Ricardo Pereira: http://substractumtarot.blogspot.com
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