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O Livro e a Papisa |
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Denise Fernandes Marsiglia |
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Um dia acordei chorando e soluçando. Como se na terra dos sonhos eu já estivesse chorando; foi muito estranho. E o choro dizia que eu precisava publicar um livro, foi o que balbuciei chorando. Até hoje não sei por que tive que acordar chorando tanto. Pensei no Louco do tarô, eu mesma um pouco louca e desesperada. |
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Estava dormindo com meu namorado na época e ele achou muito estranho. Eu também. Mas durante o dia, a lembrança do choro e a emoção que eu senti foram se concretizando na ideia de que realmente eu precisava fazer um livro. Do sonho dormindo ao sonho acordada, regido pela Papisa, mãe das nossas melhores ideias. Contei para o meu namorado meu novo projeto. Jura? Você tem certeza? É naquela linha, tenho que plantar uma árvore, ter um filho, e escrever um livro para se sentir realizado? Sim, é nessa linha mesmo, respondi com um pouco de raiva, já consciente de que ele preferia que eu tivesse a vontade e o projeto de uns peitos de silicone para mim, do que o desejo enorme de escrever um livro. |
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A Papisa |
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Carta do Nigel Jackson Tarot |
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Depois de duas semanas ele foi viajar a trabalho e quando voltou disse que tinha pensado muito em mim na viagem porque tinha conhecido um cara que escreveu um livro, e eles ficaram conversando sobre o assunto. Ele disse que tinha contado ao novo conhecido do meu projeto de livro; e que eles tinham tido uma conversa ótima, que ele iria me contar os detalhes pessoalmente. Fiquei super feliz com a notícia, meu namorado apoiando me parecia tudo de bom. Sim, cheguei a pensar nesse momento que ele devia ser sim o homem da minha vida, mesmo ele curtindo peitos de silicone e eu não. No meu jogo de tarô, a Papisa me nutria com um rio de emoções e sonhos do qual esse namorado não fazia parte, mas eu não podia admitir esse desencontro naquele momento. |
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Quando nos encontramos e chegamos aos detalhes. O tal escritor editou um livro com três mil exemplares. Vendeu meia dúzia de livros para a família e está lá com dois mil, novecentos e noventa e quatro livros em sua casa, tomando poeira e lugar. Ele fala o tempo todo do livro e parece um maluco, escritor amargurado, porém simpático, querendo ser lido. E ele me perguntou com a maior cara de pau: é isso que você quer para você? Ele me disse que enquanto conversava com o tal homem, pensava em mim, no futuro, eu andando pelos bares e cheia de livros em casa tomando poeira e espaço. E ele me perguntou e eu não acreditava que ele me perguntava: é isso que você quer para você? |
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Quero meu livro. A Papisa cuida e alimenta meu livro, acreditem os outros ou não. Se eu não quisesse meu livro, seria como se eu não quisesse a mim mesma. Mas naquele momento, só falei a ele. Você não precisa me ajudar no livro. Ele dizia: que livro? Por acaso você escreveu algum livro? Alguém disse que é bom seu livro? |
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O livro não escrito brotando como alimento. |
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Outro dia sonhei que era o dia do lançamento do livro e eu não conseguia chegar, perdia o lançamento do meu próprio livro. Num relógio antigo batia sete horas da noite e eu sabia que já tinha acabado o lançamento do meu livro. Que aflição senti no sonho. Lembrei da carta da Torre no tarô e aquela forte sensação de fragilidade que sentimos quando dá tudo errado. E acordei com medo de realmente perder o lançamento do meu livro que nem está pronto. |
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Livros para mim são de extrema importância. O mundo não seria tão misterioso se não houvessem os livros. Não consigo imaginar uma sociedade de paz sem amor aos livros, sem amor ao amor. No colo da Papisa, guardado o livro está. Sei que sou bobinha. E ser tão bobinha exige de mim muita coragem. Tomara que seja coragem suficiente para escrever o livro que está brotando em mim. |
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Edição: CKR – 25/08/2014
Revisão: Ivana Mihanovich |
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