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17 de novembro de 2024

Responsável: Constantino K. Riemma


A Roda da Fortuna no Reino dos Arcanos
Cristina Guedes
 
A mais alta faculdade do Homem é o Desejo e, quando essa faculdade não é atendida, eclodem sofrimento e incompreensão. Dizemos que nos interessamos pelas coisas do mundo em detrimento de nossas mais prementes verdades ou necessidades. E como lidar com esses desejos não compreendidos e até aqueles mais satisfeitos?
Sabemos que Deus é puro desejo, puro amor, puro conhecimento. Na verdade essas qualidades são representadas no assoalho da alma. Na sua essência e na sua criação, Deus coloca-se acima de qualquer Desejo, que não é do mundo ou mundano, pois Deus só representa Deus e também não é só Desejo do Homem, pois Ele inclui muito mais. Portanto, nós humanos, não temos muitas condições de descrever Deus para a superação dos nossos desejos.
Assim, assegurar, aquecer, recriar e motivar esses desejos é viver essa relação com Deus: Terra, Fogo, Água e Ar. Então, meditemos agora sobre  a carta A Roda da Fortuna, o Arcano X do Tarô.  Essa carta reflete um destino sobre como levar mais Saber, Ousadia, Vontade e Desejo realizado para nossa vida. A Esfinge está muito bem posicionada aí em cima da Roda com sua flamejante espada que poderá ser colocada à beira de nosso destino, para representar o eterno movimento da vida do homem, seu mundo da ilusão e da mudança, seu mundo da ascensão e da queda, do bem e do mal. A roda gira como uma dispensadora de alegrias e tristezas, de vida e de morte, significando que nos elementos da vida existem o negativo e o positivo.
A Roda da Fortuna
Roda da Fortuna
Jogo publicado pela USGames
 
A Roda está girando porque ela traz os contextos da nossa Esfinge interior, que é a grande especialista das charadas, onde tudo se prolonga ou se decifra; onde tudo é transmutação e apogeu. Uma Esfinge representa o resultado da lei de mudanças rápidas e inevitáveis.
As três figuras animalescas representam: o da direita, a infância, o passado, o Hermanubis (espírito de Deus), o bem, as forças construtivas, tentando atingir o ponto mais elevado da roda; o da esquerda, a velhice, o futuro, o Tifão (espírito do mal) parece estar caindo nas profundezas; e em cima a figura coroada e alada, representando o homem que conseguiu sucesso, a maturidade, o presente, aquele que controla o equilíbrio da roda e que está pronto para usar a espada.
Numa consulta, a carta indica uma influência irreversível, a inevitabilidade, o término de um problema, um enigma a ser decifrado por nós. Mas o curso dessa carta vem nos dizer que o mundo gira e que as coisas mudam; o que hoje parece ser uma coisa, amanhã será bem outra. Sim, ela representa muitas mudanças, mas ela aponta principalmente para um sucesso inesperado.
Muita gente vive passando por períodos de altos e baixos, mas quando essa carta aparece ela poderá ser reconhecida como a antecedência dessas ocorrências.
Como o carro, este arcano é uma força superior que desencadeará acontecimentos inevitáveis na vida do consulente, embora seus efeitos não se façam sentir de imediato.
Como ela é uma carta neutra à primeira vista, pode ser recebida com muito otimismo, pois, num sentido mais amplo, ela significa que a alternância da sorte será positiva para todos os planos e aspirações do consulente.
O círculo representa a necessidade das forças malignas se apossarem do ser humano a fim de, neste, se auto purificarem. Rege o sentido da procriação, um forte reajuste para a elevação dos humildes e a queda dos arrogantes. A Esfinge irá te perguntar: qual o animal que de manhã tem quatro pés, ao meio dia tem dois, e três pés ao entardecer? As três patas são as donas do tempo, representa a dona da adivinhação, também a deusa da beleza e da imponência. 
Agora, chamamos a roda de "fortuna" por quê? Porque este Arcano maior traz sim o crescimento material e financeiro, traz oportunidades para subir na vida e não raro a prosperidade de um modo geral acontece para o consulente. A ser assim, este período regido pela roda da fortuna será cheio de potencialidades para múltiplas realizações. Estudando-a, temos seu símbolo da iniciação: “Decifra-me ou te devoro”. Suas garras de leão são a força, a nobreza.  Suas patas de boi traseiras são a tenacidade, a força e a vontade. Suas asas de águia não sucumbem ante os fracassos, supera-se tudo com atrevimento e ousadia. Sua face humana fala do poder e inteligência do homem. Seu bastão do éter é seu poder superante.
Essa Esfinge não se finge de morta, ela é puro magnetismo e energia. Seu poder é de alto alcance. Pois abaixo dela está a Roda com sua ciclicidade de vida, evolução ou involução da alma, movimento eterno das reencarnações e das gerações que se passam nos séculos. Não devemos nunca menosprezar o poder da Esfinge. A figura subindo é representado por Hermanúbis, que é a alma evoluindo. A Figura descendo é Tifon Baphomé, que é a alma involuindo. São meio humanos e meio animais porque neles há sabedoria (dois caminhos, dois objetivos, duas polaridades).
Novamente a Roda da Fortuna é um círculo sem começo e sem fim: gira os animais que a percorrem incessantemente e que retratam o movimento do universo que está em constante mutação, o fluxo e o refluxo. Mostra que o caminho não é reto e sim cíclico. Assim, a Roda tece, mede, corta e é assemelhada ao processo de geração do corpo que ocorre no útero, sugerindo que o destino está intimamente ligado à hereditariedade e ao próprio corpo.
Desde a antiguidade, a roda giratória entrou em diversas simbologias, desde o ciclo do sol até os ciclos de punições infernais da Idade Média. A ideia de roda e ciclos está intimamente ligada. Este Arcano mostra com muita clareza esta ligação de reinos ligados, trazendo uma roda girante na qual estão fixadas as duas figuras girantes. Estando com reino ou sem reino o consulente vai prosperar e deixar o destino fluir, não vai impedir nada, vai aceitar o resultado que vem do mundo da imutabilidade. 
Quanto mais próximos estivermos do centro desta roda da fortuna, menos individuais estaremos e menos sofreremos com a força gerada pelo seu movimento de desejo. Estar na ponta externa de seus raios é estar sempre sujeito às forças plenas da roda. Este raio pode ser tão grande que teremos uma ideia de linearidade e assim reagiremos, pois não conseguimos entender a totalidade do que está nos cercando, por termos visão obtusa. Podemos viver a vida "exterior", mas sempre lembrando que devemos fazer uma conexão desta com nossa vida interior, pois a exterior é apenas reflexo da interior.
Não podemos usar estas forças como medidas, como fazíamos no Arcano A Justiça, que media e avaliava tudo. Numa roda que se desloca como essa, não há posição melhor para se optar, pois passaremos por todos os pontos da vida. Além disso, todos eles equidistam de seu centro, dando igual condições a todos nós que estamos nela sem sermos tragados pela mesma. Sim, esta carta é muito construtiva, mas é processo de abertura. Golpe de um destino afortunado, evolução favorável ao consulente. Começa outra etapa na vida do consulente.
 
A Roda da Fortuna  por R. Darrow
A Roda da Fortuna
Montagem de R. Darrow
Qualquer que seja o panorama, nos fatos que ele convive, tudo muda, mas certamente esse "tudo" segue para uma evolução, uma mudança boa. Mudança com sorte, é claro.
A lei que rege a construção e destruição da vida é a mesma lei desconhecida e invisível que determina as súbitas mudanças e que, por sua vez, altera os padrões preestabelecidos. É o ciclo interminável de mudanças. Nada dura para sempre, o mundo é um constante movimento e nós, seres viventes, temos que nos adaptar a cada estágio que se apresenta, aprendendo e crescendo espiritualmente. A Roda da Fortuna, apesar do movimento, ancora-se num ponto de apoio para todos nós, que pode significar a família, os amigos, os valores, o próprio eu pessoal bem construído, que vai nos ajudar a nos adaptarmos às diversas fases pelas quais passaremos. A carta da Roda da Fortuna não representa simplesmente as mudanças bruscas, sejam elas por acaso, sorte ou acidente. Por trás dela sempre estão, ordenadamente, quaisquer mudanças da vida, ainda que atribuamos tudo ao acaso.
A virada da Roda sempre traz o crescimento e inaugura uma nova fase. Quando a carta da Roda da Fortuna surge numa rodada, é o momento de se deparar com o nosso próprio destino, aquilo que não depende de nós, mas do nosso desejo maior de estarmos em Deus. Esse arcano tem uma influência ultra-exterior e muito forte para mudanças.
Mas tudo tem que se renovar. A vida é feita de renovações. Você só vive bem se puder se renovar. A Roda da Fortuna gira tanto pra cima, como para baixo. Isso nos mostra que nenhuma situação permanece intacta. Em algum momento, a roda vai girar, desencadeando processos no universo e as coisas vão acontecer para você. Por vezes, eventos que consideramos negativos se revelam catalizadores de felicidade e sucesso em nossa vida. Pessoas que estavam em nossas vidas emocionalmente, bem como situações das quais nos libertamos, são planos bem maiores que essas perdas que muitos imaginam não saber interpretar no dado momento. Vamos perceber que quando algo parte de nossas vidas é porque merecemos evoluir mais.
Então sintam, percebam o destino, usem as chances ofertadas pela Esfinge, entendam a roda se entrelaçando de oportunidades, estejam abertos à sorte, sintam a mão do destino a testemunhar milagres! Estando em um momento decisivo reverta o quadro, movimente-se numa direção diferente, dê a reviravolta, impulsione a mudança de sorte do curso presente. Surpreenda-se com uma volta dos acontecimentos: é o movimento de experimentar mudanças, de aumentar a velocidade do passar do tempo para ser arrastado por novos desenrolares. Isso é restituir um mundo de atividades bem desenvolvidas para se ter uma visão pessoal e ver como tudo está conectado para você tornar-se mais sábio.
Descobrir os padrões e ciclos é expandir sua visão de mundo. É ganhar uma maior perspectiva. É descobrir sua função e propósito no mundo.
Então, desejo rodadas de Luz em suas vidas, giros fantásticos de prosperidades sempre divinas!
 
A Esfinge morta  
Uma esfinge finge que está morta
O céu lhe nega azas e perdão
Não encomenda pra guardiã sua porta
Arremessa-a no líquido da purgação
Interminável a princípio, ela olha...
Encalha num sonho de Prometeu
Demora no fato, sofre um tanto...
Reflete os paradoxos do seu deus
Uma esfinge finge que está morta
Coitadinha, descobre que sua coroa se perdeu...
Abandona o riso gelado em que foi posta
E de olhos límpidos, pálida, feneceu.
 
Poema de
Cristina Guedes para a Exposição
A Casa do Mundo no Reino dos Arcanos
Museu São Francisco - João Pessoa - PB
 
Contato com a autora:
Cristina Guedes é jornalista, poeta e consultora em Tarô
Atende pelo (41) 9930.0853 e (83) 8790.7777
www.facebook.com/cristinasguedes
Outros trabalhos seus no Clube do Tarô: Autores
Edição: ckr – agosto.13
Revisão: Ivana Mihanovic
  Baralho Cigano
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