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Nosso encontro com a morte... |
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Denise Fernandes Marsiglia |
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Uma das cartas do tarô mais fortes é a carta da Morte. Já ouvi de mais de uma pessoa que não gostaria de consultar o tarô como oráculo porque ele tem a carta da Morte. |
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Sempre explico que a carta da Morte, o arcano 13, não representa a morte física mesmo, não significa um falecimento, mas as outras mortes, a morte simbólica, "a morte necessária em pleno dia", como escreveu Clarice Lispector. Uma senhora me disse: essa outra morte eu também temo, e por isso não quero jogar. |
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De certa forma a carta da Morte representa a profundidade do tarô, a profunda reflexão que ele traz sobre a vida humana em suas cartas. A carta da Morte traz a Verdade, a verdade é a eterna transformação de todas as coisas que o arcano 13 representa. A carta da Morte mostra que a gente não tem controle da vida, as mudanças surgem de cima, muitas vezes quando a gente menos espera. A Torre (o arcano 16) e O Julgamento (arcano 20) também trazem essa mensagem para nós. A carta do Julgamento mostra uma situação de falecimento mesmo, traz a situação do luto concreto. A Morte, o arcano 13, é a consciência da Morte que nos traz a Morte simbólica, saber que vamos perder, que somos mortais, nos traz uma grande morte, uma profunda mudança. |
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Lembro bem do susto dos meus filhos diante da morte, das inúmeras perguntas difíceis que fizeram a mim sobre a morte. Meu filho Lucas tinha uns cinco anos quando assustou com a imagem do caixão de uma criança numa série da televisão: "Como mãe? Criança também morre? Como pode ser isso?" Na parte um, eu havia explicado que quando as pessoas ficavam bem velhinhas morriam. Na parte dois, expliquei que criança também morria. Ele ficou muito assustado. Várias noites acordando durante a noite. Talvez para ter certeza que estávamos vivos. |
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Foi a carta da Morte que conduziu Pedro Índio Negro para uma profunda reflexão sobre o tarô e cultura brasileira. Quando ele tinha dez anos, assistiu a minissérie da Rede Globo, "A Pedra do Reino", baseada na obra de Ariano Suassuna. Como era muito novo, não era permitido que assistisse, pois passava tarde na televisão. Pedro assistiu, escondido, e ficou impressionado com a figura da Morte interpretada pela paraibana Mayana Neiva. Teve então a ideia de redesenhá-la numa estética de xilogravura de cordel. |
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Diz Pedro: "Eu sempre gostei de coisas esotéricas, e lembrei de um videogame que eu jogava que tinha umas cartas de tarô na temática, aí resolvi misturar as duas linguagens. Mas foi uma ideia que se perdeu com o tempo, e eu retomei graças à faculdade, numa cadeira ministrada pelo professor Alberto Pessoa que era basicamente 'pense num produto e faça'." Pedro faz o curso de Comunicação em Mídias Digitais, na UFPB, em João Pessoa. |
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Pedro Índio Negro tem 21 anos. Seu baralho me impressionou muito. Ele traz além do tarô uma reflexão sobre nossa cultura, nossa realidade. Na entrevista que realizei com ele neste setembro de 2016, perguntei a ele sobre essa reflexão que vi com clareza no baralho que ele desenhou. |
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Segundo suas próprias palavras: "Eu acho preocupante o imperialismo cultural que nós sofremos e que entrou até dentro da minha família, e se não fossem meus pais eu provavelmente seria mais uma vitima da síndrome que nós temos, essa síndrome de vira-lata. Aí quis meio que tentar unir o interesse das pessoas, principalmente as mais jovens, por esoterismo, com a nossa cultura, unir o útil ao agradável. Eu não jogo tarô...inclusive só fui encostar num baralho de tarô depois que já tinha terminado todas as cartas." |
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O contato de Pedro Índio Negro com o tarô continua, agora ele está trabalhando no desenho dos arcanos menores e pudemos conversar sobre eles. Para a gente que gosta do tema, é uma delícia conversar sobre tarô. Ele ainda não fez nenhuma consulta de tarô na vida. Em nosso diálogo, contei a ele que já atendi crianças para jogar tarô. |
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Em muitas pessoas, o interesse por assuntos esotéricos já surge na infância, sem explicação. Em minha vida, sempre me disseram que isso era devido a vidas passadas. Cheguei a fazer terapia de vidas passadas para investigar o assunto. Mas na vida presente, é a beleza e riqueza de contatos que o tarô propicia o que tem me fascinado, sua sabedoria, sua benção de criatividade. |
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Cada artista que presenteia a cultura com sua abordagem do tarô retira um véu do imenso conhecimento que a cultura simbólica traz. Pedro Índio Negro traz uma representação arquetípica da nossa realidade brasileira num baralho de tarô lindo, na minha opinião. Que a Morte, trazendo em si o renascimento, que é chuva e fertilidade, possa continuar fecundando as mentes jovens do nosso país, nosso diálogo cultural. |
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Um amigo me disse que sou das poucas pessoas que acredita na era de Aquário e em tudo que ela representa, mas mesmo assim continuo acreditando. Que possamos ser mais fraternos, mais livres de barreiras, mais abertos, mais atentos a nossa cultura que traz em sua mistura um enredo que não pode ser ignorado sem um grande prejuízo a todos. |
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