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21 de dezembro de 2024

Responsável: Constantino K. Riemma


Época de libertação: a queda da Torre
e o encontro com o Tarô
Simone Gomes Omega
 
“For too long now, there were secrets in my mind
For too long now, there were things I should've said
In the darkness, I was stumbling for the door
To find a reason, to find the time, the place, the hour”
(Tears of the dragon, Bruce Dickinson)
“Derruba a fortaleza de teu Eu Individual de modo que
tua Verdade possa brotar livre das ruínas”.
(The Book of Thoth, p. 266, Aleister Crowley).
 
Minha relação com o Tarô e tudo o que envolve o estudo das cartas é muito recente. A forma como essas coisas chegaram até mim foi de uma forma um tanto inusitada, pouco conhecida pela maioria das pessoas, mas que me fez vencer alguns medos e obstáculos: o Heavy Metal colocou o Tarô em minha vida.
Minha infância e adolescência sempre foram marcadas pelo Catolicismo e por crenças e medos muitas vezes infundados de coisas que eu não conhecia ou não me deixavam conhecer.
Algumas dessas coisas eram os símbolos e assuntos relacionados ao Esoterismo. O medo de sermos “atingidos” por eles eram tão grandes, que não podíamos olhar para eles, falar com quem os praticasse ou simplesmente fosse simpatizante como hoje me coloco.
Medos e preconceitos cercam a tiragem das cartas
Temores e preconceitos continuam às voltas com as tiragens das cartas
In www.tarot.metroblog.com
Hoje em dia, por mais que digam o contrário, o preconceito e a segregação em relação a esses assuntos infelizmente operam cada vez mais fortes. Não é ser pessimista, mas mesmo que de uma forma velada, algumas pessoas passarão a nos tratar de forma “diferente” se tornar-se público o fato estudarmos e falarmos sobre tais assuntos.
Lembro-me claramente de que na antiga TV Bandeirantes sempre passava nos comerciais propagandas de tarô, runas, búzios, astrologia, quiromancia, e toda vez que apareciam esses tipos de comerciais, eu rapidamente mudava de canal, como se o simples fato de não ver as imagens, elas deixassem de existir e não me “atingissem”. Os anos passaram. Não pensei mais nisso.
Mas qual a relação do Heavy Metal com o Tarô? Como o segundo chegou até mim? Quais as principais características daquele gênero musical?
De forma resumida, o Heavy Metal é caracterizado por um som mais “pesado” e os letristas desse gênero exploram temas como guerras mundiais, religião, morte, sexo, mitologia, história antiga, fantasia, melancolia e sombras, misticismo, poesia, obras de ficção, crítica sociopolítica. Além desses, outros temas também são muito explorados como Alquimia, Esoterismo, Magia, Ocultismo, Sociedades Secretas e… Tarô!!
Por causa dessa temática, meu “encontro” inusitado com as cartas foi por meio do arcano A Torre! The Tower é o título homônimo da música de Bruce Dickinson, que trata de um casal que se consulta com uma cartomante para saber se ficarão juntos ou não (casamento alquímico).  Querer entender a narrativa da letra me fez procurar mais sobre os demais temas abordados nessa interessante narrativa: Alquimia e Astrologia.
Crowley e com
A Torre do Thoth Tarot, Bruce Dickinson e a capa do livro de Aleister Crowley
Bruce Dickinson em visita ao Museu da TAM, São Carlos – SP (28/03/2011)
in http://www.ironmaiden666.com.br/2011/03/bruce-dickinson-visita-o-museu-tam.html
Além dessa, existem outras letras de temática similar: The Magician (título homônimo do arcano maior O Mago: oposição da Nova Era com a “Velha Era”), Darkside of Aquarius (a ideia de igualdade e prenunciadas pela Nova Era – a Era de Aquarius –, daria lugar à guerra, à destruição, à intolerância religiosa, entre outras), Man of Sorrows (trata da infância de Crolwey e suas profecias), Navigate The Seas of The Sun (título homônimo do arcano maior O Sol: libertação por meio da consciência e da inteligência daquilo que nos aprisiona e restringe), A Tyranny of Souls (uma descrição do Novo Æon, como observado na carta do Tarô O Aeon, que nos tarôs tradicionais recebe o título O Julgamento; a tirania humana apesar da vinda do Pentecostes).
Detalhes a esse respeito podem ser lidos no meu artigo Heavy Metal: A Ponte entre Crowley e o mundo da Música, também publicado aqui no Clube do Tarô.
Então, para que eu pudesse entender melhor os temas abordados nas letras de Dickinson e de outras bandas do gênero, o primeiro livro que li foi O livro de Thoth: um curto ensaio sobre o tarô dos egípcios, de Aleister Crowley (uma tradução que encontrei em PDF). No começo foi não foi fácil, mas eu fui em frente, seguindo minha intuição ao escolher sites e textos relacionados ao estudo do Tarô.
Então, baixei vários livros sobre esses assuntos em PDF, consultei sites e tirei dúvidas com quem entende. Inclusive Constantino K. Riemma aqui do Clube do Tarô me explicou muitas coisas sobre O Mago, o tarô com um todo e uma infinidade de assuntos para eu pudesse entender melhor as letras escritas por Dickinson. Mandei e-mail para várias pessoas e felizmente todas elas prontamente me responderam.
Finalmente, organizei meus estudos em um caderno: Tarô, Alquimia, Ocultismo, Thelema, Nova Era/Era de Aquarius, Numerologia. Ufa, quanta coisa! Mesmo não me tornando especialista em nada e apenas estudando um pouco de cada coisa, fiquei satisfeita com minhas descobertas, e posso dizer seguramente que o Tarô abriu meu campo de visão, minha sensibilidade e reforçou meu apreço por Artes Plásticas e Simbologia.
Lembro-me de que quando terminei a leitura do Thoth, quando “descobri” o que de fato é o Tarô, disse em voz alta: “Mas é ‘só isso’? Onde está o mal de que todos falam?” Isso tudo me deixou muito contente, aliviada e aos poucos fui percebendo que as coisas do passado haviam ficado lá mesmo: no passado.
Versões de imagens de A Torre
Diferentes versões da carta A Torre.
Ilustração do acervo da Autora.
Também guardei com cuidado um texto de Ana Marques, Torre - Rupturas e LibertaçõesAs várias torres em que podemos viver, que li aqui no Clube. Li e reli seu texto porque, de uma forma ou de outra, me vi naquelas linhas.
Depois me disseram que comecei pela parte mais “difícil”, isto é, pelo tarô de Aleister Crowley, amado por uns e odiado por outros, já que seus arcanos diferem muito dos tarôs clássicos, como por exemplo, do de Marselha. Também disseram que a partir daí, ficaria mais fácil estudar os demais, exatamente por esse motivo: ter começado por um tarô tão complexo como o de Crowley-Harris. Realmente, no início, senti muitas dificuldades para “ler” as imagens e acabei comprando um Crowley Thoth Tarot Deck para que eu pudesse de fato pegar, olhar de perto as cartas e seus numerosos detalhes.
Conhecer os demais baralhos foi um “pulo”. E além do Thoth, meus baralhos preferidos são de Oswald Wirth, Shadowscapes, Art Noveau, Golden, e um em forma de livro com os trabalhos de William Blake!
Não me arrependo, até porque a partir daí pude conhecer e entender melhor Aleister Crowley, apesar de saber que a maioria das pessoas não gosta nem dele como pessoa nem de seus trabalhos. Confesso que Crowley foi – e ainda é – polêmico, difícil de compreender, um verdadeiro arcano. A cada dia que passa, tenho mais curiosidade de “conhecer” Crowley e sua obra, que muitos apreciando ou não, criticando ou elogiando, deixou sua marca na história, tanto da Magia como do Esoterismo. E Crowley, ao seu modo, estando certo ou errado, foi corajoso, desafiando sua época, superando preconceitos, mesmo que de forma muitas vezes equivocada. Por isso tento entendê-lo dentro daquele contexto em que ele viveu: conservador e puritano.
Finalmente, tenho tentado superar os meus próprios medos e preconceitos – claro que não da forma como Crowley fez e agiu – quando não posso eliminar os das outras pessoas.
E para terminar, deixo aqui o vídeo da música de Bruce Dickinson para melhor ilustrar o texto, Tears of the Dragon, que simboliza a “queda” da minha torre:
 
http://letras.mus.br/bruce-dickinson/10798/traducao.html (The tower)
http://letras.mus.br/bruce-dickinson/10794/traducao.html (Tears of the dragon)
 
Contato com a autora:
Simone Gomes Omega
gommes78@gmail.com e
www.facebook.com/simonegomes78
Outros trabalhos seus no Clube do Tarô: Autores
Edição: CKR – 16/08/2015
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