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21 de dezembro de 2024

Responsável: Constantino K. Riemma


Arcano 16: A Casa (de) Deus
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Por que o nome Casa de Deus?
Texto de
Jean-Claude Flornoy
Trad.: Constantino K. Riemma
 
    La Maison Dieu é o nome consagrado entre os antigos cartiers (os impressores) franceses para essa carta muitas vezes denominada Torre.
    Antes de mais nada, um pouco de semântica francesa e uma precisão digna de nota. Na Idade Média ocidental, o hospital era chamado de “Hôtel Dieu” (“Hotel Deus”) e raramente de “Maison Dieu” (“Casa Deus”). Ao que parece, em 1650, restava apenas a designação “Hôtel Dieu”. Desse modo, a pista para o nome da carta confirma o sentido de “hospital”, ao menos pelas datas que nos interessam.
    A igreja, o templo, eram chamados de “Maison de Dieu” (Casa de Deus) e não de “Maison-Dieu”. Temos aqui mais uma forte evidência para um determinado sentido da carta, ainda que eu não seja um estudioso de semântica.
    “Ordem do Templo”, “zigurates” (monumentos em forma de pirâmide escalonada, característico da arquitetura religiosa mesopotâmica), a “torre fulminada"... Ao folhear o texto de Stuart Kaplan, me parece necessário dizer que a primeira “torre fulminada” que vemos aparecer nos tarôs italianos do século 15 é o de Charles VI (provavelmente de Veneza, cerca de 1480), ou seja um século ou, se preferir, uma sucessão de quatro gerações de fabricantes de cartas e de pintores de iluminuras, desde a aparição dos naipes.
 
No Tarot dito "Charles VI" ou Gringonneur, executado por volta
de 1480, essa carta não tem título. [Biblioteca Nacional da França]
    Nos tarôs da família Visconti-Sforza, os arcanos Diabo e “Casa-Deus” desapareceram; essas duas cartas que temos hoje nos jogos, publicados pela US Games, foram desenhados no ano de 1975 e são totalmente apócrifas. Copiam as “torres fulminadas” dos tarôs italianos desenhados à mão. 
    Não dispomos de muitas informações anteriores às séries de Noblet, Viéville, anônimo parisiense, depois Dodal, Payen. 
 
Tarô de Jean Noblet
Paris, cerca de 1650
 
Tarô de Jean Dodal
Lion, cerca de 1701
 
    A grande diferença e provavelmente a principal, entre os tarôs populares franceses e os tarôs dos príncipes italianos, reside nessa “Maison Dieu”. Pois bem, o que vemos nos “ancestrais” Noblet ou Dodal? Uma chama ascendente, que brota da torre. A partir de Convert a chama se torna descendente.
    Quanto à Viéville, que pertencia à tradição referida como ruão-bruxelense ou piemontesa, ele apresenta um tipo de pastor, uma árvore, um rebanho de cabras, carneiros, e um luminar. Esse luminar se encontra corretamente representado entre os “antigos” Noblet e Dodal e apenas esboçado no tardio Convert.
    Qual o sentido que se pode dar a tudo isso?
    Em Viéville, o rebanho de cabras e carneiros é a representação tradicional, entre os povos românicos e os imagineiros das catedrais, de vidas anteriores. A árvore é símbolo do crescimento, da expansão da consciência; o luminar é o lugar de consciência da iluminação.
 
Taro de Jacques Viéville,
Paris, cerca de 1650
 
Tarô de Nicolas Conver,
Marselha, 1760
 
    E o que mais poderia ser dito quanto aos outros tarôs de Marselha?
    A torre representa a fortaleza do ego; a coroa aberta simboliza o mental que deixa a prisão; e a chama ascendente em direção a um luminar, a capacidade do indivíduo entrar em fusão com o divino.  Estamos na imanência platônica em oposição à Nicolas Conver, que apresenta a transcendência aristotélica com uma chama descendente! Conver pelo menos conservou em seu traço para o luminar os três círculos tradicionais que são abred, keugant e gwenwed: o círculo exterior no qual nada existe, o círculo médio da encarnação e o círculo da luz branca da iluminação.
     Com o arcano XVI, “A Casa Deus”, estamos diante da representação tradicional da experiência de iluminação. É o local da consciência, da fusão com o divino. A mensagem desses velhos tarôs, portanto, é simples: cada um de nós pode, com suas própria forças e sem qualquer intervenção exterior de qualquer natureza que seja, entrar no estado de consciência em que é iluminado pela branca luz daquilo que os religiosos chamam de divino.
     A ordem dos cavaleiros teutônicos simplificava sua vida com uma divisa, um tanto  rude: “Se você não morrer antes de morrer, morrerá ao morrer”.
     Portanto, a casa é o local na qual a consciência reside e Deus... sem comentários.
Do mesmo autor: a restauração do tarô de Jean Noblet (Paris, c. 1650)
e o de Jean Dodal (Lion, c. 1701), os mais antigos tarôs conhecidos
no estilo do "de Marselha", que a história nos conservou.
Para conhecer melhor o trabalho de Jean-Claude Flornoy, seus estudos,
criações e trabalhos de restauração de baralhos antigos, visite os sites:
www.tarot-history.com (inglês) ou www.letarot.com (francês)
 
 
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