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21 de novembro de 2024

Responsável: Constantino K. Riemma


O Crocodilo e o Louco no Tarot
Sara Bonfim
Existem alguns baralhos de Tarot que trazem a carta do crocodilo no arcano O Louco – diferente dos baralhos mais antigos, onde a figura, uma espécie de bobo da corte, caminha sozinho ou na companhia de um cão.
Talvez o Tarot mais antigo, que traga um crocodilo desenhado, seja o Grand Tarot Belline. Este baralho foi produzido a partir dos desenhos de Edmond Billaudot (1829-1881) e tem algumas percepções bem interessantes. Apesar de lembrar o Tarot de Marseille (sec. XVII), se diferencia no tempo, design e simbolismo. O deck traz ideias em voga nos séculos XVIII e XIX, quando os ocultistas ocidentais incorporaram cabala, astrologia e conhecimentos egípcios aos seus estudos. Neste baralho o crocodilo não só aparece, como passa a ser o nome do arcano.
O Louco no Tarot Oswald Wirth (1889) e no Grand Tarot Belline, elaborado
segundo desenhos de Edmond Billaudot (1829-1881) 
Na sequência, vemos que o crocodilo também se torna um personagem do mesmo arcano no Tarot do ocultista Oswald Wirth (1860-1943), em seu baralho histórico criado no estilo do de Marselha, mas com modificações inspiradas nos escritos de Eliphas Levi. Aqui, o animal aparece de forma tímida, próximo ao Louco.
Talvez um dos dois baralhos tenha inspirado Aleister Crowley e Frieda Harris, que anos depois, colocaram o crocodilo – também na carta do Louco – no Tarot de Thoth. Apesar de impresso a partir de 1978, os originais das cartas foram pintados por Frieda entre os anos de 1938 e 1943. E temos ainda o Tarot Egípcio da Kier, publicado a partir da década de 1970 pela Editorial Kier, da Argentina, onde vemos o réptil figurando na mesma carta.
Para os antigos egípcios, cada deus representava uma condição da natureza. Um dos deuses adorado era Sobek. O deus crocodilo tinha a cabeça do animal em um corpo humano. Por conta da natureza violenta deste réptil; era associado à violência, sexualidade e instabilidade da personalidade, ou seja, propenso aos desejos mais primordiais. Faz muito sentido, portanto, que ele esteja presente no arcano maior O Louco.
O O Crocodilo nas cartas do Louco
O Louco no Thoth Tarot de Crowley e no Tarot Egipcio Kier.     À direita, o deus egipcio Sobek.
O Louco mostra a abertura ao desconhecido, o chamado para a aventura que vai nos movimentar. E o que é mais desconhecido que o nosso inconsciente? No entanto, ele está presente o tempo todo, agindo nos bastidores. Se você quiser andar, por exemplo, é o inconsciente que vai trabalhar para movimentar seu corpo. Ele se encarrega de tudo o que fazemos sem esforço perceptível, como caminhar ou escovar os dentes. Além disso, pode ser fonte de angústias e crenças, cujos efeitos são perceptíveis desde a infância. É lá, de alguma forma, que residem os nossos desejos mais incontroláveis.
Se render completamente a ao inconsciente é ser inconsequente, instável, como o próprio Sobek. Por outro lado, conhecê-lo sem medo, encará-lo de frente evitando julgamentos (como também faz O Louco), nos permite adentrar na maior viagem de todas – a que leva para dentro, para o autoconhecimento. O arcano O Louco nos mostra que podemos nos render a impulsos de forma saudável. Deixar que os impulsos nos controlem totalmente, é que seria imprudente demais.
Sara Bonfim é jornalista, cineasta
e apaixonada por mitos. Tarósofa e Taróloga.
https://www.facebook.com/sara.bonfim.96 
https://www.facebook.com/tarotdasara

Outros trabalhos seus no Clube do TarôAutores
Edição: CKR – 27/02/2018
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