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21 de dezembro de 2024

Responsável: Constantino K. Riemma


O Tarô e as três faces de Deus:
exotérica, esotérica e invisível
Guilherme José Gomes
O Tarô é uma estrada de símbolos correspondentes, em sua medida, às emoções mais profundas da mente. Penetrar por essa via de conhecimento é desejar aceder aos patamares mais íntimos da vida imaginativa, onde nos é revelada a primeira face – de três – de Deus, a esotérica; "arcano" misterioso ou secreto (no próprio sentido do termo Aristotélico).
Por lá se pernoita – nas grutas solenes do inconsciente –, as forças afirmativas e insólitas regentes, modeladoras do comportamento íntimo do homem ou, na expressão de Ernst Cassirer, do Animal Simbólico.
O Simbólico é, em sua estrutura, um aglomerar de representações que nós fazemos do mundo dos fenómenos  – da segunda face de Deus, exotérica (exterior) – ou mundo nómeno, segundo Immanuel Kant. A nossa inteligência não possui acesso directo ao mundo real; a esse só podemos aceder através de uma análise sobre a própria representação que, por sua vez, tanto pode ser oral (linguística) quanto gestual, visual objectiva, entre outras. Na visual objectiva (imagem) que diz respeito ao Tarô, há um vasto leque de tradições particulares que facultam diversas interpretações para os símbolos, dentro dessas tradições temos a exemplo: A Semântica, Hermenêutica, a Síntese Agostiniana e mais algumas que poderemos estender para um outro tópico.
O deus Janus
Janus, o deus romano com duas faces
Na óptica de Gilbert Durand, o símbolo surge influenciado pela própria estrutura da imaginação e essa quando explorada transforma-se em conhecimento – este, de um "sobre-naturalismo" e por si mesmo revelado – de um domínio real. Em análise e partindo da mesma interpretação do Tarô como sendo um conjunto figurativo de expoente imaginário, dá-se o encontro com a teoria Junguiana de inconsciente colectivo; afirma-se essa como um depositário do tesouro das reminiscências constitutivas da alma da espécie. De tal forma que, o sonho – ou outra expressão livre do inconsciente de cada um – não se vê restrito às interpretações subjectivas dos indivíduos, uma vez que ele as transcende enquanto símbolo e significado. Integra-se o sonho, inevitavelmente, no mundo dos arquétipos ou das grandes imagens primordiais.
O Tarô é, pois: ferramenta portadora de um poder espontâneo de ressonância, que nos apela a um maior aprofundamento e conhecimento das duas faces já referidas de Deus; a exotérica e a esotérica, uma anterior e uma outra posterior, ou a exterior e a interior. É possível, através do seu bom uso, esvaziar os componentes simbólicos e gerar o signo (a transposição dramática do arquétipo), já revelando, por si, um primeiro processo de racionalização e moral. Ficando o resto em conta; das quaisquer múltiplas técnicas individuais do Tarólogo, esse que – e caso seja portador – de atributo intelectual e superintelectual, conseguirá banhar a sua consciência na águas abstractas, místicas, abandonar-se a si próprio no seio do enigma. Decifrá-lo. Viver para sempre mergulhado.
A terceira face de Deus e a sua representação no Tarô
É a terceira face, a invisível, oculta, abstracta e, consequentemente, de elevadíssima importância. Numa ligação ao Tarô é representada pelo trajecto espiritual do Louco (o inmanifestado) ao longo dos restantes Arcanos Maiores do baralho. Tem, portanto, uma competência iniciática. É o homem que começa o seu percurso ainda prisioneiro no seu próprio organismo, ignorando a divindade do espírito, atributo metafísico, e acaba a fundir-se – após passagem pelos restantes arcanos maiores – com a Alma do Mundo (Arcano XXI).
Cristo com três faces -  pintura da Escola Holandeza
Cristo com as três faces alegóricas de Deus.
A Trindade: Pai (Invisível), Filho (Exotérica), Espirito Santo (Esotérica).
Pintura da Escola Holandesa.
As Faces e o Tarô no seu sentido prático
Agora, iremos analisar a conjugação das faces no sentido prático do Tarô, recorrendo a 3 níveis de Leitura:
a) Nível Exotérico – Exterior ao sujeito, material, concreto.
Este nível é correspondente ao Mundo Numérico, constituí o exterior como nós o experimentamos. É uma referência ao campo prático, palpável, às questões mais matérias da vida e supérfluas. Resume-se ao cálculo de determinadas circunstâncias e factores concretos que intervêm na situação presente.
b) Nível Esotérico – Interior ao sujeito, pessoal, emocional.
Os números têm uma lógica, uma razão, uma ordem. Por consequência, acima do Mundo Numérico está o Mundo Intelectual, de todo interior ao primeiro. É já um aprofundamento na personalidade do sujeito, os factores psíquicos e sentimentais e a sua importância. Trata-se de esventrar o mais fundo possível, descer ao inconsciente e domá-lo, educar as forças selváticas e desconhecidas em nós. A atenção deixa de ser focada prematuramente em um tema particular e material, tornando-se o indivíduo a própria atracção, o seu principal motivo de estudo “psicanalítico”.
c) Nível Invisível ou Iniciático – Superior ao sujeito, místico, abstracto.
Diz respeito ao Mundo Causal, podendo também ser chamado de Metafísico. Já não traça relação com a psique humana ou fenómenos práticos. É o questionamento ontológico do sentido essencial da vida do indivíduo, as suas transformações, a acção criadora. O elemento poético que dá luz às expressões ocultas do destino. Uma alusão às forças que transcendem a nossa vontade pessoal e motivacional, e que nos regem secretamente.
Este método que tem vindo a ser desenvolvido por mim está – como em tudo na vida – em constante mutação. Tem a intencionalidade de nos levar, através de sua interpretação, a uma ligação mais aconchegada com os primórdios do cristianismo. A sua fase mística e oculta. Espero que retirem um bom aproveitamento.
Guilherme José Gomes,
português, estudioso na área de Tarot
e suas respectivas aplicações.
www.alguem-lobo.blogspot.com.br
Outros trabalhos seus no Clube do Tarô: Autores
Edição: CKR – 16/11/2017
  Baralho Cigano
  Tarô Egípcio
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