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22 de dezembro de 2024

Responsável: Constantino K. Riemma


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Veredas do Tarô
Parte III: arcanos de 15 a 21
Ivana Mihanovich
 
O caminho d'O Diabo, arcano XV
O caminho do DFiabo
http://www.omegashop.ca/2009/page/45
Aqui, a orientação é dada pelos desenhos sinuosos que o vento faz na areia, ou seja: é o caminho traçado pela natureza e, portanto, pelo que consideramos que abrange o misterioso.
Um homem tranquilamente contempla o sol do deserto e o movimento de suas roupas parece fundir-se ao ondular da areia. Podemos deduzir que este lhe é um mundo familiar, conhecido. Não é um turista, nem estrangeiro, embora ele seja exatamente isso, ao nosso olhar ocidental. Assim, a questão da relativização transparece. De qualquer maneira, sua figura firme e impecável revela alguém com acesso ao conhecimento, tanto trivial, quanto espiritual; alguém que conhece seu poder pessoal.
Embora tranquilo em seu momento meditativo, os apelos da cidade, à esquerda, parecem chamá-lo suave, mas constantemente, e até mesmo as ondas na areia insidiosamente parecem apontar para lá (ou será exatamente o contrário?...). Como tentações, as palmeiras oferecem refúgio e frescor, algo tanto mais atraente pelo que a realidade do herói, sentado lá fora, não tem, e o interior do oásis atrai com possibilidades infinitas. Naturalmente, algumas serão ilusórias, outras passageiras e uma ou outra efetivamente relevantes. A ponderação dos preços a pagar parece impor-se e a astúcia do herói será decisiva nas suas escolhas. Desenvolver essa astúcia, na verdade, implicará no aumento de sua capacidade de autodefesa.
O Diabo aparece como um enigmático guia terreno, pois ao mesmo tempo em que nos aponta inúmeras hipóteses, intensifica o mundo das sensações corpóreas, justamente por isso ampliando intensamente a conexão com o momento presente, como poucos caminhos nos levam a fazer tão palpavelmente. Aprender a discernir a validade de cada passo, dentre os que ele apresenta, é aprender a trafegar entre matéria, mente e espírito, aplicando nosso poder pessoal, mas sem perder o foco.
O caminho d'A Torre, arcano XVI
O caminho da Torre
http://myamazonman.blogspot.com.br/2008/08/around-labuan-part-1.html
A Torre é conhecida como um inesperado abalo ou choque profundo que destrói as estruturas conhecidas. Porém, para que isso ocorra, antes foi necessário que o herói a construísse. Afinal, toda subida tem em si a potencialidade da queda, algo sobre o que raramente ponderamos antes de correr em direção "aos céus".
Para mim ela não prenuncia exclusivamente um choque, mas aparece para alertar que, se insistirmos em permanecer surdos, o abalo será inexorável, posto ser essencial ao despertar. De qualquer forma, é uma etapa difícil, pois é muito complicado despertar para a realidade, se justamente dela nos afastamos deliberadamente, ainda que nem sempre conscientemente.
O que logo chama a atenção na imagem é que tudo foi laboriosamente construído: pedra a pedra, a vereda que leva à Torre foi sendo assentada; tijolo a tijolo, cada parede subiu, como se quisesse dominar o infinito ou alcançar o lugar de Deus. E, lá em cima, uma guarita ou sala de onde deveria ser possível manter algum contato com o mundo aqui fora. No entanto, não há janelas. Quem aí se fecha fica desconectado da realidade. Um isolamento originado por essa ausência de interação e de dinâmica automaticamente condena o herói a devorar-se para sobreviver e, portanto, fatalmente acelera ou aciona o germe de seu próprio fim.
Essa torre fala de eventuais alicerces que assentamos ao longo da vida, que passamos a considerar como verdade cabal e ao qual nos apegamos sem deixar margem à possibilidade de trocá-lo por algo mais adequado a um momento diverso. 
Autonomia, certeza dos próprios princípios e mesmo iluminação, são conquistas e descobertas pessoais. Quando insistimos em que isso deve ser a única verdade, o conhecimento torna-se apenas tirania, prepotência e, na verdade, loucura. E é isso o que assenta e aciona a explosão da Torre, que, derrubando-nos, traz nosso olhar de volta ao chão, ao concreto, à realidade.
O caminho d'A Estrela, arcano XVII
O caminho da Estrela
http://freelanceclub.info/category/mellow-yellow-monday
O trem passa , enquanto a mulher espera o que a levará ao seu destino. Ao invés de aguardar ansiosamente ou angustiar-se por esse não ser "o seu", ela, tranquila, lê; ocupa-se com algo de seu interesse, enquanto espera. A linha amarela é um alerta: enquanto o trem não estiver parado, mantenha distância.
O que faz com que ela possa manter-se tranquila parece ser a certeza de duas coisas: 1 - ele virá; 2 - ela chegará aonde quer ir e no tempo certo. Para mim, isso é o mesmo que dizer que ela tem fé. No fundo, fé não é acreditar em algo que outros dizem, especialmente quando eventualmente contraria nossa própria razão. Fé tampouco é aceitar ideias que vem de experiências alheias e nem mesmo apenas acreditar, mas, antes, sentir profundamente alguma certeza particular e manter-se leal a isso.
Quando acreditamos dessa maneira, na verdade já estamos vibrando nessa direção, como se algo em nós percebesse ser capaz de projetar, no concreto, essa realidade interna. Esperar, tendo essa certeza, é a verdadeira esperança, como esta carta é conhecida no tarô egípcio.
No entanto, como na imagem, precisamos aprender a compreender o que faz cada momento ou cada evento. O que nos é possível controlar deve ser feito: sair de casa em tempo hábil, vestir-se adequadamente ao clima, levar um livro ou revista para alimentar ou distrair a mente, saber com clareza o lugar ao qual queremos ir. Então, temos apenas que esperar que as condições, aquelas que não controlamos, sejam convergentes e condizentes com nosso objetivo, trazendo o trem certo ao nosso propósito, o "nosso" trem. Mas, justamente, porque sua vinda não depende unicamente da nossa vontade, é importante compreender que talvez venha cheio demais e isso nos obrigue a esperar por outro, ou pode ser que se atrase um pouco. Portanto, temos que considerar a possibilidade de que, uma vez que aconteça aquilo que desejamos, ainda assim nem sempre será exatamente o que imaginamos. Mas, seja como for, sob os auspícios da boa estrela, será sempre pertinente ao nosso caminhar.
O caminho d'A Lua, arcano XVIII
O caminho da Lua
http://abstract.desktopnexus.com/wallpaper/407081
Assim vejo o caminho d'A Lua: fantástico e, a princípio, um tanto assustador, tanto pela presença de criaturas e plantas estranhas, quanto pela dificuldade de enxergar claramente. Ao mesmo tempo, é inegável seu poder de atração. Podemos ter até mesmo a sensação de que, ao passear por ali, seremos envolvidos e realçados pela magia contida no misterioso.
Este arcano abrange nosso inconsciente que, justamente por ser, em geral, tão rejeitado, torna-se mais e mais um lugar interno sombrio e atemorizante. Aí residem nossas fantasias, temores antigos, desejos secretos, sonhos esquecidos, anseios negligenciados. Caminhar por aqui demanda alguma coragem, sem dúvida, mas exige, antes, o desejo genuíno de saber quem somos em níveis mais profundos. Porém, sendo o limiar entre loucura e lucidez algo tão tênue, há sempre o risco de nos perdermos no aconchego do imaginário e entendermos a ilusão do mundo mágico como garantia de poder.
N'A Lua encontramos o romântico, o lírico e o poético, cintilações que tornam a vida mais bela. Por isso, se estivermos despreparados, esse enlevo nos parecerá superior à realidade, quando na verdade apenas a complementa e não pode, portanto, a ela sobrepor-se.
Por tudo isso se diz que esta carta fala de romance, aventura, perigos, ciúme, inveja ou loucura, poder e desafios. Mas, quando nesse universo adentramos bem centrados, o aprendizado de enxergar sob essa luz diferente, bem como as descobertas que isso possibilita, enriquecem imensamente nosso caminhar diário.
O caminho d'O Sol, arcano XVIIII
O caminho do Sol
http://catholicworkercommentary.blogspot.com.br/2011/12/light-on-path-reflection-one.html
Como um recanto ou jardim circular, este caminho ao mesmo tempo oferece proteção e espaço para soltar a alegria, brincar ou apenas estar a salvo das vibrações que vem de fora.
Sobre esse macio tapete de grama um casal pode liberar-se ao amor, um grupo pode divertir-se, uma noiva original pode festejar seu casamento, uma dupla de bons amigos pode manter-se longe de estilingues rivais, um profissional pode curtir seu sucesso e prestígio rodeado de seletos amigos (e sem se preocupar com as invejas e maledicências de seus concorrentes) e um artista pode encontrar inspiração. Nesse espaço privado, os raios de sol inundam a clareira e agem como um escudo, aliados às árvores, quase sentinelas naturais. 
O Sol é sempre bem-vindo, pois seu calor aquece corpo e espírito e sua luz, ao contrário da lua, amplia a clareza de nossa visão. Porém, eventualmente essa mesma luz pode ser uma armadilha. Caso o fulgor seja excessivo, melhor entrar nesse círculo com cuidado, pois muito esplendor pode, no fundo, impedir-nos de ver realmente. E, evidentemente, a luz do Sol, se encarada soberbamente de frente, pode levar à cegueira. Se o herói se perder nas celebrações deste arcano ou se confundir-se nas vagas da arrogância sempre possível em todo regozijo, aprenderá que quando o brilho do sol não é recebido adequadamente, o resultado é uma queimadura profunda ou uma sombra mais negra.
O caminho d'O Julgamento, arcano XX
O ccaminho do Julgamento
http://asimons.co.uk/kenya2009/day3.htm
Facilmente percebe-se que o fundamental aqui é que o caminho é o resultado de um mosaico.  Simbolicamente aqui em cima temos sinais de uma realização ou completude entre matéria e espírito, representada pelas imagens inseridas; lá embaixo vemos um jardim de ervas (medicinais talvez?).
Assim, tanto faz se estamos descendo ou se acabamos de subir, pois o caminho é agora infinito em si mesmo e retroalimentador, unindo corpo embaixo e espírito em cima.
Como a flor na mão, à esquerda, ou o lótus, à direita, no caminho d'O Julgamento reflorescemos.
Como a libélula ao centro, ele nos traz a renovação. Neste arcano há um chamado, convocando-nos a recolher e reunir nossas partes antes perdidas, fragmentadas ou que foram vivenciadas separadamente. E, como ao finalizar um quebra-cabeças, finalmente podemos compreender o todo congruente, incluídos nossos atos passados e suas consequências. Embora já não seja possível modificá-los, podemos ver que eles fazem parte de nosso desenho final e, na verdade, agora podemos finalmente compreender que foram eles, na verdade, que nos trouxeram até onde chegamos e que, para além de qualquer autocrítica, completam o ser integral que hoje somos.
No mundo concreto esse chamado também aparece e é quando podemos reencontrar pessoas e experiências com as quais temos reais identificações ou então necessidades mútuas ainda a resolver.
O Julgamento, ao mesmo tempo em que nos faz avaliar as decorrências de nossos atos, também nos diz que é hora de aceitarmos e acolhermos definitivamente quem realmente somos.
O caminho d'O Mundo, arcano XXI
O caminho do Mundo
www.dreamstime.com/stock-photography-wedding-path-&-archway-image7299412
O que vemos aqui é a vereda de um casamento, com flores coloridas e um arco enfeitado: a representação de um portal para uma nova vida.
É um ambiente que evoca júbilo, celebração, amor, compartilhamento, alegria, festa, dança. Tudo num  local único, que soma mar, terra, ar e fogo, simbolizando uma integração perfeita.
Por outro lado, querer tudo a um só tempo, sem estar previamente bem equilibrado, abre a sombra deste arcano: a dispersão. E o mesmo se aplica às relações de trabalho e de amizade, planos de viagem, desejos de mudança em geral, objetivos românticos.
Um detalhe importante aparece: os cavalos-marinhos da entrada são iguais e olham-se como num espelho, dois de cada lado, como a dizer que os seres que aí se casam, devem, antes, casar-se consigo mesmos, ao invés de buscar esse êxtase unicamente na realização do complemento com o outro. Aquele que se une a outro, sem antes estar unido a si mesmo, expõe-se à dissolução, tanto do outro, como de si mesmo.
Para mim, esse equilíbrio essencial implica acima de tudo, nesse automatrimônio. "Autocasar" significa aceitar um compromisso de vida consigo mesmo e então celebrá-lo tão profundamente como a eterna perseguida harmonia entre nós e o outro. Para isto viemos cobrindo todas as etapas anteriores; para isto fomos vivendo todos os arcanos e seus ensinamentos. Podemos dizer que, aqui, n'O Mundo, o ser que antes reuniu-se e reconheceu-se n'O Julgamento, encontra o ambiente perfeito  para festejar esse alinhamento.
O Mundo nos diz que é hora de fazermos de nós mesmos nosso projeto de vida e assumir isso, amando-nos e respeitando-nos, na saúde e na doença, na alegria e na tristeza, por todos os dias de nossa vida, até que a morte, da Terra, nos separe.
março.13
Contato com a autora:
Ivana Mihanovich é escritora, taróloga, publicitária. Publicou um livro
sobre o tarô e mantem um blog de conteúdo: www.tarotluminar.blogspot.com.br
Outros trabalhos seus no Clube do Tarô: Autores
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