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Os pés e os personagens do tarô |
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O fascínio inicial que as cartas de Tarô podem provocar em quem se dedica ao seu estudo, aos poucos se torna uma admiração profunda e envolvente que nos faz seus prisioneiros de livre e espontânea vontade. Muito mais que uma consulta, a meditação sobre tais imagens nos revela inúmeras informações e nos abre os olhos para viagens alucinantes em nosso interior das quais voltaremos com uma bagagem bem maior do que aquela com a qual partimos. |
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Cada detalhe, cada nuance de vestes e cores, revelam um simbolismo rico de mensagens com as quais vamos nos familiarizando e utilizando na medida de nossas necessidades. Aprendi, assim, a observar atentamente as posições de mãos, os olhares, as cores das vestes, o movimento sugerido por cada personagem ou sua total imobilidade, buscando não entender com meu cérebro, mas com uma parte de mim que talvez esteja mais preparada para tal entendimento. |
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Foi assim que me deparei observando os pés de cada um dos arcanos maiores. E, qual não foi minha surpresa ao encontrar um possível padrão, se é que se pode encontrar algum tipo de padrão estabelecido nas inúmeras variações de tarôs existentes, baseando-me na simbologia das primeiras imagens, ou seja, as mais tradicionais e antigas que se tem registro. |
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Para O Louco, o detalhe é o calcanhar elevado. |
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Da esquerda para a direita, cartas dos tarôs Vinconti Sforza (1450), Capela Sistina (1512) e Marselha (1750) |
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Segundo estudos realizados, as primeiras imagens datam dos séculos XIII, XIV ou XV, com personagens trajando roupagens tipicamente européias. Desta época sabemos que os posicionamentos dos pés nos trabalhos artísticos representavam várias simbologias dentre as quais a ligação do homem a terra e seu desligamento em direção ao céu. Ou seja, pés bem posicionados, uma pessoa segura, plantado ou ligado a terra, pés escondidos nas vestes, lado oculto em destaque, personagem mais espiritualizado, e ainda, pés soltos no ar um indivíduo que se eleva. |
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Para o Papa, os pés se encontram “escondidos”, exceto nos afrescos da Capela sistina |
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Da esquerda para a direita, cartas dos tarôs Vinconti Sforza (1450), Capela Sistina (1512) e Marselha (1750) |
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Michael Baxandall nos dá uma indicação: “Podemos deixar passar muitas coisas se não partilhamos da intuição que tinham as pessoas daquela época de uma estreita relação entre o movimento do corpo e o movimento da alma e da mente.” |
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Na lâmina O Carro, o detalhe fica para as patas elevadas do cavalo e o pé do querubim que segura o livro |
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Da esquerda para a direita, cartas dos tarôs Vinconti Sforza (1450), Capela Sistina (1512) e Marselha (1750) |
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No Dicionário de símbolos encontramos a seguinte descrição: “Diz-se do Buda e dos grandes santos budistas que eles não deixam rastros, são inalcançáveis... Esses rastros de pés são aqueles que se segue na caça e, simbolicamente, na caça espiritual. Mas as marcas são perceptíveis somente até a Porta do Sol, até os limites do Cosmo. Depois disso, as marcas desaparecem, sendo a Divindade originalmente e finalmente desprovida de pés (ofídica).” Em seguida diz: “De uma maneira mais terra-a-terra, o pé simboliza também certo sentido da realidade: ter os pés sobre a terra. Sendo o ponto de apoio na caminhada, o pé, para a os povo Dogon do Mali, é antes de tudo um símbolo de consolidação, uma expressão da noção de poder, de chefia e de realeza.” |
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No Enforcado ou Pendurado, obviamente, os pés estão para o alto e a perna dobrada |
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Da esquerda para a direita, cartas dos tarôs Vinconti Sforza (1450), Capela Sistina (1512) e Marselha (1750) |
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Os pés, também, podem estar associados ao começo e o fim de um ato ou caminhada em direção a algum objetivo, dependendo de seu posicionamento. “O pé do homem deixa sua marca sobre as veredas – boas ou más – que ele escolhe, em função de seu livre arbítrio. Inversamente, o pé leva a marca do caminho – bom ou mau – percorrido. Isso explica os ritos de lavagem dos pés.” |
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No Diabo observamos a estranheza das formas dos pés |
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Da esquerda para a direita, cartas dos tarôs Mitelli-Bolognese (1660), Capela Sistina (1512) e Marselha (1750) |
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Estes comentários não têm a intenção de apresentar a interpretação das cartas, apenas destacar que todos os detalhes, mesmo os pés, nos oferecem pistas para um melhor entendimento do simbolismo do tarô. |
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Bibliografia |
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O Olhar Renascente – Pintura e experiência social na Itália da Renascença. Michael Baxandall, Editora Paz e Terra. |
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Dicionário de Símbolos. Jean Chevalier e Alain Gheerbrant, Editora José Olympio. |
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