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03 de maio de 2024

Responsável: Constantino K. Riemma


 
O conjunto dos arcanos maiores
 
 
Sobre a Luz
Por
Alessandra Fonseca
    
    Hoje quero falar da Luz. Da Luz que se impõe sempre que alguém ousa apertar o interruptor das ferramentas do autoconhecimento. Da Luz que uma vez acesa, torna-se permanente e eterna. Alguém se envereda pela trilha dos arcanos, por exemplo, e passa a percebê-los em seu dia-a-dia, percebe aspectos positivos e negativos presentes nas lâminas e em sua personalidade e, torna-se comum a auto-análise quando diz a um amigo “Estou num período meio Papisa”, “Estou de Estrela”, “Tá tudo Pendurado pra mim”, entre tantos outros comentários. Ou ainda, torna-se capaz de ‘prever’ situações e ‘decidir’ qual sua postura sobre elas: “Serei uma Torre”, “Preciso agir como o Papa”; às vezes se arrepende: “Se eu tivesse sido uma Imperatriz melhor”, “Se meu Enamorado fosse mais centrado”, e coisas do tipo. A Luz foi acesa enfim – mas não é tudo e nem é simples.
    O fato é que desde que o mundo é mundo as pessoas seguem buscando a Iluminação. Eu, pessoalmente, acho que esta é a nossa tarefa por aqui, seja através do Tarô, seja através de qualquer outra ferramenta do autoconhecimento.
    O que acontece, porém, é que nos esquecemos que quanto maior a Luz, maior a Sombra e, quase sempre, nos esquecemos da Sombra. Aprender a ser melhor, nos põe em contato direto com o que há de pior em nós. Acender a Luz significa assinar um termo de responsabilidade pela própria vida e pelos próprios atos diante do bem e do mal que nos cruza o caminho e que habita em nós.
    Iluminar talvez seja isso mesmo: comprometer-se a melhorar sempre e colocar o melhor de si no que se faz, no que se vive.
 
    Penso na Luz também como aquilo que nos permite saltar da Roda Cármica e seguir adiante. O que nos redime de ser quem somos, de estar onde estamos, de agir como agimos porque a Luz a princípio nos torna expectadores de nós mesmos e assim podemos simplesmente observar, sem julgamentos, nossos atos, sensações, emoções e aprender com eles ao invés de sermos deles os escravos.
    Somos um conjunto de crenças que sedimentaram ao longo dos tempos, da nossa existência, da nossa experiência. Tudo o que vivemos, de bom ou de ruim, deixa em nosso inconsciente um recado que não facilmente apagamos e a ele nos conectamos mesmo sem perceber. Cada recado desses nos liga a uma emoção que nos prende à Roda e nos deixa ali, inconscientemente, subindo e descendo sem cessar.
    Por vezes a fio, repetimos a mesma experiência sem perceber e, se percebemos, nos chateamos. Não importa muito o perceber ou não: conscientes ou não, acumulamos mais emoções e aumentamos nossa bagagem de crenças, de carmas. Porém, ao acender a Luz, aprendemos quais são as experiências insistentes e procuramos agir sobre elas.
      Podemos ter até experiências parecidas, mas não mais repetidas. Nossos aprendizados serão diferentes e passaremos de série a cada ano na escola da vida. Parabéns a todos nós, mas não nos esqueçamos que a série seguinte é sempre um pouco mais complicada e exige sempre um pouco mais de nós.
    Quando fui procurar um curso de Tarô pela primeira vez, Beatriz (aquela que se tornaria minha professora) me advertiu sem meias palavras: “Pense no que quer com ele de verdade; pois o Tarô está aí para todos, mas nem todos estão aí para ele”.
    Confesso que achei muito esquisita essa colocação a princípio e até mesmo um pouco dramática, mas, logo que me dispus efetivamente a ele, compreendi que o que ela quis de fato foi me avisar sobre os percalços deste caminho cheio de Luz que uma vez acesa, nunca mais pode ser apagada. E foi um curso muito bom, repleto de vivências e, hoje, olhando para trás... Bem, prefiro contar meus dias a partir daquele em que me encontrei com o Tarô.
    Através dele, das vivências, trouxe à consciência minhas dificuldades com períodos de espera e lentidão. Sofri horrores com a Papisa, mas segui aprendendo. Alcancei o Eremita já com a lamparina da consciência de que cada coisa tem seu tempo acesa. Com o Diabo tive certeza de que se eu fosse mesmo um anjo, como eu imaginava ser, não estaria neste mundo e a Estrela foi para que eu descansasse da Torre autoritária que caiu sobre a minha cabeça. Mas a prova pessoal que me faltava de que eu já havia alcançado algum aprendizado veio anos mais tarde quando num projeto sobre o Tarô junto a outras pessoas, fui sorteada para dar conta da Lua; ou seja, esperar, encontrar-me com o mais profundo de mim mesma, crescer silenciosamente e ainda estar apaixonada ao mesmo tempo... Oba! Eu já sabia fazer isso sozinha!
    O engraçado (e por que não fantástico?) é que aquele que decide aprender Tarô e sai para a sua primeira aula não está em busca de autoconhecimento. Este busca de certa forma o ‘domínio’ do futuro. Destes, quem leva o curso até o fim sai contente por ter encontrado muito mais do que o que inicialmente buscava: o Si Mesmo – uma grande ajuda para a ilusão do domínio do futuro. O Si Mesmo está além das voltas da Roda, e é ele a única Luz capaz de iluminar o caminho do viajante que segue lado a lado com sua Sombra.
    Enfim, acho que falei demais quando eu apenas queria dizer que acender a Luz está longe de ser garantia de uma vida sem desagrados.
    Pelo contrário, é aprender a lidar com as contrariedades diárias mantendo viva a certeza de que tudo é ilusório e passageiro, que cada dia é um aprendizado novo, que podemos escolher entre girar a Roda ou sermos um dos seus raios.
    Falando de Luz e Sombra, de Aprendizados e Crenças, quero terminar esta conversa com as palavras tão bonitas de Baudelaire:
 
    “Depois do tédio e dos desgostos e das penas que gravam com seu peso a vida dolorosa, feliz daquele a quem uma asa vigorosa pode lançar às várzeas claras e serenas. Aquele que ao pensar, qual pássaro veloz de manhã rumo aos céus liberto se distende, que paira sobre a vida e sem esforço entende a linguagem da flor e das coisas sem voz!”

Contato com a autora
Alessandra Fonseca
- ale.fonseca28@hotmail.com
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