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O Cavaleiro de Taças: herói místico |
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Do nascimento até a morte,
todo
ser humano
está sempre executando
o mito do herói e a luta com o dragão. |
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Lutz Müller |
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Relembrando um artigo anterior – Rastreamento de Símbolos – nos reportamos a ele como referência para nos guiar na interpretação do Herói Místico, o Cavaleiro de Taças. O Cavaleiro de Espadas pertencente à estruturação heroica seria o Herói Puro. Chamamos o Cavaleiro de Paus de Herói Impuro (comedido) sempre preocupado com o bem estar social. Tratando-se do Cavaleiro de Ouros sua estruturação seria a Sintética. |
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Cavaleiro de Copas |
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Golden Tarot Botticelli |
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O Cavaleiro de Taças em sua essência será visto como o Cavaleiro Percival em sua aventura na busca do Graal. O simbolismo da Taça é rico em interpretações, além de apresentar certa ambivalência. Possui na maioria das vezes, uma conotação religiosa. A taça que contivera vinho passou a ser vista como símbolo do Sagrado. A taça com água é o poder destruidor do dilúvio para o judaísmo, por exemplo. O Graal é um objeto sagrado desde o seu surgimento na literatura medieval, na crença de que nele estaria guardado também o sangue de Cristo, símbolo da imortalidade. |
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Na literatura islâmica três taças cheias de leite são vistas como símbolos de sua religiosidade. A lenda nos conta que foram os cavaleiros Templários que se empenharam na busca do Santo Graal. Esses cavaleiros, apesar de guiados por objetivos religiosos eram extremamente belicosos. |
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Na nossa escolha apenas o Cavaleiro de Taças é visto como o buscador do Graal, através do mito de Parsifal. O mito do Graal possui várias versões em suas descrições: Cálice, Pedra, Livro e Taça. A descrição mais interessante pertence às lendas do Ciclo do Graal – 1180 até 1230 – fazendo parte da literatura medieval. O mito do Graal é contado pelo alemão Wolfram von Eschera Bach com a informação de que o Graal teria sido escavado em uma pedra preciosa, uma esmeralda verde caída dos céus ou trazida pelos anjos. A pedra é chamada de exillis ou lapis exillis (pedra que caiu do céu). Era uma pedra poderosa com |
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poderes miraculosos produzindo a juventude eterna, a regeneração da vida. |
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Por sua vez, Malcom Godwin, escritor rosacruz, nos diz que no mito de Parzifal (Percival ou Parsifal) estariam escondidas informações astrológicas e alquímicas sobre como o indivíduo é transformado do corpo grosseiro em formas mais elevadas. São informações acessadas pela internet e em livros como o do Dr. Cavalli – Psicologia Alquimica: receitas antigas para viver num mundo melhor. |
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Antes de continuar, gostaríamos de fazer algumas considerações sobre o mito do herói. O mito é composto de eventos acontecidos in illud tempore (em tempos primordiais) de acordo com Mircea Eliade. Para que um mito vire lenda é necessário o acréscimo de visões culturais através dos tempos, chegando até nós de maneira fragmentada ou imaginativa e revestidos de outra forma, ou seja, remitologizados. Os heróis são eternos. Seu mito surgiu com os primeiros obstáculos que a humanidade enfrentou e servia para manter a saúde do Rei e de seus governantes. Atualmente, podemos nos considerar como heróis de nós mesmo. O Cavaleiro de Taças procura a perfeição através do sacrifício. A história de Parsifal está intrinsecamente ligada ao rei Arthur com a simbólica Távola Redonda, na busca do santo Graal. O mito do Graal nos emociona e fascina porque nos identificamos com ele em vários momentos da vida. |
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A visão do Santo Graal por Galaad |
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Tela de Edward Burne-Jones - 1895-96 - Reprodução disponível em www.wikipedia.com |
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Faço minha as palavras de Carol Pearson quando diz o seguinte: Dentro de nós temos as principais características da história do Graal. A parte fragmentada, cindida e ferida do nosso ser – aquela que conhece o esplendor da Alma, mas não consegue relacionar esse esplendor com nossas vidas cotidianas – é o rei Fisher. O jovem cavaleiro é o Explorador que existe dentro de todos nós e quer ardentemente encontrar o Graal. Este nos oferece a capacidade de renovação, de perdão e de transformação. |
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Decerto, temos que a busca espiritual é também a busca da nossa transformação em pessoas melhores. Desde a antiguidade e durante a idade medieval os cavaleiros usavam o verde, cor da esmeralda, como um símbolo de vitalidade e transmutação nessa procura da espiritualidade. O simbolismo do Graal é de altíssimo grau de desenvolvimento espiritual podendo ser estabelecidas comparações com a pedra filosofal, e até mesmo com a tábua Esmeraldina. Estamos lembrando tudo isso apenas como ilustração do que foi dito. |
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Continuando com a nossa explanação diríamos que o Cavaleiro de Taças possui uma estruturação mística, querendo com isso dizer que os sentimentos e a busca do autoconhecimento são as metas de sua jornada, o que condiz com o conceito do Tarô, que é visto desde o seu nascimento como um caminho de autoconhecimento. A estrutura é a base da personalidade, incluindo a visão da vida (mundovisão) e seu propósito, as metas mais relevantes e a as atitudes para com os outros. |
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Além disso, pertencendo ao elemento Água suas emoções que são puras, extrapolam às vezes, perturbando a sua confiança. Essas emoções devem ser liberadas para que haja domínio de si, gerando a aceitação dos fatos. Essas transformações promovem a movimentação necessária para as mudanças rápidas. |
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Nessa estruturação Mística os conflitos não são reais, embora estejam sempre em constante movimentação acompanhados de perto pelas funções psíquicas do Cavaleiro de Taças, na busca de novas propostas. |
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Uma das inúmeras
representações
do Santo Graal |
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Sua família é espontânea, amorosa, solidária, possuindo a espiritualidade á flor da pele. Ele é uma pessoa extrovertida enquanto o seu Inconsciente é introvertido. |
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Há quatro palavras que servem para identificar a ação de cada um dos cavaleiros do tarô: Saber, Fazer, Querer Calar. O Saber pertence ao Cavaleiro de Ouros. O Fazer é de propriedade do Cavaleiro de Espadas. O Querer é acatado pelo Cavaleiro de Paus. Para o nosso Cavaleiro de Taças restou o Calar. Calar e escutar são a essência do Wu Wei, ensinado pelo Taoísmo. No dizer de Lutz Müller – no Calar, revelam-se a disciplina emocional, a autodeterminação, a autonomia, e, sem dúvida, a capacidade para a objetividade supra pessoal... |
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De acordo com Carol Pearson existem níveis de desenvolvimento para os heróis à medida que caminham na senda do seu destino. Os níveis do Cavaleiro de Taças são em número de três: |
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1. Conflito entre suas próprias necessidades e as necessidades dos outros, |
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2. Aprender a cuidar de si mesmo para que os cuidados dispensados às outras pessoas sejam algo que nos deixe enriquecidos e não mutilados, |
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3. Disposição para cuidar e para assumir a responsabilidade pelo bem estar de pessoas na construção da comunidade. |
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Sir Galahad, ou Persifal |
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Tela de Arthur Hughes (186501870) |
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Sendo a homogeneidade a característica principal do Herói místico, a ação, muitas vezes, converte-se em contemplação da tranquilidade, acontecendo nesse caso uma fuga da realidade na resolução dos problemas e na dedicação ao outro, esquecendo – se de si mesmo. Enquanto leva suas mensagens de boas mudanças, em sua maioria, o nosso Herói místico utiliza o “escudo de Perseu” para conseguir a tranquilidade e vencer seus medos. Esse escudo permite a ele a vivência da calma e da tranquilidade para agir. Através dos reflexos do escudo ele vê uma maneira de se proteger contra o medo e seus dragões (os problemas). |
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O Cavaleiro de Taças se nos apresenta no mito do Graal remitologizado, isto é, com roupagens novas. É um cavaleiro que nos traz uma Taça contendo um convite para um novo caminho. Caminho de paz, amor, alegria, tudo isso permeado com ideais elevados esperando despertar toda a sensibilidade que existe dentro de cada um de nós. |
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Cavaleiro de Copas |
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Tarocchi Visconti Sforza |
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No término de sua jornada o Cavaleiro de Taças retornará trazendo em suas mãos a Taça com a oferta de renascimento conseguida a duras penas. Ao encontrar o seu Graal precisará dividir a sua alegria com mais alguém. |
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O retorno feliz, ou seja, a progressão, é anunciada pelos símbolos opostos, após a reunião, diz Lutz Müller. “São quase sempre símbolos da luz: da ordem e da união, da primavera, (...) do verde e do colorido, (...) do sol e da luz, da Mandala, da formação de um bom contato com o semelhante, do companheirismo e da união sexual.” |
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Pertencente ao elemento Água, a intuição deste Cavaleiro juntamente com as emoções andam de braços dados e fazendo com ele faça previsões dos acontecimentos antecipadamente. |
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Possuindo a sua verdade interior não se deixa influenciar pelos outros, o que lhe permite uma certa abertura para uma maior compreensão, deixando a mente livre de preconceitos. Usando seus dons para o Bem ele terá o potencial de ver tudo transformar-se através dessa Verdade Interior. |
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A guisa de conclusão diria que o mito do Herói é o mais difundido e vivido nos tempos atuais. Somos todos heróis e consequentemente responsáveis pelas transformações, em primeiro lugar de nós mesmos, e depois da sociedade como um todo. Nossa jornada possui três estágios; a preparação, a jornada em si e o retorno, quer sejamos vitoriosos ou não. |
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O arquétipo do herói foi o escolhido para a reinterpretação dos Cavaleiros do Tarô entre outras razões, por promover a sua afirmação no mundo e apresentar potencialidades que serão atualizadas e através do fortalecimento de suas atitudes poderá alcançar o nível elevado de um arquétipo guerreiro. Guerreiro, Cavaleiro e Herói são sinônimos nas potencialidades. Todos os Cavaleiros possuem essas potencialidades, cada uma à sua maneira de Ser. |
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junho.12 |
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Contato com a autora:
Glória Marinho é historiadora e antropóloga formada pela UFPE.
Atende pessoalmente, seguindo a linha junguiana: glorieta@bol.com.br
Outros trabalhos seus no Clube do Tarô: Autores |
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