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O Cavaleiro de Espadas: herói puro |
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O valor especial da espada reside talvez na união das
qualidades “mágicas” essenciais, do bastão, da clava,
da lança e na manipulação da força para cortar, dividir e
separar. É como se fosse a “quintessência” dessas armas. |
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Lutz Müller |
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Todos nascemos para ser heróis (heroínas). Este é o titulo do livro de Lutz Müller. Diz ele: “o Herói representa, portanto o modelo do homem criativo, que tem coragem para ser fiel a si mesmo, aos seus desejos, fantasias, e às suas próprias concepções de valores”. Acreditamos que estas palavras, além de retratar o Herói Puro, sintetiza todo o percurso de sua jornada de vida. A palavra chave para a sua atuação é ousar. O autor citado acima acrescenta ainda: “ousar significa a coragem para o risco cauteloso, sem a qual não haveria a busca do desconhecido e não se poderia superar os inevitáveis conflitos com os semelhantes, que surgem do fato de se distanciar um pouco das normas coletivas, preferindo-se assim manter-se fiel a si mesmo”. |
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O simbolismo da Espada acentua essas citações e ajudam a formatar um conceito mais pragmático do Herói Puro. Ela pode ser conhecida como a espada da justiça mundana, da justiça espiritual e da misericórdia. Na Idade Média representava o símbolo do espírito ou da palavra de Deus. Também era o símbolo da Temperança, como a misericórdia divina. No Japão e na Índia a espada representava o raio. |
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Na Inglaterra ainda é usada na cerimonia que concede o título de Cavaleiro por serviços prestados. No Budismo é atribuída à Espada habilidades de sobrepujar a ignorância. Quando embainhada significa temperança e moderação. A espada é o símbolo por excelência dos Heróis Puros. Seu significado é traduzido como arma de defesa ou ataque. |
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Nos tempos modernos, com a remitologização (nova roupagem) dos mitos numa estratégia de vida, de acordo com os argumentos do Herói Puro, tudo passou a ser uma interpretação puramente materialista. Quanto ao lado espiritual, decerto poderá existir na possibilidade de que a espada possa ser entendida como um símbolo da consciência clara e da compreensão mais elevada. Na idade Média era o símbolo do espírito ou da palavra de Deus como já foi dito acima. Ainda hoje, podemos senti-la como símbolo da justiça e da autoridade. |
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Atualmente, o seu simbolismo encontra-se também remitologizado e pode ser entendida como se fora o uso de todas as armas utilizadas de várias maneiras, podendo ser muito necessária a uma consciência crítica, ao se relacionar com o mundo interno e externo das possibilidades. |
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O herói puro na teoria do Imaginário de Gilbert Durand é caracterizado pela heterogeneidade de riqueza de interpretação, na ação desencadeada e valorizada do monstro (problemas) e da espada (armas). Na estruturação deste Herói encontramos uma integração com a comunidade embora sem muito comprometimento pessoal. Sua essência é a racionalidade pura, chegando a ser considerado um super- herói, (não querendo isso dizer que todos o são na realidade). São possibilidades... não se esqueçam disso. |
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De natureza extrovertida e pertencente ao elemento Ar, o Cavaleiro de Espadas tem ações rápidas e contundentes. O seu lado sombrio é frio sem emoções, além de cultivar uma exacerbada impaciência, o que gera mudanças constantes e conflituosas, causando muitas vezes, um anti-herói isto é, um ser egocêntrico totalmente destituído do sentido social. Tendo como sua essência o Pensamento difundido através do Ar, seus poderes intuitivos podem ser usados para descobrir a verdade que existe por trás das coisas. Caso contrário, ele perderá o interesse pelos projetos em curso, sendo capaz de abandonar tudo em um piscar de olhos. |
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Podemos colocar o início do mito do Herói nos primórdios do tempo quando a humanidade começava a se adaptar e lutar pela sobrevivência no dia a dia. O Herói é o que lida primeiro com o Fogo, empregando-o nas transformações da matéria e do ambiente: o ferreiro, o pedreiro... O fogo transformando tudo em seu caminho era levado pelo Vento na ação da destruição. Controlar o fogo era uma tarefa complicada. Assim sendo, em torno do fogo formou-se uma mitologia e uma tecnologia primitiva, ressaltando a importância dele para a sobrevivência, dando origem ao mito do Herói do Fogo. |
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Cavaleiro de Espadas |
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Palladini Tarot |
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A atitude predominante desse Herói Puro é a sua ousadia na tomada de decisões. Essa ousadia é como se fora uma capacidade do homem criativo dinâmico e determinado. Tudo isso se parece bastante com o nosso Cavaleiro de Espadas. O seu espirito criativo e a sua vontade consciente são as suas características internas mais promissoras em busca de eventos externos, para a realização e conciliação dos sentimentos internos. Nessa busca o Cavaleiro de Espadas pode assumir várias facetas, por exemplo, o do super-herói que promove a integração de todos os elementos disponíveis. Ele sabe o que quer, sabe como fazer e usa a imaginação e a coragem para executar os seus desejos. O heroico integrado, é aquele que além de lutar pelos seus direitos, envolve também a comunidade. Há que se ver o herói descontraído que desiste da luta, mas usa estratégias para conseguir o que quer. |
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Cavaleiro de Espadas |
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Arcus Arcanum Tarot |
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Por outro lado é a Espada que separa o Cavaleiro de Espadas de seus sentimentos. É uma luta constante que ele trava para a união dos opostos: entre a sua agressividade e os seus sentimentos, por exemplo. O “caminho das pedras” para ele será descobrir o seu poder através de uma mente rápida e extremamente lógica, na resolução de uma questão. Ele pode ficar tão envolvido com seu lado lógico que, ignorando as facetas da contenda, pode descobrir tardiamente que não era bem isso o que estava querendo para si. Quando isso acontecer mudará de lado como quem troca de roupa, sem nenhum remorso, sem nenhum compromisso, nem consigo mesmo. |
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Mas, ele poderá apesar de tudo proporcionar uma visão de vida mais ampla quando se propõe a vivenciar a essência do elemento ao qual pertence. O Ar é responsável pela respiração, possibilitando uma maior inteligência e força mental. No livro de Rose Gwain encontramos que: quando as Espadas são positivas o pensamento se mantém direcionado e focado. No seu lado oposto o pensamento da pessoa fica desfocado. Em termos de personalidade, o pensamento desfocado pode causar arrogância, egoísmo e orgulho excessivo. |
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No livro A cabala – um enfoque feminino, de Vivianne Crowley, encontrei o seguinte: os Sefirot da Árvore da Vida são dispostos em três colunas ou pilares. O Pilar da Força, do lado direito, é associado ao elemento fogo e o Pilar da Forma, do lado esquerdo, ao elemento ar. A água é o elemento do Pilar do Meio. Geralmente o Pilar da Força é associado ao elemento masculino e o pilar da forma ao feminino. O Pilar do meio é onde masculino e feminino se encontram. Situado no pilar da Forma, o Herói Puro, possui as possibilidades de luta por seus objetivos podendo empregar vários tipos de armas, até mesmo a astúcia, para conseguir os seus intentos. Para ele, a união dos opostos, que é uma meta perseguida pelos Cavaleiros do Tarô de um modo geral, torna-se mais difícil. Cada um dos Cavaleiros luta com as armas que possuem e de acordo com a estruturação e funções psíquicas correspondentes. No caso do Cavaleiro de Espadas sua estruturação é a do Herói Puro sendo a sua função predominante o Pensamento, com possibilidades de mudanças durante e no fim de sua jornada da alma.
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Vivemos cercados de Heróis por todos os lados: em casa, no trabalho, na sociedade e no mundo como um todo. Todos nós lutamos pela sobrevivência ou em busca de valores pessoais ou sociais. Cada Cavaleiro apresenta categorias que os distinguem uns dos outros. As categorias dos nossos Cavaleiros do Tarô tidos como heróis, são representadas pelas estruturações de suas personalidades, indicando o tipo das suas possibilidades atuantes. Eles são chamados de heróis em suas variáveis: Herói Puro, Herói Impuro, Herói Místico e Herói Sintético. Essas denominações não são definitivas, podendo passar por transformações ao longo da jornada de vida. Um herói Puro poderá com o tempo e a vivência das experiências na fase da maturidade, transformar-se num herói Impuro e... vice-versa. Trata-se do processo de individuação em andamento. |
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As atitudes do Cavaleiro de Espadas podem confundir os adversários, mas em seu íntimo ele saberá atingir os seus objetivos. O seu problema maior é a união dos opostos, deixando aflorar do seu mundo interior os sentimentos pelo outro. Quando isso acontecer nós teremos então, um Filantropo lutando pelo bem da Humanidade. Um Humanista da melhor estirpe. |
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A esta altura, provavelmente surgirá a pergunta: qual a importância dos Cavaleiros no jogo? Se os Arcanos Maiores representam as possibilidades e os Arcanos Menores as ações, as cartas da Corte servem de elo entre eles. As possibilidades |
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Cavaleiro de Espadas |
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Tarocchi Visconti Sforza |
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são analisadas para em seguida serem direcionadas pelos Cavaleiros com o auxilio do naipe dos Arcanos Menores. Os Cavaleiros por sua vez, expressam a postura de compromissos e deveres. |
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O surgimento do Cavaleiro no jogo fornecerá as informações necessárias para se conhecer parte da personalidade do consulente. Um Cavaleiro isolado indicará certo equilíbrio em suas ações, apesar dos seus problemas. Dois Cavaleiros indicará um herói impuro indicando que ele precisará de um auxílio mais presente. Mais de dois Cavaleiros presentes no jogo é uma clara indicação de que o consulente está sem rumo, atordoado, sem enxergar uma saída para o seu problema. |
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No caso da ausência dos Cavaleiros recorre-se ao jogo do Cavaleiro Adormecido encontrado no livro de Rose Gwain, Descobrindo o seu interior através do Tarô. Nele, haverá possibilidades de se detectar, não só o Cavaleiro do presente, mas o do passado também. |
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julho.12 |
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Contato com a autora:
Glória Marinho é historiadora e antropóloga formada pela UFPE.
Atende pessoalmente, seguindo a linha junguiana: glorieta@bol.com.br
Outros trabalhos seus no Clube do Tarô: Autores |
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