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21 de novembro de 2024

Responsável: Constantino K. Riemma


Cavaleiro de Bastões: herói impuro
Glória Marinho
 
 
Nunca é tarde de mais para responder
ao chamamento da alma
e empreender uma aventura.
Carol Pearson
 
Na sequência dos artigos sobre os Cavaleiros do Tarô de acordo com a interpretação dos Heróis do quotidiano, o nosso Cavaleiro de Bastões é conhecido como o Herói Impuro. Antes dele foram apresentados o Herói Místico ( cavaleiro de Taças) e o Herói Puro ( cavaleiro de Espadas).
O Cavaleiro de Bastões é conhecido como um herói Impuro (comedido) isto é, sabe que precisa se preparar para o combate, mas está sempre adiando chegando ao ponto de usar estratégias para evitar um confronto real. O conflito em si não o atrai e para isso utiliza ardis com a ajuda de sua intuição, para resolver suas pendências. A sua característica maior, derivada do seu elemento Fogo, o torna um ser muito intuitivo. Em seus rituais internos luta para soltar o velho e convidar o novo para fazer parte de sua vida.
Cavaleiro de Paus no Tarô de Atalla
Cavaleiro de Paus (ou de Bastões)
Tarô Atalla
 
De índole extrovertida aprecia as aventuras e as mudanças decorrentes dela. No entanto, para agir ele precisa de estímulos ou incentivos, gostando não só de ouvir os outros mas também do apoio de amigos. Sua família, o naipe de Bastões é vista como detentora de muita compreensão e simpatia, além de persistência sem par.
No diagrama da Árvore da Vida vemos três pilares: Pilar da Força, à direita, com o elemento do Fogo; Pilar da Forma, à esquerda, com o elemento Ar. A água é o elemento do Pilar do Meio. O Cavaleiro de Bastões, representado pelo elemento Fogo está situado no Pilar da Força o que lhe confere energias para experimentar situações novas, de modo que o verdadeiro sentimento de realização seja obtido. Seu enfoque, além da intuição, é a persistência que em alguns casos pode se transformar em manipulação. O elemento Fogo confere espírito, energia e possibilidades de purificação.
Quanto ao simbolismo do Bastão, ele possui uma duplicidade de interpretações: de apoio e castigo; bastão de Tirso com ramos de pinheiro (mito de Dionísio). Na arte cristã, símbolo da vida vegetativa. Na Idade Média o “baton”, bastão em francês, veio a se tornar símbolo da autoridade. O Cavaleiro recebia em cerimônia o bastão segurando-o acima da cabeça e repetindo as palavras: “acima de minha cabeça e da tua” - evocando seu direito de representar a autoridade do rei.
Todos os cavaleiros que representam os Guerreiros dos mitos antigos incorporaram através da manifestação das energias a força de vontade na solução dos problemas coletivos ou pessoais. O Cavaleiro de Bastões seria considerado um herói Impuro por não ter as qualidades agressivas do Cavaleiro de Espadas sendo, no entanto, detentor de uma grande intuição gostando de aventuras e de mudanças, como já foi dito acima. Quando resolve agir põe em prática a sua agilidade e a habilidade de conduzir as disputas contando com a sua acentuada intuição. Suas armas são: a paciência, a concentração, a perseverança, a intencionalidade e a precisão que são as qualidades da arte do guerreiro Zen.
A sua essência é a palavra querer que representa a força de seguir o seu caminho com paciência, perseverança e intencionalidade.
No livro de Lutz Müller – O Heroi – há um parágrafo muito interessante sobre a arma do Cavaleiro de Bastões:
... O bastão transmite-nos a formula fundamental de toda ação criativa: Seja você mesmo.
Ele nos encoraja para o risco de sermos sinceros com nós mesmos, com os nossos sentimentos, desejos e ideais. Se tivéssemos que reduzir todas as características de uma pessoa Heroica Impura a um denominador comum, seria exatamente isso: seja fiel a si mesmo e assuma a responsabilidade pela sua vida. Ele é um aventureiro corajoso e cheio de criatividade capaz de discernir os dois lados de uma questão.
Rose Gwain nos oferece uma citação sobre um conselho de Confúcio:
O homem superior repousa sua pessoa antes de se mover; ele compõe a mente antes de falar, ele torna suas relações firmes antes de pedir algo. Observando essas três regras, o homem superior ganha segurança completa. Mas se um homem for brusco nos seus movimentos, os outros não irão cooperar. Se for agitado em suas palavras, elas não despertarão eco nos demais. Se pedir algo sem antes ter estabelecido relações, isso não lhe será dado. Se ninguém está ao seu lado, os que podem prejudicá-lo se aproximam.
É assim que vejo o Cavaleiro de Bastões. Ele sabe que tem uma missão na Terra a ser cumprida e fará de tudo para realizá-la. Pertencente ao elemento Fogo ele facilmente se inflama pelos ideais ainda que, para a sua permanência nesse caminho precise de estímulos e apoio. Caso contrário deixará tudo de lado e procurará algo mais gratificante onde a sua criatividade seja mais produtiva. Este elemento é o condutor por excelência do entusiasmo pela vida em si. Há um dito alquímico aplicado à psicologia, que fala dos elementos em sua serventia: A consciência é inflamada com o Fogo, animada com a Água, fixada com a Terra e espiritualizada com o Ar.
O Cavaleiro Escocês
O Cavaleiro Escocês
Taymouth Castle - Chinese Drawing Room
Embora entendamos que todos Os Cavaleiros do Tarô pertencem ao plano intermediário entre o material e o espiritual, a predominância de um dos elementos será a sua Essência em determinadas épocas da vida. Eles realizam todos os esforços concretos em busca da realização de seus desejos e metas na concretização dos objetivos de seus planejamentos. Na parte espiritual procuram a realização da união dos opostos, significando em suma a realização do processo de individuação, acontecendo na segunda parte da vida.
Por tudo o foi visto sobre o Cavaleiro de Bastões, vemos refletido nele os nossos medos e frustações, as nossas lutas pela sobrevivência ao mesmo tempo em que nos é mostrado os valores humanos e espirituais que pertencem à sua personalidade. Sua mensagem principal é o fato de que vivemos em um mundo de constantes mudanças. Mudanças essas que acontecem todo o tempo, o tempo todo, inclusive dentro de nós mesmos. Mudar não é uma coisa fácil. Principalmente se esta mudança significa começar tudo de novo. Ela, a mudança, cria as transformações do nada. A vontade de viver é o determinante que se deve aproveitar intensamente da vida, se entusiasmando pelas transformações. Isso será facilitado se conhecermos as nossas funções psíquicas e nossa maneira de pensar e de realizar os sonhos.
No baralho do Tarô, diz ainda Rose Gwain, os Cavaleiros representam as funções de extroversão e de introversão; os Cavaleiros de Taças e de Moedas geralmente são de natureza introvertida, ao passo que os Cavaleiros de Espadas e de Bastões são extrovertidos, embora saibamos que não há uma só característica de um determinado tipo por toda a vida. Eles podem mudar e mudam constantemente ou então assimilam dois ou mais tipos, sendo um deles sempre predominante. É importante conhecermos o comportamento de nossos Cavaleiros porque não há uma identificação real, material, como antigamente. Não se usam mais armaduras nem armas visíveis, mas, mesmo assim somos todos heróis e heroínas do cotidiano. Os mitos nos falam da natureza humana: seus medos, frustrações, vitórias sobre os inimigos e adaptação ao meio ambiente. O mito do herói não foge à regra. Nele se espelham não somente as virtudes heroicas, mas, o lado sombrio que escondemos de todos.
Uma última consideração sobre o Herói Impuro. As mudanças são tão presentes em sua jornada, que existe sempre a possibilidade de várias delas acontecerem ao mesmo tempo. De Herói Impuro poderá passar a ser um herói Místico, que é o seu polo oposto, ou então para um Herói Puro no decorrer de sua jornada ou até mesmo um Super-Herói. Por que não?...
Quero finalizar esta explanação fazendo alusão ao livro de Deepack Chopra, As Sete Leis Espirituais dos Super-Heróis:
1 - equilíbrio: é a interação entre ser, sentir, pensar e fazer.
2 - transformação: é a verdadeira natureza de todo ser e do próprio universo.
3 - poder: permite que os super – heróis sejam imunes a críticas (...) destemidos e capazes de dar poder aos outros por meio de seus pensamentos e ações.
4 - amor: praticando a compaixão (...) compreendem, aceitam e buscam soluções (...)
5 - criatividade: é a principal força que move toda a vida.
6 - intenção: é um impulso fundamental que ativa todas as ações.
7 - transcedência: a capacidade de acessar o transcendente é o primeiro passo na direção de se conhecer a si mesmo.
As Leis acima descritas de maneira sucinta servem nada mais nada menos, para a elaboração de uma síntese sobre os Heróis do Tarô, os Cavaleiros ilustrando a jornada de cada um deles. Ser um Super-Herói – diz Chopra – é ter uma força de vontade, de identidade pessoal, que nada pode subverter.
outubro.12
Contato com a autora:
Glória Marinho é historiadora e antropóloga formada pela UFPE.
Atende pessoalmente, seguindo a linha junguiana: glorieta@bol.com.br
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  Baralho Cigano
  Tarô Egípcio
  Quatro pilares
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