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21 de novembro de 2024

Responsável: Constantino K. Riemma


As muitas faces da cruz celta
 
Jaime E. Cannes
 
 
    Apresentada ao mundo em 1910 por Arthur Edward Waite em seu livro The pictorial key to the tarot, que a definiu como um método de leitura muito mais antigo praticado pelos celtas da Inglaterra, Escócia e Irlanda, a Cruz Celta ganhou imensa popularidade, tornado-se o método mais usado por tarólogos do mundo todo. Esse sucesso tem muitas explicações e a mais comumente exaltada é a sua grande flexibilidade simbólica, permitindo que cada leitor adapte parte de seus significados originais tornando-a acessível ao psiquismo de cada um. Muitos leitores a usam como jogo para perguntas e respostas, outros como um sistema de leitura inicial e abrangente para colher informações gerais sobre quem se consulta.
    Existe um forte conjunto simbólico inserido na forma original da Cruz Celta, também chamada de Cruz Céltica. O número dez que totaliza as cartas deitadas na mesa é muito poderoso, pois que reúne em si o número fálico da face masculina de Deus, o 1 com o número que representa a vagina arquetípica da Deusa o 0. Ele contém em si a chave que reúne o masculino e o feminino interiores num mesmo momento de interação absoluta, unindo o consciente e o inconsciente, o racional e o intuitivo, céu e terra, corpo e espírito, e assim por diante. O dez é considerado há muito um emblema da perfeição divina e a sua união com o homem. Na geometria sagrada seu símbolo é o círculo com um ponto no meio. Esse também é o símbolo astrológico do sol que representa a consciência mais elevada que viemos desenvolver na presente encarnação. O ponto também alude à humanidade e o círculo ao espaço que esta ocupa no planeta. Numa perspectiva microcósmica essa é a verdade para o homem comum que também cria um universo particular que o rodeia. A Cruz Celta revela os contextos envolvidos nesse mundo particular com absoluta inteireza.  
Arthur Edward Waite
Arthur Edward Waite
www.arcanos.com
 
    É interessante observar que o desenho da Cruz Celta, da perspectiva de quem lê as cartas, parece um dez invertido, com o zero na frente e o um atrás. Se dermos asas a nossa imaginação intuitiva veremos algo revelador, o leitor entra no mundo interior, intuitivo e receptivo da grande Deusa (o zero) para obter as respostas requeridas pelo cliente dentro do mundo prático e objetivo do grande Deus (o um). Já do ponto de vista de quem se consulta, o dez está na posição normal, com o um na frente seguido do zero. O consulente vem com suas questões práticas para a sessão (o mundo do grande Deus) e leva, além das suas respostas, muitos indícios de seu próprio mundo interior arquetípico (o mundo da grande Deusa), que viabilizam uma profunda transformação a partir da conscientização.
 
O Jogo do Espelho
    Apresento agora a minha versão desse tradicional sistema de leitura, adaptado a uma abordagem mais interior e voltada para a autotransformação, que chamei de “Jogo do Espelho”. Aqui o jogo é apresentado como uma abertura inicial que visa revelar o mundo interior e exterior de quem se consulta e a interação deste com ambos. O significado de cada posição foi propositalmente deixado bem amplo para que o arcano e a orientação intuitiva de cada leitor definam qual aspecto de cada carta se aplica ao jogo em questão.
    Proceda do seu modo usual. Eu embaralho o conjunto das setenta e oito cartas, com arcanos maiores e menores misturados e quando julgar pronto ofereço o maço para o cliente dividi-lo em dois ou três montes conforme desejar. Abro em leque e oriento para que sejam retiradas dez cartas que mantenho com as faces voltadas para baixo. Uma a uma vou arranjado-as conforme o esquema ao lado:
    O passo seguinte é ir virando cada uma das cartas e procedendo a interpretação:
    Posição 1: O mundo interior no momento, o tema mais importante que se está vivendo.
    Posição 2: A ação. Ações que se está tomando a partir desse momento e que podem estar de algum modo contribuindo ou obstruindo a sua fluência.
    Posição 3: Apelo do mundo interior, essa posição se refere ao inconsciente espiritual e revela a orientação interna à partir do momento que se está vivendo. Trata-se daquela voz silenciosa que fala no fundo da nossa alma e que podemos estar ignorando ou não, conforme os arcanos em torno.
 
Técnica da Cruz Celta - Celtic Cross in www.quanmut.com
 
 
    Posição 4: Desafios, obstáculos e bloqueios. Essa posição revela os aspectos desafiantes do consulente e os condicionamentos do inconsciente psicológico que se fazem notar com isso e que podem ter sua origem tanto na infância com em vidas passadas.
    Posição 5: O mundo consciente e material, essa posição revela qual a relação que se está tendo com o mundo dos negócios, carreira e finanças, bem como o modo como tudo isso é avaliado racionalmente.
    Posição 6: Os objetivos futuros e vida social. Aqui as intenções para o futuro imediato são mostradas assim como as relações sociais que se entabula com o objetivo de viabilizá-las. Relações com a família e as amizades também são representadas aqui.
    Posição 7: A personalidade. Que face está emergindo de dentro da psique de quem se consulta? Essa questão é respondida nesse ponto, e revela posturas conscientes.
    Posição 8: Relacionamentos íntimos e a expressão do afeto. A situação e a qualidade da vida amorosa e sexual.
    Posição 9: O aprendizado. Qual é a lição mais importante que o momento oferece? O que se pode apreender dessa vivência? A posição nove responde isso.
    Posição 10: Síntese. Essa posição revela o pano de fundo da situação, é o clima e o “para quê” da situação toda, sua finalidade dentro de um sentido maior, existencial.
    Um detalhe importante é o de comparar as posições 3 e 7, pois nossas posturas conscientes podem interferir naquilo que nossa alma solicita. Faça o mesmo com as posições 6 e 8 já que as relações sociais e familiares e nossos planos futuros influenciam nossas relações mais íntimas. Por fim, compare as posições 5 e 9 por não ser incomum que nosso aprendizados mais profundos na vida se choquem muitas vezes com nosso interessas materiais e ambições pessoais. Não deixe de notar também que as posições 3 e 4 são a parte mais profunda (o inconsciente) e as posições 5 e 6 são a porção mais exposta (o consciente). As duas primeiras são o domínio da alma e as últimas são o terreno do ego.
    
novembro.08
Contato com o autor:
Jaime E. Cannes - www.jaimeecannes.com
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