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A leitura em pares: complementa ou limita? |
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Uma grande amiga veio me contar, cheia de entusiasmo, que fez um ótimo curso de tarot em São Paulo com um “grande” tarólogo que lhe ensinou o melhor método de ler as cartas de tarot: a leitura em pares, aquela que combina aos arcanos maiores os menores no jogo. Disse também que o tal grande tarólogo falou que sem combinar assim os arcanos a interpretação fica deficiente, incompleta. |
Argumentei imediatamente que não acreditava naquilo, simplesmente por não haver apenas um único modo de se ler as cartas, e que isso era muito mais uma questão de gosto e de afinidade pessoal.
Somos pessoas com diferentes graus de afinidades, com mapas diferentes e por isso é que ela aceitou prontamente o que ele disse, porque fechava com o seu sistema interno de crenças, o que não significava que era o melhor, simplesmente que era o dela e do seu respectivo professor.
No decorrer da conversa ela continuou argumentando que o seu orientador já havia tentado uma série de métodos e que nenhum se mostrou tão eficiente. Rebati mais uma vez dizendo que se tratava apenas das experiências necessárias para que ele construísse o seu sistema de valores enquanto tarólogo.
Autores estrangeiros normalmente não separam arcanos maiores e menores nas leituras. Gente como Pamela Eakins, James Wanless, Rachel Pollack, Hajo Banzhaf, entre outros, incentivam que se misture os dois conjuntos de cartas.
Podemos dar o desconto de que essa pode ter sido a interpretação da minha referida amiga, que no geral é bastante sóbria, mas afinal é humana! É claro que, por um lado, talvez tenha sido esse um método popularizado no Brasil porque faça parte do nosso inconsciente coletivo, tudo bem! Mas temos de convir que a nossa amada terra Brasil sempre foi uma mescla de Terra do Nunca com A Toca dos Cuspidores de Lei todos loucos para proclamar a verdade mesmo que na contramão do mundo! |
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Pares de arcanos maiores e menores |
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[Tarot Rider-Waite] |
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Enquanto lá fora os autores dizem coisas como “Esse método foi desenvolvido à partir de meus anos de experiência... ” ou “Esse sistema de leitura me inspira... ” por ter relações com o xamanismo, a astrologia, a cabala, etc. Aqui eles já sabem qual é o melhor sistema! O que deixa a leitura mais completa!
Sinto que o que deixa uma leitura mais completa é a bagagem de experiência de um tarólogo com o seu baralho, aliado à sua cultura, suas trocas com outros colegas e o que ele mesmo é capaz de apreender de suas consultas. Costumo utilizar as cartas dos arcanos menores e maiores misturadas e tem sido muito gratificante para mim e para meus clientes. A combinação em pares para a interpretação é interessante também, eu mesmo já usei esse sistema, mas achei-o rebuscado demais, com muitas cartas na mesa (de 20 a 39 dependendo do método empregado). E o que isso significa?... Nada! Significa apenas que não é para mim!
Essa discussão com minha amiga me fez pensar que talvez o que esteja por trás de uma declaração dessas seja o fato de os arcanos menores ainda serem vistos como secundários, como apenas um complemento dos maiores e isso é perigoso, pois nos arcanos menores há a vivência do homem comum, a mais próxima de nós, a mais identificável. E a verdade é que vivemos num mundo onde o homem comum tem tido pouco valor, temos todos de ser extraordinários! O que me intriga é o seguinte: se sair um arcano menor sozinho numa posição da mandala astrológica, por exemplo, ele fica o quê? Inócuo? Pobre? Vazio?...
Oswald Wirth disse que o limite do tarot está no olhar do tarólogo. Concordo com ele. Explorar os muitos sistemas de leitura é uma maneira de expandir a criatividade e a sensibilidade intuitiva, o que não cria autoridades inatacáveis, mas sim senhores de sua própria verdade! A vida precisa mais de todas as verdades unidas do que elas se opondo entre si, afinal isso até hoje não funcionou, não é mesmo? |
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julho.08 |
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