|
Relações com o Tarô: ORÁCULO & DONS |
|
|
Vidência: o místico e o ocultista |
|
|
|
Um grande problema inicial é a conceituação do termo vidência. Uma vez estabelecida, tudo fica mais fácil, pois falaremos, então, uma mesma linguagem. A meu ver o termo vidência tem uma abrangência bem vasta. Não inclui apenas o ato de “ver” com os olhos; é algo além do corporal.
Acho impossível fazer uma leitura de tarô sem alguma forma de vidência. Acho impossível praticar qualquer arte denominada adivinhatória sem algum tipo de vidência. Acho impossível fazer qualquer trabalho científico sério, de profundidade, criativo, sem algum tipo da tão propalada vidência, digam os racionais o que quiserem. Quem busca fazê-lo guiado pela razão simplesmente apenas consegue manuais de trabalho, com profundidade limitada. |
O histórico das grandes descobertas dos homens incluem associações repentinas e caminhos tortuosos que fogem ao pensamento cartesiano; a idéia acontece e só depois o cientista persegue uma justificativa para satisfazer a mente. Essa vidência se associa a uma percepção holística que extrapola o físico. Atinge a essência das coisas (apanágio do Arcano 19) e nos guia para o que é real, para uma circunstância ou uma pergunta determinada. Será limitado ao tempo ou não, dependendo da profundidade pretendida.
A minha dificuldade, portanto, não é aceitar o processo de vidência como algo factível. Minha dificuldade está conseguir sistematizá-la e conseguir de algum modo (até para chegar a esta propalada sistematização) uma orientação para que ela venha numa seqüência que eu possa reconhecê-la racionalmente e usá-la, no nível adequado. |
|
|
|
Um dos grandes problemas que enfrento no tarô é evidenciar o nível de interpretação necessário para o solicitante; não, obviamente, aquilo que ele deseja. Buscar uma interpretação para atender o que é desejável pelo solicitante já é, em si, colocar um freio à própria capacidade de visualização. E por ser esse freio de origem mental mostra-se tal bastante limitado. O Tarô, o I Ching, as Runas, seja o que for da área, quando é seriamente feito, extrapola com facilidade o âmbito da mente e atinge a essência do indivíduo, da circunstância, da entidade... isso "se alma não for pequena", como já disse o poeta. |
|
O ocultista e o místico |
|
Alice Bailey, em Cartas para Meditação Ocultista, descreve dois tipos básicos de pessoas: o ocultista e o místico. Ela dá explicações que considero magistrais. Encontro uma divisão em Oswaldo Wirtz, que tem a mesma tônica, referindo-se ao ocultista, como masculino, positivo, e ao místico como feminino, negativo. |
Os ocultistas buscam uma visão sintética por meio de uma interpretação feita com seriedade e vagar. Instituem um ritual, uma técnica de interpretação e vários artifícios para conseguir um consenso consigo mesmo e com o objeto de interesse.
É o contrário que acontece com os místicos, que já têm essa visão sintética e buscam apenas interpretá-la e adequá-la aos arcanos tirados para uma questão determinada. Digo "questão" pois é indiferente se é para uma pessoa, um evento ou empresa.
Particularmente, minha tônica é mística: eu visualizo antes e, depois, interpreto os arcanos. A interpretação é checada constantemente pela modificação da visualização, seja para melhor ou para pior. A prática nos faz prescindir (até um certo ponto) das cartas e ficarmos apenas na visualização. Digo "até certo ponto" pois os arcanos constituem forças potentes e suas posições ou a seqüência com que é tirada pelo consulente – através do tarólogo – constituem verdadeiras mandalas e isso não pode ser desprezado. Ou até poderia, mas eu não aconselharia, sob pena de perder um elemento precioso. Mais ainda, porque as cartas e sua seqüência devem ser uma imagem análoga à da visualização. Caso contrário, perderia todo o sentido e nos tornaria farsantes...
O consultor com tônica mística é mais favorável a uma interpretação num nível profundo (afetando o comportamento e a alma do interessado) e, o ocultista, a padrões de comportamentos mais imediatos. Vale dizer que os cartomantes e ciganos manipulam de uma maneira ocultista o que percebem por aporte místico, pois lhes interessam mostrar resultados imediatos. O lado místico, em princípio, não fornece resultados rápidos, pois toca a matriz do indivíduo. Vale dizer que quem domina essa maneira de operação consegue dar apoio para curas, pois interferem de alguma forma nos padrões mentais do indivíduo em questão. Há nisso, evidentemente, um perigo de interferência cármica.
Posso dizer o seguinte: quem é místico por excelência, tem um contacto direto com a substância das coisas e, a partir dela, chega à forma. O ocultista é o contrário, como podemos representar com a própria linguagem do tarô.
Não se pode esquecer que o processo de interpretação do tarô, ou de qualquer arte chamada adivinhatória, implica que o arcano 2. A Papisa – o processo contemplativo – seja dominado. |
|
O místico: |
|
|
|
Ora, o místico integra o processo contemplativo com mais facilidade, pois é ajudado pelos arcanos 21. O Mundo e o 20. O Julgamento. O ocultista, o faz com mais dificuldade, pois o seu apoio é feito pelos Arcanos pelo 22. O Louco e 21.O Mundo. Exige-se mais disciplina deste para se chegar onde o místico trilha com certa facilidade (aporte do 21 e 20 e suas reduções: 2 + 1 = 3. A Imperatriz e 2 + 0 = 2. A Papisa). |
|
O ocultista: |
|
|
|
Em virtude dessas diferentes composições e por necessitar de uma disciplina mental mais avançada – certa “desintegração” do mental racional 4 (O Imperador) pelo 22 (2 + 2 = 4) e sua oposição com o 1. O Mago − quando o ocultista consegue concluir seu trabalho, pode ser bem mais completo que o místico. Pode alcançar mais segurança e profundidade, caso consiga ficar longe de seu maior inimigo: a presunção.
O místico, por sua vez, com freqüência se perde no excesso de sensações e cai em seu inimigo direto: o espelhismo, o animismo. |
|
out.06 |
|
|
|
|
|
|
|
|
|