Home page

21 de dezembro de 2024

Responsável: Constantino K. Riemma


A formulação de perguntas ao Tarot
Jaime E. Cannes
Eis uma prática bem usual nas leituras de tarot, e que ainda assim pode ser vista sob uma perspectiva bem enganosa. Podemos perguntar qualquer coisa ao tarot? Sim, minha experiência tem mostrado que sim. Hajo Banzhaf, em As Chaves do Tarot, diz que qualquer pergunta pode ser formulada às cartas, mas assinala também que uma coisa que o tarot não pode fazer é responder sucintamente sim ou não a uma indagação. Pois que seu simbolismo sempre se desdobra em reflexões ou revelações de motivos ou sentimentos subjacentes às vivências do momento. Eu concordo, mas o que aparentemente soa como uma limitação, a mim parece mesmo uma boa vantagem.
Há necessidade de formular com clareza uma pergunta ao tarot? Bem, aí começa um ponto que controvérsias se farão presentes. Uns dirão que não há necessidade disso, de que a inteligência que opera no tarot é a da Inconsciente Coletivo, e de que tudo está revelado em algum nível da consciência (ou do subconsciente) de quem indaga ao oráculo! Em parte concordo com tudo isso, porém, destaco dois fatores bem importantes:
1º) É preciso que o consulente exerça sua confiança no leitor, este também é um trabalho de entrega do consulente, e um tempo para ele ouvir a si mesmo, e é no momento de trazer as perguntas que essa ouvidoria própria se dá.
2º) É fundamental que o intérprete dos arcanos exercite a sua percepção intuitiva, aliando-a a tudo o que ele estudou ao longo de sua jornada formativa, simples assim! Faz-se fundamental que ele ajuste a pergunta ao simbolismo dos arcanos retirados no processo, e os conecte intuitivamente ao significado das casas das diferentes disposições que são utilizadas à medida que a entrevista avança.
A Ledora de Sorte - tela de Frederic Bazille
The Fortune Teller (A Ledora de Sorte) por Frédéric Bazille (1841-1870)
Cada disposição escolhida representa o aprofundamento numa questão, seja de autoconhecimento, prognósticos, orientação estratégica e aconselhamento, relacionamentos etc. Costumo dizer que nas minhas consultas vale a regra: quanto mais precisa a pergunta, mais precisa a resposta. Por outro lado, quando mais ampla a questão formulada tanto mais ampla, e, portanto difusa, será a resposta obtida.
Certa vez fui chamado para fazer um evento esotérico num clube grande da cidade, era um sábado inteiro de atividades, e com a presença de profissionais de várias áreas do holismo e da interpretação de oráculos. Como não podia estar presente recusei, mas a organizadora que contatou comigo perguntou se eu tinha alguém de minha confiança que pudesse indicar, e eu o fiz. Tinha um aluno meu com longos anos de estudo da tarologia, antes mesmo de fazer um curso comigo, e que estava mais do que disposto a testar suas habilidades interpretativas com pessoas totalmente estranhas num evento como esse. Ele aceitou de pronto, e ao retornar perguntei como havia sido a experiência. Parecia bem frustrado, e confessou que achava não ter feito um bom trabalho. Trouxe o relato de uma senhora que pediu para ele abrir os arcanos porque ela queria saber dos filhos. Ele então pediu para ela tirar as cartas e quando abriu a leitura disse que claramente o tarot indicava que aquela mulher estava vivendo demais a vida dos filhos, e que estava na hora de voltar-se mais para sua própria vida e ocupar-se de si. Prontamente a senhora reagiu dizendo: “Mas não foi isso que perguntei!”.
Entendem o que digo quanto a importância de se deixar bem claro o que se deseja saber? Eu o confortei dizendo que na verdade ele tinha feito, muito provavelmente, uma leitura bem acertada. Convenhamos que não estava evidente o que ela queria saber, e ao deixar ampliada a sua pergunta ela acabou abrindo espaço para que a sabedoria do seu inconsciente se manifestasse, e ela ouviu o que precisava e não o que queria! E, quase sempre, o que se precisa ouvir não corresponde exatamente ao que se quer ouvir! A necessidade de se dirigir objetivamente ao um oráculo parece bem clara para mim.
A dubiedade que algumas pessoas dizem haver nos oráculos, e imortalizada na obra MacBeth de William Shakespeare, mora na verdade é dentro de quem formula a pergunta e não de quem responde, desde que seja este alguém realmente talhado e experimentado nesse ofício. Somos intérpretes, lemos o que se apresenta, e exatamente por isso que devemos orientar as pessoas que nos procuram a como formular uma questão ao tarot. Muitas vezes só cabe mesmo uma avaliação mais panorâmica, tipo ver o plano geral de um setor da vida. Isso ajuda a se ter uma ideia abrangente de onde a pessoa veio e para onde se dirige em linhas gerais. Algo como saber a situação da vida econômica e ou financeira etc. Entretanto, ao se buscar orientações estratégicas ou de autoconhecimento para se lidar com as situações, é importante que se seja claro e, mais ainda, específico!
Testando o Tarot
Algumas pessoas têm por hábito testar as próprias habilidades interpretativas de ler tarot com um estranho teste. Costumam pedir para que amigos e pessoas de sua convivência formulem perguntas mentalmente, mas sem lhes dizer do que se trata, a partir disso pedem para se retirar algumas cartas, algo entre 1 e 3. Passam então a interpretar a simbologia dos arcanos em suas combinações, enquanto aquele que faz a consulta fica encaixando o que é dito com o que de fato acontece na sua vida, ou de como percebe o momento e os possíveis desenlaces. Algumas vezes isso funciona tão precisamente que assusta a todos, outras vezes ficam com a sensação de que chegou bem perto, o que também soa de modo espantoso!
Tiragem "Cruz Celta"
A Cruz Celta, um método bem flexível, que tanto serve para leitura geral,
quanto para responder questões específicas.
Ilustração do www.wellbodymindheartspirit.com/2014/01/02/tarot-reading-for-2014
Não vejo nenhuma vantagem nesse processo de deixar a questão oculta, ao contrario! Vejo muitas desvantagens. A primeira delas é que o leitor fica tateando no escuro, dissertando sobre os muitos possíveis significados da carta na posição em que caiu, sem exercitar aquele encaixe intuitivo do arcano com sua posição no jogo, e mais as próprias percepções intuitivas do tarólogo. Isso é a arte de ler tarot. Sem falar que a tentação de se deixar a tarologia de lado para se utilizar da “achologia” é bem grande! Logo se começa a querer encaixar coisas que se sabe sobre a pessoa em consulta, ainda que vagas, com o significado das cartas... Ou seja, um lado embusteiro da personalidade pode se manifestar, ainda que de modo inconsciente!
Outro aspecto que considero potencialmente perigoso é o de deixar que aquele que se consulta encaixe ao seu bel prazer e disposição as respostas obtidas. As pessoas possuem a tendência a direcionar informações subjetivas conforme suas próprias crenças. Essa prática pode facilitar em muito a projeção de fantasias escapistas, autoengrandecedoras, ou mesmo mórbidas nas respostas. O leitor, por não saber o que foi perguntado, deixa livre o campo da fantasia e das invencionices do ego para se manifestarem na consulta...
Jaime E. Cannes, professor e consultor de tarô desde 1988, 
é astrólogo, numerólogo, mestre e terapeuta Reiki.
www.jaimeecannes.com e www.tarotzenreiki.blogspot.com
Outros trabalhos seus no Clube do TarôAutores
Edição: CKR – 19/11/2017
  Baralho Cigano
  Tarô Egípcio
  Quatro pilares
  Orientação
  O Momento
  I Ching
Publicidade Google
 
Todos os direitos reservados © 2005-2020 por Constantino K. Riemma  -  São Paulo, Brasil