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21 de novembro de 2024

Responsável: Constantino K. Riemma


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Sexualidade e manifestações sexuais em imagens simbólicas
O Mago, A Sacerdotisa, A Imperatriz e O Imperador
  Ricardo Pereira  
 
    A sexualidade humana não se resume ao ato sexual em si. É antes de tudo um tema amplo, o qual interage, dentre vários, com aspectos antropológicos, históricos, sociais, psicobiológicos, religiosos e espirituais.
    Nesse contexto, tal assunto vem sendo investigado pelas mais diversas áreas do conhecimento humano sob muitos e diversificados enfoques, devido a sua complexidade, relatividade e diferentes formas de manifestações.
    
 
Marte desarmado por Vênus e as três Graças - tela de Jacques Louis David (1822-24)
Marte desarmado por Vênus e as três Graças
Pintura de Jacques Louis David (1822-24)
 
    
    Historicamente, ao sexo sempre foi atribuído significativa importância. Honras e glórias em determinadas circunstâncias lhes são direcionadas por algumas das grandes civilizações e sociedades humanas, nas quais sempre lhes foram vinculados sinônimos de poder, riqueza, felicidade, prazer, fertilidade, fecundidade. Em outros momentos, fora ou é objeto de condenação pelo simples fato de ele poder transitar, de acordo com os objetivos que se quer alcançar, por outras vertentes práticas, deslocando-se de seu princípio fisiológico: a reprodução.
    No âmbito do Tarô, vários são os símbolos que transmitem significados referentes à sexualidade humana e aos mais variados tipos de relações interpessoais, sendo inúmeras as possibilidades de combinações arcânicas cujas manifestações emitem significados sexuais referentes à sensualidade, lubricidade, volúpia, luxúria e aos prazeres ou deleites da prática do sexo, além das conseqüências resultantes do natural ato da cópula.
    Nesse contexto, o "O Mago", por exemplo, ostenta sobre a sua mesa diversos elementos simbólicos relacionados à sexualidade, dentre eles a taça ou o cálice ou a copa, objeto este que transporta, dentre outros líquidos, a água, símbolo feminino, o qual representa a maternidade, os fluxos, os fluidos, tudo o que é livre, flexível e fértil.
    Em sua mão, vê-se que ele carrega o bastão, símbolo masculino, ativo, fálico, que representa o vigor físico, e que, segundo Chevalier & Gheerbrant (2005,  p.125), denota "[...] a fertilidade e a regeneração [...]". É, ainda, este símbolo, vinculado ao mundo da magia em seu sentido amplo, inclusive ao da magia sexual.
    O maior "O Mago" traz, em si, o próprio desbloqueio nos quesitos expressão e prática sexual.
    Desse modo, dependendo de um contexto em uma dada consulta, poderá surgir, esse arcano maior, combinado a algum arcano apontando a possibilidade de experiências ou de envolvimentos com pessoas de orientações sexuais específicas. Destarte, combinado a um "Pajem de Copas" pode denotar vivências homossexuais ou bissexuais, independentemente de gêneros.
    Em outros casos, evidencia a possibilidade de relacionamento, entre uma pessoa cronológica e mentalmente madura, com alguém que ainda não saiu da adolescência.
    Com um "8 de Paus", possivelmente destaca a expressão de um dos problemas sexuais muito comum ao sexo masculino: a ejaculação precoce.
 
A Papisa no Tarot Visconti Sforza
A Sacerdotisa
Tarot Visconti-Sforza (séc. XV)
      Em outras perspectivas simbólicas bem diferentes das do "O Mago", "A Sacerdotisa" é um arcano que passa uma mensagem ou de puritanismo, aonde se sublima instintos eróticos ou de quem bloqueia certos desejos, não admitindo-se certos comportamentos ou liberdades sexuais.
    A aversão a simples prática da cópula ou ao sexo oposto são, também, identificados com a presença desse arcano maior.
    Pode, ainda destacar, certa fobia a determinadas orientações sexuais ou a determinados fetiches ou práticas "pouco comuns" no âmbito sexual.
    Os preconceitos e os tabus de diversas ordens, assim como a fuga de qualquer tipo de situação erótica também são alguns de seus atributos.
    O pudor, o qual é retratado por seus trajes cerimoniais é uma de suas manifestações ou significações simbólicas.
    Quando surge com o "5 de Paus" pode denotar alguma espécie de atentado violento ao pudor ou, em caso extremo, a tentativa de um estupro.
    Um casal qualquer que se encontra sob a influência desse maior acompanhado de um menor  "4 de Copas", por exemplo, poder vivenciar relações sexuais tediosas, insatisfatórias, sem prazer algum ou até mesmo uma significativa carência sexoafetiva, quando esse maior vem acompanhado do menor “5 de Ouros”.
    Todos os tipos de relacionamentos íntimos secretos, discretos e os desejos sexuais platônicos estão sob a égide desse maior "A Sacerdotisa".
    Em alguns tarôs, esse arcano maior pode representar a mãe geradora da vida. O Tarô Visconti-Sforza (séc. XV) é um dos vários exemplos, nos quais a figura do “A Sacerdotisa” surge iconograficamente grávida.
    O arcano maior de número três, "A Imperatriz", é a principal representante da heterossexualidade feminina no Tarô. É a mulher ou a esposa do pai: "O Imperador", o qual surge na estrutura desse baralho como a máxima representação da heterossexualidade masculina. Ele é o homem ou o esposo da mãe, a qual não só gera a vida, como, também, é aquela que cria e educa os seus filhos.
    Esse maior “A Imperatriz” representa também a beleza que atrai os diversos sexos. Ele é sinônimo de sensualidade, criatividade, prazer e satisfação sexual.
    Pelo simbolismo do número três e pela amplitude simbólica do Tarô, esse "A Imperatriz" pode ser, ainda, o resultado dos dois arcanos maiores precedentes, "O Mago (1)" e "A Sacerdotisa (2)", vindo a retratar o mito da existência de um terceiro gênero, oriundo, no entanto, da junção homem e mulher: o andrógino ou o "terceiro sexo".
    Em uma versão gnóstica junguiana ele seria, o andrógino alquímico, resultante da união de opostos: do Rei com a Rainha,  surgindo como uma espécie de nova condição psicológica e ontológica em busca da individuação, a qual se constitui em um experimento que ocorre no laboratório da psique de cada um, como enfatizam Hoeller (2002) e Cavalli (2005).
    Em "O Banquete", de Platão, observa-se a significativa expressividade e profundeza desse filósofo ao abordar a natureza humana a partir da descrição do poder do amor em suas mais diversas formas de expressão, elemento este, o amor, que, no pensamento platônico, fez surgir duas partes complementares, o homem e a mulher e, também, uma terceira parte, a qual seria a junção das outras duas: o andrógino.
    Desse modo, para Platão, segundo Singer (1992), miticamente três eram os sexos da humanidade e o andrógino encerraria especificamente as origens da heterossexualidade e da homossexualidade enquanto resultados da angustiada, tensa e ameaçadora necessidade que um ser humano tem da presença do outro ou de sua contraparte.
    Em outra perspectiva, quando esse “A Imperatriz” surge acompanhado do arcano da corte
 
Androginia - Gravura do Splendor Solis
Androginia
Ilustração do "Splendor Solis" (sec. XVI)
 
"Rainha de Paus" temos uma mulher caracteristicamente fogosa, desejosa de sexo, ativa sexualmente, dominadora na cama, a qual se permite tanto a receber, quanto a proporcionar às pessoas os muitos e diferentes prazeres oriundos da atividade sexual. Pode significar, essa combinação arcânica, a presença de ninfomania em alguns casos.
    Por outro lado, surgindo com uma "Rainha de Espadas" e com um menor  “9 de Paus”, evidencia-se a possibilidade da manifestação, em dadas circunstâncias, de certa frigidez ou de um bloqueio sexual em algumas mulheres. Nesse caso, a figura feminina reprime a libido como se estivesse lançando mão de uma espécie de defesa psíquica contra a incerteza do que o outro sente ou realmente quer, dela, do ponto de vista sexual e afetivo.
    Interessante observar que, quando surge com o arcano menor "7 de Espadas" pode denotar a presença de uma mulher frívola, volúvel, inconstante, escorregadia, com forte tendência à traição, a qual não se envolve afetivamente, fugindo de toda e qualquer proposta de compromisso ou relacionamento estável.
    A virilidade ou a capacidade do homem de realizar o ato sexual ou de procriar está muito bem representada no Tarô pelo arcano maior "O Imperador". Ele traz em sua mão direita o cetro, símbolo de seu poder físico, material e sexual.
    Há uma forte relação simbólica entre o cetro e o pênis, como em uma espécie de alusão sexista e hipervalorizada da força, do domínio, poder e a primazia do gênero masculino, sobre o sexo feminino.
    Quando surge com o "10 de Espadas" pode denotar, em alguns casos,  a perda do entusiasmo perante o sexo ou da libido ou , ainda, a recusa do sexo com a sua parceria ou a ausência de virilidade ou a impotência sexual.
    
 
O Mago (Erotico Tarot),
O Mago (Erotico Tarot), A Sacerdotisa (Decameron Tarot), A Imperatriz (Erotico Tarot)
e o Imperador (Classical Tarot)
 
    
    Os arcanos masculinos da corte, ou seja, os Reis e os Cavaleiros dos quatro naipes possuem alguns atributos do "O Imperador" no quesito sexual, tais como virilidade, sedução, conquista etc. Por exemplo, esse maior com um "Rei de Copas" pode indicar a presença ou o surgimento na vida de uma pessoa, de alguém com o perfil psicológico e comportamental desse maior e com as qualidades galanteadoras, cortejadoras, românticas e bem ao estilo "D. Juan" desse menor, o qual algumas mulheres admiram, adoram e sonham viver uma experiência amorosa. Este, no entanto, seria o tipo perfeito de homem para muitas mulheres.
    Dependendo do contexto, dos envolvidos na questão e da casa de um método de cunho afetivo qualquer, pode representar, essa combinação, até o possível envolvimento de uma pessoa (homem ou mulher) com uma mulher com as características desses dois arcanos masculinos.
    Diferentemente destes, os Pajens representam crianças ou adolescente dos sexos masculino ou feminino, podendo trazer indicativos, junto de um desses quatro arcanos maiores, também, de práticas sexuais homo e bissexuais.
    Interessante destacar, que em muitos tarôs clássicos, modernos e contemporâneos símbolos relacionados à androginia ou ao mito do andrógino emergem dos arcanos maiores “A Temperança”, “O Diabo” e “O Mundo” e, também, dos quatro pajens.
    Percebe-se, desta forma, que diversas podem ser as formas de manifestações sexuais expressas na simbologia intrínseca aos arcanos do Tarô, as quais podem suscitar diferentes olhares interpretativos, nesse âmbito da sexualidade humana.
    Desse modo, a busca pela coerência interpretativa simbólica, a responsabilidade e a ética deverão ser, em todo o processo taromântico que trata não só dos demais assuntos, mas, também, de temas diversos sobre a sexualidade humana, as pilastras que deverão sustentar o desempenho do tarólogo ou a forma como ele conduzirá positivamente cada caso no sentido de fazer o consulente percorrer com segurança e satisfação cada um de seus caminhos.
    Nos próximos artigos, darei continuidade a esta abordagem com um olhar sobre outros arcanos, trazendo exemplos práticos de contextos analisados, envolvendo esse tema tão intrigante.
 
Referências Bibliográficas
CAVALLI, Thom F. Psicologia alquímica: receitas antigas para viver num mundo novo. São Paulo: Cultrix, 2005.
CHEVALIER, J., GHEERBRANT, A. Dicionário de símbolos. Rio de Janeiro: José Olympio, 2005.
HOELLER, Stephan A.  A gnose de Jung e os sete sermões aos mortos. São Paulo: Cultrix: 2002.
SINGER, June. Androginia: rumo à nova teoria da sexualidade. São Paulo: Cultrix, 1992.   
 
agosto.09
Contato com o autor:
Ricardo Pereira: http://substractumtarot.blogspot.com
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Ricardo Pereira, Tarólogo e Historiador © Copyright 2009 - Todos os direitos reservados


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