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A cartomancia que se aprende em família |
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Apresentação |
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A cartomancia, desde sua evidência histórica a partir do final do século 18, na Europa, foi mantida e sustentada graças à transmissão direta de avós, tias e mães para seus netos, sobrinhos e filhas. O saber matriarcal de cuidados com a saúde, com os partos e com a educação, tinha ao seu lado a prática religiosa, as rezas, as bençãos e, em muitos casos, as habilidades mânticas, entre as quais a que utiliza o baralho. |
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O depoimento de Nádia Oliveira é um belo exemplo desse contexto social e cultural em que o núcleo da família ampla oferecia estímulos para os mais diferentes dons de seus membros. A cartomancia, portanto, era ensinada diretamente: não existiam escolas ou professores formais para isso. |
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Nádia relatou sua experiência, a convite de Rodrigo Araês, na Jornada com os Arcanos Menores promovida pelo Clube do Tarô, em 2010. Só nos resta agradecer aos dois. |
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Constantino K. Riemma |
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Meu aprendizado das cartas vem de família. Nasci em uma família de muitas mulheres e que tinha o hábito da cartomancia. Estamos falando de uma época em que a arte era ensinada de mãe para filha e os recursos como livros e cursos eram inexistentes ou pouco acessíveis. |
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Não recebi uma iniciação em rituais, como depois vim a conhecer. Eu aprendi de uma maneira muito simples a interpretação do baralho: as cartas eram lidas na cozinha; as crianças podiam ver, participar, perguntar e pegar nas cartas. |
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Consigo me lembrar que, com cerca de 11 anos de idade, já abria cartas. Com essa idade o que se busca saber de um baralho? Era para saber o resultado de uma prova ou pequenos namoricos de criança. Era uma iniciação muito natural na magia e no funcionamento da cartomancia. |
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As cartas faziam parte do nosso dia-a-dia. Nos finais de semana com a família reunida, olhávamos as cartas coletivamente, com todos participando. Até hoje, saber o que as cartas dizem sobre um assunto ou outro faz parte da nossa rotina e do nosso cotidiano. |
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Ao fazer uma pequena reflexão, percebo que |
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esse aprendizado, tão incorporado no meu crescimento, se deu de maneira espontâneo, sem críticas ou limitações intelectuais. Em minha família até nos dias de hoje, as cartas não são assunto de mistério, desde pequenos convivemos com tiragens, cartas e jogos. |
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Aos treze anos, comecei ler cartas para adultos e a ser mais procurada. Na minha cabeça não passava a cartomancia como profissão, depois fui fazer faculdade e junto com a faculdade comecei a estudar astrologia, tarot e cabala. Nesta época, comecei a buscar um conhecimento externo, nos livros e nos cursos. O que havia aprendido em casa era o baralho Petit Lenormand também chamado baralho cigano. |
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Honestamente, mais valorizava o conhecimento intelectual do que aquele que eu havia convivido minha vida inteira. Depois de formada e desenvolvendo uma carreira, resolvi me voltar mais seriamente aos meus estudos de Astrologia. Busquei um curso profissional e encontrei a Gaia, Escola de Astrologia do Robson Papaleo. |
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Lenormand, baralho cigano |
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Um detalhe que considero importante: os anos se passaram, mas o baralho cigano-Lenormand, continuou a ser meu fiel companheiro para as tiradas. Isso era uma espécie de segredo de família, dividido apenas entre familiares e amigos próximos. |
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Um dia, quando eu já professora da Gaia, conversando com o Robson Papaleo, fico sabendo que haveria uma feira mística e que a pessoa que seria responsável pela leitura do baralho cigano não poderia comparecer. O Robson me disse de sua preocupação para em tão curto tempo encontrar alguém que pudesse substituir o cartomante. Quando eu disse, que poderia, ele levou um susto: |
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– Você? Você lê baralho cigano? |
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Contei a ele, e participei desta feira mística abrindo o baralho cigano. |
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Graças a Deus, minha participação foi muito boa e recebi a oferta de montar um curso de Baralho Cigano. Inicialmente isso era um problema, como ensinar algo que nem sei como aprendi? Mas aceitei o desafio e procurei montar um curso nas mesmas bases do meu aprendizado: valorizando a intuição e a intimidade com as cartas. |
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Quando conheci Rodrigo Araês, ele me explicou um conceito interessante entre a escolha de uma via mística ou uma via esotérica. Me iniciei e trabalho com as cartas ciganas em uma via mística, onde a contribuição mais elaborada intelectualmente tem menor espaço e a entrega emocional é que dita as regras, deixando fluir os pensamentos sem que tenhamos total controle de nossa mediunidade ou de outros canais espirituais. |
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Nesta via mística vemos atuar benzedeiros, curadores e cartomantes. Que se entregam de corpo e alma e simplesmente se tornam canais condutores. |
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Acho, depois de tantos anos, que na arte da cartomancia o intelecto pode atrapalhar, através do excesso de crítica e racionalidade. Como a leitura intuitiva funciona é difícil as vezes entender e ter o controle, toda vez que eu paro para pensar, no meio de uma leitura, passo por grandes dificuldades, porque não flui muito bem. Lembro que certa vez, Rodrigo Araês me disse: - Se você estudar muito é capaz de perder o dom da cartomancia. Acredito que ele esteja certo. |
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Como cartomante não estabeleço, em princípio, nenhuma trava, creio que as cartas podem responder a quase tudo, das questões mais triviais até as mais existenciais e complexas. |
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abril.13 |
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