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O Bandido da Luz Vermelha |
Como eu vi a morte de uma pessoa nas cartas de baralho |
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Corria o ano de 1966. Eu tinha 10 anos de idade e morava em Vila Galvão, em Guarulhos - SP, com os meus pais. Fazia três anos que eu colocava cartas de baralho para entreter as visitas frequentes que vinham à casa de meus pais, juntamente com a minha mãe, hoje carinhosamente chamada de vovó Dora pelos netos e de Bivó Dora pelos bisnetos. |
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Meu pai, na época, era dono de uma próspera tecelagem e como patriarca da colônia húngara de São Paulo, recebia todos os finais de semana muitas visitas, para a alegria da minha mãe que sempre gostou de receber bem. |
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São Paulo, por volta de 1966: no alto, a Av. São João e o bonde camarão na Av. Celso Garcia.
Embaixo: um Fusca do ano, chapa para bicicleta, treinamento militar e o cartaz do filme "São Paulo SA" |
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Fotos disponíveis na Internet |
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Uma das visitas frequentes era a do Sr. Christian Jankó, húngaro, naturalizado brasileiro e residente no bairro de Pinheiros , na Zona Sul de São Paulo, juntamente com a sua esposa, Philis Jankó, de origem italiana. Ambos eram muito simpáticos. Sempre que visitavam os meus pais traziam para mim chocolates da marca Sönksen que eu adorava. Era considerado o melhor chocolate daquela época. Eu gostava da língua de gato e dos bombons sortidos. |
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Minha mãe me ensinou a agradecer o presente, abrir a caixa de bombons e oferecer primeiro para todas as visitas e pessoas da casa. Depois eu devia colocar a caixa de bombons sobre a mesa de centro e esperar mais uns 5 minutos. Só depois é que eu podia pegar um bombom, tão desejado. E mais tarde sim, passados uns 15 minutos eu podia tirar a caixa de bombons da mesa e comer todos os que ficaram. Era a parte mais deliciosa. |
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O Sr. Christian era um homem magro, muito inteligente que gostava de jogar xadrez com o meu pai. A Dona Philis era também muito magra e muito bonita. Ela conversava mais com a minha mãe e por bondade para com as crianças (eu) ela conversava comigo também. Naquela época não era permitido às crianças comer à mesa com os adultos. Nós crianças comíamos antes, na mesa para crianças, que era muito mais divertida do que comer com os adultos cheios de etiqueta. |
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Uma coisa que a Dona Philis gostava muito era quando a minha mãe colocava cartas para ela e para o Sr. Janko. Os assuntos eram variados e sempre muito divertidos. Ambos faziam questão que eu colocasse cartas para eles também. |
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Embora naquela época eu já colocasse cartas há três anos, minha mãe sempre me acompanhava nas tiragens, ensinando e orientando como eu deveria fazer a leitura e a interpretação das cartas do baralho comum que nós usávamos. |
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Pois aconteceu que eu fui fazer a leitura de cartas para o Sr. Janko e saiu a pior carta do jogo, o Ás de Espadas, de uma maneira muito estranha indicando a morte. Minha mãe olhou nos meus olhos e eu compreendi que nada devia dizer ao casal sobre esta carta, mas ela apareceu mais duas vezes nas tiragens seguintes. De novo nada falei. Entretanto, eu senti a morte próxima do Sr. Janko. Nada disse. "Deve ser bobagem minha, coisa de criança" — pensei. |
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Para a minha surpresa, na semana seguinte minha mãe recebeu um telefonema da Dona Philis, desconsolada, pois o Sr. Janko havia sido assassinado com um tiro pelo João, o Bandido da Luz Vermelha. |
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Ela contou que na noite anterior o Sr. Janko ouviu um barulho de um homem andando no telhado do vizinho e ele saiu para o jardim e gritou: — "Quem é?" Foi o suficiente para ele receber um tiro fulminante do coração.
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O Sr. Janko foi levado para o hospital, mas infelizmente ele já havia morrido ali mesmo, no jardim da sua casa. |
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No dia seguinte a vizinha deu queixa de roubo e estupro na polícia. |
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Durante mais um ano o Bandido da Luz Vermelha desafiou a polícia e a população. Certamente ele era um maníaco sexual e doente. Só foi preso em 1967, em Curitiba. |
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A Dona Philis precisou mudar de casa e teve que fazer tratamento psiquiátrico para superar o drama que sofreu. |
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Com esta experiência eu aprendi a imensa responsabilidade envolvida nas tiragens das cartas e na forma como nós, tarólogos e cartomantes, influenciamos o destino das pessoas. Tudo o que fizermos de bom ou de ruim será dado como contas ao Pai Celestial. É preciso ter isso sempre em mente. |
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Um ano após sua prisão, o bandido foi transformado em herói com o filme em preto e branco, sucesso na época: O Bandido da Luz Vermelha. |
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Contato com o autor:
Jorge Purgly atende com Tarot Egípcio, leitura de mãos,
Terapia Floral, em Indaial - SC : www.purgly.blogspot.com.br
Outros trabalhos seus no Clube do Tarô: Autores |
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