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Van Gogh traduzido pelas cartas do Tarô |
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À luz da Semiótica tive oportunidade de analisar pinturas de artistas diversos e épocas diferentes; expoentes do Renascimento, do Barroco, do Romantismo, do Realismo e do Impressionismo e Pós-Impressionismo. Devido a Semiótica considerar a pintura como um texto a ser decodificado através da leitura das imagens impressas, permite estabelecer correspondências com a interpretação das cartas de Tarô. |
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Para esta pequena análise, utilizei a Polissemia, que é a mudança da significação do signo (símbolo) pelo contexto. Ou seja, por meio de um mesmo símbolo, novas ou até mesmo opostas significações podem ser atribuídas, se necessário. E a Pintura Mimética, aquela que certos pintores trabalham como o que se chama de “construção do parecido” ou “pintura da realidade visual”. |
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Vicent Van Gogh; Quarto do Artista em Arles (1889)
Óleo sobre tela; 57,5 x 74 cm; Museu d’Orsay, Paris. |
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Entre tantas imagens inegavelmente sedutoras, optei por uma obra de Vicente Van Gogh, O Quarto do Artista em Arles, reprodução de um ambiente onde o pintor viveu em seu último ano de vida. |
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O Dois de Copas |
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É notório o contraste do sucesso póstumo com o fracasso e a rejeição que Van Gogh experimentou em vida. O artista pintou três versões do quadro O Quarto do Artista em Arles, que, para mim, remete de imediato ao Dois de Copas do Tarô, e, em uma segunda instância, identifico outros arcanos na mesma cena.
Pode-se observar que os objetos do quarto estão em pares: duas cadeiras, duas jarras, duas garrafas, dois travesseiros. Há também uma toalha, e por ser um objeto de uso íntimo, o pintor duplicou através da imagem refletida no espelho. Os retratos e as gravuras japonesas ao lado da cama também estão em pares. O quadro acima da cama não está visivelmente duplicado, porém evidencia a imagem de duas pessoas.
É fato que Van Gogh mostra-se nesta obra como uma pessoa carente e desejosa por encontros, é o que faz entender por meio deste emparelhamento: o seu anseio nunca realizado, a sua eterna necessidade de companhia e de amizade, a sua busca por carinho, afeição e amor; características do arcano Dois de Copas.
A primeira versão desta tela Van Gogh pintou quando estava à espera de um amigo, a segunda quando esperava seu irmão. Esta é a terceira versão que pintou para esperar sua mãe em 1889, enquanto se recuperava de um colapso nervoso num asilo para doentes mentais em Saint Rèmy. Portanto, não há como negar a temática “anseios por encontros e por afetos”, elementos visíveis no Dois de Copas. |
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Detalhes |
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Outros símbolos do Quarto do Artista em Arles são de grande relevância para co-relacionar a tela com os arcanos do Tarô. |
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Janela entreaberta: a janela abre para dentro, implicando acesso ao mundo exterior. O mais significativo é que dela não se vê nada, isso faz o quarto lembrar o ventre materno. Pode ser lido como seu desejo de estar na suposta segurança da companhia de sua mãe, no Tarô, a carta A Imperatriz representaria esta ocasião. |
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A cadeira da felicidade: na realidade, a cadeira do quarto do artista era feita de simples madeira branca. Ele pintou de amarelo por motivos simbólicos, já que o amarelo é a cor solar, do calor e da felicidade. Seu anseio por companhia, calor humano e dias melhores, pode ser encontrado no arcano O Sol. |
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A cor do chão: em seu quarto original o chão era de tijolo vermelho. Nesta tela aparece em um lilás cor de cogumelo, dando ao quarto um sentimento sombrio de isolamento, expressando o espírito do pintor. Podendo ser relacionado ao arcano O Eremita em seu aspecto mais denso. |
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A cama de camponês: é significativo que Van Gogh tenha escolhido uma cama rústica e não uma de metal como estava em uso na época; quis transmitir que ele não era uma pessoa sociável. Outra passagem do Eremita na obra.
Quanto à coberta, o artista tinha plena consciência do impacto emocional da cor, usando-a de forma arbitrária, pois o vermelho vivo eleva o clima do quarto. Nota-se o intuito de equilibrar, de misturar ou condensar suas emoções, aspectos encontrados no arcano A Temperança. |
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E, isentando a obra em questão, o arcano O Louco pode identificar o próprio estado do pintor neste momento de sua vida, que dez meses após pintar o quadro, suicidou-se. |
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setembro.08 |
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