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A verba para cartomante |
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Corria o ano de 1996 e eu havia assumido novas funções na área de vendas da Siemens Solar, uma unidade da Kraft Werk Union, que vendia placas de energia solar fotovoltaica no Brasil. O meu desafio era implantar uma eficiente e eficaz rede de distribuidores, revendedores e instaladores de sistemas de energia solar fotovoltaica em nível nacional. |
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Em São Paulo, eu tinha uma carteira de possíveis clientes para atender. Entrevistava, selecionava, motivava e dava treinamento e acompanhamento sistemáticos. |
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Um dos meus distribuidores, o Luiz Carlos, elaborou uma Cartilha de Energia Solar onde dava um minicurso por correspondência e sistematicamente surgiam dúvidas que eu ajudava a responder. Com o passar do tempo ele se tornou meu amigo. O escritório do Luiz Carlos ficava próximo ao aeroporto de Congonhas na Zona Sul de São Paulo, numa localização estratégica, e, para mim, estava bem no meio do caminho de outros clientes que eu também visitava na região. |
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Painéis fotovoltaicos - minha área de trabalho no final dos anos 90. |
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O tempo é o elemento mais valioso que existe para o vendedor. Muitas vezes, para passar meia hora com um cliente, era preciso viajar de avião, pegar táxi, hospedar-se em hotel etc. Tudo isso é despesa e trabalho, que leva à necessidade de que aquela meia hora de reunião seja plena de resultado. É a hora da verdade! |
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Todos os que agendam horário sabem como isto é complicado. Em geral, na segunda-feira não dá, porque todo mundo está em reunião para definir a semana e o mesmo ocorre na sexta-feira, pois a cabeça do cliente já está no final de semana que irá ter.
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Quem mora em São Paulo, sabe que, atualmente, a qualquer hora do dia o trânsito é uma verdadeira gelatina, isto é, não anda. Assim, convém agrupar os clientes em regiões, de modo que a visita seja mais proveitosa em relação ao tempo de deslocamento. |
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Muitos clientes se localizavam em Santo Amaro e região e invariavelmente quase toda terça-feira eu tinha janelas de tempo e poderia visitar o Luiz Carlos. Porém, raramente ele podia me receber neste dia da semana, pois sempre tinha compromissos ou reuniões. De modo que eu precisava ser muito criativo para aproveitar o meu tempo agendando muitas vezes visitas mais longe, indo e voltando para atender os meus compromissos. |
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O trânsito em São Paulo: uma verdadeira gelatina |
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Passado alguns anos, minha amizade com o Luiz Carlos já permitia falarmos sobre assuntos pessoais e então, um dia, eu perguntei a ele: |
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— Luiz, por que você nunca pode me receber na terça-feira? Este dia para mim é muito conveniente pois tenho janelas de tempo no meu horário de atendimento, onde eu passo em frente ao seu escritório e eu podia te atender com muito mais proveito. |
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— Jorge, vou te contar uma coisa, mas que fique entre nós: nas terças-feiras eu não trato de nenhum negócio da empresa. Neste dia eu vou a uma cartomante. Eu tenho uma “verba-cartomante”, mensal, e neste dia ela me atende, me orienta em meus negócios e também nas minhas questões sentimentais, e isto é sagrado para mim. Faço isso há muitos anos, com muitos bons resultados. |
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— Mas Luiz, como é que ela atende você? |
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— Ela atende pelo Tarot — disse ele —, mas também coloca cartas de baralho comum. Além disso, eu estou sempre em busca de novos tarólogos e isto toma a segunda parte do meu dia na terça. |
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— Ah, então é isso — disse eu aliviado—. Eu sou tarólogo desde a minha infância pois recebi o dom da minha família. Jamais comentei isso profissionalmente, pois onde já se viu um engenheiro cartomante? |
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— É o mesmo que acontece comigo. Agora você já sabe que nas terças-feiras não poderei te atender. |
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— Luiz, gostaria que você me desse uma oportunidade de testar o meu dom. Você tem aí algum baralho comum? |
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— Tenho sim — disse o Luiz Carlos, rindo e se dirigindo a uma grande mesa na sala —. Aqui está o baralho. Vamos ver o que você sabe fazer. |
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As cartas de jogar sempre à mão |
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Depois de mais ou menos uma hora de tiragem de cartas o Luiz Carlos estava simplesmente encantado. Ele me disse que há muitos anos ele se consultava com diversos tarólogos e videntes mas que nunca havia visto alguém com um dom tão simples e que fosse tão direto ao assunto. Ele inclusive me disse: |
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— Você está na profissão errada. Você devia ser tarólogo. O seu conhecimento e o seu dom vão muito além da grande maioria dos profissionais por aí. |
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— Está bem, respondi. Quando eu me aposentar vou me tornar tarólogo. |
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E de fato, isso aconteceu: me aposentei e, hoje, ser tarólogo e professor de inglês são o meu meio de vida. |
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Mas o Luiz Carlos fez muito mais por mim. Ele me deu de presente um livro do I Ching, que eu achei muito interessante, passou a me atender nas terças-feiras e com isso consegui economizar tempo e esforço na minha atividade. Além disso, depois de tratarmos dos assuntos do trabalho, eu dava um pouco de atenção a ele com o tarot, cartas comuns etc. Ele me ensinou sobre a Ponte para a Liberdade de Porto Alegre e até hoje tenho no Luiz Carlos um grande amigo. |
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Então, que conclusão podemos tirar disso tudo? Primeiro, que as aparências enganam. Muitos empresários usam o Tarô, Numerologia e Artes Divinatórias para planejar datas importantes, lançar produtos e encontrar os momentos mais favoráveis para fazer negócios. O Luiz Carlos sempre me disse: |
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— Jorge, a “verba-cartomante” é o melhor investimento que eu posso fazer na minha vida.
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E você, estimado leitor, também tem a sua “verba-cartomante”? |
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Contato com o autor:
Jorge Purgly atende com Tarot Egípcio, leitura de mãos,
Terapia Floral, em Indaial - SC : www.purgly.blogspot.com.br
Outros trabalhos seus no Clube do Tarô: Autores |
Edição: CKR – 09/02/2015
Revisão: Ivana Mihanovich |
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