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21 de novembro de 2024

Responsável: Constantino K. Riemma


The Walking Dead e o Tarot:
Uma Rainha de Copas no Mundo de Espadas
Harah Nahuz
 
 
"Tudo o que sou pela manhã é um homem procurando por sua
mulher e filho. Qualquer um que ficar no meu caminho, vai se ferrar.”
 
 
Walking Dead
Walking Dead é uma série de televisão pós-apocalíptica norte americana,
desenvolvida por Frank Darabont baseada na série de quadrinhos de
mesmo nome por Robert Kirkman, Tony Moore e Charlie Adlard.
Exibida no Brasil pelo Canal Fox e Rede Bandeirantes.
As imagens do texto vieram de http://www.thewalkingdead.com.br e do Tarô Rider-Waite
Um lugar frio. Onde a ausência de vida, tornou a terra árida, e a tensão se manifesta através de nuvens densas: como enxergar o Sol através delas? E, como, sequer pensar no dia que veremos o Sol novamente, se nem sabemos se estaremos vivos ao final deste dia?
Nove de Espadas no Tarô Rider-Waite
Nove de Espadas
 
Para entender o conceito do naipe de espadas, basta refletir à respeito de uma pergunta bem simples: em que situação você se visualizaria empunhando uma espada? Com certeza não seria num encontro amoroso, ou numa reunião de amigos, para a academia ou faculdade. Se você deu aquele sorrisinho de canto de boca e pensou: "ah, não sei não, Harah, eu bem que ando precisando sim levar uma espada pra tal lugar, porque tá punk!”. Hum... se você pensou isso, então é porque na verdade você não está vendo o ambiente, mas sim a "vibe" que aquela determinada situação te provoca, é muito comum que tenhamos nossas "guerras" e sintamos sob nossos pés um território minado, nos escondamos em trincheiras, tenhamos nossa vida ameaçada por alguém que salta das sombras e nos faz sentir o paradoxo dos paradoxos na própria pele: como algo forjado no fogo pode se tornar uma lâmina tão gelada?
Espadas: ataque e defesa. Mas sempre representa uma guerra maior, uma adversidade que para ser superada necessita que nos armemos. Cada um tem sua própria batalha e suas próprias armas. E claro que a seu ver, a sua batalha é a maior de todas. É tudo muito pessoal, o que é adversidade para mim, para você pode ser assimilado como encorajamento, o que me exaure, te fortalece e vice versa.
Entretanto, existem situações que são reconhecidas por seu poder avassalador, as temidas batalhas que ninguém gostaria de passar: “não desejo pro meu pior inimigo". E no tarot, que é todo calcado em arquétipos, as imagens usadas para ilustrar o naipe de espadas são simbolismos: são os grandes mitos, os personagens que todo mundo tem alguma referência, e vivências arquetípicas que falam de transformações que vem através da dor.
Essas mesmas vivências /referências /mitos estão presentes na arte de uma forma geral: você escuta uma canção, que conta a tua história; um filme que retrata algo que você viveu; lê um livro que te coloca em contato com memórias; aprecia um quadro e na imagem, de alguma forma se identifica. Ou seja: a nossa forma "contemporânea" de viver o mito, é através da arte.
E nesse ponto, The Walking Dead tem se mostrado pra mim uma verdadeira inspiração. A primeira (de muitas) analogias que me ocorrem é sobre o naipe de espadas, afinal para enfrentar o apocalipse zumbi, há de se armar. Mas, quem assiste, sabe: os zumbis são apenas pano de fundo, para uma trama maior, onde os personagens são riquíssimos e os conflitos deles também.
Aí que quero chegar: ninguém faz uma guerra sozinho. Uma guerra visa defender ou conquistar um reino e esse reino é composto por pessoas: a corte, os súditos. E é dessa forma também no tarot, cada naipe tem seu rei, sua rainha, seu cavaleiro e pajem.
Então, numa relação com os personagens de The Walking Dead, quem seria quem? Vamos lá:
Rei de Espadas - Rick Grimes
O que significa ser o Rei? O Rei é quem detém o poder total e absoluto. Não se elege um rei, o rei assim nasce, a realeza vem de berço. O caráter nobre, a liderança, o senso de direcionamento e estratégia, o senso de justiça, a diplomacia e a paciência, são dons natos em Rick Grimes. Sua forma de agir e conduzir as situações mais adversas foi pouco a pouco fazendo com que as outras pessoas se deixassem direcionar por ele. E para ele, aquilo era natural, não teria feito diferente, pois estava fazendo o que sabia fazer.
Rei de Espadas e Rick Grimes
O Rei de Espadas e Rick Grimes
Se você olhar e comparar as duas figuras, vai notar como são impressionantes as semelhanças: o Rick assim como o Rei de Espadas, tem sim uma espécie de "coroa”, que claro é o chapéu de xerife, mas que atribui a ele um status diferenciado, diz ao que veio. Os dois seguram armas e não as escondem, embora não as aponte para ninguém. Apesar do Rei de Espadas estar sentado, dá a impressão de vigilância total, como se ele estivesse pronto para a qualquer momento levantar, caso fosse preciso e assim como Rick, ir pessoalmente tratar de alguma luta. Embora o Rick esteja em movimento, e o rosto dele mostre uma expressão forte, essa expressão não é de desespero, perceba como ele está absolutamente autocentrado.
E essa é a característica que realmente faz um Rei de Espadas: ele não se abala, ou pelo menos não demonstra isso, mesmo porque o "se abalar" seria uma resposta emocional, e esse rei não é emoção, ele é razão. Mais que a razão: ele é a inteligência no seu grau mais elevado e a habilidade de desenvolver essa inteligência a fim de superar todos e quaisquer obstáculos.
Um Rei de Espadas negocia. E negocia pacientemente. Como Rick, que conseguiu através de sua nobre inteligência, diversas façanhas: conseguiu manter a "amizade” com Shane; conseguiu convencer o dono da fazenda a não expulsá-los; mesmo sendo praticamente responsável do que aconteceu com Merle, isso não maculou a amizade com Daryl e a lealdade que este lhe devotava; no laboratório do CDC, foi para ele que o cientista contou o grande segredo... Ou seja, um rei à que todos de uma maneira ou de outra, acabam se reportando e respeitando, e mesmo quando as coisas não saem tão bem, como no caso do desaparecimento da pequena Sophia, ao final, todos entendem: que ele fez o que deveria ter feito e ninguém faria melhor.
Entretanto, ser um Rei de Espadas, é ser o rei de um território devastado para defender o "seu povo" e "sua terra", na maioria das vezes, não são "armas brancas" as usadas.
Rick em muitas, muitas vezes tomou atitudes que só se faziam politicamente corretas perante a necessidade de sobreviver, mas que no "mundo real" seriam vistas como malandragem, desonestidade, orgulho, ambição, traição, e na maioria das vezes, sequer se expunha para fazer isso: manipulava o tempo todo.
Rick impõe sua vontade
"Isso não é mais uma democracia", diz Rick.
 
Como um verdadeiro Rei, Rick dava ordens explícitas e implícitas e, dessa forma, orquestrava magistralmente cada instrumento em forma de pessoa ali. É isso o que um Rei faz: ele treina e condiciona os exércitos e as estratégias. Só vai pro campo de batalha quando realmente é inevitável e, aí, ele não foge não.
Mas por outro lado, o quanto ele pode colocar os soldados para fazer o trabalho difícil, ele coloca.
E foi o que ele fez com Shane. Curiosamente, depois da morte de Shane, quando eles fogem da fazenda, e que há um desacordo entre as pessoas, ele diz que para ficar ali, tem que ser do jeito dele, que quem não se adaptar ou concordar deve ir embora.
Só que se você analisar bem, nunca foi uma democracia. Havia um reinado e ele no topo. Após a saga desde que acorda sozinho no hospital, até chegar a Atalanta, reencontrar a esposa e filho que mais tarde veria entre a vida e a morte, descobrir a infidelidade, se ver "obrigado” a matar o amigo, e tudo isso entre um e outro ataque zumbi. Fez tudo isso com a elegante inteligência real.
Tantas lutas, que a espada foi deformando, literalmente: a essa altura, o Rick já não usa mais o chapéu. Um rei, sem coroa. É no momento em que sai de sua habitual serenidade, que adota outra uma postura colérica abre mão de sua realeza. Cai o Rei de Espadas.
Cavaleiro de Espadas - Shane Walsh
A imagem que me vêm à mente, quando penso nesse termo "cavaleiro de espadas”, é aquele clichê que tantas vezes se repetem nos filmes épicos. Surgem de repente, as patas do cavalo trotando insanamente sob um chão coberto de sangue e levantando uma nuvem de poeira. Vai simplesmente desferindo golpes por onde passa, sem pensar, apenas ataca, desferindo sua espada, exposto para também ser golpeado. É a sua vida: matar ou morrer.
Cena de filme épico
Uma cena de luta de cavaleiros num filme épico
Um cavaleiro é alguém que vem de uma linhagem nobre. Mas não é um herdeiro real, embora possa de alguma forma ser aparentado mesmo que de longe. Teve um berço suficientemente próspero para ser educado, refinado, e treinado para tal lida, tanto no treinamento militar como no lapidar religioso; o que fazia dele um homem confiável e precioso ao rei. Deve-se ressaltar: o máximo que aquele homem poderia almejar (e já era muito) era o posto de cavaleiro do rei.
O Cavaleiro de Espadas e Shane
O Cavaleiro de Espadas e Shane
Assim como o Shane que nasceu num ambiente comum ao Rick, tanto que são amigos desde o colégio e cursaram a mesma faculdade. Já adultos compartilham da mesma profissão, embora Rick já seja graduado um sub-xerife, enquanto Shane é apenas um policial: da mesma forma que o cavaleiro Shane vive à sombra do Rei, esperando os seus comandos e a eles tendo que obedecer.
Imagine que esse Rei morreu. Qual seria a esperada atitude de um cavaleiro que jurou lealdade vitalícia ao rei (leia-se reino)? Sim, o papel do verdadeiro cavaleiro aí, é de proteger todo o legado que seu senhor havia deixado. E foi isso que Shane fez. Colocou Lori e Carl, na garupa de seu cavalo e saiu em disparada para buscar um local seguro. Afinal, o pequeno Carl para ele, simbolizava a continuidade de seu rei.
Entretanto, naquele mundo caótico todas as leis anteriores pareciam ser inviáveis. Fez mais sentido à Shane se apossar do trono. Se permitir desfrutar de uma herança que somente ele poderia cuidar. A lealdade vem como disfarce para usurpar: ele age como um cavaleiro medieval que adentra um povoado e dali extrai o que pode para levar consigo. Essa é a tônica do Cavaleiro de Espada: ele saqueia, toma para si, arrebata sem dar explicações, sem fazer promessas, sem se doar: ele toma. Não é do tipo que aguarda o momento certo, o clima ou a aprovação. Ele faz acontecer. Matar ou morrer.
Para entender essa natureza de cavaleiro, devemos nos apegar ao sentido literal dessa palavra: cavaleiro, o homem que monta a cavalo, que cavalga ou sabe cavalgar. Veja, para uma pessoa ter a desenvoltura de se locomover a cavalo, em primeiro lugar deve ter a sintonia, a natureza uníssona com o animal: o animal é a extensão do corpo e da energia daquele que o comanda E o cavalo em questão, não é um animal de desfile ou passeio. É um animal talhado pra guerra. Isso mostra a natureza absolutamente selvagem, arrebatadoramente feroz de Shane.
E é o que demonstra que realmente ele amava o amigo e era leal, pois alguém tão insubordinado e imprevisível, só viveria à sombra de alguém que amasse e admirasse muito. E admirava tanto que tomou a vida dele para si, primeiro para proteger, mas depois sua natureza de macho alfa o fez realmente se deliciar com o que possuía. Daí o conflito com a volta do amigo. Mas Shane não se tornou um Rei. Ele era apenas um cavaleiro de espadas que ocupava temporariamente o trono. Tanto, que ele era sempre assim, como na imagem: exaltado, agressivo, arma em punho, apontando para quem entrasse na frente
Dale: Eu sei bem o tipo de homem que você é...
Shane: Acha que eu atiraria no Rick?... Ele é meu melhor amigo, é o parceiro que eu amo, amo que se fosse meu irmão. Tá dizendo que eu sou esse tipo de homem?
Dale: Isso mesmo.
Shane: Então é melhor você pensar melhor sobre isso. Se acha que eu sou o tipo que aponta uma arma pro melhor amigo. O que acha que eu faria se um cara de quem eu nem gosto começasse a me acusar desse tipo de coisa, oque que você acha, hein?
 
Dale aponta arma para Shane
Dale e Shane
Dale encosta o cano da espingarda praticamente no coração de Shane. E mesmo assim, Shane é quem ganha esse duelo, pois, não é só de espadas que esse cavaleiro se arma, não! As palavras são o seu instrumento mais letal, que usa com maestria e arrebata o adversário com suas verdades cortantes e dolorosas que atravessam egos, esperanças e aparências.
"Já chega, de arriscar nossas vidas por uma garota que já era. Já chega, de viver perto de um celeiro cheio de coisas que tão tentando matar a gente. Rick, não é mais como era antes. Agora se vocês querem viver, se querem sobreviver, tem que lutar. É por isso e eu estou falando de lutar aqui, agora, entenderam?" Era isso o que todos queriam dizer. Mas quem disse? Shane, que como um bom Cavaleiro de Espadas, simplesmente estourou a porta do celeiro e fez o que tinha de ser feito.
Pajem de Espadas - Carl Grimes
Se no Rei temos os atributos do elemento ar em seu nível mais elevado e personificado na maturidade – inteligência, autoridade e nobreza incontestável – no Pajem temos esses mesmos atributos em estágio inicial, numa espécie de infância.
Pajem de Espadas e Carl Grimes
O Pajem de Espadas e Carl Grimes
Carl Grimes tem sete anos. Espiritualmente, esse é o momento em que o Ser deixa de vibrar na aura materna e inicia uma simbiose com a energia do pai. Na mitologia é um tema recorrente o herói em busca do pai por conta de algum afastamento traumático que ocorre e que só acentua a ligação, fazendo girar a vida desse mito em torno da imagem que assimilou, caminhando para um reencontro, e às vezes isso significa um lapidar das (in) qualidades herdadas, para se tornar a personificação do Pai - Ídolo.
Carl acredita ter perdido o pai. Aproxima-se cada vez mais de Shane e embora se sinta feliz ao descobrir que o pai verdadeiro está ali à sua frente, isso não o desvincula do elo que criou com Shane. A influência desse convívio é tão forte que em alguns momentos, outros personagens o chamam de "Shaninho" pelas costas.
Uma criança, nessa fase idolatra as figuras masculinas que ama e quer ser igual, literalmente "grudando” nelas. Porém, uma coisa é um menino de sete anos observar o pai consertando uma torneira ou passando um dia com ele no escritório. Outra é acompanhar lutas sangrentas contra zumbis. E lá ia Carl se embrenhar na mata sozinho, espiar o que havia no celeiro da fazenda, insistir em acompanhar os adultos nas caçadas, pedindo à Shane que o ensinasse a atirar e isso em meio a surtos de malcriação.
O menino Carl Grimes
O menino Carl Grimes
 
Ao pajem, é atribuída a função de "pajear": escovar o cavalo, cuidar das armas, providenciar o que lhe fosse pedido, levar um recado. As atribuições típicas que damos às crianças. Entretanto, na cabeça de uma criança, isso lhe confere certa aura de poder e responsabilidade, e natural que sua mente seja estimulada, sua curiosidade latente desperte ainda mais. Não raro, todo esse processo é manifestado com um ar de arrogância, falta de limites e desobediência.
Isso se acentua quando temos potencializada a atividade mental, o raciocino aguçado que se desenvolve somado ao incomparável vigor e energia características da primeira infância.
Carl é um Pajem de Espadas, mas isso é pertinente à fase que ele vive, é o que se pode esperar de uma criança mesmo. Entretanto, aquele não é um mundo para crianças, não mais.
E a lição que fica, é: em naipe de Espadas, junto com A Torre e A Morte. Um Pajem de Espadas não sobrevive, ou sai do jogo, ou se transforma. É essa transformação que vemos em Carl. O menino de muitas palavras, birras e manhas, que tem o olhar distraído e divaga desprotegido a descobrir o mundo se torna em essência um homem calado, nos quais os olhos manifestam a dor que não é, nem nunca será superada.
Rainha de Copas - Lori Grimes
E, em meio a tanta aridez encontramos um manancial de água. Lori Grimes não é uma Rainha de Espadas, não pertence ao mesmo naipe do marido. Ela é uma Rainha de Copas.
Raingha de Copas e Lori Grimes
A Rainha de Copas e Lori Grimes
A comparação entre o Arcano ilustrado e a foto de divulgação fala por si mesma através da gritante semelhança: ambas estão posicionadas para o lado esquerdo e tem o ar contemplativo, "para dentro" quase que "ensimesmadas". Da mesma forma que a Rainha de Copas parece velar a ânfora, a Lori vela uma aliança: dois símbolos fortíssimos de amor e espiritualidade.
Uma lição básica de sobrevivência em caso de se perder num território desconhecido é procurar pela água. Qualquer sinal de água, mesmo que seja o murmurar de um rio ao longe, é sinal de vida: o homem constrói o mundo ao redor das águas, seguir a margem de um rio, tende levar a um local seguro. É isso que Lori representa: o lar, o amor, a família, a mãe. Proteção, segurança, estabilidade.
Para dois homens absolutamente sedentos, Lori vinha como uma fonte de renovação. Mas é justamente o atributo que fascina e seduz que acabou conduzindo um triângulo amoroso de desfecho a lá Três de Espadas.
Três de Espadas e Shane, Rick e Lori
A carta Três de Espadas e os personagens Shane, Rick e Lori
Lori é Rainha de Copas, Rainha da Água, e a água não tem formato definido. Tal qual a Rainha de Copas da ilustração, formata suas águas as colocando em uma ânfora, a Lori se torna uma enchente transbordando quando acredita que o marido está morto: ela já não tem mais quem lhe abrigava e lhe dava forma.
E é nesse momento que Shane a arrebata para si e ela, se permite porque é de sua natureza. Uma Rainha de Copas não consegue ficar sozinha, ela precisa ter essa direção, precisa ter essa "formatação", mesmo que sua relação seja a nível platônico.
Ela se relaciona antes consigo e com o próprio amor, ela mergulha literalmente e ao mergulhar, perde o contato com a terra, com o real; os valores se tornam relativos e justificáveis diante de um azul que distorce a visão: no mundo dos sentimentos "pode tudo", vale tudo! Tanto iniciar um romance com o melhor amigo do esposo recém-falecido. Ah, mas o marido não morreu? Então dá continuidade ao casamento como se nada tivesse ocorrido.Uma Rainha de Espadas não agiria assim. Nem a de Paus ou a de Ouros.
Esse contexto dúbio é próprio das águas e todos sabem que as mesmas águas que são vitais podem se mostrar extremamente traiçoeiras. Se o Rei tem o comando total, a Rainha está ao seu lado, e é o sutil "poder detrás do trono". E é essa influência que vemos no momento em que ela decide resolver o triângulo amoroso, insuflando Rick a dar cabo do Shane.
Mais uma vez, coloco: não é traição. A Lori não age assim motivada por inteligência, ambição ou senso de moral. Ela age assim por sentimentos e visando preservar sua estrutura familiar. A essência de Rainha de Copas nela é tão latente que isso se manifesta na maneira dela conduzir seu dia a dia em meio a um apocalipse zumbi: Lori continua com os mesmos hábitos de uma dona de casa, cuidando do marido e filho, tentando reproduzir no acampamento a sua rotina anterior.
Enquanto as outras rezam, aprendem a pegar em armas, ou se ocupam conscientemente a fim de colaborar ou se ocupar, lá está Lori, como quem dá ordens pra empregada, enquanto aconselha, bate papo com as amigas, busca o filho na escola e espera o marido voltar do trabalho.
Um psicólogo poderia chamar de negação, e podemos atribuir esse comportamento ao seu apego ao seu mundo "aquático".Água é vida, nós viemos da água tanto biblicamente falando, como na teoria evolucionista, quanto no nosso nascimento quando emergimos do líquido amniótico. Por esse motivo, que uma Rainha de Copas é essencialmente ligada também à maternidade. Na série Lori engravida e opta por gerar essa vida, mesmo sem saber ao que e como daria à luz.
Seu destino, ou melhor, a direção que ela dava à própria vida estava muito clara. E ela saberia disso, se tivesse, por um momento, olhado para fora e para frente.
Lori face à morte
Momentos finais de Lori
Naquele momento de trevas não foi permitido a ela, simplesmente dar à luz. Ela teve o ventre dilacerado pela afiada lâmina de uma faca (sempre espadas!) e a filha arrancada de dentro de si, restando apenas agonizar e se esvair em sangue.
Sangue. Lágrimas. Água. Vida. Amor.
Suas últimas palavras foram de amor aos filhos. Seu último desejo era que a família ainda se mantivesse, mesmo sem ela.
"Carl, se parecer errado, não faça!"
Foi um de seus últimos conselhos ao filho.
A pergunta que fica é: ela falava de si mesma, num sentido de quem nos instantes finais avalia a própria vida sob um prisma de arrependimento; ou realmente ela acreditava que tudo o que fizera, parecia o certo?
Certo ou errado não importa. Rei, Pajem, Cavaleiro. Todos compartilhavam um único anseio: voltar para a casa. Seguiram à margem das águas insinuadas por Lori, sem se darem conta de que ela precisava ser conduzida para terra firme antes que se afogasse de tanto amor.
março.13
Contato com o autor:
Harah Nahuz (Carla Daniela Balenzuella Nunes) é taróloga,
psicoterapeuta holística, professora de dança do ventre:
www.diariodacartomante.blogspot.com.br
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