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O clima e o Estado |
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Rui Sá Silva Barros |
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Sagitário é um signo de reflexão sobre os princípios, e das relações com os estrangeiros. A conferência de Copenhague transcorreu com o Sol transitando o signo. A ONU continua a claudicar sobre um princípio elementar: é sensato esperar consenso de 192 países totalmente díspares em população, renda per capita, regimes políticos, grau de utilização de combustíveis fósseis? Claro que não, mas desde 1992 o processo se arrasta nestes termos. E não adianta demonizar EUA, China e Índia; estes países dependem extensamente destes combustíveis, e uma transição rápida está descartada. Não está na agenda de nenhum governo um suicídio econômico. Além disso, os países doadores relutam em ceder dinheiro que, às vezes, vai parar em alguma conta pessoal na Suíça. A CLIMATOLOGIA É UMA CIÊNCIA RECENTE: seu banco de dados é incompleto, suas hipóteses são toscas, e suas predições são voos cegos. Este lembrete trivial veio por conta do novo debate sobre as causas do aquecimento, se de origem humana ou não. Não há dúvida que na Europa, antes da industrialização, a temperatura oscilou muito, para cima e para baixo. As causas do recente aquecimento só podem ser esclarecidas com mais pesquisa. No entanto, a questão é secundária diante de três processos em curso: - A desordem climática atual - Se de origem humana ou não, pouco importa, o estrago é enorme: secas, inundações, furacões e tornados anualmente provocam mortes, desabrigados, perdas econômicas extensas. Um fundo de ajuda mundial é necessário para socorro e reconstrução, pois alguns países não têm recursos suficientes: as ilhas do Pacífico, Vietnam, Bangladesh, Indonésia, o leste da África, as ilhas caribenhas, países da América Central, Peru e Equador, são os mais carentes. O processo está num ponto que as seguradoras já não aceitam mais contratos para algumas regiões.
São Paulo sofreu enchentes diárias durante o mês de janeiro de 2010 - A poluiçao ambiental - Os gases-estufa fazem parte do processo orgânico, não são tóxicos, mas a produção, circulação e consumo de mercadorias deixam um lixo formidável. Americanos e europeus despejam lixo eletrônico na África por uns trocados. Celulares, computadores e demais aparelhos eletroeletrônicos contêm plástico e metais pesados tóxicos. Aqui, medidas pedagógicas e jurídicas são necessárias, além das econômicas: é preciso parar de produzir material descartável com urgência. Isto implica em reformular todo o parque industrial, o que provocará forte resistência.
- Fim dos combustíveis fósseis - Geólogos sérios debatem quando. O petróleo é o primeiro, e a discussão é se o pico da produção já chegou ou está para chegar em breve. Não se ouve nem se lê uma linha sobre o assunto - impopular e explosivo - na grande imprensa. Economistas vivem no mundo da lua, mas os políticos sabem: como não há qualquer alternativa atualmente, calam-se não querendo esquentar os ânimos da plebe. É preciso começar a construir uma nova matriz energética já, o que não vai ser fácil. Para dar uma idéia do tamanho da encrenca, se o Brasil virasse um imenso canavial, conseguiria prover 2% do consumo atual de energia mundial. Para quem se interessa pelo assunto recomendo o site da ASPO, sigla inglesa de uma associação de geólogos que estudam o pico do óleo.
O governo brasileiro tomou uma posição sensata e vai cortar emissões, principalmente contendo o desmatamento amazônico e no cerrado. Não é um grande sacrifício, pois o país conta com uma matriz energética privilegiada e diversificada, um descuido nesta questão atingirá, antes de tudo, o próprio país: secas na Amazônia, desertificação do semi-árido nordestino e enxurradas no Sul e Sudeste. É melhor passar sem isso. O chato é que o governo despachou, para chefiar a delegação, sua própria candidata que não conhece o tema e trombou com os climatólogos brasileiros, em público. Já o candidato da oposição foi lá contracenar com o "Exterminador do futuro". O Brasil não merece!Surpresa mesmo foi a desorganização do governo dinamarquês, sua representante provocou dois tumultos tirando coelhos da cartola (duas propostas sem discussão), e a polícia tratou os manifestantes como terroristas. Já tratei em crônicas anteriores de um dos grandes temas atuais: a globalização está acompanhada de um surto de nacionalismo ferrenho. Na Rodada de Doha, no combate à fome e em outros assuntos importantes, a questão esteve presente. Não seria diferente em Copenhague. Para comemorar o desfecho do Cop-15, pouco depois, o Sol penetrou Capricórnio e ativou a quadratura Saturno-Plutão, uma nevasca incrível caiu dos dois lados do Atlântico Norte. E por aqui uma chuvarada monumental. PS - Sagitário é signo de humor, e no período sobrou humor negro. O presidente da Goldman Sachs afirmou que os banqueiros fazem o papel de Deus. O IIF (clube internacional dos bancos) soltou um relatório de 200 páginas mostrando como os bancos colaboraram para acabar com a crise em 2009; e Obama disse, ao receber o prêmio Nobel da Paz, que os EUA se sacrificaram nos últimos 60 anos para manter a segurança mundial. Qualquer comentário seria supérfluo.
O GOVERNO E A MÁQUINA DO ESTADO Capricórnio é o signo do poder executivo, e aproveitando o primeiro ano de Obama, algumas reflexões são oportunas.
Gore Vidal escreveu que os EUA deixaram de ser uma República em 1947 (início da Guerra Fria e da CIA), passando a ser um Estado de Segurança Nacional. De fato, de lá para cá as Forças Armadas e uma dezena de serviços de informação bisbilhotam a vida dos cidadãos, derrubam governos no exterior, financiam ditaduras camaradas, sem que Congresso ou imprensa metam o bedelho. Desenvolveram cabulosos projetos de pesquisas secretos, que alimentam paranoias mil, e ultimamente criaram departamentos sobre desastres climáticos e motins civis. O desembarque cinematográfico de dez mil militares no Haiti já é o resultado das novas doutrinas. Naturalmente agem em simbiose com a indústria bélica, de telecomunicações e multinacionais de minérios e petróleo. A doutrina simplória é: o mundo vai para o buraco, mas os EUA sobreviverão, ou serão os últimos a sucumbir. Os governos passam, mas as burocracias ficam!
Obama prometeu fechar Guantanamo, reduzir contingentes americanos no exterior, racionalizar os serviços de informação. Promessas de campanha. Um ano depois, Guantánamo continua aberta, o orçamento militar passou de um trilhão, os contingentes e bases no exterior cresceram, e apesar de ineficazes, os serviços de informação proliferam e fazem o que querem, provavelmente com escutas no Salão Oval da Casa Branca. Obama teve que manter o secretário de Defesa de Bush, Robert Gates, para não atrapalhar o andamento das coisas. As Forças Armadas e os serviços de informação são vitais para proteger o dólar, e dar acesso a matérias- primas no exterior.
Na Economia o mesmo panorama, Geithner, Summers e Bernanke são gente de Wall Street. A farra foi imensa em 2009, com o público revoltado, pois foram dados alguns trocados aos desempregados e desalojados. No fim do ano, com o anúncio de lucros, bônus milionários, e altas no mercado acionário; Obama chamou os banqueiros para um pito público na Casa Branca, cobrando crédito para as pequenas empresas e famílias. Em janeiro, o Congresso começou a ouvir os banqueiros que se comportaram com incrível desfaçatez. E como os ventos da ira popular chegaram lá, os senadores criaram empecilhos para um segundo mandato de Bernanke na presidência do FED, e depois recuaram. Geithner foi convidado a se demitir diante de evidências de favorecimento por ocasião do resgate da AIG.
O Presidente Obama, dos Estados Unidos A reação popular se fez ouvir na eleição para a cadeira do Senador Ted Kennedy pelo estado de Massachusetts, tradicionalmente democrático. A população elegeu um republicano desconhecido, pondo em perigo a maioria democrata no Senado. Parte do Congresso será renovada no final de 2010, e diante de perspectivas escabrosas Obama resolveu agir: quer taxar os lucros bancários para cobrir os empréstimos feitos, e sinalizou uma separação dos bancos comerciais e de investimentos. A Bolsa acusou o golpe e anda caindo, o lobby bancário está em frenética atividade no Congresso, o sistema financeiro faz grandes doações aos candidatos. As medidas foram taxadas de populistas pela mídia, que também depende do sistema financeiro para receitas de publicidade. Há razões para pensar em teatro político, acenos para a plebe amargurada. Mas não, agora Plutão está em oposição a Júpiter (o sistema financeiro) da carta natal americana. Ceder neste tema é abdicar do governo, passar três anos contendo revoltas e cuidando da insegurança do mundo. Atualmente os governantes têm uma pequena margem de manobra, e por esta razão entregam-se freneticamente às relações públicas e exposições midiáticas coreografadas.
O problema não é a personalidade do presidente, é se ele terá tempo e habilidade para mobilizar apoio popular contras as forças sociais de inércia, poderosas nos EUA; muito mais poderosas agora do que na época de Roosevelt. Os americanos ainda não acordaram para o fato de que vivem da riqueza acumulada no passado, convertida hoje em capital financeiro, a indústria foi liquidada ou externalizada, a agropecuária vive de grossos subsídios, a balança comercial é cronicamente deficitária, a dívida pública dispara. Mas a indústria cultural prospera e garante que os americanos não despertem do sono tranquilo. Pelas declarações anteriores Obama sabe que este caminho é inviável e levará a um declínio inevitável. Depois de todas as privatizações sobrou ao governo cuidar do resto da educação e saúde públicas. Nem dinheiro para uma decrépita infraestrutura sobrou.
Este esboço da estrutura do Estado atual não pode ser estendido sem mais para outros países: na Europa Ocidental o custo das Forças Armadas e dos serviços de informação, é bem menor, mas o sistema de vigilância interna é o mesmo, bem como o fato do aparato econômico do Estado estar nas mãos de banqueiros ou de seus companheiros de viagem. A democracia foi passear em Plutão, pois o que temos de fato é uma plutocracia que não se abala com eventuais trocas nas guardas palacianas.
CARIBE - Um lugar infeliz, encontro de placas tectônicas e de produção de furacões e tempestades tropicais, agora anuais. Isto sem contar os resíduos psíquicos: vasto cemitério de ameríndios, escravidão negra, cassinos e bordéis, paraísos fiscais, fartura de drogas e vodu.
O terremoto foi um remate dos males no Haiti, destruição impressionante e barbárie nos primeiros dias de socorro. Já vimos este filme na África desde 30 anos atrás, mas como era indigesto jantar assistindo crianças morrendo de inanição, tiraram as cenas do ar e as doações também.
O diretor-gerente do FMI mencionou a necessidade de um plano Marshall para a recuperação do Haiti, mas receio que seja apenas mais uma declaração de boa-vontade diante de uma tragédia. Depois de olhar o mapa de recursos minerais do país minha dúvida cresceu ainda mais: ouro, prata, cobre, diamantes, bauxita e petróleo no cardápio.
O Haiti já é rota da cocaína colombiana e de plantação de maconha, talvez acabe seguindo o exemplo do Afeganistão, onde a heroína move a economia.
Pat Richardson, um popular líder evangélico televisivo, nos EUA, declarou que o terremoto foi obra de Deus em retaliação à revolta negra contra os franceses, duzentos anos atrás. Eis aí um exemplo do uso do santo Nome em vão, mas decerto os brancos nunca perdoaram a valentia dos escravos e fizeram um cerco econômico enorme à nova nação independente, o que está na raiz da atual miséria.
Na hora do terremoto a Lua estava em quadratura com Urano, e Saturno quadrado a Plutão estava no IV setor da carta astrológica, local das fundações.
Enquanto escrevo estas linhas começaram os dois fóruns. Em Davos, críticas exasperadas contra o populismo bancário de Obama e exortações aos chineses por um câmbio mais realista. Em Porto Alegre, um balanço de dez anos e a necessidade de politizar o movimento. Foi por aí que começamos o ano passado, agora fechamos um ciclo tendo percorrido toda a roda dos animais (zodíaco). Um balanço é necessário, algumas ideias formuladas de passagem pedem um esclarecimento.
Fontes: As fotografias foram retiradas da Internet sem que fosse possível identificar seus autores. O signo de Sagitário constitui uma das iluminuras de O Livro das Horas, manuscrito italiano de 1475, in www.britannica.com. O signo de Capricórnio foi copiado de www.examinar.com, que não oferece indicação da procedência original.
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07/02/2010 16:15:11
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Abelardo - 20/02/2010 22:00:28
Ao tratar da desordem climática você disse "Se de origem humana ou não, pouco importa..." É uma sugestão de que tais desordens não são mers resultados das atividades humanas? Seriam, então, consequência de ciclos mais amplos? A Astrologia pode dar alguma explicação?
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Rui Sá Silva Barros - 21/02/2010 10:18:10
Caro Abelardo: Durante séculos os astrólogos fizeram previsões anuais sobre o clima, para uso de fazendeiros e navegantes, os Almanaques populares. Acumularam um saber razoável, mas agora estamos diante de um novo desafio, a evidência de distúrbios continuados, claramente desde a década de 1990. Não conheço nenhum estudo contemporâneo, mas pela duração só posso pensar nos planetas lentos e estrelas fixas. A conjunção Urano-Netuno em 92/93 próxima à estrela Vega, seria algo a pesquisar; atividades solares ainda desconhecidas podem ter um papel, tanta coisa ainda não sabemos de astrofísica! De qualquer jeito é melhor se mexer, a prefeitura e a população de nosso burgo devem tomar algumas atitudes básicas para evitar estes alagamentos no verão. É verdade que a topografia, o sistema fluvial e a impermeabilização dificultam muito. Já aceitamos o trânsito caótico e agora vamos aceitar isto também? De minha parte, não tenho dúvida que o aumento dos gases carbônicos deve ser levado em conta na equação, mas é notório que os climatologistas ainda não sabem o peso disto. Na realidade as ciências empíricas, todas elas, estão no início, o chato é que algumas hipóteses sejam promovidas à categoria de conhecimento certo e líquido. Essa é uma bobagem que a modernidade aceitou e nós temos dificuldade em descartar. Criou-se um belo carnaval porque o IPCC afirmou que as geleiras do Himalaia acabariam em 2035. O governo hindu refez os cálculos, talvez em 2080.É muito reconfortante vc não acha? Ganharam mais 45 anos de água, e depois? Não querem nem pensar nisto. Um abraço. rui
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