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23 de novembro de 2024

Responsável: Constantino K. Riemma


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A Europa é um museu?
Rui Sá Silva Barros
Não há nada de esperançoso num mundo bipolar (Eua-China), melhor seria se outros protagonistas estivessem presentes. A União Europeia seria uma candidata natural, pelo seu peso econômico, relativa estabilidade política e história cultural. Mas isto está longe de acontecer, os países que a integram ainda comparecem individualmente nos fóruns mundiais, muitas vezes em explícita divergência. A irresolução no tratamento dispensado aos problemas gregos foi tragicômica.

A Europa saiu arruinada de duas guerras devastadoras. Seus dirigentes tomaram um pouco de juízo, resolveram deixar os nacionalismos de lado e começaram a construir uma Comunidade Econômica, que inicialmente abarcava seis países: Bélgica, Holanda, Luxemburgo, França, Itália e Alemanha Ocidental. 


                      Mapa astrológico da assinatura da CEE - Comunidade Econômica Européia
                      Bruxelas, 17/03/1948, 17:10hs,

O mapa astrológico reflete a grande tensão do início. A conjunção Marte-Saturno-Plutão, no setor 12, sinaliza o clima de suspeição com o início da Guerra Fria, o convite à Alemanha e Itália para integrarem o bloco foi um lance de coragem e audácia, o que está assinalado pelas quadraturas do Sol à oposição Júpiter-Urano. Trabalho e tenacidade foram necessários para a construção da comunidade, providas pelo ascendente Virgem e seu regente em Aquário no setor 6. Vênus domiciliada impulsiona a cultura e o ensino.

No entanto, com a necessidade de maciças inversões para reconstrução, com a ajuda americana (Plano Marshall), com o deslanche do mercado de consumo de automóveis e eletrodomésticos, os europeus rapidamente chegaram a um crescimento econômico sustentável. Cobertos com o guarda-chuva militar americano, eles puderam construir estados de bem-estar social que duraram até o final dos anos 1970, como modelos para outros países: firme oferta de emprego, razoável estabilidade, crescimento salarial, grande rede social para todos. O crescimento da produtividade, o consumo de massa e a tranquilidade política diante de partidos comunistas fortes (Itália e França), pagaram o custo disso tudo. Durante este processo os imigrantes foram chegando devagar e bem recebidos na construção civil, limpeza, serviços de manutenção e reparos.

A partir de 1970 os problemas começaram a aparecer: a produtividade e a rentabilidade das empresas caíram, as contas do orçamento cada vez mais apertadas e depois, o choque do petróleo em 1973. Foi uma década de greves para manter o poder aquisitivo, grupos armados na Itália e Alemanha, e governos frágeis. Durante este período a UE começou a incorporar outros membros, o petróleo do Mar do Norte amenizou o problema do abastecimento, os britânicos elegeram a liberal Tatcher, enquanto os franceses apoiaram o socialista Mitterand, e a socialdemocracia perdia força na Alemanha. Os europeus começaram a se dar conta de que perdiam a corrida tecnológica e de produtividade para os americanos e agora também para os japoneses. Tiveram o dissabor de experimentar uma estagnação quando o governo Reagan jogou seus juros internos na estratosfera para pôr em ordem os déficits e as mazelas econômicas privadas, no início dos anos 1980.

Diante disso os europeus aceleraram a inclusão de membros na União, e iniciaram um período frenético de consultas para a construção do Tratado de Maastricht, que modelou os órgãos e competências da entidade.  Além disso, a dissolução do bloco soviético distendeu o clima político e afastou a possibilidade de beligerância. Estava instituída uma nova entidade que permitia a mobilidade de capitais, pessoas e trabalhadores, um organismo para coordenar as políticas de segurança e diplomacia. A integração política ainda estava longe e os europeus envergonhados e paralisados, diante dos desastres na ex-Iuguslávia, tiveram que delegar aos EUA as tarefas bélicas de “pacificação”. A adesão crescia agora engrossada por países livres da esfera soviética. O mercado financeiro mundial, já estava amplamente liberalizado, apostava grandes somas na depreciação das moedas européias, o que levou à criação do euro, anos mais tarde.

A adoção do euro, agora por 16 membros, beneficiou a Alemanha. Foram fixados juros e moeda corrente em circulação, tetos para o déficit público (3%) e dívida pública (60%); mas deixaram a carga tributária, o orçamento e a política salarial nas mãos dos governos nacionais. As disparidades eram grandes no momento da adoção, a Alemanha virou grande exportadora de máquinas, equipamentos, produtos químicos e farmacêuticos; através de uma contração da massa salarial (Hartz IV) e do desmonte de vários serviços públicos e seguridade social. A prosperidade da Alemanha é a contraparte da indigência de vários países do bloco, o que está na raiz da crise grega. França e Alemanha ultrapassaram os tetos fixados, deveriam ter sido multadas, mas foram perdoadas, o que abriu as comportas para a crise atual. O dinheiro e crédito fácil dos anos 2002-7 mascararam os rombos da festa.

CULTURA

ARTES – Os artistas europeus reagiram à Primeira Guerra com uma vitalidade impressionante, mas a Segunda ultrapassou-os completamente: literatura, música de concerto, artes visuais e teatro foram produzidas, mas nada comparável à primeira metade do século. Nas artes populares o cinema exibiu uma produção notável que ainda é possível rever sem decepção. A TV está repleta de programas de gincana e música pop, que não pode ser comparada com a anglo-saxã. Ainda se lê bastante e a oferta de eventos artísticos é alta, e para todos os gostos.

CIÊNCIA E TECNOLOGIA – Depois de um arranque imenso em Física (eletromagnetismo e partículas subatômicas) no início do século XX, a produção arrefeceu, mas pode ser retomada agora com o colisor do Cern, inaugurado recentemente. Química, Farmacêutica e Biologia continuam produzindo pesquisas de ponta, e suas indústrias ainda contam. A indústria nuclear é vital para o fornecimento de energia elétrica e nenhum acidente sério foi noticiado. Estão atrasados em tecnologia aeroespacial e informática, mas avançados em programas ambientais e nas tecnologias de energias renováveis.


                                     CERN - Organização Européia para Pesquisa Nuclear

HUMANIDADES – Grande produção difundida em todo o Ocidente. A filosofia existencialista, o estruturalismo e o pós-modernismo, para o bem ou para o mal, ocuparam grande espaço nas universidades ocidentais. Os historiadores vasculharam arquivos, adotaram novas abordagens (a longa duração e a vida privada). O eurocentrismo foi objeto de crítica acirrada, a colonização europeia foi revisada de cima a baixo, embora os desvarios na África continuem a todo vapor. Os intelectuais europeus ainda não conseguiram digerir a irrupção da barbárie (1914-45) no que consideram ser o mais alto nível de civilização humana. Muito da atual paralisia europeia vem daí, a recusa em reconhecer suas origens cristãs é um sintoma disto.

SITUAÇÃO ATUAL

ECONOMIA – A agropecuária, altamente subsidiada, é um sério obstáculo para a conclusão da rodada de Doha. Importam alguns cereais, hortaliças e produtos tropicais. A criação de gado confinado não resistiria a uma competição livre. A terra arável está toda ocupada e a água potável será problema em breve, já é no Sul do continente. O parque industrial é diversificado e forte em química, farmácia, máquinas, equipamentos, eletroeletrônicos, mas devido às disparidades salariais muitas fábricas mudaram para os países do ex-bloco soviético, com protestos nos países originários. O setor automobilístico experimenta contração e concentração. Grande importação de minérios, petróleo e gás. Mais de 60% da PEA já está no setor de comércio e serviços. Houve concentração de renda e patrimônio nos últimos 30 anos, mas não tanto quanto nos EUA e Reino Unido. Com a exceção dos profissionais do mercado, ninguém imaginava que os bancos europeus estivessem tão envolvidos na engenharia financeira globalizada, a situação continua crítica com uma pilha de empréstimos de volta duvidosa. Os alemães e austríacos bem envolvidos com o leste europeu, os franceses com os desvarios de Dubai. A tolerância com as estrepolias dos bancos suíços chegou ao limite. E todos eles com o financiamento de dívidas públicas, a grega inclusive. O apoio às micro e pequenas empresas está pífio. O sistema de transportes é ainda um dos melhores do mundo, com o aproveitamento das ferrovias e sistemas fluviais. Turismo continua forte.

SEGURIDADE SOCIAL – O plano de ajuste proposto aos gregos é claramente recessivo e cortará despesas sociais pressionando a minguada renda popular. Se isto se alastrar para outros países da UE, todo o sistema pode sofrer abalos. Na realidade o sistema já está bem esburacado, e em parte privatizado, mantendo a integridade nos países nórdicos com uma economia arrumada e populações pequenas, o que não impede uma alta taxa de suicídios. O emprego precário já é uma realidade, e o trabalho em tempo parcial prospera.

IMIGRANTES – Quando o crescimento começou a ralentar nos anos 1970, e o desemprego se estabilizou por volta de 10%, a xenofobia começou a grassar: politicamente na França, em grupos privados na Alemanha. Depois dos atentados em 11/09 os islâmicos tornaram-se alvos de suspeita, injúria e proibições. Um clima de histeria projetou uma Europa islamizada para 2050, baseada na declinante taxa de natalidade dos europeus (1,5), e numa ascendente taxa dos islâmicos residentes.


                                                            Uma mesquita em Paris

Na realidade, os islâmicos formam 3,5% da população europeia, as taxas de natalidade do grupo estão declinando, muitos já não praticam a religião. Restringir a construção de mesquitas e proibir o uso da burka não são políticas integrativas. Há células terroristas islâmicas na Europa? Sem dúvida, mas a tendência atual joga o grosso da população islâmica no colo destas células. Os ciganos também entraram nesta dança. Violência à vista, xenofobia em alta. Devolvê-los aos países natais e quem fará o trabalho pesado?  Le Pen, os neonazistas alemães, banqueiros suíços? Talvez os pobres sulistas.

MAZELAS – O consumo de drogas vai bem obrigado, a importação de mulheres do Leste para prostituição, vai melhor ainda. A venda de armas para facções em luta na África excede os melhores sonhos.  Os líderes são os mais bisonhos que se possam imaginar, e a baixaria para a ocupação de cargos públicos em Bruxelas é impublicável. Para compensar tudo isso e seu passado colonial, os europeus são líderes em ajuda humanitária por ocasião de desastres naturais.

PERSPECTIVAS

O mapa astrológico do tratado de Maastricht, que criou as bases da organização da União, é caracterizado por dois grandes stelliuns. Sol, Mercúrio e Saturno em Aquário, no setor 7, o da parceira, no signo das associações voluntárias. No melhor dos casos a conjunção favorece o alcance de metas por meio de comunicação, persistência e responsabilidade, no pior inclina à inércia, teimosia tola e paralisia, com o predomínio de Saturno.


                                    Mapa da assinatura do Tratado da União Europeia (TUE),
           também conhecido como Tratado de Maastricht, assinado em 7 de Fevereiro de 1992, 17h27.

O Parlamento (Mercúrio, regente do setor 11) ainda não tem o poder que lhe corresponde num sistema republicano e federativo. Urano, Vênus, Netuno e Marte em Capricórnio, no setor 6, dão um peso enorme à organização do trabalho,  à indústria e invenção tecnológica. Por exaltação, Marte dá o tom desta grande conjunção. Júpiter retrógrado em Virgem no setor 2, indica o quanto a UE já está dependente do capital financeiro. Plutão em Escorpião no setor 4, e em quadratura com o Sol, sinaliza a presença de temores passados, violência e agruras que podem ressurgir do nada. A população europeia sentiu que o processo de integração ia rápido demais e repudiou a Constituição proposta pelos dirigentes.

A Lua solitária está a um grau de Áries, no setor 9, e sob uma tremenda pressão. Justiça, relações internacionais, os estrangeiros e, pela regência do setor 12, a Seguridade Social. Ela está sob pressão de Saturno e Plutão, e logo mais, de Urano e Júpiter. Uma etapa de turbulência para todos os temas elencados. De resto, os trânsitos indicam um intervalo para respirar, excetuando a passagem de Marte em Leão cruzando o Ascendente e em oposição ao trio de planetas em Aquário, mas isso é rápido.

A Grécia, pelo tamanho da população e do PIB, não chega a ser um problema vital. Uma modesta desvalorização do euro fomentaria exportações e turismo. Surgiram dois problemas de peso: uma crítica anglo-saxã à própria existência da moeda única, e a postura alemã que insiste em ajustes recessivos com consequências perigosas para a existência da eurozona. A União está num impasse, ou a unificação avança e permite sanar os atuais problemas, ou uma implosão não está descartada. A pressão sobre a Lua do mapa sugere uma reação impulsiva. Os europeus podem, ainda, se acomodar a uma estagnação prolongada, a posição alemã (líder econômica) conduz a isso, na esperança de uma reanimação do comércio mundial. Para manter esta posição, os dirigentes alemães concordaram em que o FMI participe do resgate grego, contrariando o anseio da maioria dos membros da UE, enquanto seus tablóides sugeriam aos gregos a venda de ilhas para quitar as dívidas. Enquanto prossegue o empurra-empurra, as taxas de juros para refinanciar a dívida grega, sobem sem parar. Uma moratória não está descartada.

HERANÇA CRISTÃ

O setor 9 também simboliza a religião. Os problemas europeus começaram bem longe quando o poder temporal resolveu intervir no Vaticano, instrumentalizar a religião e liquidar com os Templários. No séc. XIV, Felipe, o Belo, mandou matar um papa, colocou um francês em Avignon, onde o papado permaneceu por quase um século. Durante um período cada monarca tinha seu papa, foi o grande Cisma. No séc. XV, os monarcas ibéricos arrancaram uma bula papal autorizando a escravidão de africanos, no XVI montaram aparelhos inquisitórios conforme suas necessidades. Enquanto isso, os cristianíssimos reis e príncipes do Norte apoiaram a Reforma e depois criaram igrejas estatais. No XVII o núncio papal foi despachado pelo cardeal Richilieu, nas conferências para a paz em Westfália. No XVIII, os monarcas fecharam mosteiros, expulsaram os jesuítas de seus reinos e conseguiram a extinção da Ordem. Isto é um resumo.


                             Pintura de Felipe, o Belo, acompanhando a imolação de templários

Como o Vaticano reagiu ao acosso? Abençoou a Monarquia e legitimou o Antigo Regime. Não foi nenhuma surpresa a posterior explosão de ódio e menosprezo por parte dos liberais. A hostilidade cresceu ainda no século XIX, o afastamento da população foi inequívoco: o número de batismos, de construção de novas igrejas, frequência ao culto e formação de novos sacerdotes, todos os indicadores em queda.
 
Da Revolução Francesa para cá, a Europa e depois as Américas foram modeladas por correntes laicas e hostis: liberais, republicanos, anarquistas, socialistas e comunistas. Deles é a responsabilidade por tudo o que aconteceu desde então.

Setecentos anos depois de Felipe, o Belo, o Vaticano continua na defensiva, agora com o caso da pedofilia. Desde 1960 o problema esteve presente e a Igreja conduziu investigações sigilosas, pagou indenizações e encobriu o assunto. Teria sido bem mais prático admitir que parte dos sacerdotes foram pegos nesta corrente maligna e tomar as providências cabíveis. Ao encobrir o assunto forneceu munição aos adversários e sofrerá as consequências. Ao descuidar da doutrina espiritual e deixar na poeira das bibliotecas o tesouro acumulado (as grandes místicas, Alberto Magno, Raimundo Lulio, Duns Scotus e muitos outros), a Igreja colocou-se numa situação precária. Milhões de pessoas leem ou escutam diariamente as diamantinas palavras de Jesus, e a compreensão diminui dia a dia. De vez em quando pensam que é necessário seguir o amai-vos uns aos outros, mas praticam o comprai-vos uns aos outros. Nenhuma mudança substancial ocorrerá sem essa transvaloração de todos os valores.

O processo de revisão ainda não acabou, os europeus precisam compreender como caíram na barbárie em pleno século XX, o significado da civilização cristã e o impacto da civilização islâmica na Idade Média, e como o BCE emprestou dinheiro a 1% aos bancos e estes cobraram 6% do governo grego. Por que não emprestar diretamente a 1%?

Na próxima crônica os EUA. Marte avança em Leão e faz oposição a Netuno em Aquário. Saturno e Urano fazem nova oposição, enquanto Júpiter começa a se aproximar de Urano. Daqui para frente veremos uma escalada de tensão no céu. Os terremotos continuam como se reverberassem as loucuras humanas e o desperdício de oportunidades.

Quem quiser colocar o artigo em números deve consultar o site da Eurostat.
 
07/04/2010 09:52:26

Comentários

Maria Aparecida Ribeiro - 08/04/2010 19:09:50
Belíssima análise histórico-astrológica, Rui. Parabéns. Aguardo a continuação. Abrs.

ana maria vieira de souza - 08/04/2010 19:22:03
oi consta! bacana! uma abordagem interessante, estimulante! Os aspectos astrológicos estão bem alinhavados...gostei da interpretação. E a elaboração histórica enriquece o texto. podemos nos situar melhor para compreender os aspectos astrológicos trabalhados...muito bom! e o jornal é ótimo! parabéns! bjs ana

Rui Sá Silva Barros - 09/04/2010 10:19:41
Oi Ana e Maria Aparecida:
Obrigado pelo incentivo. Da próxima vez façam acréscimos, correções, perguntas, está bem? Aceitem um abraço fraterno. Rui.

Antonio - 09/08/2012 17:43:34
Olá! Tudo bem? Vocês astrólogos acreditam em livre arbítrio? Acreditam que temos vida?
Obrigado

Rui Sá Silva Barros - 16/08/2012 08:51:19
Antonio:
Decerto o livre arbítrio existe, mas cercado por uma porção de condicionantes sobre as quais não temos poder (hereditariedade, meio familiar, ambiente social,determinismos astrológicos, etc.)Temos vida sim, cada vez mais longa e controlada, talvez com limitações ainda maiores que antes. Um abraço.

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