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EUA: a vanguarda da desordem mundial |
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Rui Sá Silva Barros |
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A colonização, do que viria a ser o futuro território do país, foi multinacional: espanhóis ao Sul, franceses na bacia do Mississipi, escravos africanos no Sudeste, britânicos e outros europeus no Nordeste. Estes acabaram por se tornar o núcleo político e cultural do futuro país. Puritanos, quakers, presbiterianos, uns poucos anglicanos, foram formar a Nova Jerusalém, longe das desviadas igrejas estatais de seus países de origem. A nação americana é filha da Reforma.
A doutrina calvinista teve oportunidade aí de conformar uma sociedade: predestinação, estado de graça, verificação da condição de eleito através da prosperidade econômica. Incentivo ao trabalho duro e regular, poupança, modéstia e frugalidade, eram requisitos mentais para a construção de uma sociedade capitalista. Uma inspeção constante da atividade sexual e um combate sem tréguas aos divertimentos ociosos. Os puritanos do Mayflower ficariam pasmos se pudessem ver, quatrocentos anos depois, o país que criaram: uma exuberante indústria pornográfica, o povo se divertindo com esportes e cultura popular que exibe alta taxa de vulgaridade e brutalidade, e se extasiando com psicopatas, além de qualquer imaginação. A economia apresenta incrível desperdício. O que ocorreu?
A Reforma trouxe o individualismo do Renascimento para a esfera religiosa, todos foram convidados a um livre exame das Escrituras, e assim fizeram retendo o que lhes era agradável e descartando o resto. A consequência é a existência de centenas de diferentes igrejas reformadas, o que além de deixarem o germe do relativismo florescer, descartaram a doutrina e abraçaram o sentimentalismo e o moralismo. Como o fervor religioso diminuísse de tempos em tempos, a história do país foi periodicamente varrida por um Despertar, ondas de conversão com grandes ajuntamentos ao ar livre, emoções extrovertidas e maravilhas de todo o tipo. A partir de 1730 ocorreu o primeiro deles com os metodistas e batistas emergindo, alguns historiadores pensam que isto pavimentou o caminho para a independência, ao criar um senso de identidade nos colonos. No entanto a luta foi dirigida por iluministas liberais com fortes acentos maçônicos. A Constituição consagrou o Estado laico e transformou a religião numa questão privada. Isto levou a um novo Despertar no início do século XIX, de onde emergiram os mórmons, que colonizaram o Colorado e Utah, e os adventistas.
[A chegada dos peregrinos a Massachusetts, óleo sobre tela de Antonio Gisbert, 1864] Esta herança permanece, de Reagan para cá a Coalizão Cristã exerceu um papel forte na política republicana: luta contra o aborto, pornografia, teoria evolucionista, engenharia genética, direitos civis dos movimentos gays etc. Mas de vez em quando algum televangelista era pilhado fraudando ou na companhia de prostitutas. Esta tendência à polarização perpassa toda a história do país: isolamento X intervenção, protecionismo X livre comércio, Norte X Sul, cosmopolitismo X provincianismo, até a recente polarização partidária extremada no Governo Obama. O que sabemos dos EUA através de filmes e seriados, produzidos em NY e LA, não dá conta da realidade multifacetada do país.
Esta polarização está expressa na carta natal do país com a importância dos signos de ar, todos eles duais em seus símbolos gráficos. O processo de independência foi fruto das guerras coloniais entre ingleses e franceses ao redor do mundo, com os últimos apoiando os colonos dos rivais, o que contribuiria para a falência do Tesouro francês, um dos fatores que levaram à Revolução. No esforço de guerra os ingleses aumentaram os impostos, estopim da independência que só terminou de fato em 1815, com a paz com a Coroa britânica e a derrota de Napoleão. Para avaliar a carta natal também é preciso lembrar que o país foi formado pelas 13 colônias do leste, 15% do território atual, alargado por compras, guerras contra o México, colonização e guerras contra os ameríndios. Formou-se dividido entre um Norte de pequenos proprietários agrários e industriais, e um Sul com escravidão e grandes plantações de algodão e tabaco para exportação, com brigas veementes sobre tarifas alfandegárias. Quando a conquista do Oeste foi deslanchada, o problema da escravidão tornou-se crucial. Em 1860 o povo elegeu Abraham Lincoln com uma plataforma abolicionista, foi o toque de reunir para os estados sulistas proclamarem independência e iniciarem o conflito armado que matou mais de 900 mil pessoas. Urano tinha regressado a Gêmeos, sua posição na carta natal.
Daí em diante a violência seria uma tônica na história americana. À guerra civil seguiram-se batalhas violentas contra os ameríndios, grupos racistas como a Klan, imperialismo no Caribe, América Central e Filipinas, formação de gangues mafiosas, população armada, presidentes assassinados, assassinatos múltiplos por gente transtornada, uma galeria de psicopatas inigualáveis etc. Tudo ampliado por uma imprensa e uma indústria de entretenimento, sensacionalistas.
Guerra civil (1861-1865) A guerra civil terminou com a vitória do Norte, mais industrializado, comuma malha ferroviária mais densa, e uma frota naval que fez um embargo importante. Isto possibilitou a criação de um mercado nacional, fluxo grande de imigrantes, invenções tecnológicas, mobilidade de pessoas e cargas. Quando Netuno e Plutão se encontraram em Gêmeos em 1891, o país era líder industrial tendo ultrapassado Inglaterra e Alemanha, embora ainda fosse importador de capital e trabalhadores. Grandes empresas tinham surgido no processo, o que levou à elaboração da lei antitruste. Os imigrantes europeus trouxeram ideias socialistas e anarquistas, cuja difusão foi restrita, pois o acesso à terra, a mobilidade social e o aumento da renda popular eram reais. Em 1897, sob uma conjunção de Saturno e Urano em Sagitário, teve início o primeiro brote imperialista com guerras externas (setor 7 da carta natal). Aí também começa a centralização do poder do Governo Federal, pois o país tinha uma grande tradição de autogoverno local, associações voluntárias e eleições de funcionários públicos, que ainda persistem, embora mitigados.
A ERA GLORIOSA DO POVO AMERICANO – De 1865 até 1945 as realizações do povo foram notáveis, praticamente criando o mundo contemporâneo. Antes de tudo em mecânica, com máquinas para a agricultura e indústria. Energia elétrica, com a viabilização da rede e a criação da lâmpada. Extração e refino de petróleo. Eletrodomésticos, barateamento e fabricação maciça de carros, uma criação europeia, bem como o cinema que eles tornaram uma grande indústria. Popularizaram o rádio e a TV, enquanto a literatura atingia grande nível com H. James, Eliot, Pound e Fitzgerald. Seus músicos construíram um patrimônio rico, ouvido com prazer até hoje. É verdade que os fundamentos teóricos para tudo isso foram criados na Europa, mas os americanos souberam transformá-los em tecnologia e produção em escala. O povo americano é eminentemente prático, e isto é um dado importante para a análise do mapa. Apesar do maciço investimento em educação de base e a criação de grandes universidades, apesar das conquistas de prêmios Nobel, o país não criou nenhuma teoria científica importante, natural ou humana, e não é à toa que sua principal corrente filosófica tenha sido o pragmatismo.
A centralização do poder de Estado se manifestou na criação do FED em 1908, em virtude da recessão e problemas bancários do ano anterior. Durante quase 3 anos o governo recusou-se a se envolver com os problemas europeus, mas acabou entrando na Guerra em abril de 1917, intervenção que conseguiu romper a estagnada guerra de trincheiras e foi decisiva para a vitória dos Aliados. Parecia enfim que o país iria se tornar um ator importante no cenário internacional, mas o Congresso desautorizou o presidente Wilson e negou adesão à recém-criada Liga das Nações. A nação passou de importadora a exportadora de capital e embarcou nos loucos anos 1920, permitindo a criação de bolhas acionárias e bancárias que estouraram em 29. O governo Hoover, seguindo a ojeriza à intervenção, deixou o barco correr: milhares de falências e corridas bancárias, desemprego em 25%, protecionismo. Com a eleição de Roosevelt e o New Deal, a centralização avançou, e depois de uma curta recuperação os estímulos foram retirados e recaiu em recessão em 1937. O presidente tinha plena consciência do risco que a Alemanha nazista representava, mas o Congresso continuava contra qualquer intervenção na Europa. Só mesmo depois de Pearl Harbor o país entrou na guerra mundial, a recessão terminou e a centralização do poder aumentou.
O MAPA NATAL – A nação nasceu sob um stellium de 6 planetas num arco de 50 graus, e entre eles os mais dinâmicos: Urano, Marte, Júpiter e o Sol. Isso está relacionado ao dinamismo econômico que, 110 anos depois da independência, levou o país à liderança industrial. Não se sabe ao certo a hora da assinatura do documento e há meia dúzia de mapas em circulação. Escolhi o Ascendente em Gêmeos por várias razões, entre elas: as constantes divisões e alternâncias ao longo da história, a grande urbanização da costa leste; enquanto toda a saga da conquista do Oeste corresponde mais a Sagitário.
Mapa dos Estados Unidos da América - Philadelphia, 4 de Julho de 1776, às 2h36 Os dois retornos de Urano a Gêmeos ocorreram em datas decisivas, 1861 e 1945. Urano simboliza a liberdade, autonomia, autogoverno e expansão espacial, valores assumidos explicitamente pela sociedade americana; bem como inovação tecnológica e eletricidade, setores onde o país foi líder. Marte na primeira casa corresponde ao belicismo da formação do território, e em quadratura com Netuno anuncia o símbolo de polícia do mundo em prol da liberdade. Marte também representa os trabalhadores e o sindicalismo anestesiado está bem sinalizado pela quadratura a Netuno. Os três planetas em Câncer na segunda casa estão em consonância com a riqueza dos recursos naturais e com a capacidade do povo (o Sol, regente da casa 4) de transformar estes recursos em mais riqueza, Vênus regente da casa 6. Júpiter magnifica o quadro, facilitando a importação de trabalhadores e capital. Netuno, na entrada do setor 5, corresponde ao dinamismo da música e do cinema, e agora, às mágicas do setor financeiro. Saturno, neste mesmo setor, exaltado em Libra, participa de um grande trino alongado envolvendo a Lua e Urano. Regente do setor 10, o executivo, cercou a presidência com a pompa da monarquia. Está em quadratura com o Sol, anunciando um senso de dever exacerbado e deslocado. Esta quadratura anuncia ainda que apesar de abrigar pessoas de todas as nações e etnias, elas não se miscigenam. Plutão em Capricórnio na casa 9, religião, filosofia, educação superior. Um bom símbolo para o traço calvinista que percorre a história americana, e para a criação precoce de boas universidades. A Lua em Aquário, entrando no setor 10, sinaliza a democracia popular, a possibilidade de ascensão social, a origem humilde dos dirigentes e empresários, e reforça Urano. As enquetes de opinião pública, invenção americana, influenciam as decisões políticas. E por fim, uma dissonância: Mercúrio retrógrado na entrada do setor 3, o das comunicações e transportes. As malhas rodoviárias, ferroviárias e fluviais são enormes e foram vitais para a economia. É verdade que estas malhas agora andam bastante precárias, mas este é um fenômeno recente. A oposição Mercúrio-Plutão simboliza as veementes batalhas ideológicas que atravessaram a história do país, e simbolizam claramente o sensacionalismo da imprensa. No final da crônica uma nota fornecerá mais dados.
O PÓS-GUERRA E O SÉCULO AMERICANO – Depois de introduzir o mundo na era atômica, o país emergiu da grande carnificina como líder do mundo ocidental e capitalista, com a responsabilidade de reerguer a economia devastada e oferecer segurança contra o emergente poder soviético. O Estado, que era republicano e democrático popular, tornou-se cada vez mais plutocrático e de segurança. Cada ramo das Forças Armadas tinha seu departamento de informações com projetos próprios. Não contente, o governo criou a CIA, em 1947, e anos depois, a NSA. Hoje os cidadãos americanos podem ser rastreados e vigiados 24 horas por dia com a parafernália tecnológica desenvolvida. Para defender o mundo livre, o sequestro, a tortura e assassinato de inimigos, foram tolerados e, no início, escondidos do público. Certas atividades estavam além das vistas de congressistas, imprensa ou público. Com todos os recursos disponíveis estas agências não viram o declínio da economia soviética e muito menos o atentado de 11/09. Ao final da guerra Urano estava de volta a Gêmeos.
As relações externas caíram sob a pressão da lógica da guerra fria. Intervenções para a derrubada ou instalação de governos amigos tornaram-se corriqueiras, deixando um rastro de desconfiança e ódio. As intervenções no mundo islâmico são assunto para humoristas, a lista de trapalhadas é interminável. Em 1953 depuseram Mossadegh no Irã e entronizaram o Xá Reza Pahlevi que tentou ocidentalizar o país, sendo defenestrado por uma revolução popular liderada por aiatolás; o Irã continua na ordem do dia, 57 anos depois. Apoiaram e armaram Saddam Hussein contra os aiatolás, genocídio contra os curdos, e de quebra invadiu o Kwait, obrigando os americanos a declararem guerra. O Iraque continua um problema quase 30 anos depois. Apoiaram e armaram os guerrilheiros islâmicos afegãos contra a presença soviética, formou-se o Taleban, que governou e abrigou a Al-Qaeda, obrigando a uma nova guerra e eliminação do governo, resultado: o país é o maior produtor de ópio mundial.
O atentado de 11/09/2001 é o resultado destas trapalhadas todas. Os americanos tentam exportar a República como exportam Coca e hambúrguer, o resultado é desastroso: sociedades pré-capitalistas e regidas por clãs familiares não se adaptam. A Síria é uma República hereditária, o Egito vai na mesma direção, e a Arábia pertence à família Saud. Jamais passou pela cabeça de um dirigente americano derrubar a monarquia saudita, basta ter acesso ao petróleo e bases militares.
AS CONTRADIÇÕES APONTADAS – impor a liberdade com golpes e assassinatos – reverberaram internamente, o movimento beatnik dos anos 1950 e a contracultura dos anos 1960 eram sintomas do mal-estar reinante. A situação da comunidade negra emergiu como problema político também por esta época. Mesmo com o grande crescimento econômico, a autoconfiança do povo americano passava por uma erosão significativa, agravada pelo fiasco no Vietnã. Essa inquietação já era perfeitamente perceptível nos filmes, peças, romances e na música popular. Nos anos 1970, o tema do declínio americano esteve na moda, o país parecia atolado em problemas econômicos insolúveis como a estagflação, déficits altos, dívida pública em ascensão, sucateamento industrial. Com a eleição de Reagan e o predomínio do capital financeiro a situação aparentemente foi revertida, porque a crise atual é um desdobramento daquelas premissas; o grande salto na informatização e automação dos processos industriais e na área de serviços carreou mais capital ainda para o mercado financeiro, tendo por resultado uma economia de bolhas. Um lineamento da história econômica americana do pós-guerra pode ser encontrado numa crônica anterior: “Os pobres estarão sempre convosco”.
SITUAÇÃO ATUAL – Apesar de todo o estrago da recessão, o PIB americano fechou 2009 com 14,2 trilhões de dólares, sendo o PIB per capita 46 mil dólares. A tabela mostra claramente o poder das máquinas e biotecnologia na agricultura: empregando 3% da força de trabalho (5 milhões), o país produz trigo, milho, soja, arroz e carnes que sobram para exportação. Altamente subsidiada, a agricultura é um empecilho para o fechamento da rodada de Doha. Boa parte do comércio mundial de alimentos é transacionada através de multinacionais americanas, e os preços estabelecidos nas bolsas de NY e Chicago. Algumas poucas empresas monopolizam as patentes de sementes alteradas geneticamente. A terra arável está toda tomada e a água para irrigação depende do aquífero central, que um dia acabará. Enquanto isso, a indústria em solo americano minguou, externalizando-se em busca de menores custos. A automotiva, em crise desde os anos 1980, e agora sofrendo na recessão; a siderúrgica foi sucateada. Continuam fortes em material bélico, aeronáutica, informática e telecomunicações. Com 18% na composição da força de trabalho, o sindicalismo se arrasta.
O setor de serviços e comércio produz a maior parte do PIB e da oferta de trabalho. É de notar que o setor financeiro sozinho produz quase o mesmo (19%) que a indústria, com uma força de trabalho muito menor (8%). Outro dado interessante é que apesar de todo o discurso sobre o Estado mínimo dos neoliberais, os governos empregam 23 milhões de pessoas, 14% da força de trabalho, e as despesas cresceram ininterruptamente. Isso é bem maior que a situação brasileira, onde lemos e ouvimos queixas constantes contra o inchaço da máquina pública. Na realidade o governo Reagan promoveu, e seus sucessores acompanharam, um grande corte de impostos para as empresas, rentistas e milionários. A concentração de renda cresceu muito. De 1990 a 2005 a renda dos executivos cresceu 298%, a dos acionistas 141%, os lucros das S/A 106%, enquanto a massa salarial somente 4,3% (fonte: Executive Excess, 2006). Já a revista Fortune informa que, em 2009, o lucro das 500 maiores empresas cresceu 335% em plena recessão, enquanto elas demitiam 820 mil trabalhadores. O desemprego aberto beira 10%, o trabalho em tempo parcial cresceu e os pobres oficialmente estão em 13%. Estes números são eloquentes e dispensam quaisquer comentários.
Energia é outro problema sério. O carvão é responsável por mais de 50% da geração de energia elétrica. A produção de petróleo atingiu o pico em 1970, conforme previsto pelo geólogo Hubbert, e hoje importa mais da metade de suas necessidades. Ciente disto, Obama planejou, na campanha, incentivar fontes alternativas, já presidente lançou uma proposta para a construção de novas usinas nucleares, e ultimamente anunciou a abertura da exploração no Atlântico, para a fúria de eleitores e ambientalistas. Ao contrário do que habitualmente se pensa e escreve, a maior parte da importação vem do México, Venezuela, Equador e Nigéria, e não do Oriente Médio. E o motivo é simples: o frete é mais barato. Todas as agências de informação e segurança produzem relatórios sobre o tema, e dias atrás um departamento de pesquisa do Exército publicou um relatório alertando para a escassez do óleo em 2015. Já o Ministério de Energia continua a negar o problema do pico de produção. O primeiro pesquisa a realidade, o segundo faz a política de não espantar a plebe. A partir disso não é difícil compreender a posição americana diante do protocolo de Kyoto e da conferência de Copenhague, mas o problema é incontornável, logo mais aparecerá. Com 5% da população mundial, os EUA consomem mais de 20% do total, e lidera a emissão per capita.
PERSPECTIVAS ASTROLÓGICAS – Está se formando no céu uma grande tensão: o Sol entra em Câncer e no dia 26 de junho ocorre um eclipse lunar parcial; em 11 de julho, um solar; no início de agosto Marte e Saturno em Libra, Júpiter e Urano em Áries e Plutão em Capricórnio. Tudo isto afeta a conjunção Vênus-Júpiter do mapa natal em Câncer. Há várias possibilidades em jogo:
ECONOMIA – A dívida total dos EUA (governos, empresas e famílias) ultrapassa 45 trilhões, três vezes o PIB atual. Como desde o caso Enron, as estatísticas americanas descambaram para a vigarice, não se sabe ao certo a quantidade de dólares em circulação no mundo, os reais esqueletos nas empresas financeiras e o stock de dívidas nos cartões de crédito. Recentemente Bernanke pediu uma redução no déficit fiscal, o que acarretaria aumento de impostos e corte em gastos sociais, porque nos militares, nem pensar. A situação atual é insustentável e a reforma financeira enviada por Obama é bastante suave e emperra no Congresso pela ação de lobistas que despejam uma dinheirama, confirmando a velha frase de Mark Twain: “temos o melhor congresso que o dinheiro pode comprar”. Além disso, há uma enorme quantidade de capital-dinheiro e industrial excedentes que os pacotes de estímulos impediram de falir. Talvez tenha soado a hora do ajuste, uma queda brusca do dólar acarretará uma enorme confusão na economia mundial.
MEIO AMBIENTE – Vênus rege também Touro, setor 12 da carta natal. A temporada de tornados, tempestades e furacões no Sul, pode ser devastadora. O recente acidente com uma plataforma de petróleo no Golfo colocará mais lenha na fogueira sobre o projeto de exploração das águas atlânticas.
POLÍTICA INTERNACIONAL – Júpiter rege o setor 7, Sagitário, da casa natal, dos aliados e inimigos declarados. O prazo para o Irã está se esgotando, no Iraque e Afeganistão a confusão é grande, no Paquistão há colaboração do governo, mas a situação pode se reverter com facilidade. Obama prometeu legalizar a situação dos imigrantes ilegais, o governo do Arizona quer detê-los gerando atritos com o governo mexicano. A política com a China (uma no cravo, outra na ferradura) continuará, não fosse isso o Irã já teria sido atacado.
Plutão pressiona Urano e o Ascendente da carta natal, o país não vai declinar sem reagir, mesmo que isso implique em restrições às liberdades civis. Em poucos anos este planeta pressionará o Sol, atingindo os valores e as elites dirigentes, e até 2020 retornará à sua posição original, fechando um ciclo e provocando uma grande revisão. Pelo final do ano Saturno em Libra fecha mais um ciclo de retorno, sendo regente do setor 10, o executivo, a presidência estará em situação crítica, ou avança na agenda ou se arrasta até o final do mandato. A renovação do Legislativo, em novembro, será decisiva.
O clima de exasperação, pela polarização partidária e ideológica, é tal que é um verdadeiro milagre que ninguém tenha tentado matar Obama. O clima de histeria gerado pela imprensa, especialmente a radiofônica, está chamando algo do gênero. A civilidade evaporou e talvez somente uma catástrofe a traga de volta.
PROGRESSÃO SECUNDÁRIA – Esta é uma velha técnica preditiva, totalmente simbólica: um dia corresponde a um ano. A carta natal é adiantada em 234 dias, final de fevereiro de 1777. Os aspectos assinalados devem ser quase exatos nesta técnica. Muitos planetas lentos retrogradaram, Urano está voltando à posição original, Júpiter, Saturno e Netuno estão retrógrados, enquanto Plutão avançou 2 graus no período considerado.
Mapa progredido dos EUA para 1º de maio de 2010
O Ascendente em Sagitário reitera a importância das relações externas, e o MC em Libra se aproxima de Saturno natal. O Sol em Peixes, próximo à grande estrela Fomalhaut, deixa um trino com Saturno em Escorpião, o que ajudou na eleição do Obama, primeiro presidente negro. Vênus em Áries e Marte em Libra estão em oposição e mútua recepção, o que aguça a exasperação dos ânimos.
Olhando o mapa progredido sobre o natal temos: O Sol e Saturno em trino no mapa progredido fazem trino à conjunção Vênus e Júpiter do mapa natal, o que sem dúvida ajudou na contenção da recessão. A Lua progredida fez um sextil ao Sol natal e, em meses, ativará a quadratura natal entre Netuno e Marte. Este último também é ativado pela passagem do Descendente progredido, belicismo à vista.
A Nova Jerusalém dos puritanos se transformou numa Babilônia de hedonistas e desvairados: Elvis Presley transformado em Messias; psicopatas presos têm fã-clube e tornam-se milionários com a publicação de memórias; cinema infanto-juvenil com intermináveis explosões e perseguições em carros; rumores e boatos na imprensa e na internet. Sim, há intelectuais importantes e sensatos que se manifestam, mas suas ponderações caem na algavaria infernal e se perdem. O novo povo eleito, que esperava trazer uma nova evangelização, acabou por comandar a grande destruição no final do ciclo. Inútil demonizá-lo, pois não fosse ele seria outro povo, os mecanismos de dissolução postos em ação na Europa foram acelerados na América e talvez concluam seu curso no Extremo-Oriente.
NOTA SOBRE A ESCOLHA DA CARTA NATAL – Encontrei o mapa no site francês Astrohisto, que contém outros mapas de nações e todos os mapas da constituição da União Europeia. O estudo dos trânsitos, progressões e simbolismo básico é necessário para a avaliação. Além das datas já mencionadas ao longo do texto, podemos verificar mais algumas, e os astrólogos interessados podem avançar na investigação com uma cronologia básica sobre os EUA.
ABRIL DE 1917: o país entra na guerra europeia ao lado de Inglaterra e França, ajudando a decidir uma guerra que já parecia interminável. Urano cruzava o MC, a decisão foi voluntária. Plutão entrara em Câncer e fazia conjunção à Vênus natal, sinalizando a exportação de capital no pós-guerra e ativação de sua própria indústria bélica. Saturno em Câncer se aproximava de Mercúrio natal, o que sinaliza a liderança que o presidente Wilson pretendia exercer no pós-guerra, bloqueada pelo próprio Congresso. Marte em Áries fazia oposição a Saturno natal, cortando as indecisões.
OUTUBRO DE 1929 – Saturno no final de Sagitário deixa a oposição a Marte e começa uma oposição a Vênus natal. Júpiter retrógrado estava entre Urano e Marte, Urano em Áries fazia quadratura a Júpiter natal, enquanto Plutão em Câncer, entre o Sol e Mercúrio, tensionava a Lua natal. Na sequência, Saturno, Urano e Plutão formaram uma cruz em T em signos cardinais aprofundando a Depressão que agora se tornara uma quebradeira bancária.
DEZEMBRO DE 1941 – O Japão ataca, sem aviso, a base de Pearl Harbor forçando os EUA a entrarem em guerra. Júpiter em Gêmeos estava entre Urano e Marte natais. Netuno, que acabava de completar seu primeiro retorno, refazia seu trino original com Plutão. Saturno e Urano estavam em conjunção no final de Touro, na região das Plêiades, no setor 12, o dos inimigos ocultos e ataques traiçoeiros. Plutão em Leão fazia um sextil a Urano natal. Com a entrada na guerra, o país saiu da depressão, ajudou a conter o avanço nazi na África, e o grande domínio japonês na Ásia. É interessante comparar este evento com o de 11/09/2001, quando o país sofreu novo ataque sem aviso, agora de um grupo terrorista. Plutão em Sagitário no setor 7 ataca Saturno em Gêmeos conjunção com Urano Natal. Júpiter sobre o Sol natal, Netuno no começo de Aquário em trino com Urano Natal, e Urano transitava o MC natal, despertando um presidente letárgico para a messiânica cruzada contra o Terror. As configurações são diferentes bem como as consequências: no primeiro caso a guerra foi liquidada em 4 anos, os EUA emergiram como líderes e seguiu-se um desempenho econômico notável; no segundo caso as guerras no Oriente Médio se prolongam há 9 anos sem solução à vista e com a criação de uma enorme bolha financeira. AGOSTO DE 1945 – Fim da guerra com a rendição do Japão depois da explosão das duas bombas atômicas. Os EUA lideram a criação da ONU, FMI, Banco Mundial, e o capitalismo ocidental. Júpiter no final de Virgem em trino com Plutão Natal, Saturno em Câncer entre o Sol e Mercúrio natais, Urano em Gêmeos entre Marte e Urano natais, Netuno em Libra trino a Urano Natal. Grande momento! Em setembro de 47, criação da CIA, sob uma conjunção Saturno e Plutão no meio de Leão, na entrada do setor 4, os fundamentos, o povo, a vida doméstica. Foi o começo da desvirtuação dos valores republicanos e liberais do país.
Poderíamos prosseguir, mas bastam alguns exemplos recentes: em agosto de 2006 já estava claro que a bolha dos subprimes ia estourar, pagamentos atrasados e alguns economistas mais avisados indicavam o evento, Saturno estava no meio de Leão, prestes a entrar no setor 4, terrenos e imóveis, em oposição a Netuno em Aquário. Em setembro de 2008, o mercado bancário veio abaixo levando o acionário, pois através dos CDS as hipotecas podres estavam espalhadas pelo Sistema Financeiro. Saturno, agora no meio de Virgem, se aproximava do setor 5, apostas, onde Netuno natal recebia uma oposição de Urano em Peixes. Netuno também oferece pistas para a eleição de Obama, quando acabava de cruzar o MC do mapa natal: além da esperança, a eleição foi marcada por suspeições, pois o candidato não entregou seus documentos originais, o que foi questionado na Justiça, e seus antigos companheiros de viagem apareciam em má hora, em virtude do radicalismo ideológico deles. A exata biografia de Obama continua em suspenso. Isso tudo ainda pede um estudo mais profundo.
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02/05/2010 15:05:07
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Fernando - 04/05/2010 20:33:15
muito bom, Rui, mas nao descarto ASC em 8 de Escorpiao, ou em 12 de Sagitario Abracos.
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Rui Sá Silva Barros - 05/05/2010 09:53:00
Olá Fernando: A questão está aberta, sem dúvida. Um estudo detalhado da progressão do Asc e MC poderiam trazer algumas luzes, mas evitei para não sobrecarregar o artigo com astrologuês, não é o espaço adequado. Deste estudo o que me sobrou de certeza foi: o ciclo Saturno-Urano é muito importante com já assinalado por A. Barbault, Urano é absolutamente central, tanto pelo simbolismo como pelos trânsitos e retornos, e que o Asc em Gêmeos é o que melhor responde para a história econômica do país. Há muito trabalho a fazer em Astrologia mundial, as coisas mudaram muito, p. ex: qual o melhor marcador astrológico para os derivativos, um intrumento novo e central na economia atual? De qualquer maneira o objetivo central da crônica foi tentar delinear uma história mais realista do país. A bibliografia sobre a história americana é escassa por aqui, e a visão das pessoas baseia-se em filmes, seriados e noticiário, um monte de clichês.Espero ter contribuído para equilibrar um pouco as coisas. Estamos vivendo mais um ápice de baixa no índice cíclico de Barbault, e com uma configuração muito pesada, pretendo abordar o assunto na próxima. Obrigado pelo gentil comentário. Aceite um abraço fraterno, rui.
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Renato Chebar - 31/05/2010 00:09:22
Rui, talvez possamos pensar nestes derivativos como Netuno; como vc bem sabe, Netuno eh o intangivel, o incontavel , o nao-contabilizado. Por onde estava Netuno, em relacao ao mapa dos EUA, qdo ocorreu a quebra dos derivativos ? Abs e otimo este artigo acima.
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Rui Sá Silva Barros - 31/05/2010 10:37:08
Olá Renato: Vc tem razão, em 2008 Saturno cruzou com Netuno natal, na casa das apostas (a quinta). Minhas pesquisas estão no seguinte pé: Júpiter é o crédito tradicional baseado em garantias, Plutão é o seguro e dos derivativos relacionados, Urano é o superalavancamento para operações de risco, e Netuno todo o resto, incluindo operações quase ou totalmente fraudulentas como as subprimes (CDO), pirâmides e encobrimento como as do Goldman Sachs. Pesquisas e observações como a que vc fez são muito bem-vindas. Aceite um abraço fraterno. rui.
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