Desde o início da era cristã, os judeus estavam dispersos desde a Espanha até a China, dispersão acelerada pelas guerras judaicas (66-70 e 132-135) contra o domínio romano. O apego aos livros sagrados, às prescrições religiosas e a unificação do calendário, tornaram possível este fenômeno raro, a preservação da identidade na ausência de um Estado. Tolerados na Europa em vias de cristianização tornaram-se os bodes expiatórios por ocasião de epidemias, secas e outras calamidades; e assim foram deslocando-se para o Norte. Por ocasião das Cruzadas viram o antissemitismo recrudescer e foram expulsos de alguns reinos, o que acabou por reforçar a identidade e fez florescer um novo interesse pela língua nativa e pela mística, o movimento cabalista do século XII. Foram conselheiros e financistas de reis, a maioria artesãos e pequenos comerciantes, sendo-lhes a propriedade rural interditada.
No final do século XV nova Golah (exílio), agora de Sefarad (a Península Ibérica). Alguns rumaram ao Norte, mas a maioria instalou-se no Império Otomano; poucos rumaram à Palestina, onde se desenvolveu novo brote cabalístico conduzido por Luria. Era na época uma região menosprezada pelos sultãos de Istambul, pobre em recursos e gentes. No século XVIII o iluminismo acenou com uma assimilação, garantida em leis, mas séculos de desconfiança pesavam e os judeus eram apenas tolerados. Em 1838, em Viena, fundaram a organização Unidade para incentivar a migração à Palestina, que tomou impulso a partir de 1880 quando pogroms eclodiram pela Europa Central apoiados pelos governos. Em meio a uma crise econômica que mal entendiam, os europeus deram-se a um delírio racista abominável. O jornalista T. Herzl [retrato, à esquerda], que cobria o caso Dreyfus na França, compreendeu que os judeus só estariam seguros sob seu próprio estado. Em 1896 publicou o livro “O Estado Judeu”, e no ano seguinte organizou o primeiro congresso sionista. Tal nacionalismo não era consensual, muitos rabinos achando que a solução do caso judeu não podia ser política, mas divina. Um pequeno fluxo ocorreu até a Primeira Guerra, pois a maioria emigrou para os EUA onde constituíram uma próspera comunidade e um poderoso lobby.
Para agradecer a ajuda judaica na Primeira Guerra, o governo britânico, através da declaração Balfour, estabeleceu a meta de um lar judaico na Palestina. O mandato britânico no Oriente Médio foi um desastre completo: além de renegar promessas feitas aos árabes, interveio pesadamente nos países petrolíferos, e deixou correr a imigração judaica na Palestina, 350 mil no entre guerras. Isso só podia alarmar os ocupantes da região e os conflitos logo começaram levando os judeus a organizarem a Hagana (Defesa), embrião do exército nacional. No final da Segunda Guerra já se sentiam tão seguros que assassinaram o ministro britânico no Cairo e detonaram a sede do mandato em Jerusalém, em 1946. Nesta altura eles já tinham um serviço de forças especiais, o Irgun, embrião do atual Mossad. A divulgação do Holocausto e a acelerada emigração no pós-guerra levaram a ONU a estabelecer a partilha do território em fins de 1947.
O mapa da independência reflete estes acontecimentos. O Ascendente em Libra e Vênus em Câncer, na casa 9, mostram os acordos diplomáticos internacionais que estão na origem do novo país. O executivo, simbolizado na casa 10, concentra 4 planetas: a Lua denota a origem popular (o partido trabalhista, Avodah), Saturno e Plutão indicam a mão pesada quando necessária, Marte o estado de beligerância desde a fundação e o desalojamento de quase um milhão de palestinos; tudo isso no signo de Leão, o da afirmação de identidade. O Sol em Touro na casa 8 sinaliza a imensa transformação de um terreno estéril em uma agricultura modesta, mas dinâmica. Este Sol em quadratura com Marte indica a ação impulsiva e, às vezes, contra seus próprios interesses em longo prazo. Mercúrio em domicílio geminiano dá rapidez nas respostas e comunicação ágil, o que foi essencial sempre que o país foi atacado, e indica o suporte jornalístico de que gozou no Ocidente até recentemente. Júpiter domiciliado em Sagitário, na casa 3, em oposição a Urano sinaliza a indústria de alta tecnologia desenvolvida em Israel, e o trino a Marte beneficia o esforço militar. Netuno, retrógrado em Libra na casa 12, indica o militante estrato religioso, que embora pequeno, causa um problema sério nas coalizões de governo e nas relações externas: a ideia de reconstruir a Israel de Davi e Salomão é um grande empecilho ao processo de paz. No dia seguinte à proclamação de independência o país foi atacado por vizinhos árabes. Um resumo dos conflitos, com os marcadores astrológicos, pode ser encontrado no final desta crônica.
Mapa de Israel - Tel Aviv, 14 de maio de 1948, 16h 13 min Atualmente a comunidade judaica está dividida: mais da metade reside fora de Israel, espalhada pelo mundo, grande parte está secularizada e assimilada, mesmo no país. Com 7,5 milhões de habitantes e 5,7 milhões de judeus, Israel tem uma dezena de partidos, religiosos asquenazis e sefarditas têm seus próprios pontos de vista e partidos, um bom contingente de árabes mulçumanos também tem seu partido e representantes no Knesset (Parlamento). Tel Aviv é uma cidade cosmopolita, com noite agitada, parada gay e outras modernidades: os dirigentes já foram pilhados em corrupção e assédio sexual. A maioria da população observa as festas religiosas, mas não os preceitos da Torah seguidos aproximadamente por 600 mil pessoas.
A segunda leva migratória foi predominantemente agrícola e os kibutzim fazem parte da epopéia do retorno. Foi um grande trabalho a recuperação de terrenos estéreis, o que levou o país a tornar-se pioneiro na conservação de água e na dessalinização. A água já é um dos fatores primordiais de conflito na região (a ocupação das colinas sírias do Golan e o controle do recurso na faixa de Gaza) e tende a se acirrar no futuro próximo. Nestas condições o país lançou-se à industrialização quando obteve bons resultados em alta tecnologia: aviação, satélites, fibras óticas, informática, equipamentos médicos e energias verdes. Israel importa combustíveis, cereais e material bélico. Sua balança comercial apresenta pequeno déficit coberto pelas remessas judaicas do exterior, empréstimos e investimentos diretos. O PIB per capita é de 28 mil dólares (33º no ranking mundial), 11% estão na pobreza e 6% desempregados, o que é uma afronta à tradição filantrópica dos judeus. O grau de fertilidade e o fluxo migratório baixo são motivos de preocupação com a sobrevivência do país. O último grande fluxo veio da queda do bloco soviético pressionando a construção de assentamentos na Cisjordânia e dando espaço para reivindicações dos partidos religiosos. Palestinos de Gaza e Cisjordânia trabalham em Israel na construção civil, manutenção e limpeza.
Usina termal solar instalada em Israel. Fonte: Desertec Mantendo a grande tradição cultural judaica, o país é líder mundial per capita em edição de livros e leitores. Há eventos artísticos em profusão e para todos os gostos. Ouve-se uma multidão de línguas nas ruas das cidades, dada a variedade da proveniência dos judeus. Israel tem um notável patrimônio musical, construído através de séculos tanto pelos asquenazis quanto pelos sefarditas. Com uma geografia variada e abrigando inúmeros sítios arqueológicos e lugares sagrados, o turismo é uma das principais fontes de renda que vem diminuindo devido aos conflitos na região. Em pesquisa científica e tecnológica o país não deve nada a ninguém.
A continuidade do povo judaico só pode ser explicada por uma forte inclinação espiritual. O último movimento dinâmico foi o Hassidismo impulsionado pelo Baal Shem Tov na Europa Central do século XVIII. Os judeus europeus assimilados e liberais fizeram o que puderam para apagar os rastros do esoterismo judaico, mas não conseguiram, pois no século XX Gershon Scholem e outros reconstituíram sua história com grande riqueza, e demonstraram a importância destes movimentos para a história do povo judaico. Alguns livros importantes de Qabbalah foram reeditados e muitos foram escritos comentando os antigos, no momento a atenção pública voltou-se para esta tradição desde o engajamento público de popstars nos EUA. Enquanto isso, e reagindo ao processo de secularização, um fundamentalismo emergiu recentemente acrescentando algo explosivo a um cenário já complicado: alguns sonham em demolir a Mesquita do Domo (joia da arquitetura mundial) construída sobre entulhos no século VII, enquanto outros sonham atacar o Irã e desmantelar o Hamas e o Hezbollah, frutos das inépcias de governos israelitas.
Maquete do Templo de Salomão Um dia, e que não está muito longe, o petróleo acabará e a desertificação pode avançar, o Oriente Médio deixará de ter importância geopolítica. Por incrível que pareça só um governo tem consciência disso e já toma providências: a monarquia saudita está construindo cinco cidades industriais e atraindo investidores, enquanto o emir de Dubai constrói um imenso playground para bilionários, e os outros continuam na mesma batida. A experiência industrial de Israel pode servir de modelo no futuro.
Egito, Jordânia e Turquia já compreenderam que Israel veio para ficar, enquanto a Liga Árabe socorre os palestinos com trocados e retórica. Já os israelitas se aproveitam destas inépcias e conquistam território a expensas dos palestinos, a ponto de ocorrer uma virada na imagem internacional de Israel: a faixa de Gaza é descrita como um gueto e o governo de Israel como genocida. Pavorosa ironia! Não haverá paz enquanto Jerusalém não for internacionalizada, enquanto os palestinos não tiverem um Estado com território contínuo, enquanto países árabes continuarem a insuflar os ânimos do Hamas e Hezbollah, e finalmente e muito importante, enquanto os israelenses não arregaçarem as mangas para ajudar economicamente a região.
Os judeus, povo sacerdotal, agora vivem em armas; o país com Ascendente em Libra (diplomacia) vive em guerra permanente. Se isso se prolongar pode resultar numa confusão radical. Israel é vista como uma vanguarda ocidental no Oriente Médio, quando os judeus deveriam fazer uma revisão realista de sua história na Golah (exílio) ocidental, onde foram hostilizados e massacrados.
Os conflitos Israel nasceu a ferro e fogo e viveu inúmeros conflitos, na tabela abaixo os marcadores de trânsitos planetários para alguns deles:
10/1956 – O governo israelense, em conluio com o francês e o inglês, tentou tomar de volta o Canal de Suez nacionalizado por Nasser. Israel ocupou a península do Sinai e obteve acesso ao Mar Vermelho. 06/1967 – Sem aviso, Israel foi atacado pelo Egito, Síria e Jordânia na guerra dos 6 dias. Rápida e esmagadora vitória israelita que ocupou a faixa de Gaza, as colinas do Golan e a Cisjordânia. A OLP ganha força e se desenvolve na Jordânia e depois no Líbano, promovendo atentados terroristas contra alvos israelenses pelo mundo afora. 10/1973 – Novo ataque sem aviso por parte dos países árabes na guerra do Yom Kipur. Nova vitória judaica, desta vez mais prolongada e com baixas consideráveis. 03/1979 – Tratado de paz com o Egito, devolução da península do Sinai 06/1982 – Intervenção na guerra civil libanesa contra as bases da OLP. Vergonhosa cumplicidade nos massacres de palestinos nos campos de refugiados. Hezbollah. 12/1987 – Primeira Intifada, revolta de palestinos armados de pedras e paus contra o exército de ocupação israelita. O Hamas se desenvolve e fortalece. 09/1995 – Tratado de paz de Oslo com a OLP, assinado em Washington. O Hamas repudia. 09/2000 – Segunda Intifada, imediatamente depois do passeio de Ariel Sharon pela esplanada das Mesquitas. 12/2008 – Revide arrasador contra foguetes disparados pelo Hamas a partir da faixa de Gaza. População civil fortemente afetada. Uso de urânio enriquecido. A imagem internacional de Israel é fortemente danificada.
Por duas vezes Israel foi atacado (67 e 73) e o Ascendente e a Lua estavam estimulados. Na primeira, Marte passava pelo Ascendente e Júpiter pela Lua natal, enquanto o trino Urano ao Sol natal propiciou uma reação rápida e eficaz. Na segunda vez Urano cruzava o Ascendente, enquanto Marte transitava a casa 7, das alianças e guerras, e Júpiter opunha-se à Lua, enquanto Saturno e Netuno protegiam Vênus natal, assegurando apoio internacional.
Por duas vezes Israel iniciou a agressão (56 e 82). Na primeira, Urano cruzava a Lua natal, Júpiter em trino ao Sol natal, Marte em quincunce a Saturno e Plutão natais, Netuno em trino a Vênus natal. França e Inglaterra passaram vexame, Israel ganhou o Sinai. Na segunda, Marte e Saturno cruzavam Netuno natal sinalizando o massacre dos palestinos, Plutão cruzava o Ascendente e Júpiter em trino com Vênus natal. Foi o primeiro abalo da imagem internacional do país. A direção da OLP transferiu-se para Túnis.
Dois tratados de paz foram assinados (79 e 95). O primeiro, com o Egito, foi realizado sob pressão planetária: exceto o benéfico trânsito de Júpiter pelo MC, Saturno fazia quadratura a Mercúrio natal e Urano oposição ao Sol natal. Sadat foi assassinado tempos depois dando início a um movimento terrorista e fundamentalista no Egito. O segundo, com a OLP, representou uma oportunidade perdida, pois Urano e Netuno cruzavam o FC, setor dos fundamentos, mas Plutão em oposição ao Sol natal e Marte e Urano fustigando Mercúrio natal, anunciavam problemas. O Hamas se opôs ao acordo que nunca foi devidamente implementado. Um judeu fanático assassinou Rabin, premiê que assinou o acordo.
Por três vezes os palestinos se rebelaram (1987, 2000 e 2008). Na primeira, Marte em oposição ao Sol natal, Netuno em oposição a Vênus natal, Saturno e Urano em oposição a Urano Natal, enquanto Júpiter enviava um trino a Saturno e Plutão natais. Foi então que o Hamas tomou forma. Imagens diárias de jovens enfrentando tanques israelenses, com paus e pedras, evocavam diretamente Davi e Golias. Na segunda também, Júpiter fazia trino a Mercúrio natal, enquanto Urano estava em oposição a Saturno e Plutão natais, Netuno à Lua natal e Plutão a Mercúrio natal. Esta Intifada começou com a provocação de Ariel Sharon passeando na esplanada das Mesquitas, e é útil recordar que ele facilitou o massacre dos palestinos em 1982, no Líbano. Na terceira vez, o Hamas jogou foguetes no território de Israel em protesto pelo bloqueio de Gaza e o controle de água e eletricidade. A reação foi violenta, matando civis e destruindo um prédio da ONU. Marte cruzava Júpiter natal, Júpiter cruza o FC, e acima de tudo Plutão começava a oposição à Vênus natal, abalando enormemente a imagem do país no exterior, mesmo entre tradicionais aliados na Europa Ocidental.
O Futuro
Mapa da Progressão Secundária para Israel em julho de 2010 Vênus, regente do Ascendente, em Câncer na casa 9 (relações internacionais, religião e turismo, entre outras coisas) está sob pressão total de Júpiter e Urano em Áries, Saturno e Marte em Libra, e Plutão em Capricórnio. Urano e Plutão continuam a pressionar em 2011, enquanto isso o instável governo de Netanyahu desafia até seu maior aliado para apaziguar o Shas, partido religioso da coligação. Esta pressão planetária explica o total descontrole na abordagem da flotilha que rumava para Gaza, que resultou em mortes e feridos inaceitáveis, e estremeceu a relação com os turcos. Os planetas presentes na casa 10 (o executivo) parecem sugerir: a Lua assinalou o partido trabalhista, Saturno e Plutão a ascensão do Likud e o endurecimento nas negociações, e finalmente Marte pode sinalizar uma solução militar para os problemas da região. O trânsito de Saturno por Netuno natal neste final de ano pode sinalizar outra ação traiçoeira como a de 1982.
No mapa progredido vemos o MC se aproximar de Marte, outro estímulo para a beligerância. Vênus retrogradou e cruzou Urano natal, condição que decerto não ajudou na promoção da paz. O Ascendente avançou até Sagitário e agora faz trino a Saturno e Plutão natais, o que facilita medidas draconianas. A Lua em quadratura a Saturno e oposição ao Sol natal sinaliza a passeata enorme promovida pelos pais do soldado Shalit, detido pelo Hamas. Eles pretendem pressionar o governo a negociar.
Sessenta anos depois da traumática expulsão da península ibérica, os judeus criaram em Safed, norte de Israel, um poderoso movimento cabalístico que se difundiu pela Europa. Alguns cânticos criados por Luria foram incorporados à liturgia judaica, e seus ensinamentos foram postos no papel por discípulos, e hoje integram a biblioteca clássica da tradição. Sessenta e cinco anos se passaram desde o Holocausto e nada de novo, exceto alguns brilhantes comentários sobre obras antigas. É um péssimo presságio, não há mais forças na comunidade para criar um vigoroso movimento de atualização? Estimo remota a possibilidade da massa de israelenses seguir os preceitos religiosos nas bases atuais.
A vida cotidiana em Israel é uma tormenta com a possibilidade de bombas explodindo e foguetes caindo nos telhados, onde cada palestino é olhado como um terrorista em potencial. Uma comunidade que se habitua a isso está a caminho da paranóia e do embrutecimento, apesar dos críticos judeus que atuam em Israel, mas mesmo estes já encontram dificuldades e preferem morar no exterior. É uma situação insustentável. Para religiosos e esotéricos, a volta do povo judeu à Palestina é um sinal dos tempos. Espero que Israel não seja o instrumento das abominações.
Foto: Gaza, 2008. É patente a irresponsabilidade do mandato britânico e da falta de supervisão da ONU por ocasião da partilha. Agora “Inês é morta”, Israel está instalado e não sairá, mas para viver decentemente em paz precisa fazer concessões. Jordânia, Síria e Líbano poderiam ser países prósperos, mas não recebem nenhuma ajuda substancial dos árabes petrolíferos, não ficaria surpreso se no futuro essa ajuda viesse de Israel. Não será para amanhã, mas é perfeitamente possível, se o povo judeu honrar suas grandiosas tradições: Avodah, Hesed e Hochmah (serviço, misericórdia e sabedoria), o que de melhor legaram a nós, ocidentais.
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