|
|
|
2011: Use com moderação |
|
Rui Sá Silva Barros |
|
|
|
A crise da dívida grega estourou antes da formação da grande triangulação em meados do ano, a irlandesa, depois que ela se desfez. Durante a formação os dirigentes europeus tiveram um tempo para equacionar o problema. Em vão, fizeram uma meia-boca e agora correm contra o relógio para sossegar os mercados financeiros. Saturno deixou definitivamente a configuração e a quadratura Urano/Plutão seguirá até 2012. Todos os países e blocos, listados em “2010: o jogo do poder” (no Fórum deste site) continuam pressionados pelos motivos ali apontados.
Conforme previsto, o G-20 em conflito virou um clube para adiamentos indefinidos. A economia estagnou nos EUA, UE e Japão, mas surpreenderam a magnitude do ajuste na Europa, a inércia do governo americano e o combate à valorização do iene no Japão. A China terminou o ano freando o sistema bancário e imobiliário, preocupada com a inflação, e bastante criticada internacionalmente pelo câmbio e direitos humanos. A Índia não sofreu nenhum atentado sério, mas viu a corrupção derrubar o ministro das telecomunicações e gerar um discurso violento de Sonia Gandhi sobre a decadência dos valores no país.
No Irã, as manifestações de rua foram controladas, mas a insatisfação persiste e o isolamento internacional cresceu. Israel foi abalado pela desastrosa abordagem marítima à frota que ia em direção à Gaza, além do recente grande incêndio no monte Carmelo, lugar de grandes tradições religiosas e bélicas. A Rússia foi apontada como Estado mafioso, o que é notório.
SATURNO EM LIBRA trouxe realismo à diplomacia através dos vazamentos do Wikileaks. Para quem acompanha as relações internacionais nada de novo: desastres no Iraque e Afeganistão, com violação de todas as leis possíveis e imagináveis, a Coreia do Norte é um estorvo para o governo chinês, o Paquistão é o lugar mais perigoso do mundo, os sauditas detestam o governo iraniano. O chocante é ver o nível de fofoca e a linguagem horrenda dos diplomatas americanos, o Departamento de Estado tornou-se o paraíso dos mascates semiletrados. Agora, o dirigente do site (Assange) avisa que divulgará documentos de um grande banco. O cerco ao site foi imediato e coordenado, e o contra-ataque dos simpatizantes, idem; uma guerra cibernética está em curso e o problema da liberdade de imprensa veio ao primeiro plano. O maior vexame é do governo americano, que gasta bilhões na segurança de comunicações internas e viu milhares de documentos serem copiados por funcionários e repassados para publicação. Em relação ao mapa natal dos EUA, Saturno faz outro retorno, Mercúrio e Marte fizeram conjunção em Sagitário, em oposição ao Marte natal e Plutão em trânsito faz oposição ao Júpiter natal; mais uma evidência de que o setor VII (diplomacia, aliados, guerras, inimigos) está mesmo em Sagitário.
Em janeiro, Júpiter ingressa em Áries, em março faz oposição a Saturno (quadratura ao Sol dos EUA) e em maio já estará em Touro, onde permanece pelo resto do ano. Ouviremos fanfarras militares e cantos impulsivos e eufóricos. Na Coreia do Norte a situação doméstica se agrava: a sucessão, o contrabando, a corrupção nos altos escalões do partido e forças armadas podem resultar numa imensa besteira. O Irã ainda não está a salvo, apesar de todos os malabarismos diplomáticos. Saturno retrograda em janeiro e inicia um período de revisão nos últimos acontecimentos, especialmente no câmbio de diversos países. Segue direto a partir de junho e alcança 28 de Libra no final do ano. O planeta pressiona fortemente o stellium (Urano, Vênus e Netuno) em Capricórnio do mapa natal da UE, afetando o executivo do bloco.
Urano entra em Áries em março, faz quadratura a Plutão, retrograda em junho e fica novamente direto em dezembro de 2011, todo o movimento no signo empreendedor e guerreiro. Clamores por atitudes radicais para resolver problemas e impulsos de auto-afirmação. Podem inflar novas bolhas nos mercados de ações, cereais, minérios e combustíveis. O planeta instiga a Lua do mapa da União europeia ao longo do ano, um sinal claro de que a situação não está sob controle: levantes populares e greves, atentados terroristas, desagregação nas políticas sociais são temas em destaque. Plutão segue direto em Capricórnio até abril, quando retrograda e fica direto em setembro. Medidas autoritárias em curso: xenofobia em alta, expulsão de imigrantes, cerceamento à liberdade de imprensa e civil; o estado policial em pleno desenvolvimento por causas nobilíssimas.
Netuno faz a pré-estreia em Peixes, de abril a agosto, colocando seus temas no noticiário: saúde pública e assistência social; meio ambiente, drogadição, movimentos religiosos emocionais e ilusórios, ascensão de movimentos populares desorganizados, debate público sobre o fim da era do petróleo. O planeta retornou ao ponto em que foi avistado pela primeira vez, em 1846, no final de Aquário, e quando passou por Peixes trouxe o nascimento do movimento espírita nos EUA, o lançamento do Manifesto Comunista – ambos em 1848 – a preparação da guerra civil americana em função do problema da escravidão, importantes rebeliões na Índia (1857) e na China (Taiping) contra estrangeiros, a primeira perfuração de petróleo nos EUA (1859) e o modernismo em literatura, com Baudelaire nas “Flores do Mal” (1857). Se alguém tem interesse em saber como andavam as mazelas da modernidade no século XIX, o poeta é incontornável. O interesse pelo mundo infra-humano vai se intensificar: zumbis, vampiros, lobisomens e psicopatas estarão em estrelato. As fendas na muralha ficarão evidentes.
A LENTA AGONIA – Desde 1980 a economia mundial é movida a crédito, dívidas, bolhas e crises, e desde 1995 baseou-se amplamente no circuito Pacífico: EUA/China e países exportadores asiáticos. Este arranjo sofreu um baque em 2007 e procura aprumar-se a todo custo. Os Estados que socorreram o sistema financeiro com trilhões se endividaram e agora são acossados pelo sistema socorrido. Para pagar as dívidas aos bancos os governos entregaram a conta à população, na forma de desemprego, aumento de impostos, cortes na assistência social, rebaixamento de salários e outras malfeitorias. A reação sindical e popular na Europa está lenta e desorganizada, os países do Mediterrâneo já deviam ter feito uma greve conjunta; na Inglaterra os cortes são ferozes, mas só os estudantes saíram às ruas. Com a teimosia dos dirigentes franceses e alemães o euro ainda corre riscos, a harmonização das políticas – fiscal e trabalhista – é essencial para a continuidade da experiência do bloco.
Nos EUA a única reação foi a emergência do Tea Party que conseguiu a prorrogação do corte de impostos aos ricos e pressiona pela revisão da reforma da saúde. A maioria republicana na Câmara vai infernizar o executivo e dificultar ao máximo qualquer proposta sensata de reativação da economia; o FED terá que fazer o trabalho sozinho e dispõe de pouca munição, o QE2, recebido pelo mundo como uma tentativa de protecionismo com o dólar fraco. Tudo indica que o pacote chinês criou uma bolha imobiliária e um pouco de inflação, forçando o governo ao arrocho monetário e a uma defesa obstinada do desvalorizado Yuan.
Enquanto os teóricos debatem as causas da desordem climática, ela continua a fazer estragos: as secas e inundações destruíram colheitas e os preços dos cereais subiram, assolando a vida dos pobres; a FAO prevê alta nestes preços em 2011, com a colaboração dos fundos de investimento. Como ficou claro em Copenhague, no ano passado, um acordo para o corte de emissões de carbono ficou mais longe, EUA, China e Índia continuam a usar carvão intensivamente, o que significa que podemos esperar mais desastres naturais, e agradecer porque neste ano a temporada de tornados e tempestades tropicais no Caribe foi amena. A COP-16, realizada em Cancún, apresentou um Fundo Verde e não mataram o Protocolo de Kyoto, melhor que nada.
Ninguém quer iniciar uma guerra de vastas proporções, pois o desfecho será trágico, mas a situação toda torna isto possível e um descuido, um ato impulsivo, pode iniciar o que ninguém quer. A entrada do Sol nos signos cardinais deve ser seguida cuidadosamente no ano que entra, todas estão ativando aspectos tensos.
O Brasil foi objeto da última crônica, resta acrescentar que parece que o governo se deu conta de que o atual ritmo da economia é insustentável, a brecha entre consumo e produção industrial cresceu muito. Dois anos de arrumação são necessários. Espero que não continue aumentando a dívida pública para capitalizar o BNDES para o financiamento de fusões de grandes empresas, melhor olhar a infraestrutura deficiente com os recursos disponíveis. O Congresso continua a toda: aprovou legislação sobre os bingos e resolveu pulverizar a receita futura do pré-sal, medida que será vetada, com toda razão; além de aprovar aumentos generosos nos proventos da cambada. Ele dará bastante trabalho ao novo governo.
MEDIDAS PROTETORAS – É possível aprender com todos e tudo. As comédias apresentadas na TV são rasas, os personagens fazem e dizem tantas tolices que os telespectadores se sentem muito inteligentes, mas é possível ir além, rir e aprender.
Quem quiser ter uma ideia do fundo social do partido republicano e do Tea Party, não deve perder “The Middle”, comédia sobre uma família do Meio-Oeste, ao norte dos EUA, que tem uma tradição longa sobre os matutos interioranos. Endividados por conta da estagnação, fanáticos por TV e fast food, proclamam a todo o momento a capacidade empreendedora americana. São estas pessoas que elegem representantes que patrocinam o corte de impostos às grandes empresas e milionários, atitude que só lhes inferniza a vida. Naturalmente não ligam causa e efeito, pois se o fizessem a comédia acabaria.
A graça do “The Big Bang Theory” baseia-se no fato que ter um doutoramento em Física ou Engenharia não prepara ninguém para a vida cotidiana. Homens beirando os trinta comportam-se como colegiais colecionando gibis, brinquedos e tomando séries e filmes de ficção científica como modelos, a ciência se curva a Hollywood. Um judeu com a tradicional mãe neurótica, um hindu hipertímido, um texano com a mãe carola e uma síndrome neurológica, um descendente de europeus e uma garçonete proveniente do Meio-Oeste... Faltam o negro e o hispânico. Bons atores e personagens simpáticos. A série reflete o profundo ressentimento da população pela dificuldade na obtenção de um diploma, uma faculdade anda muito cara e a crise fez evaporar muitas poupanças destinadas aos estudos dos filhos. Além disto, eles se ocupam com conceitos abstratos e alta matemática que a maioria não entende e odeia.
“Two and a half man” é a glorificação do parasitismo. Depois de compor alguns jingles que raramente escutamos, Charlie comprou casa na praia e uma Mercedes, bases de inúmeras conquistas de mulheres. Alcoólatra de carteirinha hospeda irmão e sobrinho desastrados, a empregada recusa-se a fazer alguns serviços e bebe na espreguiçadeira. O verdadeiro centro de gravidade da série é a mãe dos personagens, mais esperta do que todos os outros somados. Oriunda da contracultura dos anos 60 tornou-se uma cínica corretora de imóveis, com vida amorosa para lá de conturbada, e é a fonte dos desajustes do trio masculino. Um retrato da Califórnia atual, produtora de bolhas imobiliárias e indústria do entretenimento, culturas de gratificação instantânea. De vez em quando Charlie Harper tem momentos de consciência do vazio de sua vida, mas o whisky e as mulheres abafam isso imediatamente. Parece que o ator não faz o menor esforço para interpretar o papel, pois já está muito próximo de sua vida.
“House” é puro humor negro, dedicada a mostrar as maravilhas da Medicina contemporânea: depois de 4 ou 5 exames invasivos e dolorosos, o médico tem um Aha! E resolve os casos. Os demais médicos são totalmente atrapalhados para realçar a atuação do personagem principal, cujo bordão é: todo mundo mente. Truísmo tonto, pois as coisas começam a ficar interessantes quando percebemos que todo mundo mente, mesmo quando queremos dizer a verdade. As observações do médico sobre o comportamento humano derivam das neurociências e psicologia evolutiva, banalidades que atualmente passam por sabedoria. A série traz algo muito enganoso: apesar das drogas e dos equipamentos ultramodernos, a Medicina depende de um médico providencial, mas basta entrar num consultório ou hospital para que isto se esvaia no ar sutil. O seriado podia ter um subtítulo: a vingança do doutor Watson.
E depois das risadas... Voltar a Baudelaire, abrir as “Flores do Mal” e procurar: Ô douleur! Ô douleur! Les Temps mange la vie, Et l’obscur Ennemi qui nos ronge le coeur, Du sang qui nous perdons crôit e se fortifie! Cento e cinquenta anos depois, o livro continua atualíssimo. Uma bela edição bilíngue foi feita pela Nova Fronteira, com tradução, introdução e notas de Ivan Junqueira. A agitação sem meta, a impiedade da grande massa citadina, o tédio, a difusão dos jogos de azar e a drogadição, tudo isto já está lá, expresso de forma magistral.
Trabalho espiritual, boa música e leituras e algumas boas risadas são suficientes. Qualquer esforço neste tempo sombrio tem grande mérito espiritual, é o que nos garante a doutrina védica ou a cristã, no livro das Revelações. Não importa se o objeto é uma comédia na TV, Baudelaire ou as diamantinas parábolas de Jesus, o importante é a atividade de Buddhi, a divina Sabedoria.
A todos boas festas e votos de um 2011 em paz interior e com saúde razoável.
|
|
15/12/2010 14:47:56
|
Beth Lorenzotti - 26/12/2010 12:36:02
Rui, grande lembrança Baudelaire, o grande vidente, que já disse tanto. A arte salva. Beijos, feliz 2011.
|
Rui Sá Silva Barros - 29/12/2010 17:29:18
Para vc também, querida. Ele é o tal, esse poeta. Além da temática moderna conseguiu uma grande fluidez mesmo usando métrica e rimas, uma realização estética notável.Em tempo a Bete é jornalista, edita o blog vivababel e publicou recentemente uma biografia de Josè Ramos Tinhorão, o historiador de música popular brasileira, livro equilibrado,objetivo e engraçado, o que não é fácil diante do rei das polêmicas. Abraços, rui.
|
Tereza Kawall - 20/01/2011 17:14:07
Oi Rui, adorei seu artigo para 2011, sem rococó, objetivo e informações mais precisas. VC acha que a o Ascendente dos EUA é G~emeos?? O Urano em Áries no mapa do Brasil vai sacudir a roseira financeira, não achas? um bj
|
Rui Sá Silva Barros - 21/01/2011 09:28:54
Olá Tereza: Como vai? As pesquisas que fiz indicam mesmo Gêmeos como Asc dos EUA, veja a crônica dedicada ao assunto no fórum do site. A entrada de Urano em Áries vai balançar o coreto de vários países e principalmente da UE, veja a crônica 2010: o jogo do poder no fórum. No Brasil vai trazer boas notícias na área de minérios e petróleo e vai exigir uma tomada de posição na política econômica: a equação de câmbio, inflação, juros e investimentos externos não fecha desde meados do ano passado e ameaça desorganizar bastante o front. O governo ainda vacila em dar uma freada para arrumar a casa, as pressões contrárias são muitas. Vou detalhar tudo isto na próxima crônica, tá bem? Um beijo.
|
|
|
|
|
|