A Morte, esqueleto descarnado e revestido
com uma túnica presa ao corpo por uma faixa branca com volutas,
o crânio cingido por um turbante da mesma cor, cavalga sobre
um corcel negro. Ela empunha seu atributo, a foice, cujo cabo, no
primeiro plano, cria a impressão de profundidade. O cavalo
ultrapassa a “barreira” da carta, transbordando o quadro.
O artista se preocupou mais com o efeito impressionante do conjunto
do que com seu desenho inicial. Em seu ímpeto, o animal salta
sobre cinco defuntos, um papa, um bispo, dois cardeais, um rei,
alusão à vaidade das majestades humanas.
A arma ameaçadora, a foice, foi tomada
de empréstimo a Saturno, que, com este atributo, representa
o tempo. Esse deus agrário dos latinos, cujo reino de abundância
e de paz correspondia à Idade de Ouro, era representado originalmente
com uma foicinha. A partir do período romano clássico,
ele foi assimilado ao deus grego Cronos e,
a seguir, ao tempo Chronos. A homonomia
dos termos foi, ao que parece, a razão desta confusão.
Macróbio, escritor latino do século
V, em sua Saturnália, deu à foicinha um outro
significado: “alguns pensam que a foicinha foi a eleatribuída
porque o tempo tudo ceifa” (I,8). A foicinha se transformou
em foice no correr da Idade Média e se tornou o símbolo
de um poder destruidor, como o da morte. Ela permaneceu também
como atributo do Tempo, auxiliar da Morte.
O cavalo faz uma referência aos quatro
cavaleiros do Apocalipse, um dos quais simboliza a morte.
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Tarô dito de Charles
VI ou Tarô Gringonneur: A Morte.
Norte da Itália. Final do século XV.
Pintura com têmpera de ovo, sobre um
desenho preparatório com tinta negra, tipo sépia; decoração
com ramos estampados, após fixação de folha de
ouro e prata, sobre uma camada assentada sobre suporte de papel; dorso
branco sem adornos. Papel em várias camadas com "colarinhos"
à moda italiana, alguns dos quais estão roídos.
A parte do desenho dissimulado pelos "colarinhos" realizados
posteriormente, foram redesenhados. Dezessete cartas: 80/185 x 90/95
mm. Paris, Biblioteca Nacional da França,
Estampas, Res. Kh 24. http://expositions.bnf.fr/renais/grand/045.htm.
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