Uma mulher, com a cabeça aureolada
ou enfeitada por um chapéu, tem numa das mãos um cetro
e, na outra, um globo. Ela se encontra de pé sobre uma esfera,
que representa, sem dúvida, o universo e que evolui sobre
nuvens ou água. O globo, símbolo do mundo, e o cetro,
símbolo do poder, são igualmente atributos do Imperador.
A auréola ou o chapéu com aparência de grinalda
é também usado nos trunfos que representam as virtudes
– a Força, a Justiça e a Temperança.
Ela está muito parecida com uma representação
da Justiça numa gravura florentina, o Triunfo do Renome
(da Fama), que data dos anos 1460 (Hind, A I, 21, 1).
A iconografia do Mundo é difícil
de interpretar. No centro da esfera que, sem dúvida, representa
a Terra, erguem-se arquiteturas de cidades fortificadas nos topos
dos montes. Um largo círculo o circunda, talvez o mundo celeste,
composto de nove céus superpostos, segundo o sistema de Ptolomeu,
conhecido na época.
Esse sistema fazia da Terra o centro do
universo. À sua volta, o mundo celeste correspondia aos sete
planetas (Lua, Mercúrio, Vênus, Sol, Marte, Júpiter
e Saturno), à esfera das estrelas fixas e à do Primeiro
Móvel ou Cristalino que, por sua vez, estava em contato direto
com a última esfera, denominada Causa Primeira, ou seja,
Deus. Este transmitia o movimento ao Primeiro Móvel, motor
que animava as demais esferas e se encontrava na origem de todos
os movimentos do universo. O sistema de Copérnico (1473-1543)
era ainda pouco difundido no início do século XVI.
O Mundo do jogo de tarô poderia ser
uma representação alusiva ao universo de Ptolomeu.
A figura se aproxima igualmente, pela sua
posição em pé sobre uma esfera e pelo cetro
que segura, à alegoria da Fortuna. No entanto, inúmero
detalhes iconográficos a afasta dessa referência. A
deusa da Fortuna está nua e tem uma venda sobre os olhos.
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Tarô dito de Charles
VI ou Tarô Gringonneur: O Mundo.
Norte da Itália. Final do século XV.
Pintura com têmpera de ovo, sobre um
desenho preparatório com tinta negra, tipo sépia; decoração
com ramos estampados, após fixação de folha de
ouro e prata, sobre uma camada assentada sobre suporte de papel; dorso
branco sem adornos. Papel em várias camadas com "colarinhos"
à moda italiana, alguns dos quais estão roídos.
A parte do desenho dissimulado pelos "colarinhos" realizados
posteriormente, foram redesenhados. Dezessete cartas: 80/185 x 90/95
mm. Paris, Biblioteca Nacional da França,
Estampas, Res. Kh 24. http://expositions.bnf.fr/renais/grand/049.htm.
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