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    | O simbolismo do Tarô |  
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    | 3. As combinações dos Arcanos Maiores |  
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    | P. D. Ouspensky |  
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    | Examinando as 22 cartas do  Tarô em diferentes combinações e tentando estabelecer relações possíveis e  permanentes existentes entre elas, verificamos que é possível dispor as cartas aos pares, a primeira com a última, a segunda com  a penúltima, e assim por diante. E  vemos que, ao dispô-las desse modo, as cartas adquirem um significado  muito interessante. A  possibilidade de tal disposição das cartas do Tarô é demonstrada pela ordem dos  quadros do Tarô na galeria do "templo de iniciação" mítico, de que  fala Christian.
 As cartas são dispostas  assim:
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          |  | 1-02-21
 |  | 3-204-19
 |  | 5-186-17
 
 |  |  7-168-15
 |  | 9-1410-13
 |  | 11-12 |  |  |  
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    | Dispostas dessa maneira, uma carta explica a outra e, o que é mais importante, mostra que elas só podem  ser explicadas juntas e nunca separadamente (como no caso das cartas 1 e 0). Estudando esses pares de cartas, o intelecto se  acostuma a ver a unidade na dualidade.
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          |  | 1. O Prestidigitador (ou O Mago) 2. A Grande Sacerdotisa
 3. A Imperatriz
 4. O Imperador
 5. O Hierofante (ou O Papa)
 6. Tentação (ou O Enamorado)
 7. O Carro
 8. Justiça
 9. O Eremita
 10. A Roda da Fortuna
 11. A Força
 |  | 12. O Enforcado 13. A Morte
 14. Tempo (ou A Temperança)
 15. O  Diabo
 16. A Torre
 17. A Estrela
 18. A Lua
 19. O Sol
 20. O Julgamento
 21. O Mundo
 O. O Louco
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    | A primeira carta, "O Prestidigitador" (ou O Mago), representa o  Super-homem, ou a humanidade como  um todo, ligando terra e céu. Seu oposto é "O Louco", carta 0. Esse é  um homem individual, o homem  fraco. As duas cartas juntas representam os dois pólos, o começo e o fim. A segunda  carta, "A Grande Sacerdotisa", é Ísis ou o Conhecimento Oculto. Seu oposto é a carta 21, "O Mundo" no  círculo do Tempo, no meio dos quatro princípios, isto é, o objeto do  conhecimento.
 A terceira  carta, "A Imperatriz", é a Natureza. Seu oposto é a carta 20, "O  Dia do Juízo" ou "A Ressurreição  dos Mortos". Isso é a Natureza, sua eterna atividade regeneradora e vivificadora.
 A quarta carta, "O Imperador", é a Lei de Quatro, o princípio da  sustentação da vida, e o seu oposto é a carta 19, "O  Sol", como a expressão real dessa lei e a fonte visível da vida.
 A quinta carta, "O Hierofante" (ou O Papa), é a Religião, e seu  oposto é a carta 18, "A Lua",  que pode ser entendida como o princípio oposto, hostil à religião, ou como "Astrologia",  isto é, como a base da religião. Em algumas cartas do antigo Tarô, em lugar do  lobo e do cão há, na décima oitava carta, uma figura de dois homens realizando observações astronômicas.
 A sexta carta, "Tentação" (Enamorado) ou o Amor, é o lado  emocional da vida, e a carta 17, "A Estrela" (O Mundo  Astral) é o lado emocional da Natureza.
 A sétima  carta, "O Carro", é a Magia no sentido de conhecimento incompleto, no sentido de "casa construída sobre a  areia", e seu oposto, a carta 16, "A Torre", é a queda  que se segue inevitavelmente a uma ascensão artificial.
 A  oitava carta, "Justiça", é a Verdade, e a carta 15, "O  Diabo", é a Mentira.
 A nona carta, "O Eremita", é a sabedoria ou conhecimento e a  busca do conhecimento, e  a carta 14, "Tempo" (ou Temperança), é a matéria do conhecimento ou o  que se conquista pelo conhecimento ou o que serve de medida do conhecimento.  Enquanto o homem não compreende o tempo, ou enquanto o  conhecimento do homem não muda em relação ao  tempo, seu conhecimento não vale nada. Além disso, o primeiro significado da carta 14, "Temperança",  indica o comando de si, ou o controle das emoções como a condição  necessária da "sabedoria".
 A décima carta é "A Roda da Fortuna" e seu oposto é a carta 15,  "Morte". Vida e  morte são uma só. A morte indica somente a volta da roda da vida.
 A décima  primeira carta é "A Força" e seu oposto é a carta 12, "O  Enforcado", o Sacrifício, isto é, o que  dá força. Quanto maior o sacrifício do homem, maior será sua força. A força é  proporcional ao sacrifício. Aquele que pode sacrificar tudo, pode fazer tudo.
 Tendo estabelecido  aproximadamente essas correspondências, é interessante tentar redesenhar as  cartas do Tarô em descrições, imaginando-as com o significado que deviam ter:  noutras palavras, imaginando simplesmente o que elas podem significar.
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    | Os "quadros do Tarô" que se seguem são, em  muitos casos, o resultado de uma compreensão puramente  subjetiva, por exemplo, a décima oitava carta. A mesma carta,  como foi mencionado antes, tem, em alguns Tarôs  antigos o significado de "Astrologia". E,  nesse caso, sua relação com a quinta carta é completamente diferente.  (Considero necessário assinalar que, em 1911, quando escrevi O Simbolismo do Tarô, tinha  o baralho inglês moderno do Tarô, que foi redesenhado e, em muitos casos, alterado de acordo com a interpretação  teosófica. Só em alguns casos, em que as alterações me pareceram inteiramente  infundadas e deturpando a idéia, como por exemplo na carta O (O Louco), usei o  Tarô de Oswald Wirth como aparece no livro de Papus, Le tarot des  bohémiens. Mais tarde reescrevi algumas de minhas descrições de acordo com  as antigas cartas e com o Tarô de Oswald Wirth). Em seguida, continuando a  examinar os possíveis significados do baralho do Tarô, é necessário dizer que,  em muitos dos livros já mencionados, 21 cartas dos 22 Arcanos Maiores são consideradas como uma trindade ou como um triângulo, do qual cada lado é  formado por sete cartas. Cada uma das três partes da obra de Guaïta é dedicada a um dos três lados do triângulo e,  nesse caso, como em muitos outros, as  sete são consideradas em ordem de 1 a 22 (isto é, a O).
 Mas o fato é que os triângulos  construídos desse modo, embora inteiramente precisos  numericamente, não têm nenhum significado do ponto de vista simbólico. Isso quer dizer que eles são inteiramente  heterogêneos relativamente aos quadros. Em nenhum dos lados do triângulo, os quadros representam qualquer coisa  completa e relacionada, mas aparecem em combinações inteiramente  fortuitas.
 Podemos chegar à conclusão de  que os quadros devem ser considerados de acordo com o seu significado e não de  acordo com a ordem no baralho. Em outras palavras, as cartas que estão  próximas uma da outra no baralho podem não ter relação nenhuma de significado.
 E assim,  examinando o significado das cartas do Tarô, conforme revelado nas "descrições", podemos ver que as 22 cartas entram em três grupos  de sete, cada um homogêneo  em si mesmo relativamente ao significado dos quadros, mais uma carta que é o resultado de todos os três grupos de sete; e essa carta pode ser ou  o O ou o 21.
 Nesses  três grupos de sete, que não podem ser encontrados pelos números e devem ser  procurados no significado dos símbolos, há novamente a doutrina secreta (ou uma  tentativa de uma doutrina secreta), cuja expressão é o Tarô. De acordo com isso,  os "Arcanos Maiores" contêm em si  mesmos a mesma divisão que o Tarô completo, isto é, os "Arcanos Maiores" também são divididos em Deus,  Homem e Universo.
 Um  grupo de sete se refere ao Homem. Outro grupo se refere à  Natureza. E o terceiro refere-se ao mundo das idéias (isto é, a Deus ou ao  Espírito).
 Os  primeiros sete — Homem: O “Prestidigitador” ou "Mágico" (Adam  Kadmon), humanidade ou Super-homem; o "Louco" (homem  individual); "Tentação" (amor), espécie  humana; o "Diabo" (a queda); a "Carroça" (a busca ilusória);  o "Eremita" (a busca real);  o "Enforcado" (realização). Cartas 1, 0, 6, 15, 7, 9, 12.
 O segundo  grupo de sete — Universo:  O Sol, a Lua, a Estrela, o Farol (a Torre),  a Ressurreição dos Mortos, Vida e Morte. Cartas 19, 18, 17, 16, 20, 10, 13.
 O terceiro grupo de sete — Deus:  A Grande Sacerdotisa (conhecimento); a Imperatriz  (poder criador); o Imperador (os quatro elementos); o Hierofante (religião); Tempo (eternidade); Força (amor, união e  infinito), Verdade. Cartas 2, 3, 4, 5, 14, 11, 8.
 O primeiro  grupo de sete representa os sete passos do caminho do homem considerado no tempo, ou as sete faces do homem que coexistem nele, as sete  faces expressas nas mudanças da  personalidade do homem — as últimas, se consideradas no sentido  místico da doutrina secreta do Tarô.
 O segundo e o terceiro grupos  de sete — o Universo e o Mundo das Idéias ou Deus  — representam, cada um separadamente e também em combinação com o primeiro,  um vasto campo de estudo. Cada um dos sete quadros simbólicos que se refere ao  Universo relaciona, de certo modo, o homem com o mundo das idéias. E cada uma das sete idéias relaciona, de certo modo,  o homem com o Universo.
 Nenhum dos três grupos de sete  inclui a vigésima primeira carta, "O Mundo", que nesse caso contém em si mesma  todas as 21 cartas, isto é, o triângulo completo.
 Agora, se  construirmos um triângulo com cada lado formado por um dos grupos de  sete, e colocarmos a 21 cartas no centro e arrumarmos os quatro naipes num  quadrado em volta do triângulo, a interrelação entre o quadrado, o triângulo e  o ponto se tornará ainda mais clara.
 
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    | Quando  colocamos a carta O, no centro, tivemos que usar uma certa interpretação  figurada, dizendo que o mundo está contido na mente do homem. Mas agora obtemos o Mundo também no centro: a 21ª carta igual ao triângulo e ao  quadrado considerados juntos. O mundo está  no círculo do tempo, entre os quatro princípios (ou quatro elementos), representados pelas quatro bestas do  Apocalipse. O quadrado  também representa o mundo (ou os quatro elementos em que o mundo consiste). Em conclusão, é  interessante citar algumas especulações curiosas do livro Le tarot des bohémiens referentes à origem de outros jogos nossos  conhecidos: xadrez, dominós e  outros, e também uma lenda sobre a origem do Tarô.
 "O  Tarô compõe-se de números e figuras que reagem mutuamente e se explicam entre  si", escreve  o autor de O Tarô dos Boêmios (Le tarot des bohémiens, de  Papus).
 "Mas se separarmos as  figuras e as arrumarmos sobre o papel em forma de roda, movendo os números na  ordem dos dados, produziremos o Jogo do Ganso, com que Ulisses, segundo Homero,  trapaceava sob as paredes de Tróia.
 Se fixamos os números em  quadrados pretos e brancos alternados, e permitimos que as figuras menores de nosso jogo se movam neles — o  Rei, a Rainha, o Cavaleiro, o Bobo ou Valete, a Torre ou Ás — temos o  Jogo de Xadrez. De fato, os primitivos tabuleiros de xadrez possuíam números, e  os filósofos os usavam para resolver problemas de lógica.
 Se  deixamos de lado as figuras e nos limitamos ao uso dos números, aparece o Jogo  de Dados; e, se nos cansamos de lançar os dados, podemos  imprimir os caracteres em placas horizontais e criar o Jogo de Dominós.
 Do mesmo modo, o xadrez  degenerou no Jogo de Damas.
 Finalmente,  nosso baralho de cartas, em vez de aparecer inicialmente no reinado de Carlos VI, conforme o  relato comum, é de origem  muito mais antiga. As normas espanholas existiam muito antes desse rei,  proibindo aos nobres jogar cartas, e o próprio Tarô é de origem muito antiga.
 Os cetros do Tarô  tornaram-se paus; as taças, copas; os sabres, espadas e os pentagramas ou moedas, ouros. Também  perdemos as vinte e duas figuras  simbólicas e os quatro Cavaleiros."
 No mesmo livro, Papus conta uma história, provavelmente inventada por ele, sobre a origem do Tarô:
 "Seguiu-se um tempo em que  o Egito, não sendo mais capaz de lutar contra os invasores, preparou-se para perecer honradamente. Assim os  sábios egípcios (pelo menos é o que assevera meu misterioso informante)  realizaram uma grande assembléia para resolver como o conhecimento, que até  aquela data havia sido guardado para os homens considerados dignos de  recebê-lo, deveria ser salvo da destruição.
 De início pensaram em confiar  esses segredos a homens virtuosos recrutados secretamente pelos próprios iniciados, que os transmitiriam de  geração em geração.
 Mas um  sacerdote, observando que a virtude é uma coisa muito frágil e muito difícil de  encontrar, em todos os acontecimentos de uma linha contínua, propôs confiar as  tradições científicas ao vício.
 Este último,  disse ele, nunca desapareceria  completamente, e através dele estamos seguros de uma  longa e durável preservação de nossos princípios.
 Essa  opinião foi evidentemente adotada, e foi escolhido o jogo como vício. Então as  pequenas placas foram gravadas com as figuras misteriosas, que ensinavam  primitivamente os segredos científicos mais importantes, e, desde então, os  jogadores transmitiram esse Tarô de geração em geração, muito melhor do que o  teriam feito os homens mais virtuosos da Terra."
 Essas fantasias do  "ocultista" francês poderiam ser interessantes, se ele não simulasse  um conhecimento esotérico. Mas é claro que elas não contêm nada de histórico e eu as cito aqui porque expressam bem o  sentimento geral suscitado pelo Tarô  e a idéia de sua origem incompreensível.
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    | fev.09 |  
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    | Para continuar, clique nos links abaixo: 1. Os fundamentos  ou 2. A literatura ou 4. Os pares de cartas
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