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O simbolismo do Tarô |
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4. Os pares de cartas dos Arcanos Maiores |
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P. D. Ouspensky |
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Carta 1, O Prestidigitador (O Mágico ou Mago) |
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Eu vi um homem de aparência estranha.
Sua figura vestida com uma roupa de palhaço multicolorida erguia-se entre a Terra e o Céu. Seus pés estavam ocultos pela grama e pelas flores; e sua cabeça, com um grande chapéu com uma aba estranhamente virada para cima, parecendo o sinal da eternidade, desaparecia nas nuvens.
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Numa das mãos segurava a vara mágica, o sinal do fogo, com um dos extremos apontando para o céu; e com a outra tocava o pentagrama, o sinal da terra, que jazia diante dele sobre um assento móvel de prestidigitador, lado a lado com a taça e a espada, signos da água e do ar.
Como um relâmpago, ali me ocorreu subitamente a percepção de que eu via os quatro símbolos mágicos em ação.
O rosto do Prestidigitador estava radioso e confiante. Suas mãos adejavam rapidamente como se jogassem com os quatro signos dos elementos, e eu senti que ele segurava alguns fios misteriosos que ligavam a Terra a astros distantes.
Cada movimento seu era cheio de significado, e cada nova combinação dos quatro símbolos criava longa série de inesperados fenômenos. Meus olhos estavam deslumbrados. Eu não podia acompanhar tudo que era apresentado.
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Para quem é toda esta representação? Perguntava a mim mesmo. Onde estão os espectadores?
E ouvi a Voz dizer:
"Os espectadores são necessários? Olhe mais de perto para mim."
Dirigi novamente os olhos para o homem com roupa de palhaço e vi que ele mudava continuamente. Multidões inumeráveis pareciam passar e passar nele diante de mim, desaparecendo antes que eu pudesse dizer a mim mesmo o que via. E compreendi que ele mesmo era tanto o Prestidigitador quanto os espectadores.
Ao mesmo tempo, eu me via nele, refletido como num espelho e me parecia que eu olhava para mim mesmo através dos olhos dele. Mas um outro sentimento me dizia que não havia nada diante de mim a não ser o céu azul e que dentro de mim abria-se uma janela, através da qual eu via coisas sobrenaturais, ouvia palavras celestiais. |
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Carta 0, O Louco |
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E eu vi outro Homem.
Exausto e claudicante, ele se arrastava ao longo de uma estrada poeirenta, através de uma planície sem vida, sob os raios abrasadores do Sol.
Olhando estupidamente de esguelha com olhos fixos, com um meio sorriso, uma meia careta congelada em seu rosto, ele rastejava sem ver nem conhecer destino, mergulhado em seus próprios sonhos quiméricos, que se moviam eternamente no mesmo círculo. |
O gorro com guizos do louco estava em sua cabeça, de costas para a frente. Suas roupas, viradas para trás. Um lince selvagem com olhos ardentes lançou-se a ele de trás de uma pedra e cravou-lhe os dentes na perna.
Ele tropeçou, quase caindo, mas arrastou-se sempre para diante, carregando nos ombros um saco cheio de coisas desnecessárias, inúteis, que só a sua loucura o obrigava a carregar.
Em frente, a estrada era atravessada por uma ravina. Um precipício profundo esperava o louco viajante... e um crocodilo enorme com as fauces escancaradas movia-se vagarosamente para fora do abismo.
E eu ouvi a Voz dizendo-me:
"Veja. Esse é o mesmo Homem."
Tudo ficou confuso em minha cabeça.
"O que ele leva no saco?" perguntei, sem saber por que o fazia.
Depois de um longo silêncio, a Voz respondeu: |
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"Os quatro símbolos mágicos, o cetro, a taça, o sabre e o pentagrama. O louco sempre os leva consigo, mas não compreende o que eles significam."
"Você não vê que é você, você mesmo?"
E com um arrepio de horror, senti que esse também era eu. |
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Carta 2, A Grande Sacerdotisa |
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Quando levantei o primeiro véu e entrei no pátio externo do Templo das Iniciações, vi na penumbra a figura de uma Mulher, sentada num trono elevado entre duas colunas do templo, uma branca e outra preta. |
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O mistério exalava dela e em volta dela.
Os símbolos sagrados reluziam em suas roupas verdes. Na cabeça estava uma tiara dourada encimada por uma lua com dois cornos. Nos joelhos carregava duas chaves cruzadas e um livro aberto.
Entre as duas colunas ao lado da Mulher pendia um segundo véu enfeitado de folhas verdes e frutos de romã.
E a Voz me disse:
"Para entrar no templo é necessário levantar o segundo véu e passar entre as duas colunas. E para passar entre elas é necessário ter a posse das chaves, ler o livro e compreender os símbolos. O conhecimento do bem e do mal o espera.
"Você está pronto?"
E com profundo sofrimento senti que estava com medo de entrar no Templo. "Você está pronto?" repetiu a Voz. |
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Eu estava em silêncio. Meu coração quase parava de temor. Eu não podia pronunciar uma palavra. Senti que um precipício se abria diante de mim e eu não ousava dar um só passo.
Então a Mulher sentada entre as duas colunas voltou o rosto para mim e olhou-me sem dizer uma palavra.
E eu compreendi que ela estava me falando, mas meu temor só se tornou maior.
Eu soube que não podia entrar no Templo. |
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Carta 21, O Mundo |
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Uma visão inesperada surgiu diante de mim.
Um círculo parecendo uma grinalda tecida de arco-íris e relâmpagos girava entre o Céu e a Terra.
Ele girava com desesperada velocidade, cegando-me com seu brilho, e nessa radiação de fogo soava uma música e ouvia-se uma suave canção, e também os trovões e o fragor de |
um vendaval e o clamor de avalanches na montanha e o estrondo de terremotos.
O círculo rodopiava com terrível clamor, tocando a Terra e o Céu e no seu centro vi a figura dançante de uma jovem e bela mulher, envolta numa transparente mantilha de luz, com o bastão mágico na mão.
E dos lados do círculo tornaram-se visíveis para mim as quatro bestas do Apocalipse — uma como um leão, a segunda como um bezerro, a terceira como o rosto de um homem e a quarta como uma águia voadora.
A visão desapareceu tão repentinamente quanto tinha aparecido.
Uma estranha quietude desceu sobre a Terra.
"O que significa isso?", perguntei com assombro.
"É a imagem do Mundo", disse a Voz. "Ela deve ser compreendida antes de passar pelas portas do Templo. Esse é o Mundo no círculo do tempo, no meio dos quatro princípios — isso é o que você sempre vê, mas nunca compreende. |
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"Compreenda que tudo que você vê, as coisas e os fenômenos, são apenas os hieróglifos das idéias mais elevadas." |
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Carta 3, A Imperatriz |
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Senti o hálito da primavera; e com a fragrância das violetas, dos lírios do vale e das cerejas silvestres, a canção suave dos elfos foi transportada em minha direção.
Os riachos murmuravam, os verdes cimos das árvores farfalhavam, numerosos coros de pássaros estavam cantando, as abelhas zumbindo e em toda parte estava a alegre respiração viva da Natureza. |
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O Sol brilhava suave e docemente, uma pequena nuvem branca pendia sobre os bosques.
No meio de uma clareira verde em que floriam as primeiras primaveras amarelas, num trono cercado de hera e lilases floridos, eu vi a Imperatriz.
Uma grinalda verde adornava seus cabelos dourados. Doze estrelas brilhavam sobre a sua cabeça. Duas asas brancas como a neve eram visíveis em suas costas, e numa das mãos ela segurava um cetro.
Com um sorriso temo, a Imperatriz olhou em torno de si, e, ao seu olhar, as flores se abriram e os botões desdobraram suas viscosas folhas verdes.
Toda a roupa dela estava coberta de flores, como se cada flor que se abrisse estivesse refletida ou impressa nela e se tornasse parte de sua vestimenta.
O signo de Vênus, a Deusa do Amor, estava esculpido sobre seu trono de mármore. |
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"Oh! Deusa da Vida", disse eu, "por que tudo é tão radiante, alegre e feliz ao vosso redor? Vós não sabeis que há o cinzento, tedioso outono, o frio, branco inverno? Vós não sabeis que há a morte, negras sepulturas, frios sepulcros úmidos, cemitérios?
"Como podeis sorrir alegremente, contemplando as flores que desabrocham, quando tudo morre e tudo morrerá, quando tudo está condenado à morte — até aquilo que ainda não nasceu?"
A Imperatriz fitou-me sorrindo e sob seu sorriso senti de repente que em minha alma a flor de alguma luminosa compreensão estava se abrindo, como se alguma coisa me estivesse sendo revelada, e o terror da morte começou a se afastar de mim. |
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Carta 20, A Ressurreição dos Mortos (O Julgamento) |
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Vi uma planície gelada. Uma cadeia de montanhas de neve fechava o horizonte. |
Uma nuvem ergueu-se e cresceu até cobrir a quarta parte do céu. E no meio da nuvem apareceram duas asas flamejantes. E eu vi o mensageiro da Imperatriz.
Ele ergueu sua trombeta e lançou um forte e imperioso sopro.
E, em resposta, a planície tremeu, e com sonora reverberação a montanha respondeu.
E, um após outro, os túmulos na planície começaram a se abrir e as pessoas saíram deles — criancinhas e velhos, homens e mulheres. E elas estenderam os braços para o mensageiro da Imperatriz e tentaram captar o som da trombeta.
E, no som da trombeta, senti o sorriso da Imperatriz. E, nos túmulos abertos, vi flores desabrochando, e, nas mãos estendidas, senti a fragrância das flores.
E compreendi o mistério do nascimento e da morte. |
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Carta 4, O Imperador |
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Depois de ter estudado os primeiros três números foi-me dado compreender a grande Lei de Quatro — o alfa e o ômega de tudo.
Eu vi o Imperador num elevado trono de pedra decorado por quatro cabeças de carneiro.
Um capacete dourado cintilava em sua fronte. Sua barba branca descia sobre o manto púrpura. Numa das mãos, segurava uma esfera, o símbolo de suas posses, e na outra, um cetro na forma de cruz egípcia — o sinal de seu poder sobre o nascimento. |
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"Eu sou a Grande Lei", disse o Imperador.
"Eu sou o Nome de Deus.
"As quatro letras de Seu Nome estão em mim e eu estou em todas as coisas. "Eu estou nos quatro princípios, estou nos quatro elementos. Estou nas quatro estações. Estou nos quatro quadrantes da Terra.
"Estou nos quatro signos do Tarô.
"Eu sou a ação, eu sou a resistência, eu sou a perfeição, eu sou o resultado.
"Para aquele que sabe o caminho para me ver, não há mistérios na Terra.
"Assim como a Terra contém fogo, água e ar, assim como a quarta letra do nome contém as três primeiras e ela própria se torna a primeira, do mesmo modo meu cetro contém o triângulo completo e carrega em si a semente de um novo triângulo." |
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E enquanto o Imperador falava, seu capacete e a armadura dourada visível sob o manto brilhavam sempre mais e mais ameaçadoramente, até que eu não pude mais suportar seu resplendor e baixei meus olhos.
E, quando tentei erguê-los novamente, estava diante de mim um fulgor penetrante, e luz e fogo.
E eu me senti prostrado adorando a Palavra de Fogo. |
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Carta 19, O Sol |
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Depois disso, quando vi o Sol pela primeira vez, compreendi que ele próprio é a expressão da Palavra de Fogo e o sinal do Imperador. O grande astro brilhava e dava calor. Embaixo, os altos girassóis dourados inclinavam as cabeças. E eu vi duas crianças num jardim por trás de uma cerca elevada. O Sol derramava sobre elas seus raios ardentes, e me parecia que uma chuva dourada caía sobre elas, como se o Sol derramasse ouro derretido sobre a Terra.
Por um instante fechei os olhos e quando os abri novamente, vi que cada raio do Sol era o cetro do Imperador, que tinha a vida no seu interior. E vi como sob as pontas aguçadas desses raios as místicas flores das Águas desabrochavam por toda parte, e como os raios penetravam nessas flores, e como toda a Natureza nascia continuamente da misteriosa união dos dois princípios. |
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Carta 5, O Hierofante (O Papa) |
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Eu vi o grande Mestre no Templo. |
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Ele estava sentado num trono dourado, colocado sobre um estrado púrpura; usava as vestes de um alto sacerdote e uma tiara dourada.
Sob seus pés vi duas chaves cruzadas e dois Iniciados estavam inclinados diante dele. E ele lhes falava.
Eu ouvia o som de sua voz, mas não pude compreender uma só palavra do que ele dizia. Ou ele falava numa linguagem desconhecida para mim, ou havia alguma coisa que me impedia de compreender o significado de suas palavras.
E a Voz me disse: "Ele fala somente para aqueles que têm ouvidos de ouvir.
"Mas desgraça para aqueles que acreditam que ouvem antes de terem realmente ouvido, ou ouvem o que ele não diz, ou põem palavras suas no lugar das dele. Eles nunca receberão as chaves da compreensão.
E é deles que foi dito que nem entram em si mesmos, nem suportam os |
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que estão começando a entrar." |
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Carta 18, A Lua |
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Uma planície desolada estendia-se diante de mim. A Lua cheia olhava para baixo como se mergulhada em meditação. À luz tremulante as sombras viviam suas próprias vidas.
Havia colinas negras no horizonte. Entre duas torres cinzentas cortava um caminho, perdendo-se na distância. De cada lado do caminho, de frente um para o outro, um lobo e um cão estavam sentados e uivando, com seus focinhos erguidos para a Lua. Uma grande lagosta negra subia de um riacho sobre a areia. Caía um orvalho frio e pesado.
Um sentimento de medo tomou conta de mim. Senti a presença de um mundo misterioso, um mundo de espíritos hostis, de cadáveres erguendo-se da sepultura, de almas atormentadas.
À pálida luz da Lua pareceu-me sentir a presença de fantasmas: sombras pareciam cruzar o caminho, alguém esperava por mim atrás das torres — e era perigoso olhar para trás. |
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Carta 6, A Tentação (O Enamorado) |
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Eu vi um jardim florido num vale verde cercado de suaves colinas azuis.
No jardim eu vi um Homem e uma Mulher, elfos, ninfas aquáticas, sílfides e gnomos dirigiam-se livremente para eles; os três reinos da Natureza, pedras, plantas e animais, os serviam. |
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A eles foi revelado o mistério do equilíbrio universal, e eles próprios eram o símbolo e a expressão desse equilíbrio.
Neles, dois triângulos estavam unidos numa estrela de seis pontas, dois ímãs em forma de arco fundiam-se numa elipse.
Acima deles, vi o Gênio flutuando, o qual, sem ser visto, guiava-os e cuja presença eles sempre sentiam.
E percebi como, de uma árvore em que amadureciam os frutos dourados, deslizou uma serpente e sussurrou ao ouvido da mulher; e a mulher ouviu, sorriu, de início com incredulidade, e depois com curiosidade. Vi-a, em seguida, falar ao homem e ele também sorriu, apontando com a mão para todo o jardim em volta dele. De repente surgiu uma nuvem e escondeu a cena de mim.
"Esta é a cena da tentação", disse a Voz. "Mas o que constitui a tentação? Você pode compreender a sua natureza?" |
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"A vida é tão boa", disse eu, "e o mundo tão belo, os três reinos da Natureza e os quatro elementos tão obedientes, que eles quiseram acreditar que eram os reis e os donos do mundo e não puderam resistir a essa tentação".
"Sim", disse a Voz, "a sabedoria que se arrasta no chão disse-lhes que eles próprios sabiam o que era o bem e o que era o mal. E eles acreditaram nisso, porque era agradável pensar desse modo. E então eles deixaram de ouvir a voz que os guiava. O equilíbrio foi destruído. O mundo encantado fechou-se para eles. Tudo apareceu-lhes sob uma falsa luz. E eles se tornaram mortais. Essa Queda é o primeiro pecado do homem, e se repete perpetuamente, porque o homem nunca deixa de acreditar em si, e vive dessa crença. Só quando o homem tiver expiado esse pecado, através de grande sofrimento, poderá escapar do poder da morte e retomar à vida. |
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Carta 17, A Estrela |
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No meio dos céus brilhou uma grande estrela, e à sua volta estavam sete estrelas menores. Os seus raios entrelaçavam-se, preenchendo o espaço com um resplendor e luz sem fim. E cada uma das oito estrelas continha em si todas as oito estrelas.
E sob as estrelas brilhantes, ao lado de um riacho azul, vi uma moça nua, jovem e bela. Apoiada num dos joelhos, despejava água de dois vasos, um de ouro, outro de prata; um pequeno pássaro num arbusto erguia as asas, e preparava-se para voar.
Por um instante compreendi que via a alma da Natureza.
"Isso é a imaginação da Natureza", disse a Voz suavemente. "A Natureza sonha, imagina, cria mundos. Aprenda a unir sua imaginação à dela; e nada jamais lhe será impossível."
"Mas lembre-se de que é impossível ver de maneira certa e errada ao mesmo tempo. Deve escolher de uma vez por todas e então não pode haver retomo." |
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Carta 7, O Carro |
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Vi um carro puxado por duas esfinges, uma branca, outra preta. Quatro colunas sustentavam um dossel azul celeste, enfeitado com estrelas de cinco pontas.
Sob este, dirigindo as esfinges, estava de pé o Conquistador com armadura de aço, e na sua mão havia um cetro, encimado por uma esfera, um triângulo e um quadrado. |
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Brilhava em sua coroa um pentagrama dourado. Na frente do carro, acima das esfinges, estava presa uma esfera com duas asas e o lingam e o yoni místicos, o símbolo da união.
"Neste quadro, tudo tem um significado. Olhe e tente compreender", disse-me a Voz.
"Esse é o conquistador que ainda não conquistou a si mesmo. Aqui estão a Vontade e o Saber. Mas, em tudo isso, há mais desejo de obter do que obtenção real.
"O homem no carro começou a se considerar conquistador antes de ter realmente conquistado. Decidiu que a conquista deve vir ao encontro do conquistador. Nisso, há muitas possibilidades reais, mas também muitas quedas enganosas e grandes perigos esperam o homem do carro.
"Ele dirige o carro com a força de sua vontade e da espada mágica, mas a tensão de sua vontade pode se enfraquecer e as esfinges podem puxar em direções diferentes e separá-lo e ao carro em dois. |
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"Esse é o conquistador contra quem o conquistado ainda pode erguer-se. Você vê atrás dele as torres da cidade conquistada? Talvez a chama da revolta já esteja ardendo por lá.
"E ele não sabe que dentro dele as esfinges vigiam cada movimento seu, e que dentro dele grandes perigos o esperam.
"E compreenda que esse é o mesmo homem que você viu unindo o Céu e a Terra, é o mesmo que viu arrastando-se por uma estrada poeirenta em direção a um precipício onde o esperava o crocodilo." |
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Carta 16, A Torre |
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Eu vi, erguendo-se da Terra ao Céu, uma torre elevada, cujo topo ia além das nuvens. Cercava-a uma noite negra e o trovão rugia.
E de repente o Céu se abriu, o ribombar do trovão sacudiu toda a Terra e o relâmpago atingiu o cimo da torre. Línguas de fogo saíam do Céu; toda a torre se encheu de fogo e fumo — e vi os construtores da torre caindo do topo.
"Veja", disse a Voz, "a Natureza odeia a fraude, e o homem não pode submeter-se às leis dela. A Natureza é paciente durante muito tempo e de repente, com um sopro, aniquila tudo que se volta contra ela."
"Se os homens pudessem pelo menos ver que quase tudo que eles conhecem consiste em ruínas de torres destruídas, talvez deixassem de construí-las." |
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Carta 8, A Verdade (A Justiça) |
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Quando me tornei possuidor das chaves, li o livro e compreendi os símbolos, foi-me permitido levantar o véu do Templo e entrar no santuário interno. |
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E aí eu vi uma mulher com uma coroa de ouro e um manto de púrpura. Numa das mãos, erguia uma espada, e na outra, levava uma balança. Vendo-a, tremi de medo, porque seu olhar era infinitamente profundo e terrível e atraiu-me como um abismo.
"Está vendo a Verdade", disse a Voz. Tudo é pesado nessa balança. A espada está eternamente erguida em defesa da Justiça e nada pode escapar dela.
"Mas por que você desvia os olhos da balança e da espada? Está com medo?
"Sim, elas o despojam de suas últimas ilusões. Como você viverá na Terra sem essas ilusões?
"Você queria ver a verdade e agora a vê.
"Mas lembre-se do que espera um mortal depois de ter visto a deusa. Ele nunca mais será capaz de fechar os olhos ao que não lhe agrada, como fez até agora. Verá perpetuamente a Verdade, sempre e em todas |
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as coisas. Você pode suportar isso? Você viu a Verdade. Agora você tem que prosseguir, ainda que não queira." |
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Carta 15, O Diabo |
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Uma noite negra aterrorizante envolveu a Terra e na distância ardia uma lúgubre chama vermelha.
Uma estranha figura fantástica tornou-se visível para mim quando me aproximei.
Muito acima da Terra vi a hedionda face vermelha do diabo, com grandes orelhas cabeludas, a barba pontuda e os chifres curvos de um bode. Entre os chifres da testa do diabo, um pentagrama invertido brilhava com luz fosforescente. Duas asas cinzentas, membranosas, como as asas de um morcego, estavam abertas. O diabo erguia seu gordo |
braço nu com o cotovelo torto e os dedos estendidos, e na palma reconheci o sinal da magia negra. Na outra mão levava uma tocha acesa, apontando para baixo, e dela erguiam-se nuvens de fumaça negra sufocante. O diabo sentou-se num grande cubo negro, seguro firmemente entre as garras de suas pernas cabeludas como de animais.
Um homem e uma mulher estavam acorrentados a uma argola de ferro diante do cubo.
E eu vi que eles eram o mesmo homem e a mesma mulher que vi no jardim, mas agora eles tinham chifres e caudas com pontas de fogo.
"Esse é o retrato da queda, o retrato da fraqueza", disse a Voz, "a expressão das mentiras e do mal".
"Essas são as mesmas pessoas, mas começaram a acreditar em si mesmas e em seus poderes. Disseram que sabiam por si mesmas o que era o bem e o mal. Confundiram sua fraqueza com força e desse modo a Falsidade subjugou-os." |
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E ouvi a voz do diabo.
"Eu sou o Mal", disse ele, "na medida em que o mal possa existir neste, o melhor dos mundos. Para me perceber, é preciso ver perversamente, erradamente e estreitamente. Três caminhos conduzem a mim: presunção, suspeita e acusação. Minhas virtudes principais são a calúnia e a maledicência. Eu completo o triângulo, cujos dois outros lados são a morte e o tempo.
"Para escapar desse triângulo basta ver que ele não existe.
"Mas como fazê-lo, não me cabe dizer.
"Porque eu sou o Mal, que os homens inventaram para terem uma justificação para si mesmos e para me considerarem a causa de todos os erros de que eles próprios são culpados.
"Sou chamado o Rei das Mentiras e, na verdade sou o Rei das Mentiras, porque sou o maior produto das mentiras humanas." |
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Carta 9, O Eremita |
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Depois de longa peregrinação num deserto arenoso, sem água, sem nenhum ser vivo além de serpentes, encontrei um Eremita.
Ele estava envolto numa longa capa, com um capuz puxado sobre a cabeça; numa das mãos levava um longo bastão e na outra uma lanterna acesa, embora estivesse em pleno dia e o Sol brilhasse.
"Eu procurava um homem", disse o Eremita. "Mas há muito que abandonei a procura.
"Agora procuro o tesouro enterrado. Você também quer procurá-lo? Primeiro precisa buscar uma lanterna. Sem uma lanterna, você estará sempre encontrando tesouros, mas o seu ouro se transformará em pó.
"E compreenda o primeiro mistério — nós não sabemos que tesouro procuramos, se aquele que foi enterrado por nossos ancestrais ou o que será enterrado por nossos descendentes." |
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Carta 14 , O Tempo (ATemperança) |
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O anjo levava nas mãos duas taças — uma de ouro e uma de prata, e entre as taças corria um riacho incessante, que cintilava com todas as cores do arco-íris. Mas eu não podia dizer de que taça ele fluía e para qual estava fluindo.
E compreendi com terror que tinha chegado aos últimos mistérios, dos quais não há retorno.
Olhei para o anjo, seus signos, suas taças, para o riacho de arco-íris entre as taças, e meu coração humano palpitou amedrontado, e minha mente humana foi movida pela angústia |
da incompreensão.
Vi um anjo entre a Terra e o Céu, vestido com uma roupa branca, com asas flamejantes e um halo dourado em volta da cabeça. Ele se mantinha com um pé sobre a Terra e outro sobre o mar, e atrás dele o Sol despontava.
No peito do anjo estava o signo do Livro Sagrado do Tarô — o quadrado e, dentro dele, o triângulo. Na testa, o signo da eternidade e da vida — o círculo.
"O nome do anjo é Tempo", disse a Voz.
"Na sua testa está o círculo. Esse é o sinal da Eternidade e da Vida.
"Nas mãos do anjo estão duas taças, de ouro e de prata. Uma é o passado, a outra o futuro. O riacho irisado entre as duas é o presente. Você vê que ele está correndo em ambas as direções.
"Isso é o tempo, no seu aspecto mais incompreensível para o homem.
"Os homens pensam que todas as coisas fluem incessantemente em |
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uma direção. Eles não vêem que elas se encontram eternamente, que uma coisa vem do passado e outra do futuro, e o tempo é uma porção de círculos girando em diferentes direções.
"Compreenda esse mistério e aprenda a distinguir as correntes opostas no riacho irisado do presente." |
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Carta 10, A Roda da Fortuna |
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Eu caminhava, absorto em meditação profunda, tentando compreender minha visão do Anjo.
E de repente, erguendo a cabeça, vi no meio do Céu um imenso círculo giratório coberto |
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de letras e sinais cabalísticos.
O círculo girava com extraordinária velocidade, e junto com ele, ora subindo, ora caindo, giravam as figuras simbólicas da serpente e do cão; e no ponto mais alto do círculo, imóvel, sentava-se a esfinge.
Vi sobre as nuvens, nos quatro quadrantes do Céu, as quatro bestas aladas do Apocalipse — uma como um leão, outra como um bezerro, a terceira com o rosto de um homem e a quarta como uma águia voando — e cada uma lia um livro aberto.
E ouvi a voz dos animais de Zaratustra:
"Tudo vai, tudo volta; eternamente gira a roda da vida. Tudo morre, tudo floresce novamente; o ano da existência corre eternamente.
"Tudo se rompe, tudo é unido de novo; eternamente se constrói a mesma casa da vida. Tudo parte, tudo torna a se encontrar; o circuito da vida permanece eternamente verdadeiro para si mesmo. |
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"A Vida começa em cada Agora, em tomo de cada 'Aqui' gira a esfera do `Lá'. O centro está em todo lugar. O caminho da eternidade é tortuoso." ["Assim falou Zaratustra"] |
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Carta 13, A Morte |
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Saturado pelos lampejos da roda da vida, deixei-me cair no chão e fechei os olhos. Mas pareceu-me que a roda ainda estava girando diante de mim e que as quatro bestas nas nuvens ainda estavam sentadas e liam seus livros.
E de repente, abrindo os olhos, vi um gigantesco cavaleiro num cavalo de batalha branco, vestido com uma armadura negra com um elmo e um penacho negros. |
O rosto de um esqueleto olhava para fora sob o elmo. Uma mão ossuda sustentava uma grande bandeira negra que ondulava suavemente e a outra segurava as rédeas negras, ornamentadas com um crânio e ossos cruzados.
E onde quer que o corcel branco passasse, a noite e a morte o seguiam, as flores murchavam, as folhas caíam, a Terra ficava coberta por um sudário branco, cemitérios apareciam, torres, palácios e cidades caíam em ruínas.
Reis em pleno esplendor de glória e poder, belas mulheres, amadas e desejadas, altos sacerdotes investidos do poder de Deus, crianças inocentes — todos, à aproximação do corcel branco, tombavam de joelhos aterrorizados diante dele e estendiam as mãos com desespero e angústia — e então caíam para não levantar mais.
À distância, por trás das torres, o Sol se punha. |
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O calafrio da morte tomou conta de mim. Parecia-me que eu já sentia os cascos brancos do corcel no meu peito e vi o mundo todo mergulhando num abismo.
Mas de repente senti algo familiar no passo medido do cavalo, algo que eu tinha ouvido e visto antes. Outro instante — e ouvi no seu passo o movimento da roda da vida.
A compreensão penetrou em mim, e olhando para o cavaleiro que desaparecia e para o Sol poente, compreendi que o caminho da vida consiste nas pegadas do corcel da Morte.
O Sol, pondo-se de um lado, ergue-se do outro.
Cada momento de seu movimento é um poente num lugar e um nascente noutro.
Compreendi que assim como o Sol nasce no poente e se põe no nascente, a via morre quando nasce e nasce quando morre.
"Sim", disse a Voz, "você pensa que o Sol tem só um propósito, se pôr e nascer. O Sol sabe alguma coisa sobre a Terra, as pessoas do poente e do nascente? Ele segue seu caminho, em sua própria órbita, em torno de um Centro Desconhecido. a Vida, a Morte, o nascer do Sol, o pôr-do-sol, você não está ciente de que tudo isso não passa de pensamentos, sonhos e preocupações do Louco?" |
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Carta 11, A Força |
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No meio de uma planície verde, cercada de colinas azuis em suaves ondulações, vi uma mulher com um leão.
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Coroada de rosas, o sinal da Eternidade na cabeça, a mulher fechava calma e confiantemente a boca do leão, e este lambia-lhe delicadamente a mão.
"Esta é a imagem da força", disse a Voz, "compreenda todos os seus significados”.
"Antes de tudo, ela mostra a força do amor. Não existe nada mais forte do que o amor. Só o amor pode sobrepujar o mal. O ódio sempre provoca o ódio. O mal sempre traz o mal.
"Vê aquelas guirlandas de rosas? Elas falam da cadeia mágica. A união dos desejos, a união dos esforços, cria tal força que toda a força selvagem inconsciente se inclina diante dela”.
"E mais adiante está a força da Eternidade.
"Aqui você entra na esfera dos mistérios. Para uma consciência que se dá conta do sinal da Eternidade acima dela, não há obstáculos, nem pode haver qualquer resistência do infinito." |
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Carta 12, O Enforcado |
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E vi um homem com as mãos amarradas nas costas, pendurado por uma perna numa forca alta, com a cabeça para baixo, e em terríveis tormentos.
Em volta de sua cabeça havia um halo dourado.
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E ouvi a Voz que me falou:
"Veja! esse é o homem que viu a Verdade.
"Um novo sofrimento, semelhante ao qual nenhum infortúnio terreno pode causar, é o que espera o homem na Terra quando ele encontra o caminho da Eternidade e a compreensão do Infinito.
"Ele ainda é um homem, mas já sabe muitas coisas inacessíveis mesmo aos deuses. E esse conflito entre o grande e o pequeno em sua alma é a sua tortura e o seu Gólgota.
"Em sua própria alma surge uma alta forca, na qual ele se perdura sofrendo, sentindo-se como se estivesse de cabeça para baixo.
"Ele próprio escolheu esse caminho.
"Foi por isso que ele seguiu uma longa jornada de provação em provação, de iniciação em iniciação, através de fracassos e quedas.
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"E agora encontrou a Verdade e conheceu a si mesmo.
"E agora sabe que é ele que está entre a Terra e o Céu controlando os elementos com os símbolos mágicos, e é também ele que caminha com o chapéu do Louco por uma estrada poeirenta sob o Sol abrasador, em direção ao abismo em que o crocodilo o espera. É ele com sua companheira no Jardim do Éden, sob a proteção do gênio benfazejo; é também ele que está acorrentado com ela no cubo das mentiras: é ele que permanece por um instante como conquistador no carro ilusório, puxado pelas esfinges prontas para correrem em direções opostas; e ainda é ele que, no deserto, procura pela Verdade com uma lanterna na brilhante luz do dia.
"E agora ele encontrou a Verdade." |
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As ilustrações das cartas utilizadas pertencem ao Tarot de Oswald Wirth.
A transliteração do texto esteve a cargo de Constantino K. Riemma,
com a revisão de Rivadavia Gomes. |
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fev.09 |
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