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21 de novembro de 2024

Responsável: Constantino K. Riemma


Jung e a cartomancia em O Tarô da Alma
Resenha de
 
  Emanuel J. Santos  
Ao ler o texto de João Henrique Bianco para o Clube do Tarô, me deparei novamente com um aspecto das artes cartomânticas que, na literatura recente sobre o assunto (levando em conta o fato de que as cartas possuem, pelo menos e comprovadamente, cinco séculos), tem obtido grande ênfase. A abordagem psicológica, dia após dia, vem ganhando maior relevo sobre a adivinhatória, mas esta, apesar de todas as críticas, permitiu que as cartas chegassem, hoje, ao grau de acessibilidade que possuem.
Tarô da Alma de Belinda Atkinson
O Tarô da Alma
de Belinda Atkinson
Ed. Pensamento
 
Gostaria de mencionar, a propósito das relações Jung-Tarot, o naipe de Paus do baralho inglês, comum, ou cartas de jogar, na visão de Belinda Atkinson, conforme apresentei em meu blog:
www.conversascartomanticas.blogspot.com.
A autora, formada em Jornalismo pela Calgary’s Southern Alberta Institute of Technology, sempre foi ávida leitora de material divinatório, conhecendo e utilizando diversos métodos – I Ching, Runas, Cartomancia. Em 1992 Belinda cansou-se do Tarot e dedicou-se às cartas de jogar, desenvolvendo um método próprio. Ao invés de utilizar interpretações negativas, próprias do sistema cartomântico escolhido, Belinda decidiu desenvolver interpretações positivas e motivadoras aos seus consulentes. Assim surgiu o Tarô da Alma, que a Editora Pensamento traz ao Brasil em tradução de Mirtes Frange de Oliveira Pinheiro.
Etimologicamente creio que o título é errôneo – todos os Tarots são
baralhos, mas nem todos os baralhos são Tarots. A estrutura do Tarot é fixa, com 22 Arcanos Maiores, podendo possuir 56, 40 ou nenhum Arcano Menor acompanhando sua estrutura. Além disso, quando acompanhado dos Arcanos Menores, a Corte conta com quatro cartas para cada naipe, e não três, como nos baralhos que são editados por aqui – Rei, Rainha, Cavaleiro e Pajem. Logo, não poderia considerar o sistema desenvolvido por Belinda como um Tarot completo.
Jaime E. Cannes, em seu artigo sobre a história do Tarot (www.jaimeecannes.com) nos oferece uma interpretação perspicaz da construção dessa relação epidérmica entre baralhos e Tarots: A cartomancia "andava em baixa nessa época (década de 1990) e os vendedores de livros começaram a chamar de tarot todo o baralho lançado para simplesmente vender. Muitos ainda cometem esse tipo de equívoco".
Um outro detalhe importante da obra, que rompe com os sistemas conhecidos de adivinhação pelas cartas, é que, tradicionalmente, a Corte representa pessoas ou situações catalisadoras de eventos para o consulente. No caso do sistema desenvolvido por Belinda Atkinson, as cartas representam conceitos, independentemente de serem numeradas ou pertencentes à Corte.
O que se mantém é a relação entre os planos e os naipes: Paus corresponde ao plano espiritual, Copas ao emocional, Espadas ao mental e Ouros ao físico. Dentro dessa perspectiva, para a natureza espiritual do naipe de Paus, que proporciona "a oportunidade de adquirir maior intuição e compreensão para evoluir espiritualmente", a autora decidiu trabalhar com os "Arquétipos do Inconsciente Coletivo de Carl Jung", que são "características pessoais que todos temos". (Atkinson, 2004, 67)
Ao Ás corresponde a Sombra. Ao Dois, a Persona. Ao Três, a Anima. Ao Quatro, o Animus. Ao Cinco, o Self.  Ao Seis, o arquétipo da Mãe. Ao
 
Tarot of the Soul - Belinda Atkinson
Tarot of the Soul
Belinda Atkinson
Paperback, 1995
Sete, o arquétipo do Pai. Ao Oito, a Criança Divina. Ao Nove, a Sacerdotisa. Ao Dez, o Herói. Ao Valete, o Velho Sábio. À Dama, o Mago. E finalmente, ao Rei, "(Conjunção) União".
Não nos fica muito claro qual foi o critério da autora para selecionar as imagens mentais a serem desenvolvidas para cada carta, já que ela não respeita a estrutura da Cartomancia tradicional. Dentro do naipe de Paus, isso nos fica evidente na escolha do Valete para representar o Velho Sábio, já que tradicionamente os Valetes representam pessoas jovens; ainda que seja um arquétipo presente em todos, e independente da idade, soa um pouco estranho. Por outro lado, ao Oito corresponde a Criança Divina, e na Cartomancia tradicional o Oito corresponderia à Princesa do Tarot, ou seja, representa pessoas jovens do sexo feminino, ou crianças, o que aproxima a tradição da sua nova versão. Outra questão relativa a gênero, a se pensar, é a Sacerdotisa corresponder ao Nove e a Dama ao Mago...
De qualquer forma, a despeito da criticável nomenclatura e da difícil interpretação da estrutura escolhida para o desenvolvimento da interpretação, minhas experiências com essa estrutura têm sido assaz agradáveis. É muito sutil, frente à abordagem tradicional, que é normalmente dura e direta; é muito eficaz quando precisamos mapear nosso mundo interior, quando falta-nos clareza sobre os efeitos do mundo exterior em nossas percepções; mas, talvez por isso mesmo, deixe um pouco a desejar quando o assunto é ligado ao mundo exterior per se.
Por isso, diante das possibilidades de usar o baralho (aqui, incluindo o Tarot) de forma adivinhatória ou de forma psicológica, de maneira excludente, sugiro o meio termo, o uso terapêutico. Conforme o compreendo, não é somente a apresentação do panorama interior, como faz o método psicológico, nem do panorama exterior, como faz o método adivinhatório, mas a apresentação das ações motivadas pelo interior que produziram efeitos exteriores, assim como o efeito de fatos no nosso mundo interior.
Contato com o autor da resenha:
Emanuel J. Santos - http://conversascartomanticas.blogspot.com
Outros trabalhos seus no Clube do Tarô: Autores
abril.10
 
  Baralho Cigano
  Tarô Egípcio
  Quatro pilares
  Orientação
  O Momento
  I Ching
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