Espaço aberto às colaborações e indicações de
interações artísticas entre músicas e as cartas do tarô
Seis de Espadas e o Timoneiro de Paulinho da Viola
Encontramos no Tarot algumas cartas que indicam transformações, que envolvem mudanças físicas e partidas do herói; dentre elas temos o Carro, que significa uma partida alegre e o 8 de Copas que mostra uma partida com o coração oprimido. Podemos situar o 6 de Espadas entre essas duas situações, pois depende de nós se vamos sentir atração e curiosidade pela mudança anunciada ou se vamos vivenciá-la com medo.
Os personagens da carta, mais especificamente a mulher e a criança, partem rumo a um futuro incerto. A única coisa que lhes resta é um acervo de dolorosas experiências do passado, preocupações, e esperanças de um futuro melhor. O clima sombrio da carta, e em especial a postura da mulher, dá a entender que ela já se entregou totalmente ao destino e que ela está atravessando uma fase difícil da vida, com a sensação de mal-estar e de insegurança.
Um outro ponto importante de se observar são as condições do mar, de um lado da canoa as águas estão revoltas e do outro lado plácidas, o que mostra uma grande influência das emoções nessa carta de espada, regida prioritariamente pelo ar, pela mente, pelo racional. Aqui a busca é também pelo equilíbrio emocional.
6 de Espadas do Morgan-Greer Tarot e no Tarot Fine Art Pint
A carta não indica o que se encontrará na outra margem, embora se observe uma paisagem agradável, mas longínqua. Além disso, nada indica também que lá se encontrará uma saída auspiciosa para as situações e problemas atuais. Viajamos física e/ou emocionalmente, mas junto conosco levamos as nossas dificuldades, o que muda é o nosso intuito de superá-las.
Deixando essa ilustração padrão, encontramos na internet um 6 de Espadas "totalmente otimista", embora o sujeito da carta também esteja à mercê das condições meteorológicas do mar (intensidade do vento, pressão atmosférica e precipitação de chuvas). O homem que conduz a canoa, embora de costas, comporta-se com bastante energia e ainda passa um ar de satisfação, e por que não dizer de alegria, o qual junto com as cores da carta revelam uma travessia desejada e confiante (no destino), mesmo tendo o futuro incerto (o que irá encontrar na outra margem).
Esta segunda versão da carta se casa muito bem com a música Timoneiro de Paulinha da Viola, na qual o autor acredita que o leme da sua vida está nas mãos de Deus e credita ao destino o resultado positivo de sua escolha de viajar, ou seja, se ele precisa partir, levando sua bagagem de experiências positivas e negativas, melhor será colaborar com o que lhe reserva o destino e confiar em Deus que está no comando da roda da vida que lhe espera na outra margem
Postagem de Vera Vilanova - 15/10/2020
Oito de Copas e Não me arrependo de nada
O tema principal do Oito de Copas é saber reconhecer o momento certo de movimentar-se para se afastar de situações difíceis. A carta do Oito Copa" fala de despedidas pesarosas, de deixar pra trás algo que nos era importante ou parecia ser essencial para nós. Mas a decisão de abrir mão e desapegar é consciente, é feita por vontade própria. Por ser uma carta de copas refere-se, de maneira primordial, às relações, principalmente àquelas nas quais se dá muito e, em troca, nem sempre se recebe o suficiente.
O Oito de Copas no Secret Tarot de Marco Nizzoli
O Oito de Copas indica uma partida rumo ao desconhecido, que deixa uma sensação de pesar, pois muitas coisas queridas são deixadas para trás. A partida pode ter sido espontânea mas talvez não tivesse outra escolha. Muitas vezes temos que abandonar lugares, coisas, pessoas, idéias, atitudes. O Oito de Copas é um arcano que nos resguarda de vivenciar outros arcanos mais difíceis como a Torre, o Nove e o Dez de Espadas, e até mesmo o Cinco de Espadas; todos estes podem ser evitados se seguirmos sabiamente o conselho do "Oito de Copas". O "Oito de Copas" também faz alusão à carta do Três de Copas, que significa felicidade e gratidão e à carta do Cinco de Copas que fala de desgosto e amargura.
Comparando a letra da música Non, Je Ne Regrette Rien com o Oito de Copas verificamos já no título – "Não, não me arrependo de nada" – uma ressonância musical perfeita com o significado desta carta, pois o personagem está se afastando de uma relação amorosa gratificante, mas que se esgotou e deixou de fazer sentido no momento, assim como na música. Isto fica bem explicitado nos seguintes versos:
"Não, nada de nada
Não, não me arrependo de nada
Nem o bem que me fizeram
Nem o mal, tudo isso, tanto faz para mim!
Varridos os amores
E todos os seus temores
Varridos para sempre
Recomeço do zero (...)"
Convido vocês a ouvirem essa música cantada magnificamente pela saudosa Édith Piaf.
Postagem de Vera Vilanova - 14/09/2020
O 9 de Paus e a música À Flor da Pele de Zeca Baleiro
De um modo geral, o Nove de Paus é representado por um homem robusto, com postura tensa e desconfiada, em frente a uma estacada de varas fincadas no chão, segurando um bastão firmemente com as duas mãos, como se tivesse medo de perdê-lo. O ombro direito está levantado, contraído. Ele olha por cima do ombro, atento a qualquer perigo que possa surgir e ameaçar a sua integridade física. Sua cabeça está envolta numa atadura indicando os ferimentos adquiridos durante a sua jornada.
Com algumas variações encontramos também em outros tarots, como por exemplo no "Tarot Illuminati", um homem robusto e atlético em frente a uma paliçada, segurando um bastão firmemente com apenas uma das mãos, e sem ataduras na cabeça. Igualmente desconfiado, acreditando que está cercado de inimigos, ele está disposto a começar uma pancadaria caso haja qualquer menção de desentendimento ou ameaça à sua segurança. Alguém que está sempre na defensiva, agressivo e cismado.
O Nove de Paus com figurações masculinas nos tarôs Waite e Illuminati
Outras representações gráficas dessa carta, mas menos comum, mostram mulheres saudáveis e cheias de energia, prontas para entrar em ação logo que sua desconfiança e instinto apresentem o momento certo para lutar. Ou ainda mulheres cansadas de lutar na vida, com o semblante desanimado, como se tivessem no fim de suas forças.
O Nove de Paus com figurações femininas
The Witches Tarot, Tarot Mucha e Dreaming Way Tarot
Um dado comum ao desenho de todas as cartas acima apresentadas é que oito dos bastões estão fincados atrás das figuras humanas, formando uma barreira de proteção para qualquer ataque que venha a ser efetuado pela retaguarda e, também, a presença de um bastão na mão, pronto para se defender do inimigo que se aproximar pela frente.
Enfim, seja qual for postura, gênero ou adereços das figuras contidas nas cartas, a base comum a todas ela é uma disposição briguenta, reativa, desconfiada e sofrida. Fugindo a essa regra, identificamos no "Sola-Busca Tarot" uma imagem original por trazer os bastões para frente da mulher, que os segura firmemente mas sem pressão, tornando-os quase uma veste que cobre a nudez do seu corpo e que revela a sua vontade de apenas se proteger, cessando as lutas e evitando novos conflitos. O seu semblante e olhar tem um "quê" de sedução.
O Nove de Paus no Tarô Sola-Busca - original e restaurado
O 9 de Paus fala sobre aquele momento no qual criamos uma autodefesa contra tudo aquilo que pode nos machucar, mesmo que não haja indícios de que tal fato irá de realmente acontecer. Assim sendo, essa versão da carta, onde a nudez da mulher e a sua postura (bastões servindo de vestimenta) indicam sua vulnerabilidade e fragilidade, combina muito bem com a letra da música "A Flor da Pele" de Zeca Baleiro, que retrata uma figura feminina no limite da sua capacidade de reagir a novas situações adversas, com versos como estes:
"Ando tão à flor da pele,
Que meu desejo se confunde com a vontade de não ser,
Ando tão à flor da pele,
Que a minha pele tem o fogo do juízo final.
Um barco sem porto,
Sem rumo
Sem vela (...)
Às vezes me preservo, noutras suicido."
Clipe oficial da música "Flor da Pele", gravada em parceria com Zeca Baleiro.
A música faz parte da trilha sonora da novela "O sétimo guardião", da Rede Globo
Postagem de Vera Vilanova - 30/08/2020
O arcano Temperança e a Paciência de Lenine
A convergência de significados entre a carta da Temperança e a música Paciência de Lenine é extraordinária, especialmente no período de "pós" pandemia onde o nosso lado cauteloso e instintivo de preservação ainda sugere um "stay home" comedido. Precisamos sair da "toca", pé ante pé, testando os limites do mundo e, mais especificamente, os nossos limites.
A Temperança no Modern Witch Tarot by Lisa Sterle
e Paciência interpretada por Lenine.
Depois da Morte vem a ressurreição. Já passamos por uma mudança radical e as coisas velhas e antigas sumiram por completo; agora temos um "novo" normal e precisamos cultivar o equilíbrio, prestar muita atenção ao que realmente existe no momento, sem nos dispersarmos em pensamentos a respeito do passado ou do futuro. O passado é apenas um referencial para o futuro, onde muitas coisas estão por acontecer. E talvez seja por isso que a Temperança também seja conhecida como o Anjo do Tempo.
Por outro lado, a música de Lenine que data de mais de 6 anos atrás, fala de "termos um pouco mais de calma", a pedido inclusive da alma, mas ao mesmo tempo sinaliza, adverte "que a vida não para" e que "o tempo acelera e pede pressa" - que é bem o paradoxo que estamos vivendo no momento: crise sanitária versus economia.
Enquanto todo mundo espera a cura do mal
E a loucura finge que isso tudo é normal (...)
Tem coisa mais atual do que estes dois versos da canção, num momento em que se busca uma vacina para o mal mundial? Pois é, uma música feita muito antes da pandemia, mas muito profética. E é por isso que se costuma afirmar que os artistas têm uma antena ligada ao futuro.
Postagem de Vera Vilanova - 23/08/2020
Eu vou sobreviver - Gloria Gaynor e a Rainha de Espadas
"I Will Survive" é a música de grande sucesso da cantora americana Gloria Gaynor, escrita por Freddie Perren e Dino Fekaris.
Símbolo do empoderamente feminino, tem ao seu lado a Rainha de Espadas. Dá força e coragem para encarar as dificuldades, como na pandemia do Coronavírus.
Carta da Rainha de Espadas no Tarot Art Nouveau - Sugestão de Vera Vilanova - 14/05/2020
O Dez de Paus e Resistiré
O Dez de Paus no Spyral Tarot e a música Resistiré em vídeo
gravado por mais de 30 artistas para vencer juntos o Coronavírus.
Sugestão de Vera Vilanova - 03/05/2020
A Torre e O dia em que a Terra parou de Raul Seixas
A Torre no Achemical Tarot e a música Quando o mundo parou por Raul Seixas
Sugestão de Vera Vilanova - 14/04/2020
O Carro e Yemanjá, a Rainha do Mar
O Carro por Dame Darcy e Homenagem a Yemanjá
Mães D’Água – Yèyé Omó Ejá, um concerto/show produzido pela Fundação Palmares para
comemorar seus 22 anos, em 2010, numa celebração em homenagem a Iemanjá – a Rainha
do Mar, nas tradições africanas. No palco, sete cantoras negras: Daúde, Margareth Menezes,
Mart'nália, Luciana Mello, Rosa Marya Colyn e Paula Lima. Regente: Ângelo Rafael Fonseca.
Sugestão de Vera Vilanova - 31/01/2020
O Quatro de Espadas e Sozinho com Peninha
O Quatro de Espadas no Achemical Tarot e a música Sozinho interpretada por Peninha
Sugestão de Vera Vilanova - 7/12/2019
Ouro de Tolo de Raul Seixas mexe com o 9 de Copas
O Nove de Copas Rider-Waite Tarot e no Ghtetto Tarot.
O Ghetto Tarot é um ensaio fotográfico inspirado no baralho Rider-Waite-Smith,
feito por Alice Smeets (fotógrafa e cineasta belga) em um gueto haitiano, com a
assistência do grupo de artistas chamados Atis Rezistans. Utilizaram apenas
material encontrado nas redondezas ou criados localmente.
Sugestão de Vera Vilanova - 3/11/2019
Cálice - Cale-se e o Quatro de Copas
Mensagem musical que se tornou um clássico,
com Chico Buarque e Milton Nascimento.
Sugestão de Vera Vilanova - 19/09/201
Letra da música Cálice (Cale-se) de Chico Buarque e Milton Nascimento
Pai, afasta de mim esse cálice
Pai, afasta de mim esse cálice
Pai, afasta de mim esse cálice
De vinho tinto de sangue
Como beber dessa bebida amarga?
Tragar a dor, engolir a labuta?
Mesmo calada a boca, resta o peito
Silêncio na cidade não se escuta
De que me vale ser filho da santa?
Melhor seria ser filho da outra
Outra realidade menos morta
Tanta mentira, tanta força bruta
Pai, afasta de mim esse cálice...
Como é difícil acordar calado
Se na calada da noite eu me dano
Quero lançar um grito desumano
Que é uma maneira de ser escutado
Esse silêncio todo me atordoa
Atordoado eu permaneço atento
Na arquibancada pra a qualquer momento
Ver emergir o monstro da lagoa
Pai, afasta de mim esse cálice
Pai, afasta de mim esse cálice
Pai, afasta de mim esse cálice
De vinho tinto de sangue
De muito gorda a porca já não anda
De muito usada a faca já não corta
Como é difícil, pai, abrir a porta
Essa palavra presa na garganta
Esse pileque homérico no mundo
De que adianta ter boa vontade?
Mesmo calado o peito, resta a cuca
Dos bêbados do centro da cidade
Pai, afasta de mim esse cálice...
Talvez o mundo não seja pequeno
Nem seja a vida um fato consumado
Quero inventar o meu próprio pecado
Quero morrer do meu próprio veneno
Quero perder de vez tua cabeça
Minha cabeça perder teu juízo
Quero cheirar fumaça de óleo diesel
Me embriagar até que alguém me esqueça
Alma Nua e A Lua
Alma Nua de Vander Lee
Ó, Pai
Não deixes que façam de mim
O que da pedra Tu fizestes
E que a fria luz da razão
Não cale o azul da aura que me vestes
Dá-me leveza nas mãos
Fazes de mim um nobre domador
Laçando acordes e versos
Dispersos no tempo
Pro templo do amor
Que se eu tiver que ficar nu
Hei de envolver-me em pura poesia
E dela farei minha casa, minha asa
Loucura de cada dia
Dá-me o silêncio da noite
Pra ouvir o sapo namorar a lua
Dá-me direito ao açoite
Ao ócio, ao cio
À vadiagem pela rua
Deixa-me perder a hora
Pra ter tempo de encontrar a rima
Ver o mundo de dentro pra fora
E a beleza que aflora de baixo pra cima
Ó meu Pai, dá-me o direito
De dizer coisas sem sentido
De não ter que ser perfeito
Pretérito, sujeito, artigo definido
De me apaixonar todo dia
E ser mais jovem que meu filho
De ir aprendendo com ele
A magia de nunca perder o brilho
Virar os dados do destino
De me contradizer, de não ter meta
Me reinventar, ser meu próprio deus
Viver menino, morrer poeta