|     Com a cabeça coberta com um capuz 
              com ponta e orelhas de asno, gesticula e faz caretas agitando uma 
              fieira de guizos, enquanto três crianças lhe atiram 
              pedra e uma quarta o agarra nma das pernas. Parcialmente desvestido, 
              sua grande gola com pontas rodopiantes, anuncia sua chegada ao som 
              dos guizos, como um personagem marginal.Figura popular na arte, a partir do final 
              do século XV, sua imagem havia sido difundida pela obra ilustrada 
              do humanista Sébatien Brant, A Nave dos Loucos, 
              dada a público pelo impressor Johannes Bergmann, da Basiléia, 
              no dia do carvanal de 1494. O gravurista Dürer havia colaborado. 
              Esse livro satírico, que se tornou célebre em toda 
              Europa, colocava em cena uma centena de loucos, simbolizando o transcurso 
              do século. O louco de Brant representa aquele que se desvia 
              do caminho da razão e se afasta de Deus, contribuindo assim 
              para a desagregação do mundo.
 Sem se afastar da interpretação 
              de Brant, o personagem do louco abrangia outros aspectos mais divertidos. 
              O louco da corte, o bufão, personagem artificial conhecido 
              desde a Antiguidade, desempenhava um papel cômico junto a 
              um soberano. Na mesma função, mas junto a um público 
              mais variado, o louco acompanhava os jograis, os trovadores nas 
              cidades e nos campos, cultivando os gracejos, a mímica, o 
              cômico.
 Um simplório, um verdadeiro louco, 
              por suas atitudes burlescas, suas propostas indecentes, também 
              distraia. Não era aquele que fazia rir voluntariamente, mas 
              sim aquele do qual se ria.
 Esse personagem com inúmeras facetas 
              inspírou os artistas que multiplicaram suas expressões. 
              Ele aparece, então, nos jardins do amor e nas cenas eróticas, 
              onde simbolisava a luxúria, bem como em outras cenas do gênero, 
              nas margens dos manuscritos. Sua representação foi 
              menos difundidada na Itália que no Norte da Europa. O Louco 
              do tarô dito de Carlos VI, por sua tênua licenciosidade, 
              seu rosto com careta e as reações que suscita aparenta-se 
              ao louco de Sébatien Brant.
 O Louco nunca é numerado no jogo 
              de tarô. É permitido a ele evoluir fora da procissão 
              carnavalesca, seguindo-a e se agitando ao longo do desfile.
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          | Tarô dito de Charles 
            VI ou Tarô Gringonneur: O Louco. 
            Norte da Itália. Final do século XV. Pintura com têmpera de ovo, sobre um 
            desenho preparatório com tinta negra, tipo sépia; decoração 
            com ramos estampados, após fixação de folha de 
            ouro e prata, sobre uma camada assentada sobre suporte de papel; dorso 
            branco sem adornos. Papel em várias camadas com "colarinhos" 
            à moda italiana, alguns dos quais estão roídos. 
            A parte do desenho dissimulado pelos "colarinhos" realizados 
            posteriormente, foram redesenhados. Dezessete cartas: 80/185 x 90/95 
            mm. Paris, Biblioteca Nacional da França, 
            Estampas, Res. Kh 24.  http://expositions.bnf.fr/renais/grand/035.htm.
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